2 Conservação do solo 1
2.1 Agentes causadores de erosão A erosão é um processo que se traduz na desagregação, transporte e deposição do solo. Pode ser causada por: - Água: é a mais importante em nossas condições; -Vento: importante em regiões de baixa precipitação; - Geleiras: erosão provocada por deslocamentos de blocos de gelo e de água de degelo. 2
Fatores que interferem no processo erosivo: -Cobertura do solo; - Manejo do solo; -Tipo de solo; Erosão por água -Declividade do terreno; -Intensidade da chuva (mm/hora). 3
Foto: Erosão em área com grande declividade. 4
Fases do processo erosivo Qualquer que seja o agente, a erosão se processa em 3 fases: 1 ª Fase - Desagregação - Partículas minerais e orgânicas são desagregadas pelo impacto das gotas de chuva sobre o solo; - Quanto maior o choque, maior éo volume de partículas soltas. 5
2ª Fase - Transporte As partículas desagregadas são transportadas pela água, sendo: -Menores (argila e partículas orgânicas) Solução -Intermediárias (silte e areia fina) -Maiores (areia grossa e cascalho) Suspensão Empurradas 3ª Fase - Deposição Quando o agente transportador perde a velocidade. 6
Foto: Carregamento de solo para represa 7
Tipos de erosão: -Erosão Laminar Ocorre na superfície do solo sem causar sulcos. -Erosão em sulcos A água concentra em determinados pontos na área, formando calhas que vão se aprofundando e alargando. - Erosão em voçorocas Deslocamento de grande volume de solo. 8
Foto: Erosão laminar 9
Fotos: Erosão em sulcos. Ilha Solteira SP. 10
Foto: Efeito de chuva forte 70mm em pouco tempo 11
Foto: Erosão provocada por chuva forte. 12
Foto: Erosão em sulcos 13
Foto: Erosão em voçoroca 14
COMO ESTARÁ ESTE SOLO ATUALMENTE? 15
20m 16
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Terraço (tinha um aqui!) 21
Erosão BR: 822 milhões de t ano -1 SP 250 milhões t ano -1 2250 Voçorocas U$S 120 milhões para recuperação K + P 2 O 5 - Ca +2 Mg +2 NO 3-22
2.2 Prejuízos da erosão PREJUÍZO Com a erosão são carregados os insumos colocados no solo; Para a formação de uma camada de solo demora muitos anos; TOLERÂNCIA DE PERDA DE SOLO É a quantidade de solo que pode ser perdida anualmente por erosão, expressa em t/ha/ano, de forma que o solo mantenha elevado nível de produtividade, por longo período de tempo 23
A tolerância de perdas varia com a natureza do solo, sendo maior para os Latossolos e, acentuadamente menor para os Podzólicos. Para o Estado de São Paulo: 4,5 a 15,0 t/ha/ano Solos profundos, textura média e bem drenados valor Solos pouco profundos ou com horizontes superficiais valor 24
2.3 Práticas Conservacionistas Conjunto de medidas que visam minimizar ao máximo as perdas de solo por erosão. Podem ser divididas em: 2.3.1 Práticas de caráter vegetativo São aquelas em que se utiliza a própria vegetação para proteger o solo. 2.3.1.1 Classificação quanto a sua capacidade de uso. Visa estabelecer para cada gleba da propriedade, a cultura que melhor protege o solo. 25
Foto: Área com grande declividade 26
Classificação do solo quanto à capacidade de uso. 27
Esta classificação divide as áreas em oito classes de capacidade de uso, assim estabelecidas: A Terras cultiváveis I - aparentemente sem problemas de conservação (verde claro); II - com problemas simples de conservação (amarelo); III - com problemas complexos de conservação (vermelho); IV - ocasionalmente, com problemas sérios de conservação (azul). 28
B Terras cultiváveis apenas em casos especiais de algumas culturas permanentes V - adaptadas para pastagens e reflorestamento, sem necessidade de práticas especiais de conservação (verde escuro); VI - com problemas simples de conservação (alaranjado); VII - com problemas complexos de conservação (marrom). 29
C Terras impróprias para vegetação produtiva e próprias para proteção da fauna e flora, para recreação e armazenamento de água. VIII - Terras impróprias para cultivo (roxo). Critérios levados em consideração para a classificação: -declividade do terreno; -grau de erosão laminar ou em sulcos; -profundidade do solo; -drenagem do solo; -fertilidade do solo; -riscos de geadas; 30
