TERMO DE REFERÊNCIA Serviços para geração de sistema de monitoramento territorial integrado em terras indígenas 1. APRESENTAÇÃO A The Nature Conservancy (TNC) é uma organização sem fins lucrativos que tem como missão preservar plantas, animais e ecossistemas naturais que representam a diversidade de vida na Terra, através da proteção das terras e águas de que necessitam para sobreviver. Atua em 35 países e conta com mais de um milhão de membros, recebe apoio da comunidade empresarial e de diversas organizações bilaterais. Até o momento a TNC já ajudou a proteger mais de 4 milhões de hectares e cerca de 8000 quilômetros de rios no mundo. No Brasil a TNC implanta projetos de conservação em parceria com organizações não- governamentais e órgãos governamentais federais, estaduais e municipais, contribuindo com a proteção de cerca de dois milhões de hectares. O Programa Brasil por meio da estratégia em Terras Indígenas (TI) busca incentivar a gestão territorial em bases ambientalmente responsáveis, como ferramenta de planejamento estratégico das comunidades promovendo a conservação efetiva da biodiversidade. Em 2007, a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) e a TNC firmaram termo de cooperação técnica com o objetivo de fortalecer e implementar políticas públicas ambientais e de etnodesenvolvimento de Terras Indígenas. Desse compromisso institucional mútuo, seguiu- se a formulação e implementação da Política Nacional de Gestão Ambiental em Terras Indígenas (PNGATI) e do Projeto de Gestão Ambiental em Terras Indígenas (GATI) - anteriormente conhecido como GEF Indígena, apoiado pelo Fundo para o Meio Ambiente Mundial - Global Environment Facility (GEF). Na Amazônia Oriental, a TNC apoia a implementação do PNGATI em seis terras indígenas: quatro localizadas no Amapá (Galibi, Jumina, Uaçá e Waiãpi) e duas no Pará (Trincheira Bacajá e Apyterewa). Atualmente, em projeto junto ao Fundo Amazônia, busca promover a gestão territorial e ambiental sustentável nessas terras indígenas, contribuindo para a redução do desmatamento e visando gerar lições replicáveis para a PNGATI. O programa de gestão ambiental e territorial de terras indígenas tem como objetivo apoiar a consolidação dessas terras por meio da formação indígena em áreas estratégicas e necessárias ao enfrentamento dos desafios atuais da gestão territorial. Neste contexto, o Plano de Gestão Territorial e Ambiental (PGTA), ferramenta formalizada a partir da criação do PNGATI, têm como objetivo principal o reconhecimento, a valorização e o desenvolvimento da gestão ambiental como instrumento de proteção dos
territórios e das condições ambientais necessárias à produção física e cultural e ao bem- estar dos povos e comunidades indígenas. O planejamento e a gestão territorial em terras indígenas dependem do domínio de informações do espaço oriundas tradicionalmente do conhecimento empírico das populações nativas, mas que podem se beneficiar grandemente de informações governamentais de monitoramento territorial. Neste contexto, a Amazônia Legal conta com vários sistemas governamentais de monitoramento territorial, que incluem o mapeamento de áreas de mineração, de centrais hidroelétricas e do avanço do desmatamento, dados estes que também abrangem os territórios indígenas. O Instituto de Pesquisa Espaciais (INPE), por sua vez, mapeia anualmente o avanço do desmatamento na Amazônia legal por meio do projeto PRODES, assim como os alertas de desmatamento (projeto DETER) e os focos de calor (indicadores de queimadas). O acesso dos povos indígenas a essas informações, no entanto, ainda é precário, encontrando barreiras não somente de idioma, mas também tecnológicas. As informações em escalas mais detalhadas sobre a realidade dentro das terras indígenas também são precárias e, quando existentes, por vezes são defasadas, sendo insuficientes para a tomada de decisão em relação ao ordenamento territorial e para o próprio etnodesenvolvimento. Além do uso de dados governamentais, o sistema de monitoramento de terras indígenas deve incorporar informações primárias que reflitam a realidade das comunidades envolvidas. O diagnóstico participativo, uma das etapas de implementação do PGTA em terras indígenas, permite a incorporação dessas informações ao processo de monitoramento. Esse diagnóstico consiste no levantamento e análise de informações a partir do diálogo intercultural e de dados provenientes de fontes secundárias (considerando o contexto histórico, político, sociocultural, econômico e ambiental da comunidade) e tem no etnomapeamento uma importante ferramenta de diagnóstico ambiental e territorial. Esta ferramenta permite a representação do território de acordo com a compreensão e classificação indígena do espaço e de seus elementos característicos, e é essencial para uma compreensão mais detalhada do território e seu planejamento. Com o objetivo de consolidar e dinamizar o diagnóstico participativo, levando à formação de um banco de dados destinado à conservação em terras indígenas que otimize o processo de reconhecimento territorial por meio do etnomapeamento, a TNC está considerando o uso do software CyberTracker para a coleta de informações in situ. O CyberTracker foi desenvolvido para coletores de dados sem domínio de leitura ou escrita, apresentando uma interface baseada em ícones que permitem a identificação de diferentes espécies da flora e fauna e o registro de observações georreferenciadas. Esse sistema reduz os erros de entrada de dados e gera um banco de dados estruturado que pode ser visualizado em tabelas, mapas e gráficos. Além de fácil manipulação e adaptação, o CyberTrack pode ser utilizado para coleta de dados de campo com o uso de GPS em smartphones, tabletes e computadores de mão. O software foi originalmente concebido para populações nativas da Austrália e do Canadá, em uma realidade bem diferente da Amazônia em termos de biodiversidade. Portanto, para que ele possa ser utilizado no bioma amazônico se fazem necessárias adaptações.
