AVALIAÇÃO DO PARASITISMO GASTRINTESTINAL DE ASININOS DA ILHA DE SÃO LUIS, ESTADO DO MARANHÃO

Transcrição

1 AVALIAÇÃO DO PARASITISMO GASTRINTESTINAL DE ASININOS DA ILHA DE SÃO LUIS, ESTADO DO MARANHÃO Edvaldo Franco Amorim Filho 1, Ana Clara Gomes dos Santos 1, Francisca Andréia Ferreira Dutra 1, George Montalvane Silva Ferreira 1, Rita de Maria Seabra Nogueira de Candanedo Guerra 1 1 Laboratório de Parasitologia, Mestrado em Ciência Animal, Universidade Estadual do Maranhão, São Luis, Brasil. de contato: grita62@hotmail.com Recebido em: 30/09/2013 Aprovado em: 08/11/2013 Publicado em: 01/12/2013 RESUMO O presente trabalho objetivou realizar levantamento dos principais helmintos gastrintestinais em asininos, na ilha de São Luis, estado do Maranhão. Foram coletadas e analisadas 100 amostras fecais pelos métodos qualitativo e quantitativo. As amostras positivas foram submetidas à coprocultura visando à recuperação e identificação genérica de larvas de terceiro estágio. Do total de amostras coletadas 77% foram positivas para helmintos gastrintestinais e 14 amostras apresentaram carga parasitária superior a ovos por grama (OPG). Ovos de Strongyloidea, Rhabdiasoidea, Ascaroidea, Oxyuroidea e Anoplocephalidae foram observados. Na coprocultura, foram recuperadas e identificadas larvas de Strongylus vulgaris, Strongylus edentatus, Trichostrongylus e Ciatostomineos. Observou-se valores mais elevados de OPG no período seco quando comparado ao período chuvoso. PALAVRAS-CHAVE: Equus asinus, helminto, São Luis EVALUATION OF THE GASTRINTESTINAL HELMINTH PARASITISM IN DONKEYS FO SÃO LUIS ISLAND, MARANHÃO STATE, BRAZIL ABSTRACT This study aimed to know the gastrointestinal helminthes in donkeys in São Luis Island, Maranhão State, Brazil. One hundred fecal samples were collected and analyzed by qualitative and quantitative methods. The samples were submitted to coproculture to recuperate and identify the larvae. From the total samples, 77% were positive for helminthes and 14 presented eggs per gram (EPG) above Eggs form Strongyloidea, Rhabdiasoidea, Ascaroidea, Oxyuroidea and Anoplocephalidae were detected. In the coproculture larvae of Strongylus vulgaris, Strongylus edentatus, Trichostrongylus and Ciatostominae were identified. Higher EPG was observed in the dry period when compared to the rainy one. KEYWORDS:Equus asinus, helminth, São Luis 393

2 INTRODUÇÃO Tendo em vista seus hábitos alimentares, os eqüídeos, herbívoros por natureza, são muito susceptíveis ao parasitismo interno. Tais parasitas constituem sérios fatores de risco à saúde dos animais, afetando diretamente o seu desempenho, além de causarem diversos problemas, tais como, cólicas, diminuição do apetite, debilidade física, anemia, diarréias ou constipações, retardo de crescimento e até mesmo o óbito. Algumas doenças e lesões como aneurismas verminóticos, gastrenterites, dermatites, pneumonias e outras alterações cutâneas também estão associadas ao endoparasitismo (BERGER, 2007). Os asininos apesar da rusticidade e resistência, são vulneráveis a uma série de doenças infecciosas e não infecciosas, incluindo as infecções parasitárias. As helmintoses nestes animais podem causar considerável morbidade e mortalidade (CHITRA et al., 2011). Segundo ASEFA et al., (2011), as infecções parasitárias por helmintos são os fatores mais comuns que restringem a saúde e o desempenho dos asininos por causarem prejuízos dependendo da espécie e quantidade dos parasitos e do estado nutricional e imune do hospedeiro. Segundo dados bibliográficos grande parte dos trabalhos com helmintos de asininos são desenvolvidos na Etiópia e India, estes trabalhos de pesquisa evidenciam parasitismo principalmente por Strongylus, Parascaris, Strongyloides, ciatostomineos, Dictyocaulus (IBRAHIM et al., 2011) e Oxyuris (SHRIKHANDE et al. 2009), além destes a literatura cita também Fasciola e Anoplocephala (AYELE et al., 2006; ASEFA et al., 2011). Os asininos são animais de trabalho e de transporte em países em desenvolvimento em várias localidades do mundo (SHRIKHANDE et al. 2009, IBRAHIM et al., 2011). Muitos desses animais pertencem a pessoas de baixa renda e trabalham em condições precárias, de modo que a saúde e bem estar devem ser motivo de atenção. Na ilha de São Luis, os asininos são frequentemente utilizados como veículos de tração e representam fonte de renda para famílias de baixa renda. Considerando a importância destes animais, o conhecimento dos parasitos que os acometem é imprescindível para que medidas de cunho preventivo e curativo sejam instituídas. O presente trabalho objetivou realizar levantamento dos principais helmintos gastrintestinais em asininos da ilha de São Luís estado do Maranhão, considerando os períodos seco e chuvoso. MATERIAL E MÉTODOS A microrregião da Ilha de São Luis está localizada na Mesorregião Norte Maranhense. Está enquadrada pelas coordenadas geográficas 2º e 2º de latitude Sul e 44º e 44º de longitude Oeste. É composta pelos municípios de Paço do Lumiar, Raposa, São José de Ribamar e São Luis. O clima da região, segundo a classificação de Koppen, é do tipo AW, tropical chuvoso, com predominância de chuvas nos meses de janeiro a abril. A temperatura média anual oscila em torno de 28 ºC (MARANHÃO, 2002). Foram coletadas amostras de 100 asininos dos municípios que compreendem a ilha de São Luís, entre os meses de julho a dezembro de 2009 e janeiro a junho de 394