2.3.1.2 Escolha da cultura -A capacidade de proteger o solo contra os processos erosivos, varia de uma cultura para outra. -As culturas podem ser distribuídas em quatro grupos, segundo o grau crescente de proteção oferecida contra erosão: -1º grupo mamona, feijão e mandioca; -2º grupo amendoim, arroz e algodão; -3º grupo soja e batatinha; -4º grupo cana-de-açúcar, milho, milho+feijão e batata doce. 31
Tabela Efeito do tipo de uso do solo sobre as perdas por erosão. Médias para três tipos de solo do Estado de São Paulo. Tipo de cobertura Perda de solo (t/ha) Perda de água (% da chuva) Mata 0,004 0,7 Pastagem 0,4 0,7 Café 0,9 1,1 Algodão 26,6 7,2 Fonte: IAC 32
Tabela Efeito do tipo de cultura anual sobre as perdas por erosão. Média na base de 1300 mm de chuva e declive entre 8,5 e 12,8%. Cultura anual Perdas de solo (t/ha) água (% da chuva) Mamona 41,5 12,0 Feijão 38,1 11,2 Mandioca 33,9 11,4 Amendoim 26,7 9,2 Arroz 25,1 11,2 Algodão 24,8 9,7 Soja 20,1 6,9 Batatinha 18,4 6,6 Cana-de-açúcar 12,4 4,2 Milho 12,0 5,2 Milho+Feijão 10,1 4,6 Batata doce 6,6 4,2 Fonte: IAC 33
3.3.1.3. Cordões de vegetação permanente -Consiste no uso de fileiras de plantas de denso crescimento, dispostas em nível, em culturas anuais ou perenes; -Normalmente são utilizados os vegetais: erva cidreira, cana-de-açúcar, capim napier e outras. - Em áreas com declividade de até 10%, proporciona controle semelhante ao terraceamento. 34
Foto: Cordões de vegetação permanente e outras. 35
Tabela Efeito de práticas conservacionistas em culturas anuais sobre as perdas por erosão. PRÁTICAS PERDAS solo (t/ha) água (% da chuva) Plantio morro abaixo 26,1 6,9 Plantio em nível 13,2 4,7 Plantio em nível mais alternância de capinas 9,8 4,8 Cordões de vegetação permanente 2,5 1,8 Fonte: Bertoni e Lombardi Neto (1985) Pode ser associado ao terraceamento, melhorando ainda mais o controle de erosão. 36
3.3.1.4. Rotação de culturas -Consiste na alternância de várias culturas na mesma área, durante os anos agrícolas, de acordo com planejamento; -É interessante alternar gramíneas e leguminosas; - A rotação de culturas pode ser feita de maneira associada com: -- Terraceamento; -- Cordões de vegetação permanente; -- Culturas em faixas; -- Outras 37
Tabela Efeitos da rotação de cultura sobre as perdas por erosão. Sistema de cultivo Perdas de solo (t/ha) Milho contínuo 47,0 Rotação milho trigo 2 anos pasto 13,5 Fonte: IAC 38
3.3.1.5. Cultura em faixa Consiste na utilização de culturas em faixas de tamanho variável, podendo ou não estar associadas à: -Cordões de vegetação permanente; -Terraços Esta prática deve vir acompanhada de rotação de culturas, apresentando diferenças na capacidade de proteger o solo. 39
3.3.1.6. - Alternância de capinas -Mais recomendada para culturas perenes; - Consiste em alternar capinas nas linhas ou entrelinhas de plantio, depois de algum tempo realizar a operação nas linhas ou entrelinhas que ficaram sem capinas; - O solo carregado dos locais capinados é retido nos locais sem capina. 40
Foto: Arf (2015) 41
Foto: Arf (2015) 42
Tabela Efeito de práticas conservacionistas em culturas anuais sobre as perdas por erosão. PRÁTICAS PERDAS solo (t/ha) água (% da chuva) Plantio morro abaixo 26,1 6,9 Plantio em nível 13,2 4,7 Plantio em nível mais alternância de capinas 9,8 4,8 Cordões de vegetação permanente 2,5 1,8 Fonte: Bertoni e Lombardi Neto (1985). 43
3.3.1.7. - Ceifa do mato -É uma prática recomendada para culturas perenes. Exemplo: cultura de citrus - Roçadeira na época chuvosa (sempre que necessário); - Grade no final do período chuvoso (01 vez) - Capina química ou mecânica nas linhas ou coroamento. 44
Foto: Ceifa das plantas daninhas 45
3.3.1.8. - Outras Plantas de cobertura, culturas intercalares, consorciação de culturas e outras. - Tais práticas possuem como função, evitar ao máximo o impacto das gotas de chuva diretamente com o solo. - Quanto maior a área coberta, menor será a possibilidade de erosão. 46
