Não obrigatoriedade de publicação das demonstrações financeiras por Sociedades de Grande Porte
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- Liliana Almada Paranhos
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2 Não obrigatoriedade de publicação das demonstrações financeiras por Sociedades de Grande Porte Migalhas, 12 de maio de 2008 A Lei n , de , que entrou em vigor em 1º de janeiro de 2008, conceituou sociedade de grande porte para os fins de escrituração, elaboração e auditoria de suas demonstrações financeiras. Assim que a Lei n /07 entrou em vigor, iniciou-se amplo debate sobre a obrigatoriedade ou não de publicação das demonstrações financeiras pelas sociedades de grande porte constituídas sob a forma de limitada, simples, em conta de participação, em nome coletivo, em comandita simples e cooperativa, ou seja, aquelas reguladas pelo Código Civil. Consideram-se de grande porte as sociedades ou conjunto de sociedades sob controle comum que tenham ativo total superior a R$240milhões ou receita bruta anual superior a R$300 milhões (art. 3º, par. único, da Lei n /07). O Anteprojeto de Lei e o Projeto de Lei n /2000, de autoria da Comissão de Valores Mobiliários-CVM e do Deputado Emerson Kapaz respectivamente, que resultaram na Lei n /07, dispunham em suas redações originais que as sociedades de grande porte, ainda que não constituídas sob a forma de sociedades por ações, deveriam escriturar, elaborar e publicar suas demonstrações financeiras, bem como submetê-las à auditoria, em conformidade com a Lei n /76. São cinco as demonstrações financeiras previstas na Lei n /76, a saber: (i) balanço patrimonial; (ii) demonstração dos lucros ou prejuízos acumulados; (iii) demonstração do resultado do exercício; (iv) demonstração dos fluxos de caixa; e (v) demonstração do valor adicionado.
3 Ocorre que a obrigatoriedade de publicação das demonstrações financeiras pelas sociedades de grande porte reguladas pelo Código Civil foi suprimida do Projeto de Lei durante o processo legislativo e a matéria acabou sendo disciplinada pela Lei n /07 da seguinte forma: "Art. 3º - Aplicam-se às sociedades de grande porte, ainda que não constituídas sob a forma de sociedades por ações, as disposições da Lei nº , de , sobre escrituração e elaboração de demonstrações financeiras e a obrigatoriedade de auditoria independente por auditor registrado na Comissão de Valores Mobiliários." Dessa forma, o art. 3º da Lei n /07 exige que as sociedades de grande porte reguladas pelo Código Civil apenas escriturem e elaborem suas demonstrações financeiras em consonância com a Lei n /76 e as submetam à auditoria, não sendo obrigatória a publicação. O fato de a ementa da Lei n /07 indicar que ela estende às sociedades de grande porte disposições relativas à elaboração e divulgação de demonstrações financeiras não tem o condão de obrigar a publicação. Isto porque: (i) trata-se de evidente equívoco do legislador, que "esqueceu" de alterar a ementa quando a obrigatoriedade da publicação foi suprimida do Projeto de Lei; e (ii) a parte preliminar de uma lei, incluindo a ementa, não impõe norma de conduta; somente os artigos (a parte normativa) de uma lei é que impõem norma de conduta (arts. 3º e 5º da LC n. 98/1998). As únicas sociedades que estão obrigadas a publicar suas demonstrações financeiras são as por ações (anônima e em comandita por ações), de capital aberto ou fechado, observadas as seguintes exceções: (i) a companhia fechada com menos de vinte acionistas e patrimônio líquido inferior a R$1milhão não está obrigada a publicar suas demonstrações financeiras desde que elas sejam arquivadas na Junta Comercial (art. n. 294, II, da Lei n /76); (ii) a companhia fechada, com patrimônio líquido inferior a R$2milhões, não está obrigada a elaborar e publicar a demonstração dos fluxos de caixa (art. n. 176, 6º, da Lei n /76); e (iii) apenas as companhias abertas estão obrigadas a elaborar e publicar a demonstração do valor adicionado (art. n. 176, V, da Lei n /76).
