Avaliação dos dez anos do Programa UFGInclui: perspectivas dos estudantes quilombolas

Transcrição

1 Avaliação dos dez anos do Programa UFGInclui: perspectivas dos estudantes quilombolas DE OLIVEIRA, Hellen Stephanye Rosa¹; DOS SANTOS, Jilvani Farias²; QUINTILIANO, Marta³; DIAS,Vercilene Francisco 4 INTRODUÇÃO As ações afirmativas no Brasil são compreendidas como medidas que tem como escopo a reparação ou compensação da desigualdade social e preconceitos ou discriminações de raça. Não são concessões do Estado e sim deveres que se extraem dos princípios constitucionais, incluindo o objetivo de erradicar a pobreza e promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade, e quaisquer outras formas de discriminação e a igualdade de condições para o acesso e permanência na escola (CONSUNI, 2015). O programa UFGInclui foi criado por meio da Resolução CONSUNI 029/2008. No ano de sua implementação (2009), aconteceu o seu primeiro vestibular. O programa teve/tem como objetivo promover a democratização gradativamente do acesso ao ensino superior, por meio de uma política de ações afirmativas que contemple o acesso e a permanência de alunos negros quilombolas e indígenas provenientes de escolas públicas. Além disso, acompanhar a trajetória dos estudantes que ingressarem por meio do UFGInclui, com vistas a fornecer apoio institucional para o seu bom desempenho acadêmico (CONSUNI, 2008). O ingresso acontece da seguinte forma, a acréscimo, quando houver demanda, de uma (1) vaga em cada curso de graduação da UFG para serem disputadas por negros quilombolas, indígenas e 15 vagas para surdos no curso letras libras oriundos de escolas públicas. Além disso, o ¹ Graduanda em Medicina pela Universidade Federal de Goiás. hellen.stephanye@hotmail.com ² Graduando em Medicina Pela Universidade Federal de Pelotas. jilvannyr@gmail.com ³ Mestranda no Programa de Antropologia Social da UFG. carpemubuntu@hotmail.com 4 Mestranda em Direito Agrário pela Universidade Federal de Goiás. Diplomada em Estudo Internacional em Litígio Estratégico em Direito Indígena pela Pontifícia Universidade Católica do Peru. Advogada Popular. Remanescente da Comunidade Quilombola Kalunga. vercilenekalunga@hotmsil.com

2 estudante deverá apresentar documento que comprove esta condição, emitido pela Comunidade Quilombola em que está inserida(o), esta deve ser reconhecida oficialmente pela Fundação Palmares, e no caso dos Indígenas pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI). OBJETIVOS -Refletir sobre a entrada e permanência dos estudantes indígenas e quilombolas; -Analisar as principais dificuldades encontradas pelos alunos na permanência na instituição de ensino; -Apresentar a importância do apoio psicológico, financeiro e pedagógico ao longo da trajetória acadêmica por meio de políticas institucionais e governamentais. METODOLOGIA A metodologia utilizado no presente trabalho será de cunho qualitativo de base documental em material bibliográfico, jornalístico, através da revisão de documentos, artigos, subsidiada pela autobiografia da experiência empírica vivenciada pelas/os pesquisadoras/os uma vez que os sujeitos que estão inseridos na pesquisa e as/os pesquisadoras/es são parte da mesma. RESULTADOS/DISCUSSÃO Nos últimos seminários vários acadêmicos tanto indígenas e negros quilombolas apontaram várias dificuldades na permanência. A primeira é relacionada aos primeiros meses após o ingresso, a falta de moradia tanto para o aluno quanto para a sua família, alimentação, dificuldades em algumas disciplinas relacionadas a matemática e língua portuguesa, a saúde mental do aluno, os atrasos da bolsa permanência do Ministério da Educação (MEC) e creche para os filhos dos alunos. Após várias reuniões com a reitoria e assistência social os alunos conseguiram duas casas estudantis para os alunos indígenas e quilombolas. Vale aqui ressaltar que ao longo das negociações vários profissionais da assistência social, Pró-reitores que questionaram as nossas demandas como ilegítimas, uma vez que segundo estes a bolsa MEC era uma boa bolsa não necessitado de mais auxílios. Junto com a assistência social da instituição os alunos conseguiram bolsa alimentação completa sem nem

3 um gasto adicional. Mas os atrasos da bolsa permanência ainda é o grande obstáculo, algumas vezes a própria instituição conseguiu fornecer uma bolsa emergencial no primeiro mês de novecentos (900) reais, mas não é algo garantido, sendo que todo ano os alunos ingressantes tem que fazer o pedido para a assistência social. A desigualdade e racismo institucional têm sérios agravos na saúde mental do aluno, levando a evasão dos cursos de graduação, o tratamento psicológico tem o intuito de ajudar terapeuticamente para uma permanência. Após algumas reuniões foi visto certa dificuldade nas matérias de português e matemáticas pelos alunos do UFGInclui, com isso expandiu monitorias para ajudar esta deficiência que não é nossa, e sim da exclusão social da população preta, diminuindo o número de reprovações nestas matérias. Com relação aos resultados traçados pelo Programa UFGInclui, nesses 10 (dez) anos de sua existência. Criado em 2008 pela resolução do CONSUNI nº 029/2008 com apenas o objetivo principal de incluir. Nesse sentido a instituição precisava reavaliar o programa para ver suas deficiências que só veio a ocorrer em 2011, realizado pela Pró-reitora de Graduação (PROGRAD), o primeiro Seminário de Avaliação do Programa UFGInclui: avanços e desafios, realizado nos dias 12 e 13 de maio de Nessa avaliação a PROGRAD, ateve a apresentar as médias globais dos estudantes do sistema universal e do UFGInclui. Onde os dados apresentados mostraram que as diferenças existentes entre as médias das duas categorias foram mínimas e apenas em alguns cursos de maior demanda, como Medicina e Engenharia as diferenças se apresentaram de forma acentuada. No entanto o seminário pautava na discussão de números e não das condições da permanência dos sujeitos, os estudantes contemplados pelo programa não tiveram voz nesse seminário. Isso se deu porque existia uma política de não revelar os nomes dos cotistas, por isso nós cotistas quilombolas que éramos poucos e dispersos as informações das reuniões, não nos alcançavam. Realizado nos dia 25 e 26 de setembro de 2013 o segundo Seminário UFGInclui: inclusão e permanência, em que diversas coordenadorias de cursos da UFG