Foto: Plantas de cobertura 47
Foto: Plantas de cobertura 48
Foto: Plantas de cobertura em citrus (entrelinhas) 49
Foto: Plantas de cobertura em citrus (linhas). 50
Foto: Cultura intercalar 51
Foto: Cultura intercalar 52
Foto: Consórcio milho x feijão. Selvíria (2008). 53
Foto: Consórcio milho x feijão. Selvíria, 2003. 54
Foto: Consórcio milho x feijão. Selvíria, 2003. 55
2.3.2 Práticas conservacionistas de caráter edáfico Melhoram as condições do solo Propiciam melhor desenvolvimento das plantas Reduzem as perdas de solo por erosão 56
2.3.2.1 Cobertura morta -Consiste na utilização de restos culturais com o objetivo de evitar o impacto das gotas de chuva com o solo; -A prática é mais recomendada para culturas perenes. Tabela Efeitos da incorporação de restos de milho e adubo verde sobre as perdas de solo. SISTEMA Perdas de solo (t/ha) Milho com palha queimada 20,2 Milho com palha enterrada + adubo verde 15,9 Milho com palha na superfície + adubo verde 6,5 Fonte: Instituto Agronômico de Campinas. 57
2.3.2.2 Adubação verde Consiste na utilização de plantas que no período de florescimento são incorporadas ao solo, ou deixadas sobre o solo com o objetivo de criar condições mais favoráveis para cultivos posteriores; Características: - Crescimento rápido recobrindo a área; - Grande produção de massa verde; - Capacidade de fixação de N (leguminosas); - Aumento no teor de matéria orgânica do solo; - Possibilidade de rompimento de camadas compactadas; - Eficiente controle de erosão. 58
Exemplos de adubos verdes: Lab-lab, feijão de porco, mucunas, guandú, Crotalaria juncea, nabo forrageiro e outras. Tabela Produção de algodão em rotação com soja, amendoim e mucuna-preta. ROTAÇÃO PRODUÇÃO (arrobas/ha) Algodão contínuo 61,60 Soja / algodão 81,80 Amendoim / algodão 99,60 Mucuna preta / algodão 138,90 Fonte: Instituto Agronômico de Campinas. 59
Foto: Crotalária juncea 60
Foto: Crambe 61
Foto: Feijão de porco 62
Foto: Feijão guandu 63
Foto: Moa 64
Foto: Mucuna anã 65
Foto: Milheto 66
2.3.2.3 - Outras - Adubação química e orgânica, calagem, fosfatagem e outras. -Plantas bem nutridas possuem maior capacidade de proteger o solo. 2.3.3 Práticas conservacionistas de caráter mecânico São práticas que podem envolver a movimentação de terra, com o objetivo de forçar a infiltração de água no solo, ou reduzir o comprimento do lançante. 67
2.3.3.1 Plantio ou semeadura em nível -É uma das práticas conservacionistas mais simples; -Consiste em obedecer as niveladas básicas de uma gleba, efetuando as operações agrícolas em nível; - Reduz pela metade as perdas de solo por erosão quando comparado com a implantação da cultura morro abaixo. 68
Tabela Perda de solo e água em culturas anuais. PRÁTICAS PERDAS solo (t/ha) água (% da chuva) Plantio morro abaixo 26,1 6,9 Plantio em nível 13,2 4,7 Plantio em nível mais alternância de capinas 9,8 4,8 Cordões de vegetação permanente 2,5 1,8 Fonte: Bertoni e Lombardi Neto (1985). 69
Foto: Cultura de feijão implantada em nível. 70
Foto: Cultura de feijão implantada morro abaixo. 71
Foto: Cultura de feijão implantada morro abaixo. 72
2.3.3.2 Construção de estradas e carreadores em nível - Os carreadores principais e estradas devem ser construídos obedecendo as curvas de nível; - Os carreadores pendentes ou morro abaixo devem ser dispostos de maneira desencontrada, visando reduzir a velocidade das águas; - Também pode ser associados a utilização de caixas ou bacias de retenção. 73
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Figura: Estrada protegida por bacias de captação de águas pluviais construídas nos dois lados da estrada. 77
Figura: Bacia de captação e retenção, armazenando água e evitando erosão da estrada. 78
