Variação decadal do ciclo anual de precipitação em áreas urbanas no leste de São Paulo



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Transcrição:

Variação decadal do ciclo anual de precipitação em áreas urbanas no leste de São Paulo Aline Anderson de Castro 1, Karla Longo 1, Saulo Ribeiro de Freitas 2, Ricardo Siqueira 1 1 Centro de Ciência do Sistema Terrestre - CCST/INPE - Av. dos Astronautas, 1278, Jd, da Granja São José dos Campos São Paulo Brazil 2 Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos CPTEC/INPE Rod. Pres. Dutra, Km 4, Cachoeira Paulista - São Paulo - Brasil ABSTRACT: Based on studies of the United Nations Population Fund (UN PA), 82% of South America populations live in urban areas as of 7, with a rate of growth about 1,7% a year. In Brazil, 7% of the population lives in the area originally covered by the Atlantic Forest (Mata Atlântica). The urban sprawl has been degrading the original ecosystem, and the current impact on the environment will not be easily reversed. Therefore, the goal of this paper is to analysize the changes in precipitation patterns over the past 5 decades and their possible associations to the gradient of urbanization in Eastern of São Paulo State, Brazil. We used precipitation time series of from Agência Nacional das Águas (ANA) and NOAA Analysis (National Oceanic and Atmospheric Administration), and satellite images from LANDSAT. The low frequency effects are filtered in the rainfall time series. The data was grouped in 1-year subsets and then, the annual distribution was analyzed comparing each decade in order to evaluate the changes in precipitation over the last 5 years. The results show a change in the annual distribution along the time. Palavras-chave: Precipitação, Urbanização 1 INTRODUÇÃO Desde o início do século passado já se estuda os efeitos de grandes áreas urbanas na chuva. Atualmente, esta discussão sobre como os ambientes urbanos podem afetar a variabilidade e intensidade da precipitação ainda persiste. Segundo Shepherd (5), alguns possíveis mecanismos que podem gerar impactos na precipitação ou convecção são: forte convergência devido ao aumento na rugosidade da superfície em ambientes urbanos; alta concentração de partículas de aerossóis, gerando um aumento na disponibilidade de núcleos de condensação de nuvens (CCNs - o que pode alterar o padrão de formação e a dinâmica de nuvens); e a instabilidade associada à ilha de calor, intensificando a formação de nuvens convectivas. O aumento na concentração de aerossol resulta em aumento na concentração de CCNs, aumentando o número de gotas de nuvem e, consequentemente, diminuindo o tamanho destas (Twomey, 1974). Além disto, gotas menores em grande quantidade ocasionam uma maior refletividade da radiação solar (resfriamento da atmosfera) e a menor probabilidade de ocorrência de chuva, já que gotículas muito pequenas não tendem a se aglutinar e formar gotas que precipitem (Freitas et al, 5a). Este efeito é observado também na presença de aerossol, que atenua, de forma direta, a radiação incidente na superfície (Dutton, 1993). Com a redução da radiação incidente em superfície, um dos possíveis efeitos é o de restringir a formação de células convectivas inibindo a formação de nuvens (Longo et al, 4). A ilha de calor se caracteriza pelo aquecimento diferenciado das áreas urbanas em relação aos ambientes naturais. Nas cidades, a cobertura natural do solo é substituída por uma cobertura artificial, com maior capacidade de absorver energia solar, por causa da variação de albedo, e de armazenar energia devido a uma maior capacidade térmica. Consequentemente ocorre um aumento na temperatura do ar na região em relação ao ambiente ao redor

