Revitalização de áreas históricas: perspectivas, práticas e resultados



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Transcrição:

Revitalização de áreas históricas: perspectivas, práticas e resultados Fernanda Daniela Chaves Rocha Resumo: Esse estudo tem por objetivo analisar o projeto de Revitalização do Centro Histórico de João Pessoa PB, cujo Centro Histórico encontra-se em processo de revitalização. Como forma de diagnosticar se as políticas sugeridas pelo projeto seriam adequadas para desenvolver a cultura e o turismo cultural na região. Para tanto, procurou-se realizar um estudo comparativo com outra experiência (no caso o Pelourinho, em Salvador BA), que já tivesse sua revitalização finalizada, oportunizando, dessa forma, conhecer a realidade da localidade e identificar os resultados positivos e negativos, frutos da revitalização. Assim, através dessa experiência vivenciada, surgiu a oportunidade de refletir sobre a adequação do projeto de Revitalização do Centro Histórico de João Pessoa no que diz respeito ao desenvolvimento do turismo e da cultura local. Palavras-chave: Centro Histórico João Pessoa; Patrimônio Cultural; Política Patrimonial; Política de Turismo; Planejamento. Introdução Antes mesmo de começar a tratar do assunto proposto, começo justificando meu interesse e escolha do tema a ser abordado. Então, A idéia de pesquisar sobre Trabalho apresentando como projeto de qualificação de mestrado, no Programa Multidisciplina em Cultura e Sociedade pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Mestranda do Programa de Pós-Graduação Multidisciplinar em Cultura e Sociedade pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Graduada em Turismo pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Professora no Curso de Turismo na Faculdade Maurício de Nassau, em Salvador BA. E-mail: fernandaturismologa@gmail.com.

revitalização de áreas históricas partiu de um interesse pessoal, que teve iniciou no TCC, na graduação de Turismo, e se intensificou ainda mais, durante o mestrado, em que discuto com mais precisão o assunto em si. Meu intuito seria analisar o projeto de revitalização de algum Centro Histórico que ainda encontra-se em processo de revitalização. Através de uma oportunidade de estágio, pude frequentar por algum período o Centro Histórico de João Pessoa, que se enquadra nesses critérios determinados. O que me fez escolhê-lo como objeto de estudo do trabalho de dissertação. Assim, na qualificação do mestrado, defendida em dezembro de 2010, desenvolvi um projeto intitulado: Turismo Cultural no Centro Histórico de João Pessoa: uma análise do Projeto de Revitalização do Varadouro e do Antigo Porto do Capim, com as seguintes etapas: O objetivo principal seria de analisar o projeto de Revitalização do Centro Histórico de João Pessoa, na perspectiva do desenvolvimento do turismo cultural e da cultura local. E como parâmetro, escolhi o Pelourinho, em Salvador por ser uma localidade que já passou pelo processo de revitalização e apresenta características fortes, quando se pensa em patrimônio cultural e turismo. Para compor os objetivos específicos, procuro compreender os pilares sob os quais se assenta o projeto de Revitalização do Centro Histórico de Salvador, identificando o modelo de desenvolvimento urbano que dá substrato a esse projeto, tomado como base para a comparação; diagnosticar seus pontos fortes e fracos; analisar os pilares sob os quais se assenta o projeto de Revitalização do Centro Histórico de João Pessoa; verificar as atividades que já foram desenvolvidas no Centro Histórico de João Pessoa, através do projeto de revitalização, identificando as possíveis transformações ocorridas no lugar, no que diz respeito aos âmbitos econômico, social, cultural, ambiental e turístico; diagnosticar os seus pontos fortes e fracos, e observar os fatores de sucesso e os problemas existentes. Nesse sentido, acredita-se que ao analisar a situação atual do Pelourinho, ou seja, os resultados referentes à sua revitalização, existe a possibilidade de fazer um estudo perspectivas, práticas e resultados 2

