SBPdePA Entrevista. Vera Maria H. Pereira. de Mello. Vera Maria H. Pereira de Mello. SBPdePA Vera, conta para nós como surgiu o NIA.

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1 SBPdePA Entrevista Vera Maria H. Pereira de Mello SBPdePA Vera, conta para nós como surgiu o NIA. Vera Maria H. Pereira de Mello Membro Associado da Sociedade Brasileira de Psicanálise de Porto Alegre; Coordenadora do Núcleo da Infância e Adolescência da Sociedade Brasileira de Psicanálise de Porto Alegre. V. Mello O primeiro movimento ocorreu no início de 2002, quando foram constituídos grupos de estudo dentro da temática da Psicanálise Infantil na Sociedade Brasileira de Psicanálise de Porto Alegre (SBPdePA). Esse foi o embrião do Núcleo de Infância e Adolescência (NIA), criado em agosto de 2002, sob a coordenação da Dra. Ana Rosa Chait Trachtenberg, com o grande incentivo da Dra. Suzana Lustig de Ferrer, a primeira Co-chair da COCAP (Child and Adolescent Psychoanalysis Committee). Esse é um comitê da IPA, Sociedade Brasileira de Psicanálise de Porto Alegre 295

2 SBPDEPA ENTREVISTA VERA MARIA H. PEREIRA DE MELLO criado no Congresso de Barcelona, em 1997, para estimular, difundir e regulamentar a formação em psicanálise de crianças e adolescentes. SBPdePA No momento, tu respondes pela coordenação do núcleo. Quem foi a primeira coordenadora e quem faz parte da comissão que está te assessorando? V. Mello A primeira coordenadora foi a Dra. Ana Rosa Chait Trachtenberg. Quanto à equipe que tanto tem me ajudado, ela é constituída pelas doutoras Ana Rosa Trachtenberg, que segue como Conselheira do NIA, Alice Cacilhas, Astrid Ribeiro, Lisiane Cervo, Marlise Albuquerque e Mayra Lorenzoni. No entanto, o NIA congrega em torno de 25 pessoas, entre membros e candidatos da SBPdePA, interessadas nos estudos e no aprofundamento da psicanálise de crianças e adolescentes. SBPdePA E quais os objetivos desse núcleo? V. Mello O NIA tem como objetivo primordial ser um espaço em que se contemple a psicanálise da infância e adolescência, mas nosso olhar debruça-se não só sobre as crianças e adolescentes, como também sobre as famílias, primeiro entorno dessas crianças, sendo elas, muitas vezes, portavozes de seus sintomas. Fatores como crises sociais, desemprego, falta de perspectivas, violência urbana, tão presentes nos tempos atuais e que mobilizam intensamente as famílias, vão deixando seus efeitos no psiquismo desses seres em formação, e os sintomas apresentados por eles acabam sendo uma forma de clamar por ajuda não só para si, mas para todo o grupo familiar. SBPdePA E que atividades o NIA vem desenvolvendo? V. Mello Desde a sua fundação, com o apoio da Diretoria da SBPdePA, muitas atividades têm sido realizadas, servindo de pilares para a 296 Psicanálise v. 7, n. 1, p , 2005

3 construção de um projeto, dentro do programa DPPT (Development Psychoanalytic Practice and Training). Esse programa foi criado pela IPA como parte do Confronting the Crisis in Psychoanalysis e destina recursos aos projetos das Sociedades Psicanalíticas, para que, após terem sido examinados por um Grupo de Consulta e um Comitê Executivo, obtenham aprovação. SBPdePA Qual foi o projeto apresentado? V. Mello O projeto The Spread of Child and Adolescent Psychoanalysis foi elaborado pela equipe do NIA sob orientação da Dra. Maria Lúcia Tiellet Nunes. Esse projeto foi aprovado em maio de 2004, sendo nossa Sociedade a primeira da América Latina a receber essa qualificação, fato que nos causou grande orgulho. SBPdePA E em que consiste esse projeto? V. Mello O projeto consiste em um plano de várias ações direcionadas à propagação da psicanálise de crianças e adolescentes em três segmentos da comunidade: o público interno da SBPdePA, o público psi de nossa cidade e arredores e a comunidade em geral. SBPdePA Tu poderias nos explicar melhor como funcionam esses três segmentos? V. Mello Claro. O primeiro [público interno da SBPdePA] tem como vértice a mobilização de colegas para o trabalho com crianças e adolescentes, visando constituir no futuro uma formação em Psicanálise da Infância e Adolescência na SBPdePA. A partir de abril de 2004, iniciaram-se seminários teóricos e clínicos sobre técnica psicanalítica na infância, com periodicidade mensal, coordenados por convidados estrangeiros. Estiveram trabalhando conosco a Dra. Maren Viñar (Psicanalista da Associação Psi- Sociedade Brasileira de Psicanálise de Porto Alegre 297