O uso conjunto de informações coletadas localmente e de bases de monitoramento governamentais, por meio de sistemas integrados e acessíveis de gestão e monitoramento territorial, poderá otimizar a gestão do espaço e da biodiversidade local, o combate ao desmatamento e o acesso e compartilhamento de informações. 2. OBJETIVOS O objetivo deste termo de referência é contratar consultoria na área de informática com a finalidade de: i) Montar um sistema informatizado para gestão e monitoramento territorial das seis terras indígenas indicadas no item 3 abaixo ( área de interesse ) que garanta acesso em tempo real e gestão integrada de dados coletados localmente e de sistemas de monitoramento governamentais, permitindo a geração de mapas e relatórios sobre a situação da terra indígena; com base nos insumos a serem disponibilizados pelo Projeto IGATI IGATI, desenvolvido pela TNC com apoio financeiro do Fundo Amazônia. ii) Adaptar o software CyberTracker (e seus aplicativos derivados desenvolvidos para indígenas na Austrália e Canadá) para o contexto de monitoramento da biodiversidade e de ameaças das seis terras indígenas no Brasil para que possa ser utilizado na coleta de informações pelos povos indígenas locais; e identificar hardware que possa ser adaptado às especificidades desses povos ii) Apoiar a construção de protocolos internos de acesso, de proteção e de compartilhamento de informações do sistema, por meio da discussão conjunta com os líderes e técnicos indígenas, parceiros governamentais e não governamentais dos PGTA sobre procedimentos adaptados à realidade dos povos e terras Indígenas de modo a garantir a segurança e consistência dos dados, assim como a aplicação consistente dessas informações no processo de gestão. iii) Construir um plano pedagógico de capacitação de gestores ambientais indígenas para que possam operar os sistemas de monitoramento a fim de: gerar diagnósticos, interpretar resultados, acompanhar a situação ambiental do território e subsidiar a tomada de decisões, gerenciar a entrada e saída de dados e multiplicar os conhecimentos adquiridos. 3. ÁREA DE INTERESSE
A área de interesse para os objetivos propostos compreende seis terras indígenas nos estados do Pará e do Amapá inseridas no projeto GATI: Galibi, Jumina, Uaça, Walãpi, Trincheira Bacaja e Apyterewa (Figura 1). Figura 1. Terras indígenas nos estados do Pará e Amapá inseridas no projeto GATI apoiadas pela TNC. 4. ATIVIDADES A SEREM REALIZADAS 4.1. Plano de trabalho e metodologia Apresentação de metodologia e plano de trabalho contendo cronograma de atividades e prazos para entrega de cada produto e subproduto. 4.2. Proposta de Sistema de monitoramento territorial integrado para terras indígenas Estruturação da arquitetura do sistema: estrutura básica de dados (quais dados e de que fontes integrarão o sistema); plataformas para o banco de dados, para ferramentas de análise e para visualização de mapas e relatórios; mecanismos para acesso a sistemas de monitoramento governamentais (PRODES, DETER, etc.) e dados coletados via CyberTracker; mecanismos de inserção de dados e de geração de mapas e relatórios. Apresentação da proposta de arquitetura do sistema. Montagem da interface gráfica do sistema para gestão de dados, geração de mapas e relatórios.