3 2010 considerando o período seco e chuvoso, respectivamente. As amostras de fezes foram coletadas de animais naturalmente infectados por helmintos gastrintestinais, sem raça definida, com idade e peso variados, independente de sexo. As amostras foram obtidas diretamente da ampola retal, com auxílio de luvas de palpação transretal devidamente identificadas e acondicionadas em caixas isotérmicas. Os exames coproparasitológicos foram realizados no Laboratório de Parasitologia da Universidade Estadual do Maranhão/UEMA. Para análise qualitativa utilizou-se o método de WILLIS-MOLLAY (1921). Para o estudo quantitativo utilizou-se a contagem de ovos por grama de fezes (OPG) pela técnica modificada de GORDON & WHITLOCK (1939) e a coprocultura de acordo com ROBERTS & O`SULLIVAN (1950), objetivando a identificação genérica das larvas de terceiro estágio. Das amostras que apresentaram OPG superior a 2000, realizou-se um homogeneizado para a realização de cultivos de larvas em triplicata. Ovos e formas larvares de helmintos gastrintestinais presentes nas amostras foram identificados de acordo com os aspectos morfológicos descritos por HOFFMANN (1987). Os dados foram analisados pelo teste de Qui-quadrado, seguido do teste de Fisher em nível de 5%. Os dados climáticos foram analisados por estatística demonstrativa e descritiva, com uso de testes de correlação, associação e significância, fixando-se a probabilidade de erro tipo I em 10% (SERRA-FREIRE, 2002). RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram coletadas 100 amostras de fezes de asininos oriundos da ilha de São Luis, distribuídos entre os municípios de São Luis (39 amostras), Paço do Lumiar (21), Raposa (20) e São José de Ribamar (20). Dos animais amostrados 77% encontravamse parasitados por helmintos gastrintestinais. Verificou-se a acentuada presença de ovos de nematódeos da superfamília Strongyloidea totalizando 68%, seguida pela superfamília Rhabdiasoidea com 31%. Além destes ovos de Ascaroidea, Oxyuroidea e Anoplocephalidae também foram evidenciados. SHRIKHANDE et al. (2009), estudando o parasitismo gastrintestinal de asininos obtiveram prevalência de 82,9%, já CHITRA et al. (2011), registraram 79,1% de animais positivos, resultados semelhantes ao encontrado, em contrapartida, IBRAHIM et al. (2011) relataram infecções por helmintos em 96,9% dos animais amostrados e AYELE et al. (2006) relataram que todas as amostras examinadas (338/100%) foram positivas para ovos de helmintos, assim como YOSEPH et al., (2001). Os resultados apresentados pelos autores supracitados evidenciam o alto grau de susceptibilidade dos asininos as infecções por helmintos, independentemente de sexo e local de criação dos animais, considerando que foram desenvolvidos na Índia e Etiópia e os resultados aqui apresentados são de animais criados na ilha de São Luis, estado do Maranhão, Brasil. Valores mais elevados de OPG foram observados no período seco (Tabela 1). Tal fato pode ser devido ao período do ano em que as amostras foram coletadas, uma vez que o ambiente em determinada época é propicia a infecção por helmintos através da alimentação de pasto contaminado. No entanto, o manejo dos asininos utilizados pelos condutores de veículos de tração animal, parece ser o principal fator determinante 395