4 SBPDEPA ENTREVISTA VERA MARIA H. PEREIRA DE MELLO canalítica do Uruguai APU) e o Dr. Miguel Leivi (Psicanalista da Associação Psicanalítica de Buenos Aires APdeBA). Além disso, os integrantes do NIA da SBPdePA vêm participando de um grupo de estudos com a Dra. Virginia Ungar (Co-Chair da COCAP para a América Latina), cujo tema é a Adolescência na Obra de Donald Meltzer. Essas atividades são teórico-clínicas, havendo discussão de casos. Paralelamente, em agosto de 2004, o NIA organizou uma atividade conjunta com a Comissão Científica, em memória a Donald Meltzer (recentemente falecido). Esse Tributo da SBPdePA a Donald Meltzer reuniu depoimentos emocionantes dos Drs. Virginia Ungar (APdeBA), Renato Trachtenberg (SBPdePA) e Marco Aurélio Rosa (SBPdePA) sobre a pessoa e a obra desse consagrado psicanalista. Aliás, esse encontro foi publicado, na íntegra, na revista Psicanálise da SBPdePA, no volume 6, número 2, Juntamente com essas atividades, realizamos a II Semana do NIA na SBPdePA, de 20 a 23 de outubro de 2004, momento em que o Instituto cedeu seus horários de seminários, possibilitando que todos os membros e candidatos participassem da atividade. Nossa jornada passou a ter o nome Jornada Suzana Lustig de Ferrer, em homenagem à mesma, falecida em 2004, e que tanto estimulou a criação do NIA. Elegemos como tema dessa Jornada O Traumático na Infância e na Adolescência, buscando estimular estudos preliminares ao 44º Congresso da IPA (Rio de Janeiro/2005, com o eixo Traumas: Novos Desenvolvimentos em Psicanálise). Visando congregar todos os colegas da SBPdePA, tivemos como convidado-conferencista o Dr. Miguel Leivi (APdeBA). Nessa atividade, além das conferências, apresentações de trabalhos, supervisões, ocorreu um momento especial, aberto à comunidade, em que houve a apresentação do filme A Escuta do Silêncio, da diretora Graça Pizá filme este que aborda a problemática do abuso e dos maus-tratos na infância. Após a sua exibição, ocorreu a discussão do mesmo entre psicanalistas e a Dra. Maria Regina Fay de Azambuja, Promotora da Infância e Adolescên- 298 Psicanálise v. 7, n. 1, p , 2005

5 cia, autora do livro Violência Sexual Intra-familiar: é possível proteger a criança? Anteriormente, nos dias 23 a 26 de abril de 2003, tivemos a I Semana da Infância e Adolescência na SBPdePA, com o debate do filme A Invenção da Infância. Tivemos a presença da diretora do filme Liliana Sulzbach, juntamente com Mônica Timm de Carvalho e Ana Rosa Chait Trachtenberg. A Dra. Virginia Ungar nos falou sobre Psicanálise de Crianças Hoje e o Dr. Arnaldo Smolla sobre Clínica das Psicoses na Infância e Adolescência. Vários colegas apresentaram temas-livres. O segundo segmento do projeto está voltado à comunidade psi. Em articulação com a Semana do NIA, programamos um Ciclo de Palestras, comemorativo à aprovação do Projeto pela IPA, sendo realizadas três conferências abertas, cujo tema versou sobre O Traumático na Constituição do Psiquismo. A primeira delas ocorreu em 11/09/2004, com o título O Traumático na Constituição do Psiquismo em Piera Aulagnier, proferida pela Dra. Raquel Zak de Goldstein, da APA. Em 23/10/2004, ocorreu a conferência O Traumático na Constituição do Psiquismo em Lacan, proferida pelo Dr. Miguel Leivi, analista de adolescentes da APdeBA (coincidindo com o encerramento da Semana do NIA). Em 19/11/2004, ocorreu a conferência O Traumático na Constituição do Psiquismo em Meltzer e Bion, proferida pela Dra. Virginia Ungar. Finalmente, o terceiro segmento, voltado para a comunidade em geral, busca uma expansão de nossas fronteiras por meio de atividades voltadas à integração do conhecimento psicanalítico com outros setores da sociedade. Para tanto, retomamos o Ciclo Do Clássico ao Contemporâneo em Desenhos Animados, uma atividade conjunta do NIA com a Comissão Científica. Esse ciclo, aberto ao público, utilizando desenhos animados como forma de abordar conflitivas pertinentes ao universo psíquico de crianças e adolescentes, foi inaugurado, com sucesso, em 2003, prosseguindo com três encontros em 2004, nos quais foi exibido um filme de animação, discutido por um psicanalista e por outros profissionais, como escritores, diretores de cinema, etc. Nossa preocupação consistiu em mesclar desenhos Sociedade Brasileira de Psicanálise de Porto Alegre 299