comparativo com a experiência de João Pessoa. De modo a identificar as políticas desenvolvidas nos dois lugares e mostrar que caso João Pessoa adote como referências ações desenvolvidas no Pelourinho, há uma tendência de que os resultados sejam equivalentes. Diante do quadro de experiências relacionadas à revitalização nos Centros Históricos brasileiros, percebe-se que a política implantada ainda deixa a desejar. Os interesses individuais se sobressaem sobre os coletivos, o que implica em efeitos negativos de grande magnitude, nos aspectos econômico, social, cultural, ambiental e político. Contudo, sempre há uma perspectiva de melhoras, principalmente quando trata-se de exemplos, cujos resultados não foram tão satisfatórios pra sociedade. Mas, na prática o esperado nem sempre acontece, e nos deparamos com os mesmos problemas de sempre. Partindo desse ponto de vista, surge o seguinte questionamento: será que as políticas que dão substrato ao projeto de revitalização do Centro Histórico de João Pessoa foram formuladas dentro de uma nova visão, que não pretenda seguir a mesmice identificada nos projetos e revitalizações anteriores? Considero essa pesquisa um desafio, mas acredito que poderá trazer contribuições práticas e teóricas de grande relevância, para a academia e para a própria comissão responsável pela implantação do projeto, na proporção que, pretende-se mostrar os resultados alcançados para a equipe. Dessa forma, finalizo a introdução, ressaltando que apesar de o trabalho de dissertação ainda não ter sido concluído, já é possível apresentar considerações fundamentais a respeito das análises, como veremos no decorrer do texto. Patrimônio: um pouco de história O Patrimônio tal qual conhecemos hoje, passou por mudanças significativas no decorrer do tempo e da história, até apresentar sua constituição atual. Para melhor se aprofundar neste assunto, o interessante é voltar à França, lugar que teve bastante destaque em perspectivas, práticas e resultados 3

relação à construção e consolidação do patrimônio cultural, bem como a importância de sua preservação. Entretanto, no primeiro momento, procurou-se abordar as mudanças relativas às próprias palavras pelo qual passou o termo patrimônio, ou seja, procurou-se analisar a sua construção enquanto a terminologia e a evolução dos termos. Que até alcançar esse termo atual, passou pelos seguintes nomes, antiguidades, monumentos e monumentos históricos. Mas, para cada época, o que seriam considerados antiguidades? O que seriam considerados monumentos, monumentos históricos? Vários estudiosos buscaram através de estudos e pesquisas entender esse processo que contribuiu para a formação do patrimônio histórico e cultural, (não só em relação aos conceitos, mas ao significado, representação, produção, destruição, preservação e quais seriam os bens considerados patrimônio). Cada estudioso tem uma percepção a respeito do assunto abordado, o que provocou o surgimento de várias explicações para diferenciar monumentos de monumentos históricos. Diante desse quadro, trabalhou-se com base nos estudos de Choay e A. Rielg. Quando se pensa em monumentos, o sentido original da palavra vem do latim monumentum, que, deriva do termo monere, e que por sua vez, significa (lembrar), ou seja, está relacionado ao passado e à memória. Segundo Choay (2001) a idéia de monumento estava mais restrita a construções e objetos antigos, identificados até mesmo em tempos mais remotos da humanidade. Ligado a pequenos grupos perante a sociedade, tinha por objetivo fazer perpetuar a memória de algo importante, seja de uma pessoa, de uma construção ou de um objeto. Neste aspecto, destacam-se: as esculturas, estátuas, os mausoléus, colunas, arcos, obeliscos, entre outros elementos. Porém, posteriormente, seu significado passou por evoluções e adquiriu, na modernidade, um termo mais amplo, o chamado monumento histórico. perspectivas, práticas e resultados 4

A idéia de monumentos históricos surgiu com as antiguidades (objetos de interesse dos antiquários), na verdade, foi uma modificação do próprio termo monumento. Se diferenciando, na medida em que, não se limitava apenas a edificações antigas, mas, a toda obra tangível, ligada a história e a arte, e, portanto, possuidora de maior valor, pertencente principalmente a igreja e a aristocracia. (Nessa ocasião, o monumento histórico apresenta-se como algo mais abrangente e importante pra sociedade, envolvendo um grande número de pessoas ou nação, não se restringindo a pequenos grupos, como acontecia com o monumento) (FONSECA, 2009). Para melhor compreensão, observa-se abaixo a reflexão citada por A. Riegl (apud Choay, 2006, p. 25): O monumento é uma criação deliberada (gewollte) cuja destinação foi pensada a priori, de forma imediata, enquanto o monumento histórico não é, desde o princípio, desejado (ungewollte) e criado como tal; ele é constituído a posteriori pelos olhares convergentes do historiador e do amante da arte, que o selecionam na massa dos edifícios existentes, dentre os quais os monumentos representam apenas uma pequena parte. E, só a partir do momento em que esses elementos passaram a fazer parte da nação, e aos cuidados do Estado, por motivos ideológicos e de preservação, é que se começou a utilização do termo patrimônio, para designar esses bens históricos e culturais, antes chamados antiguidades, monumentos e monumentos históricos. (Embora que, esses nomes, principalmente monumentos e monumentos históricos ainda são utilizados nos dias de hoje. Seja para se referir a um monumento antigo, que transmite uma imagem de grandiosidade, seja para se referir a monumentos, que trazem em suas características aspectos de embelezamento). Fonseca enfatiza ao dizer que (2009, p. 55): Foi preciso, portanto, que a noção de monumento no seu sentido moderno fosse formulada, enquanto monumento histórico e artístico, para que a noção de patrimônio se perspectivas, práticas e resultados 5