(Shepherd, 2). Freitas e Silva Dias (5) realizaram experimentos numéricos substituindo a área urbana de São Paulo por vegetação. Os autores realizaram a análise em um período de inverno e observaram um aumento nos fluxos de calor sensível e diminuição no fluxo de calor latente, especialmente nas regiões de borda da RMSP e em cidades próximas, como Jundiaí e São José dos Campos. Segundo Betts et al. (1996), estes fluxos rapidamente reduzem o CINE ( Energia para Inibição de Convecção, do inglês Convective INhibition Energy) e aumentam o CAPE ( Energia Potencial Disponível para Convecção, do inglês Convective Available Potential Energy), parâmetros estes importantes para o ciclo de vida da convecção (Betts et al., 1996) Eles representam a energia obtida, seja por aquecimento da superfície ou por levantamento forçado, para formação de convecção, podendo inclusive afetar a quantidade de chuva observada. O objetivo deste trabalho é avaliar as alterações nas séries temporais de precipitação observadas nas últimas 5 décadas e possível associação com as mudança de padrões na região leste do Estado de São Paulo. 2 - MATERIAL E MÉTODOS Dados diários de precipitação observados em várias localidades no Estado de São Paulo foram obtidos da ANA (Agência Nacional das Águas), para o período de 1955 a 4. A região de estudo foi o leste do estado de São Paulo, devido ao intenso crescimento urbano nesta área, como pode ser visto na figura 1. As cidades escolhidas para análise foram Sorocaba, Jundiaí, Atibaia e Biritiba-Mirim. Jundiaí é uma área com intenso índice de urbanização. Encontra-se em entre a Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) e a de Campinas (RMC), e possui um dos maiores parques industriais da América Latina 1. Sorocaba, segundo dados do Sistema Integrado de Gerenciamento de Recursos Hídricos de São Paulo 2, passou a apresentar a taxa de crescimento industrial entre as mais intensas do Estado de São Paulo a partir da década de 8. Biritiba Mirim, apesar de apresentar um número de habitantes inferior (tabela 1), fica bem próximo à RMSP. A última localidade escolhida foi Atibaia, que se encontra em uma latitude bem próxima de Jundiaí, mas um pouco mais afastada das áreas de intensa urbanização. Figura 1: Imagem do satélite Landsat 5 na região leste do estado de São Paulo nos anos de 1987 e 4, respectivamente com as localidades estudadas marcadas: em azul Sorocaba, em preto Jundiaí, em vermelho Atibaia e em amarelo Biritiba-Mirim (fonte DGI/ INPE. Image TM/Landsat 5, Scene 219/76, composite R5G4B3, disponível em http://www.dgi.inpe.br/cdsr/, Acesso em 8/5/1). 1 (http://www.jundiai.sp.gov.br/pmjsite/portal.nsf/v3.2/cidade_historia, consulta em 25/5/1) 2 (http://www.sigrh.sp.gov.br/sigrh/arqs/relatorio/ CRH/CBH-ALPA/629/131_alpa.htm, visitado em 25/5/1)

Tabela 1: Latitudes e longitudes das localidades estudadas. Localidade Latitude (º) Longitude (º) Altitude (m) População aproximada Jundiaí -23.2-46.9 761 35. Sorocaba -23.4-47.4 61 585. Atibaia -23,1-46,3 83 125. Biritiba-Mirim -23,6-46, 78 3. Para compor uma série completa, sem falhas, foram utilizados dados de precipitação da NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration) em ponto de grade, com 1º de resolução espacial, nos períodos em que havia falhas na série da ANA. Estes dados são uma composição de dados de precipitação obtidos através de diversas estações de medida 3. Para avaliar a relação entre essas séries nas localidades eleitas para este estudo foi realizado o cálculo dos coeficientes de correlação linear e angular. Esses coeficientes foram aplicados a série do NOAA antes de serem utilizados para preencher as falhas da série da ANA. Para verificar variações no ciclo anual de precipitação nos últimos 5 anos foram retirados efeitos que não são associados a essa escala (El Niño e La Niña, por exemplo). A variabilidade de uma série temporal pode ser causada por diferentes processos que são caracterizados por sua escala de tempo, ou seja, uma composição de diferentes tipos de oscilações, caracterizadas por suas freqüências. Os filtros estatísticos servem exatamente para realizar a separação entre estas componentes (von Storch, 1999). Neste estudo foi utilizado o Filtro de Lanczos, descrito por Duchon (1979). Estes procedimentos envolvem transformadas rápidas de Fourier (FFT), onde são aplicados pesos em domínio de frequência, permitindo uma resposta na banda de interesse (Helms, 1967). Assim, para obter a variação interanual, foi aplicado um filtro passa alta, que mantém somente a componente de alta freqüência da série temporal, eliminando os efeitos referentes às oscilações de baixa freqüência, no caso superiores a 1 ano. Os dados finais foram então agrupados em totais mensais a cada 1 anos e realizada a análise da variação na distribuição anual da precipitação. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Os totais de chuva em cada uma das cinco décadas, ponderado pelo número de anos são apresentados na figura 2. Observa-se em Jundiaí uma forte diminuição no total de chuva na última década. Em Sorocaba e Biritiba-Mirim, ocorre alternância entre aumento e diminuição dos totais de chuva. Em Atibaia, tem-se uma tendência positiva, apesar do comportamento da série ser de diminuição da chuva na última década. 23 22 Jundiaí Sorocaba Atibaia Biritiba-Mirim 21 19 18 17 16 15 1 2 3 4 5 Figura 2 Totais anuais de precipitação ponderados para cada década para cada localidade. 3 ftp://ftp.cpc.ncep.noaa.gov/precip/wd52ws/brazil/

