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Michelle Cartolano de Castro Ribeiro. Catolicismo e Espiritismo: potenciais de pesquisa a partir do Fundo José Pedro Miranda (Centro Universitário Barão de Mauá pós-graduando) O espaço de estudo usado para este trabalho foi o Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto, que foi criado pela Lei Complementar n 130 do dia 2/7/1992. O acervo do Arquivo Público e Histórico compreende por volta do ano de 1870 até 1990. A documentação encontrada no Arquivo é de origem pública, privada e coleções de periódicos, livros e monografias. 1 O Fundo utilizado para o trabalho foi de José Pedro Miranda. Ele nasceu em 23/7/1930, em Livramento (BA) e faleceu em Ribeirão Preto no dia 17/7/1999. Seu acervo reflete os locais pelo qual passou e trabalhou, além de mostrar seus interesses pessoais. Foi jornalista, escritor, filólogo e grande pesquisador da história de Ribeirão Preto. Em 1971 publicou o livro Ribeirão Preto de Ontem e Hoje, além de diversos artigos sobre a história da cidade. Foi diretor dos Museus Municipais de 1972 a 1983 e coordenador do Arquivo Público e Histórico de 1995 a 1998. Além disso, trabalhou nos jornais O Diário, Diário da Manhã, A Cidade, e foi diretor do jornal Diário de Notícias. Foi membro fundador da ALARP (Academia de Letras e Artes de Ribeirão Preto), sócio fundador da ARPAM (Associação Regional de Preservação de Arquivos Municipais), fundador do Clube do Guarda-Chuva, Secretário da Sociedade Legião Brasileira de Cultura e Civismo. Trabalhou também nos Arquivos da Cúria Metropolitana e da Empresa Santa Emília, entre outros. 2 Seu arquivo pessoal constitui em torno de vinte mil documentos sobre a História de Ribeirão Preto e seus personagens, religião, esperanto, heráldica, filatelia, genealogia, ALARP (Academia de Letras e Arte de Ribeirão Preto), Museus Histórico e do Café, e outros. Seu acervo não contém apenas documentos escritos, mas também, fotografias, cartões postais, objetos, recortes de jornais, plantas, mapas, periódicos, etc. O uso desse conjunto de documentos pode ser explorado por vários temas de estudo, visto que sua abrangência é muito diversificada. Os documentos denotam a postura de José Pedro Miranda como intelectual, por meio de seus inúmeros artigos escritos para jornais, além de livros publicados. Sua extensa biblioteca nos revela ainda quais eram os assuntos lidos e estudados, possibilitando 1 REGISTRO, Tânia Cristina. O arranjo de fotografias em unidades de informação: fundamentos teóricos e aplicações práticas a partir do Fundo José Pedro Miranda do Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto. Marília: UNESP, 2005. P. 102. 2 www.ribeiraopreto.sp.gov.br Acesso em junho de 2008.

compreensões sobre sua militância nos diversos temas escritos por ele. É possível estudarmos um determinado assunto a partir de suas leituras, mostrando sua visão sobre o mesmo. Estudar um fato por meio do acervo privado de um agente histórico é ferramenta usada pela história cultural, como afirma GOMES em seu artigo, [...] Por repensar modelos macro-históricos e por considerar a «experiência» dos homens em seu tempo e lugar como crucial para o entendimento dos processos sociais, essa história cultural floresceu em grande parte associada a uma mudança na escala de trabalho do historiador, vale dizer, associada à micro-história. 3 O objetivo do estudo sobre religião no conjunto documental de José Pedro Miranda foi com o intuito de buscar fontes para um futuro trabalho sobre o surgimento do Espiritismo em Ribeirão Preto e quais as formas de resistência usadas pela Igreja Católica para impedir esse crescimento e difusão. Essas resistências podem ser vistas por meio dos jornais católicos da época, nos quais a imprensa católica era usada abundantemente contra os inimigos da igreja. As Cartas Pastorais, tão utilizadas pelos Bispos, também constitui em um rico material encontrado no acervo de José Pedro e extremamente útil para essa pesquisa. A terceira fonte são os livros, escritos pelos padres e intelectuais, defendendo a Igreja dos inimigos em ascensão: espiritismo, protestantismo, maçonaria e comunismo. Esses documentos concentram-se entre os anos de 1857 até 1977. O conjunto documental sobre religião de José Pedro Miranda é extenso e pode ser encontrado nas seguintes áreas: livros atas de instituições religiosas, cartas, brasões eclesiásticos, recortes de jornais, artigos de jornais escritos por ele e por outros jornalistas, biografias de padres, estudos sobre outras religiões, e sua grande biblioteca composta por aproximadamente dois mil livros sobre catolicismo, protestantismo, espiritismo, judaísmo, além de livros falando sobre a relação da maçonaria e a igreja católica. Militante católico, José Pedro Miranda tem envolvimento direto com a igreja católica e hierarquia eclesiástica, pois era participante do movimento católico de jovens operários e Congregado Mariano. 