4 A CVM, ao manifestar seu entendimento preliminar acerca da Lei n /07 por meio de Comunicado ao Mercado de , ajudou a esclarecer eventuais dúvidas que pairassem a respeito da obrigatoriedade ou não da publicação. A CVM pronunciou-se da seguinte forma: Como já mencionado, a Lei nº /07 estendeu às sociedades de grande porte (...) a obrigatoriedade de manter escrituração e de elaborar demonstrações financeiras com observância às disposições da lei societária. Assim, embora não haja menção expressa à obrigatoriedade de publicação dessas demonstrações financeiras, qualquer divulgação voluntária ou mesmo para atendimento de solicitações específicas (credores, fornecedores, clientes, empregados, etc.), as referidas demonstrações deverão ter o devido grau de transparência e estar totalmente em linha com a nova lei (art. 3º)." Nota-se, portanto, que o resultado da interpretação literal da Lei n /07, primária e essencial, não difere daquele obtido com a interpretação histórica. Também se obtém o mesmo resultado quando se adota uma interpretação sistemática da Lei n /07. O 1º do art. n. 176 da Lei n /76, que disciplina a forma (contas com valores dos exercícios anterior e corrente) de publicação das demonstrações financeiras pelas companhias, abertas ou fechadas, não se aplica às sociedades de grande porte reguladas pelo Código Civil, porque a Lei n /07 determina que elas observem as normas da Lei n /76 sobre escrituração e elaboração de demonstrações financeiras, apenas. O 1º do art. n. 176 da Lei n /76 não dispõe sobre escrituração e tampouco sobre elaboração de demonstrações financeiras. Como visto, ele disciplina a forma de publicação das demonstrações financeiras, apenas. Além disso, o 6º do art. n. 176 da Lei n /76 dispõe que a companhia fechada, com patrimônio líquido inferior a R$2 milhões, "não será obrigada à elaboração e publicação da demonstração dos fluxos de caixa. Logo, o 6º do art. n. 176 da Lei n /76 corrobora o entendimento de que "elaborar" é diferente de "publicar". Se assim não fosse, bastaria que o 6º do art. n. 176 da Lei n /76 dispensasse a elaboração das demonstrações financeiras para que, automaticamente, ficasse dispensada a publicação. E mais: o art. n. 294, II, da Lei n /76 dispensa a companhia fechada com menos de vinte acionistas e patrimônio líquido inferior a R$1milhão de publicar suas demonstrações financeiras, desde elas sejam arquivadas na Junta Comercial. Referido art. n. 294, II, dispensou a publicação, mas não a elaboração. Portanto, as companhias fechadas com menos de vinte acionistas e patrimônio líquido inferior a R$1milhão podem optar por publicar ou não suas demonstrações financeiras, embora continuem obrigadas a elaborá-las em conformidade com a Lei n.
5 6.404/76. O art. n. 294, II, da Lei n /76 reforça, portanto, a dissociação entre as obrigações de publicação e de elaboração das demonstrações financeiras previstas na Lei n /76. Não se nega que o legislador tenha perdido a oportunidade de corrigir uma distorção antiga, que é a inexistência de obrigação de divulgação de informações ao mercado pelas sociedades de grande porte reguladas pelo Código Civil. Seria realmente salutar que a obrigação de publicação das demonstrações financeiras não fosse atrelada ao tipo societário. O ideal seria que tal obrigação estivesse vinculada ao porte das sociedades, em virtude da inegável importância econômica e social que as grandes empresas desempenham na economia moderna. Infelizmente a correção dessa distorção exigirá a promulgação de nova lei. Conclui-se que as únicas três novas obrigações que a Lei n /07 criou para as sociedades de grande porte constituídas sob a forma de limitada, simples, em conta de participação, em nome coletivo, em comandita simples e cooperativa são a escrituração, elaboração e auditoria (por auditor independente registrado na CVM) de suas demonstrações financeiras. Por se tratar de faculdade e não de obrigatoriedade, a falta de publicação das demonstrações financeiras por essas sociedades não poderá gerar a responsabilização de seus administradores e controladores. 1 Artigo 176, 1º, da Lei 6.404/76: "As demonstrações financeiras de cada exercício serão publicadas com a indicação dos valores correspondentes das demonstrações do exercício anterior." Fabio Appendino é sócio do escritório Rolim, Viotti & Leite Campos
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