4 para a infecção dos animais. Além disto, a oferta de alimento no período chuvoso é abundante, o que sugere a melhora da condição fisiológica do animal, do contrário, a escassez de alimento no período seco, aliada ao aumento na jornada de trabalho pode ajudar a elucidar a maior ocorrência do parasitismo neste período. AYELE et al., (2006), assim como IBRAHIM et al., (2011) demonstraram que existe diferença significativa entre a prevalência dos parasitas e a condição do escore corporal dos animais, ressaltando que helmintos parasitas são mais comumente encontrados em animais com escore corporal baixo. Comparando a carga parasitária dos animais considerando a procedência e o período do ano (seco e chuvoso) observou-se em análise estatística, através do Teste de Qui-quadrado e Exato de Fisher, diferença significativa entre os municípios e o período do ano (P<0,0001) conforme a tabela 1. Tal fato pode ser explicado devido ao quantitativo de amostras analisadas bem como o manejo utilizado e a época do ano em que as amostras foram coletadas. TABELA 1. Distribuição dos valores de ovos por grama de fezes (OPG) quanto ao período de coleta e a procedência de 100 amostras de asininos na Ilha de São Luis, MA entre julho de 2009 a junho de OPG Período São José de Paço do São Luis Ribamar Lumiar Raposa Seco Chuvoso TOTAL S. Luis x S.J. de Ribamar = X 2 c = 1322,7 (P<0,0001); OR = 1,995; IC(95%) = 1,921 0,2,071 S. Luis x P. Lumiar = X 2 c = 4850,1 (P<0,0001); OR = 3,830; IC(95%) = 3, S. Luis x Raposa = X 2 c = 171,99 (P<0,0001); OR = 1,291; IC(95%) = 1,243 1, 342 S.J. de Ribamar x P. Lumiar = X 2 c = 1019,8 (P<0,0001); OR = 1,920; IC(95%) = 1,844 1,999 S.J de Ribamar xraposa = X 2 c = 469,32 (P<0,0001); OR = 0,6473; IC(95%) = 0,6222 0,6734 P. Lumiar x Raposa = X 2 c = 2820,3 (P<0,0001); OR = 0,3372; IC(95%) = 0,3237 0,3512 Através da coprocultura foram identificadas larvas de S. vulgaris, S. edentatus, Trichostrongylus sp. e larvas da subfamília Cyatostominae. A fauna de helmintos encontrada no presente estudo corrobora com achados de IBRAHIM et al., (2011) que além destes, encontraram Strongylus equinus, Oxyuri equi, Parascaris equorum e Dictyocaulus arnfield. Resultado semelhante foi observado por ASEFA et al., (2011), embora estes autores também tenham identificado outras espécies de parasitos. MATTHEE et al., (2000) realizando estudos através de necropsias em asininos, visando pesquisa de parasitos gastrintestinais, identificaram 15 gêneros e 29 espécies, 396

5 compreendendo as famílias Ascarididae, Habronematidae, Onchocercidae, Oxyuridae, Strongylidae, Anoplocephalidae e Paramphistomatidae. Os dados referentes aos parasitos observados durante os períodos seco e chuvoso, em cada município pesquisado, encontram-se discriminados na tabela 2. Nota-se que a principal espécie identificada parasitando os asininos na ilha de São Luis é Strongylus vulgaris. TABELA 2. Frequência absoluta e relativa (%) de larvas de helmintos em 100 asininos amostrados na ilha de São Luis - MA entre os meses de julho de 2009 e junho de Período Seco Municípios Helmintos São Luis Paço do Lumiar São José de Ribamar Raposa N % N % N % N % Strongylus vulgaris Strongylus edentatus Trichostrongylus Cyathostominae TOTAL Período Chuvoso Municípios Helmintos São Luis Paço do Lumiar São José de Raposa Ribamar n % n % N % N % Strongylus vulgaris Strongylus edentatus Trichostrongylus Cyathostominae TOTAL Trabalhos realizados por MENGISTU et al. (2005) demonstram que a aplicação de tratamento anti-helmíntico associado a suplementação alimentar em asininos resultou em significativo aumento de peso em fêmeas prenhes e seus produtos. Diante disto, um tratamento adequado de controle de helmintos, assim como o manejo nutricional são medidas profiláticas que devem ser incentivadas caso o proprietário deseje manter o desempenho do animal, pois segundo estes autores as infecções por helmintos associadas a deficiências nutricionais acarretam em baixo desempenho dos animais. 397