convertesse em categoria socialmente definida, regulamentada e delimitada, e adquirisse o sentido de herança coletiva especificamente cultural. Assim, nossos olhos, nesse momento, se voltam para a França, que como citado anteriormente, teve profundas contribuições nesse sentido. Antes de ter início às práticas de preservação dos monumentos, os mesmos não representavam algo importante pra sociedade. De acordo com Camargo (2002) isso devia ao fato de os monumentos pertencerem ao poder monárquico, e como a sociedade francesa encontrava-se numa posição contra a monarquia, tinha por objetivo apagar da memória tudo que pertencia ao rei. Durante o século XVIII ou até mesmo antes, vários monumentos foram demolidos. Igrejas, palacetes, muralhas, edificações eram colocadas a baixo, sem qualquer receio que fosse. Não só na França, mas toda a Europa sofreu devido às destruições provocadas contra os monumentos. O caso da França é o mais citado, por ter sido de grande relevância e contribuição para a constituição do patrimônio no Brasil. No entanto, com a derrubada do antigo regime, essas implicações resultaram em destruição, como sinônimo de vandalismo. Quando os monumentos ganharam um novo sentido por parte da sociedade, tornando-se importantes por simbolizarem um povo ou uma nação. Nessa perspectiva, os bens que pertenciam à coroa passaram a pertencer ao Estado Republicano. Posteriormente chamados de bens nacionais. E através desse processo, surgiram as primeiras políticas de preservação do patrimônio (CAMARGO, 2002). Todavia, mesmo com todas essas atitudes tomadas, bem como as medidas criadas para deter o vandalismo, as destruições ainda persistiram, pois nem todos da sociedade os viam como um fator relevante para resguardar a história e a cultura do povo. A Revolução Industrial ajudou a intensificar as manifestações de destruição, por influenciar a modernização das cidades. Mas, posteriormente, a própria revolução serviu para que as pessoas começassem a sentir falta de algo que as representasse, perspectivas, práticas e resultados 6

como um símbolo, para que através dele fossem reconhecidas (CAMARGO, 2002). E isso fez surgir o sentimento de pertencimento, em que, aos poucos o patrimônio foi se consolidando, deixou de ser visto como algo que deveria ser demolido e passou a ter um significado importante pra sociedade. Embora que, na atualidade, essas políticas patrimoniais ainda não funcionam como deveria, mas percebe-se que muitas medidas foram e vem sendo tomadas para que o patrimônio seja preservado da melhor forma possível. No caso do Brasil, não foi diferente do que aconteceu na França e em outros países europeus. Mesmo que a preservação tenha começado bem mais tarde, ele adotou o modelo utilizado nesses países, principalmente o modelo Francês. Antes mesmo de iniciar o processo de preservação, o país também passou por profundas transformações no que tange a modernização das cidades. Com a vinda da família Real para o Rio de Janeiro, a cidade foi colocada a baixo, como forma de adequar-se ao mundo moderno. O que consequentemente veio a impulsionar outras cidades brasileiras. Lugares como Ouro Preto MG, detentor de um rico conjunto patrimonial, tornou-se vítima do abandono (CAMARGO, 2002), por ser considerada uma cidade atrasada e que não estava acompanhando as mudanças ocorridas em outras cidades. Simão (2001, p. 27) enfatiza ao citar que neste contexto, a capital de Minas Gerais é transferida para Belo Horizonte, negando a Ouro Preto sua condição política e social, por representar o passado, e não o ideal de futuro, proposto pela nova ordem. A preocupação com a preservação do patrimônio no Brasil começou no século XX. Inúmeros fatores influenciaram esse acontecimento, como a Revolução Industrial, que passou a modernizar as cidades de forma a modificar sua essência; a forte presença de imigrantes no sul do país, colocando em perigo a unidade brasileira; o crescimento do nacionalismo; a valorização da arte sacra colonial no mercado internacional; e o perspectivas, práticas e resultados 7