4 A escolha do uso do arquivo pessoal de religião de José Pedro Miranda foi justamente por ser rico em documentos que mostram a visão de várias religiões e não só a católica, em um momento da história em que a Igreja Católica sentia-se ameaçada pelas novas instituições e filosofias religiosas que se disseminavam no Brasil. 3 GOMES, Ângela de Castro. Nas malhas do feitiço: o historiador e os encantos dos arquivos privados. 1997, p. 3. www.cpdoc.fgv.br Acesso em junho de 2008. 4 MURGUÍA, Eduardo Ismael; REGISTRO, Tânia Cristina. O arranjo arquivístico como escrita uma reflexão sobre a narrativa em imagens a partir do fundo Pedro Miranda no Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto. Páginas Arquivos e Bibliotecas. Lisboa: Gabinete de Estudos a&b, 2005. N. 16, p. 121.

Para entender o Fundo José Pedro Miranda e como fazer uso do mesmo em um trabalho, é preciso entender o que é arquivo pessoal. MURGUÍA e REGISTRO conceituam que, Os arquivos pessoais podem ser formados não unicamente por documentos produzidos ou emanados de uma única fonte, mas também constituídos por documentos, livros, fotografias e objetos, não gerados, mas coletados, integrando então um conjunto de documentos que se configura como um arquivo pessoal. Esta questão é de suma importância para a arquivística. Ela é um conceito que separa os arquivos das bibliotecas e museus, toda vez que as atividades destas últimas sejam as de coletar e colecionar. Ou seja, uma atividade de acúmulo artificial, diferente da emissão supostamente natural da arquivística. Sendo a coleção um acúmulo documental artificial, seu arranjo obedeceria a outros critérios, não mais ligados somente à fonte geradora, mas também ao conteúdo do documento. 5 A coleta feita por Pedro Miranda na área de religião, diz muito sobre a visão dele acerca deste tema e as leituras buscadas para estudo ou passatempo. Diferente de estudar um assunto por meio de livros soltos em uma estante de biblioteca, o uso do arquivo pessoal diz mais por sua organização, estrutura e disponibilidade. O arranjo em como estão dispostos os documentos e os assuntos são um capítulo à parte de estudo para o historiador. A partir dessa organização é possível entender a metodologia buscada pelo intelectual ao coletar seus documentos e o que ele buscava com isso. Estudar um assunto a partir da visão do sujeito nos permite entender o momento histórico vivido por ele e não só apenas o narrado nos livros. Fazer uso do acervo de José Pedro Miranda é mais instigante ainda, pois além de ter reunidos vários livros sobre o catolicismo, é possível perceber a preocupação da Igreja durante o começo do século XX: o crescimento do espiritismo, protestantismo, judaísmo, maçonaria e comunismo. Isso fica nítido nas cartas pastorais de 1900 até 1970. O grande foco narrado pelos padres, bispos e papas era o perigo dessas novas ideologias para a sociedade brasileira e pior, para a família cristã. Entretanto, o nosso sujeito estudado é mais interessante por não ter compilado apenas informações e documentos referentes à sua religião ou de lições eucarísticas. Pedro Miranda, mesmo sendo um grande militante católico e mariano, também guardava livros de outras religiões, talvez para melhores informações acerca do pensamento construído. Interessava a ele essa discussão da Igreja sobre as novas religiões, pois ele fazia esboços de assuntos como maçonaria e catolicismo, ou pode um padre ser maçon, entre outros. É de sua autoria também artigos de jornais sobre o catolicismo em face do crescimento da maçonaria e espiritismo na sociedade, e até no meio católico. 5 MURGUÍA, Eduardo Ismael; REGISTRO, Tânia Cristina. O arranjo arquivístico como escrita uma reflexão sobre a narrativa em imagens a partir do fundo Pedro Miranda no Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto. Páginas Arquivos e Bibliotecas. Lisboa: Gabinete de Estudos a&b, 2005. N. 16, p. 127.