6 CONCLUSÃO Constatou-se parasitismo gastrintestinal nos asininos da ilha de São Luis com predominância de larvas de Strongylus vulgaris. As contagens mais elevadas de OPG ocorreram no período seco. AGRADECIMENTOS À Fundação de Amparo á Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão/FAPEMA pela concessão da bolsa. REFERÊNCIAS AYELE, G., G. FESEHA, E. BOJIA e JOE, A. Prevalence of gastro-intestinal parasites of donkeys in Dugda Bora District, Ethiopia. Livestock Research for Rural Development (LRRD), v. 18, n.10, ASEFA, Z., KUMSA, B., ENDEBU, B., GIZACHEW, A., MERGA, T., DEBRLA, E. Endoparasites of Donkeys in Sululta and Gefersa Districts of Central Oromia, Ethiopia. Journal of Animal and Veterinary Advances, v. 10, p , ASEFA, Z.; KUMSA, B.; ENDEDU, B.; GIZACHEW, A.; MERGA, T.; DEBELA, E. Endoparasites of donkeys in Sululta and Gefersa districts of Central Oronia, Ethiopia. Journal of animal and Veterinary Advances, v. 10, p , BERGER. H. A primavera é um importante período para o controle dos parasitas dos eqüinos. Disponível em: < Acesso em: 27 set CHITRA, R.; RAJEDRAN, S.; PRASANNA, D.; KIRUBAKARAN, A. Influences of age on the prevalence of parasitic infections among donkeys in Erode district, Tamilnandu, India. Veterinary World. v. 4, p , ELISABETH, D.; SEVENDESEN, M.B.E. Professional donkey hand book. Anley road, London W14 OBY, 61p, GORDON, H. M. L.; WHITLOCK, H. V. A. New techinique for counting nematode egg in sheep faeces. Journal Council Science Industrial Research Australian. v.12, p , HOFFMANN, R.N. Diagnóstico de parasitismo veterinário. Sulina, Porto Alegre, 156p IBRAHIM, N.; BERHANU, T.; DERESSA, B.; TOLOSA, T. Survey of prevalence of helminth parasites of donkeys in and around Hawassa town, Southern Ethiopia. Global Veterinaria. v. 6, p ,

7 MATTHEE, S.; KRECK, R. C.; MILNE, S. A. Prevalence and biodiversity of helminthes parasites in donkeys from South Africa. Journal of Parasitology, v. 86, p , MARANHÃO, Atlas do Maranhão. Gerência de Planejamento e Desenvolvimento Econômico/Laboratório de Geoprocessamento - UEMA. São Luís: GEPLAN, 44p. MENGISTU, A.; SMITH, D.G.; YOSEPH, S.; NEGA, T.; ZEWDIE, W.; KASSAHUN, W.G.; TAYE, B.; FIREW, T. The Effect of Providing Feed Supplementation and Anthelmintic to donkeys during late pregnancy and lactation on live weight and survival of dams and their foals in Central Ethiopia. Tropical Animal Health Production, v.37, p , ROBERTS, F. H. S.; O`SULLIVAN, P. J. Methods for egg counts and larval cultures for strongyles infection the gastro-intestinal tract of cattle. Australian Agriculture Research, v.1, p , SERRA-FREIRE, N.M. Planejamento e Análise de Pesquisas Parasitológicas. Niteroi, Editora da Universidade Federal Fluminense, 199 p SHRIKHANDE, G. B.; REWATKAR, S. G.; DESHMUKH, S. S.; MASKE, D. K.; RAGHORTE, Y. M. The incidence of helminth parasites in donkeys. Veterinary World, v. 2, p. 224, SVENDSEN,.D The Professional Handbook of the Donkey.3rd Edn.White Books Ltd., London, p: , WILLIS, H. H. A simple levitation method for the detection of hookworm ova. Medicine Journal Australia, v. 8, p.375, YOSEPH, S.; FESEHA G.; ABEBE, W. Survey on helminthosis of equines in Wonchi, Ethiopia. Journal of the Ethiopian Veterinary Association, v. 5, p