Apresentação e demonstração do sistema em funcionamento. Produção de manual de operação do sistema em versão detalhada e em versão didática com abordagem adequada à realidade local indígena. 4.3. Adaptação do CyberTracker Conversão para idioma adequado à realidade local indígena (o software foi desenvolvido originalmente em Inglês). Adaptação e personalização de listas de espécies e ícones para espécies encontradas nas terras indígenas juntamente com a equipe da TNC- Brasil. Demonstração do software adaptado e em funcionamento. 4.4. Seminários e oficinas de apresentação Seminário de apresentação da proposta do sistema de monitoramento (incluindo Cybertrack adaptado) para parceiros para obter feedback e recomendações, incluindo: plano do seminário e relatórios. Oficinas indígenas para apresentação da proposta do sistema de monitoramento e validação, incluindo: plano da oficina e relatórios. 4.5 Protocolos internos de acesso, proteção e compartilhamento de dados Produção de um plano conjunto, oriundo de discussões junto aos líderes locais, de procedimentos para assegurar a proteção dos dados do sistema, tanto na questão do acesso e compartilhamento, quanto na questão da consistência e aplicação dos mesmos. 4.6. Plano pedagógico de capacitação de gestores ambientais indígenas Produção de plano pedagógico para capacitação de gestores ambientais indígenas para operação do sistema de monitoramento e para multiplicação dos conhecimentos adquiridos; Produção de material didático e de suporte para capacitação. 5. PRODUTOS A SEREM ENTREGUES Produto A: Proposta de plano de trabalho com cronograma de atividades indicando a data de entrega de cada produto.
Produto B: Sistema de monitoramento territorial integrado para terras indígenas, contendo: B.1. Projeto apresentando a arquitetura do sistema. B.2. Aplicativo do sistema de gestão e monitoramento territorial integrado para terras indígenas. B.3. Manual detalhado de operação do sistema para usuários e administradores em versão detalhada e em versão com abordagem adaptada à realidade local indígena. Produto C: Versão adaptada do software CyberTracker para idioma adequado à realidade indígena, com ícones e nomes de espécies adaptados para o contexto de biodiversidade local. Produto D: Seminários e oficinas de apresentação do sistema, contendo: D.1. Plano e relatórios do seminário de apresentação da proposta do sistema para parceiros. D.2. Plano e relatórios da oficina indígena de apresentação e validação da proposta do sistema. Produto E: Protocolos internos de acesso, proteção e compartilhamento de dados, contendo: E.1. Relatório de reuniões com líderes locais para definição de plano de procedimentos para proteção, repartição e compartilhamento de dados e de apresentação de resultados. E.2. Plano de acesso, proteção e repartição de informações com abordagem adequada à realidade indígena. Produto F: Plano pedagógico de capacitação de gestores ambientais indígenas, contendo: F.1. Plano pedagógico de capacitação para operação do sistema de monitoramento. F.2. Material didático e de suporte para capacitação. 6. ACOMPANHAMENTO DE PRODUTOS Todos os produtos desta prestação de serviços deverão ter o conteúdo e as especificações técnicas em conformidade com o padrão definido neste documento e em plano de trabalho preparado pela contratada e aprovado pela contratante. A elaboração desses produtos será acompanhada pela equipe técnica da contratante da seguinte forma: Reunião inicial para discussão do plano de trabalho e cronograma.
Reuniões mensais entre técnicos da contratada e da contratante (a serem definidas no plano de trabalho) via videoconferência ou audioconferência com compartilhamento de tela, para verificação do avanço dos trabalhos e discussão de problemas e dúvidas. Entrega mensal pela contratada de relatório de evolução do trabalho. Avaliação por parte da contratante de cada produto e subproduto entregue mediante especificações informadas no termo de referência, no contrato e no cronograma e plano de trabalho definido entre contratante e contratada. 7. INSUMOS DISPONIBILIZADOS PELA CONTRATANTE a. Software CyberTracker b. Demo de aplicações do software. c. Bases cartográficas digitais disponíveis referentes às áreas de interesse. 8. FORMAS DE PAGAMENTO O pagamento será realizado após a entrega, análise e aprovação de cada produto especificado neste TdR pela equipe técnica da contratante. Ou seja, após a aprovação do produto, iniciam- se os trâmites administrativos para pagamento. 9. VALOR MÁXIMO DO CONTRATO O valor total máximo do contrato será de R$ 60 000,00 (sessenta mil reais),a serem descontados ainda os impostos previstos em lei. 10. APRESENTAÇÃO DA PROPOSTA O proponente deve enviar a sua proposta para fbittencourt@tnc.org até o dia 20/10/2015 com o título: Sistema de monitoramento territorial integrado em terras indígenas. A proposta técnica deve conter: Metodologia geral a ser aplicada na execução das atividades. Cronograma de execução das atividades. Experiência do proponente relativa ao escopo do trabalho.
Proposta financeira por produto, de acordo com os itens 5 e 9 deste termo de referência. Brasília, 25/10/2015.