A grande diferença de se pesquisar a partir de arquivos privados é a oportunidade única de mergulhar dentro da experiência de vida de uma pessoa que viveu aquela época pesquisada, pois além de ter acesso aos documentos procurados, é possível entender como era o cotidiano de um congregado mariano em face do surgimento das outras religiões: o que ele pensava, o que ele escrevia e onde ele buscava fontes para escrever. José Pedro Miranda, antes de ser congregado mariano, era um intelectual que lia de tudo e obtinha todas as informações possíveis antes de escrever. Se ele leu essa grande quantidade de livros, não se sabe, mas podemos afirmar que o assunto o atraía, apenas pelo fato de ter guardado todas essas obras das mais diferentes vertentes religiosas. Outra curiosidade importante do arquivo privado para a pesquisa do historiador, além de seus esboços e artigos, são os livros que encontram-se grifados por Pedro Miranda com pequenas anotações ao lado. Estudar o objeto a partir do sujeito torna o trabalho mais interessante, pois dá forma ao que antes era abstrato. GOMES defende que, [...] as novas tendências historiográficas têm buscado crescentemente dar vida à história: dar cor e sangue aos acontecimentos, que não «acontecem» naturalmente, mas são produzidos por homens reais, quer das elites, quer do povo. Nesse sentido, os documentos pessoais permitem uma espécie de contato muito próximo com os sujeitos da história que pesquisamos. Neles «nossos» atores aparecem de forma fantasticamente «real» e «sem disfarces». Nós, historiadores, podemos passar a conhecê-los na «intimidade» de seus sentimentos e nos surpreendemos a dialogar com eles e até a imaginar pensamentos. 6 Por todos esses motivos, o uso do acervo de religião de José Pedro Miranda proporciona aos pesquisadores oportunidades únicas de entendimento do processo de doutrinação empregada pela Igreja Católica em face da ameaça de novas ideologias. E o método organizacional utilizado por Pedro Miranda diz ainda o que pensava, o que lia e como se portava um militante católico. O outro objetivo buscado no trabalho é o surgimento do espiritismo em Ribeirão Preto. Depois de coletados e observados os documentos de José Pedro Miranda que mostram a postura da Igreja Católica diante do surgimento e crescimento do espiritismo na cidade, serão buscados outros arquivos pessoais que possam mostrar a visão desse embate do lado espírita. Usando dessa metodologia, a narrativa se desenvolve em torno dos embates na cidade entre a Igreja Católica, detentora até então do poder religioso, e o Espiritismo, que visava uma religião baseada na fé raciocinada e no cientificismo. 6 GOMES, Ângela de Castro. Nas malhas do feitiço: o historiador e os encantos dos arquivos privados. 1997, p. 7. www.cpdoc.fgv.br Acesso em junho de 2008.

Referências Bibliográficas REGISTRO, Tânia Cristina. O arranjo de fotografia em unidades de informação: fundamentos teóricos e aplicações práticas a partir do Fundo José Pedro Miranda do Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto. 2005. 187f. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) Faculdade de Filosofia e Ciências UNESP. MURGUÍA, Eduardo Ismael; REGISTRO, Tânia Cristina. O arranjo arquivístico como escrita uma reflexão sobre a narrativa em imagens a partir do fundo Pedro Miranda no Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto. Páginas Arquivos e Bibliotecas. Lisboa: Gabinete de Estudos a&b, 2005. N. 16, p. 115-134. BOAVENTURA, Frei. Por que a Igreja condenou o Espiritismo. Petrópolis: Vozes, 1953. Coleção Contra a heresia espírita. GOMES, Ângela de Castro. Nas malhas do feitiço: o historiador e os encantos dos arquivos privados. 1997. www.cpdoc.fgv.br LE GOFF, Jacques. História in História e Memória: História Vol. I. Tradução Ruy Oliveira. ed.1. Lisboa: Edições 70, 2000. P. 19-120. LE GOFF, Jacques. Documento/Monumento in História e Memória: Memória Vol. II. Tradução Ruy Oliveira. ed.1. Lisboa: Edições 70, 2000. P. 103-109. LE GOFF, Jacques. Memória in História e Memória: Memória Vol. II. Tradução Ruy Oliveira. ed.1. Lisboa: Edições 70, 2000. P. 9-57. Carta Pastoral de D. Idílio José Soares, Bispo de Santos, Sobre o Espiritismo.