2.3.3.3 Terraceamento - Tem como objetivo reduzir o comprimento do lançante e forçar a infiltração de água no solo; -Constituído por um canal e um camalhão ou murundum; -Durante a construção é realizado o revolvimento e amontoa do solo a uma determinada distância; -O terraceamento combina bem com a maioria das outras práticas conservacionistas como: cordões de vegetação permanente, semeadura ou plantio em nível, alternância de capinas, cultura em faixas, rotação de culturas e outras. 79
Tipos de terraços a) Quanto à forma de construção - NICHOLS: o solo para formar o camalhão é movimentado da parte mais alta do terreno; - MANGUM: o solo para formação do camalhão é movimentado dos dois lados. 80
TERRAÇOS Base Estreita Base Larga 81
b) Quanto à largura da Base Base Larga 6 a 12 m recomendado para áreas com pouca declividade (até 8%) Base Média 3 a 6 m recomendado para áreas com declividade entre 8 e 12% Base Estreita 2 a 3 m recomendado para áreas com declividade > que 12% 82
c) Quanto à funcionalidade Terraço em nível Recomendados para Latossolos com topografia plana e suave. Terraço com gradiente Mais recomendados para os Podzólicos ondulados com alta relação textural. 83
Foto: Terraços retendo enxurrada a intervalos regulares. 84
Foto: Terraceamento adequadamente planejado protegendo a área contra a erosão. 85
Foto: Terraços com travesseiros em cafezal e caixa de retenção de água. 86
Foto: Motoniveladora empregada na construção de terraços. 87
Foto: Terraço com gradiente interceptado por canal escoadouro vegetado. 88
Foto: Terraço embutido construído com lâmina frontal em área de canavial. 89
Foto: Terraço embutido construído com lâmina frontal em área de canavial. 90
Foto: Terraço embutido construído com lâmina frontal em área de canavial. 91
Foto: Armazenamento de água no terraço 92
Foto: Armazenamento de água no terraço 93
Foto: Canal escoadouro natural 94
Distância entre terraços A distância entre terraços irá depender do tipo de solo, da cultura a ser instalada e declividade da área. Construção Pode ser confeccionado com o auxílio de arado de disco, terraceador, patrole outras máquinas. Terraço com gradiente Uma de suas pontas deve ser aberta, desaguando o excesso de enxurrada em um canal escoadouro natural ou artificial. 95
Tabela - Espaçamento entre terraços para as culturas anuais e perenes do estado de São Paulo. DECLIVIDADE (%) Solo arenoso Solo médio Solo argiloso espaçamento (m) espaçamento (m) espaçamento (m) vert. horiz. vert. horiz. vert. horiz. 1 0,38 37,75 0,43 43,10 0,55 54,75 2 0,56 28,20 0,64 32,20 0,82 40,95 3 0,71 23,20 0,82 27,20 1,04 34,55 4 0,84 21,10 0,96 24,10 1,22 30,60 5 0,96 19,20 1,10 21,95 1,39 27,85 6 1,07 17,80 1,22 20,30 1,55 25,80 7 1,17 16,65 1,33 19,05 1,69 24,20 8 1,26 15,75 1,44 18,00 1,83 22,85 9 1,35 15,00 1,54 17,15 1,96 21,75 10 1,43 14,35 1,64 16,40 2,08 20,80 12 1,60 13,30 1,82 15,20 2,32 19,30 14 1,74 12,45 1,99 14,20 2,53 18,05 16 1,89 11,80 2,15 13,45 2,74 17,10 18 2,02 11,20 2,30 12,80 2,92 16,25 20 2,14 10,70 2,45 12,25 3,11 15,55 Fonte: Bertoni e Lombardi Neto (1985). 96
TERRAÇOS EM ÁREA NO SISTEMA PLANTIO DIRETO - O uso de terraços deve ser mantido em SPD, por ser uma prática eficiente para controle de erosão, principalmente em anos com maior erosividade; - Em SPD, a prática de remover um terraço a cada dois não é recomendada para culturas anuais. Fonte: CAVIGLIONE et al. (2010) 97
2.3.3.4 Cultivo Mínimo Com a redução no número de operações com máquinas, principalmente arações e gradagens, ocorre melhoria na conservação do solo. 2.3.3.5 - Subsolagem Com a eliminação de camadas de impedimento, aumenta-se a infiltração de água no solo e conseqüentemente menor escorrimento superficial Melhor conservação do solo 98
2.3.3.6 Plantio direto Restos da cultura anterior sobre o solo Menor impacto das gotas de água sobre o solo Redução na erosão 99
De acordo com Oliveira et al. (2002) Em solos com igual declividade o PLANTIO DIRETO reduz em 75% as perdas de solo e em 20% as perdas de água em relação às áreas onde há revolvimento do solo. 100
Foto: Plantio direto associado a outras práticas. 101