4 apresentaram dados sobre o bom desempenho dos alunos beneficiados pelo Programa UFGInclui, ressaltando que as diferenças existente entre o desempenho acadêmico médio da categoria escola pública e o desempenho dos não cotistas é muito pequena. Porém os alunos cotistas negros oriundos de escola pública e quilombolas apresentam um desempenho acadêmico inferior em relação às outras categorias. Em contrapartida a evasão entre os cotistas é menor. Com a apresentação dos dados, percebeu-se a necessidade de se pensar uma política de acompanhamento acadêmico mais eficiente, com o auxílio de monitores e tutores, para corrigir falhas de uma alfabetização deficiente desses alunos cotistas. Além de promover uma melhor recepção desses estudantes na UFG e uma maior atenção na questão de sua permanência na Instituição. Em 2014 não houve avaliação do programa, mas pensando em tentar resolver essas deficiências do Programa, apresentadas anteriormente, em maio de 2014 foi aprovada pelo CONSUNI da UFG a criação da Coordenadoria de Ações Afirmativas (CAF) com grande desafio de pensar políticas e ações afirmativas no âmbito de toda UFG, onde sua atuação e desenvolvimento de suas ações iam além dos alunos cotistas, contemplariam também toda a comunidade de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros (LGBT), negra, idosos e outras minorias (Jornal do Professor, a.iii, nº15, 2014, p. 14). No ano de 2015 O Seminário de Avaliação UFGInclui, ocorreu no dia 10 de dezembro, pela Pró-reitora de Graduação, por meio de sua mais nova CAF, com apoio do Coletivo União dos Estudantes Indígenas e Quilombolas da UFG (UNEIQ-UFG), com o objetivo de fazer uma avaliação diferente, onde os alunos beneficiários do programa, (quilombolas, indígenas e surdos) apresentaram sua críticas quanto às ações desenvolvidas pela UFG diretamente relacionadas ao acesso e permanência dos acadêmicos na UFG; integração solidária entre estudantes indígenas, quilombolas, surdos, professores, pesquisadores e demais. Em 2016 o seminário foi realizado em 09 de dezembro, com a principal pauta continuou sendo a

5 permanência, a moradia foi a principal demanda apresentada pelos estudantes que já havia sido pautada no seminário anterior. Nessa oportunidade o então Reitor Orlando Amaral anunciou que em 2017 duas novas casas estudantis seriam disponibilizadas aos estudantes, com capacidade para abrigar mais de 30 estudantes do Programa UFGInclui. Em 2017 o Seminário de Avalição correu em 15 de dezembro, onde foi avaliado os dez (10) anos de vigência do Programa, onde a inclusão e a permanência, é a mais discutidas, foram apresentadas as dificuldades de acesso aos cursos de pós-graduação, a desigualdade no acesso ao estudo das línguas estrangeiras e a exigência desse conhecimento em processos de seleção, assim como as bolsas de estudos e de permanência, fraudes no sistema de cotas e o assédio moral. CONCLUSÃO O programa UFGInclui foi criado com intuito de inserir as populações que foram historicamente excluídos, porém ao oportunizar a entrada desses sujeitos não foram pensadas estratégias de permanência. A UFG aproveitando da invisibilidade dos estudantes e o não agrupamento para manter a boa aparência de universidade inclusiva, porém 2013 quando houve o encontro dos indígenas e quilombolas foi possível perceber o abandono por parte da gestão anterior. Desde então, juntamente com a PROGRAD os estudantes foram realizadas várias estratégias para que a nossa trajetória fosse mais tranquila sem muitos traumas. É necessário reforçar aqui a importância do Coletivo UNEIQ-UFG na construção de laços afetivos entre nós quilombolas, indígenas e surdos dentro da UFG. Por fim, as lutas pela permanência no espaço acadêmico não foram, e nunca será fácil, uma vez que as universidades foram feitas para a elite branca. Porém, é perceptível as trocas de saberes que ocorrem no espaço acadêmico quando a diversidade e estimada e respeitada. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. CONSUNI, Universidade Federal de Goiás. Resolução CONSUNI n 29/2008. UFGInclui: Programa de Inclusão da UFG. Universidade Federal de Goiás, CONSUNI, Universidade Federal de Goiás. Resolução CONSUNI n 07/2015. Políticas de ações afirmativas para pretos, pardos e

6 indígenas na Pós-Graduação stricto sensu. Universidade Federal de Goiás, JORNAL DO PROFESSOR, Adufg. Pluralidade sem Democracia. Universidade Federal de Goiás, n 14, 2014.