6 SBPDEPA ENTREVISTA VERA MARIA H. PEREIRA DE MELLO que se tornaram clássicos com os desenhos contemporâneos, buscando uma possibilidade de cotejar esses dois universos, pois pensamos que há desenhos que atraem um público intenso, mobilizando as crianças, que querem vê-los repetidas vezes. No entanto, podemos verificar que, entre estes, há os que são passageiros e os que se transformam em clássicos, tais como os contos de fadas e os mitos, que se perpetuam por gerações. Poderíamos pensar que, de alguma forma, aquela história encontrou eco dentro de cada um e, nesse aspecto, reside a sua importância, pois possibilita que sejam vivenciados angústias, temores, fantasias, desejos, mantendo uma certa segurança, já que são outros personagens que vivem a trama, estabelecendo, portanto, algum distanciamento. A possibilidade de ver/rever esses desenhos, bem como a discussão com interlocutores especializados, vêm dando uma dimensão maior à intersecção entre Psicanálise e Cultura, atingindo a comunidade e fazendo com que haja uma difusão maior da Psicanálise da Infância e Adolescência. Outro ponto de ancoragem de nosso projeto foi a atividade Refletindo sobre Paternidade e Maternidade, em que foram realizados encontros, versando sobre temas atuais de interesse dos pais, na nossa sociedade atual. Tanto na atividade Do Clássico ao Contemporâneo em Desenhos Animados como na Refletindo sobre Paternidade e Maternidade, contamos com a parceria da Livraria Cultura, que nos cedeu um excelente espaço para que nossas atividades lá se realizassem. No Projeto do NIA também estão previstas parcerias com Escolas e, alinhados à enorme penetração da Informática nos lares na atualidade, contamos com a participação de um site especializado na área escolar (kindernet), o qual abastecemos com artigos sucintos sobre a visão psicanalítica de diversos temas ligados à infância. SBPdePA Como é que o NIA se posiciona frente à crise que a psicanálise vem enfrentando em função dos tempos atuais? 300 Psicanálise v. 7, n. 1, p , 2005

7 V. Mello Nestes nossos tempos de intensas transformações socioculturais, velozes avanços tecnológicos e restrição no tempo-espaço concedida à subjetividade, as instituições psicanalíticas precisam voltar-se para o enfrentamento da crise, com determinação e criatividade. Em sintonia com essa demanda contemporânea, o NIA, por meio de suas atividades, pretende aprofundar os conhecimentos psicanalíticos ligados à infância e adolescência, expandir o intercâmbio com outras disciplinas da cultura e beneficiar com seu saber a comunidade em que está inserido. SBPdePA Bem, nós queríamos te agradecer por ter aceito o nosso convite. Temos certeza que essa entrevista vai ser muito proveitosa também para o pessoal da nossa sociedade, pois fornece informações esclarecedoras sobre esse Núcleo extremamente importante e ativo que se criou em nosso seio. V. Mello Eu agradeço pela enorme oportunidade que vocês estão me dando de divulgar o nosso trabalho e faço um convite aos colegas para que participem do NIA. Entrevista Copyright Psicanálise Revista da SBPdePA Dra. Av. Taquara, 193/ Porto Alegre RS Brasil Fone: (0xx51) mello@terra.com.br Sociedade Brasileira de Psicanálise de Porto Alegre 301