6 5 4 3 1 Quando os dados são agrupados períodos de três meses, ( DJF: dezembro, janeiro e fevereiro; MAM: março, abril e maio; JJA: junho, julho e agosto e SON: setembro, outubro e novembro), observa-se que todas as estações apresentaram aumento considerável da precipitação nos trimestre mais chuvoso (DJF). A amplitude de precipitação máxima aumenta de 14,9 para 17,9 e de 15,9 para 19,7 em Jundiaí e Sorocaba na última década, respectivamente, enquanto em Biritiba-Mirim ela passa de 12,6 a 14,4 e em Atibaia ela diminui. Durante o período mais seco, nas cidades com maior índice de urbanização (Sorocaba e Jundiaí), ocorre uma intensificação deste mínimo, o que não acontece nas regiões menos urbanizadas (Atibaia e Biritiba-Mirim). Esta diminuição da precipitação em cidades maiores é coerente com os estudos numéricos de Freitas e Silva Dias (5), já que esta diminuição nas chuvas da estação seca pode estar associada à alteração nos fluxos de calor no solo, que levariam a uma diminuição no CAPE e supressão da precipitação. Xavier et al (1994) realizaram um estudo da precipitação em uma série temporal localizada em São Paulo e observaram resultados similares aos obtidos neste estudo, com um aumento das chuvas intensas (convectivas) e diminuição das chuvas fracas (a quase supressão das garoas), que ocorrem, preferencialmente na estação chuvosa e seca, respectivamente. Outro aspecto a ser levantado é que na estação seca a dispersão de poluentes fica prejudicada, alterando, de forma direta ou indireta, o balanço de radiação à superfície e, consequentemente, a formação de convecção e de nuvens (Freitas et al, 5; Longo et al, 4; Dutton, 1993). (a) (b) 6 D1 D2 D3 D4 D5 6 5 5 4 4 3 3 1 1 (c) 6 (d) 5 4 3 1 Figura 3 Distribuição trimestral (DJF=dezembro, janeiro e fevereiro, MAM=março, abril e maio, JJA=junho, julho e agosto, SON=setembro, outubro e novembro) de precipitação (%) para cada década nas cidades de (a) Jundiaí, (b) Sorocaba, (c) Atibaia e (d) Biritiba-Mirim. 4 CONCLUSÕES As séries temporais estudadas apresentam uma variação na distribuição anual de precipitação em termos do aumento na amplitude sazonal, especialmente para as estações

localizadas em áreas com urbanização mais desenvolvida, inclusive para Sorocaba, que se encontra mais afastada da RMSP. Este resultado é coerente com diversos estudos para a RMSP. Tais modificações no padrão de precipitação podem ocasionar prejuízos associados ao escoamento da água nas grandes cidades, já que as áreas urbanas apresentam um solo impermeável que favorece a ocorrência de enchentes e alagamentos, como tem sido observado com freqüência nos grandes centros urbanos. A intensificação da precipitação nos meses chuvosos e diminuição nos meses secos podem estar associadas à variação no uso do solo, através da formação de ilhas de calor, bem como às emissões associadas à urbanização. Entretanto, estes resultados são ainda preliminares e uma análise da relação das variações na distribuição de chuva observada com estes potenciais fatores está em andamento. 5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DUCHON, C. E. Lanczos filtering in one and two dimensionsl. J. of Appl. Mteorology. Vol. 18: 116-122, 1979. DUTTON, E. G.: An extended comparison between LOWTRAN-7 computed and observed broadband thermal irradiances: global extreme and intermediate surface conditions. Journal of Atmospheric and Oceanic Technology, v. 1, p. 326-336, 1993. FREITAS, E. D., Silva Dias, P. L. D.: Alguns efeitos de áreas urbanas na geração de uma ilha de calor. Revista Brasileira de Meteorologia, v., n.3, 355-366, 5 FREITAS, S. R.; Longo, K. M.; Silva Dias, M. A. F.; Silva Dias, P. L. Emissões de queimadas em ecossistemas da América do Sul. Estudos Avançados, v. 19 (53), 5. LONGO, K.; Freitas, S.; Silva Dias, M. A. F.; Chatfield, R.; Silva Dias, P. L. Numerical modelling of the biomass burning aerosol direct radiative effects on the thermodynamics structure of the atmosphere and convective precipitation. 8 th International Global Atmospheric Chemistry Conference, Christchurch, Nova Zelândia, 4. RAMANATHAN, V.; Crutzen, P. J.; Rosenfeld, D. Aerosols, climate and the hydrological cycles. Science, v. 294, p. 2119-2124, 1. SHEPHERD, J. M : A Review of Current Investigations of Urban-Induced Rainfall and Recommendations for the Future. Earth Interactions, v. 9, 5. TWOMEY, S. Pollution and the Planetary albedo. Atmos. Environ., v. 8, p. 1251-1256, 1974. VON STORCH, Statistical Analysis in Climate Research, Cambridge University Press, 484 p., 1999. XAVIER, T. M. B. S.; Xavier, A. F. S.; Silva Dias, M. A. F.: Evolução da Precipitação diária num ambiente urbano: O caso da cidade de São Paulo. Revista Brasileira de Meteorologia, v. 9, n. 1, 44-53, 1994. YU, H.; Liu, S. C.; Dickinson, R. E. Radiative effects of aerossol in the evolution of the atmospheric boundary layer. Journal of Geophys. Res., v. 17, 3