interesse de recriar o Brasil, por parte dos intelectuais modernistas, como o poeta Mário de Andrade (SIMÃO, 2001; FUNARI e PINSKY, 2005). De acordo com D Assumpção (apud SIMÃO, 2001, p. 27), o modernismo tenta reunir, assim, movimentos que parecem antagônicos. De um lado, pretende inserir o País no contexto das grandes transformações que sacodem o mundo. De outro, sai em busca de modelo que retrate mais verdadeiramente o Brasil. Na verdade, os modernistas queriam recriar um outro Brasil, mas com as características que retratassem o seu passado. Para os modernistas, o motivo maior da causa patrimonial era construir uma identidade artística para o país e não somente salvar um acervo histórico ameaçado de destruição (SANT ANNA apud SIMÃO, 2001, p. 28). Na verdade, os modernistas queriam criar uma identidade nacional verdadeira, que fosse realmente a cara do Brasil. É como se o passado tivesse sido esquecido e esse era o momento de trazê-lo de volta, de fazer com que ele passasse a fazer parte da memória e do dia-a-dia da sociedade, mas sem perder o vínculo com o mundo moderno. Os modernistas estavam super engajados na luta contra a má utilização do patrimônio. Camargo (2002) fala que em 1924, Mário de Andrade, Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade, o poeta surrealista francês Blaise Cendrars e membros da elite cafeicultora da época fizeram uma viagem intitulada de Viagem da Redescoberta do Brasil, cujo objetivo principal era justamente lidar com assuntos que retratassem a preservação do patrimônio histórico e cultural. Essa viagem tinha como rota cidades do Estado de Minas Gerais, sendo a cidade de Ouro Preto, a mais procurada. Logo em seguida, devido à importância que o patrimônio foi adquirindo, surgiu a necessidade de criar leis e decretos como forma de assegurar a sua preservação. Camargo (2002) cita que no ano de 1933 foi concretizado o primeiro Decreto de reconhecimento do patrimônio cultural e da importância de sua preservação. E a cidade de Ouro Preto foi escolhida como Monumento Nacional. Esse título deveu-se ao fato de perspectivas, práticas e resultados 8

Ouro Preto ter sediado vários acontecimentos históricos, e também pelos monumentos importantes pertencentes ao lugar. Contudo, só para refletir um pouco sobre esses acontecimentos, será que para construção da identidade nacional, que representasse de fato o Brasil, foram realmente levadas em consideração as características culturais diversas que constituem o país? Muitos autores na atualidade criticam o que seriam considerados como fazendo parte da identidade nacional brasileira. Ao citarem que essa atividade partiu por intermédio de pequenos grupos da sociedade, principalmente os intelectuais, que através do ponto de vista deles, identificaram como sendo ou não representantes da identidade nacional. O que, por sua vez, eliminou vários outras identidades, que não foram consideradas como tal. É nesse enfoque que Maia (2010, p. 300) cita o seguinte: Assim, a cultura brasileira só existe no interior da nação e só é verdadeira quando corresponde aos interesses de todos os setores sociais, ou seja, é marcada pelo desinteresse, pois não serve a nenhum grupo em particular, respondendo aos elementos condicionantes e dinâmicos que a promovem. Neste sentido, cada cultura tem um caráter nacional, pois seu desenvolvimento depende de fatores geográficos, da herança étnica, dos momentos históricos e da linguagem vivenciados por um grupo social. De todos esses fatores, apenas a linguagem é considerada um elemento dinâmico da cultura que ocorre através da fala e da interação entre os sujeitos históricos. Lins (2010) relata que, apenas após se passarem 70 anos da criação de políticas voltadas para questões patrimoniais, ou seja, mais recentemente, é que outros elementos que também fazem parte da cultura brasileira estão sendo incorporados como bens nacionais. Esse fator acontece, também, devido à pressão democrática dos grupos que representam essas culturas, até então excluídas. O que permitiu que perdurassem por muito tempo, como bens culturais mais representativos da identidade nacional, exclusivamente elementos encontrados em cidades mineiras, a exemplo de Ouro Preto. perspectivas, práticas e resultados 9

Com relação às primeiras políticas de preservação no Brasil, em 1936, a pedido do então Ministro da Educação, Saúde e Cultura, Gustavo Capanema. Mário de Andrade elaborou um anteprojeto para criação do instituto preservacionista. Assim, ainda no mesmo ano, através do Estado Nacional, foi criado o Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), atual Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) (SIMÃO, 2001; FONSECA, 2009). O Contexto cultural formado por essas políticas apresenta trajetórias marcantes, que influenciam na estrutura da política cultural e patrimonial do país até nos dias atuais. O Estado, antes, dentro de uma conjuntura centralizadora, em que os intelectuais aparecem como os principais envolvidos nesse processo, fala hoje nas palavras democratização e cidadania. Como mudança pra essa política que percorreu longos períodos sem a inclusão de outros membros da sociedade nas decisões, visto que, os intelectuais sempre tiveram numa posição de mediadores, entre o Estado e a nação. Será que isso ficará apenas como mais um discurso político que não sairá do papel nem das campanhas políticas? Não há dúvidas de que as medidas realizadas durante esse período, que vai desde os anos 30 até 2000, tenham contribuído para melhorias na preservação e conservação patrimonial. Todavia, como enfatiza Fonseca (2009, p. 221): é preciso incorporar efetivamente a participação da sociedade nesse processo, o que significa criar mecanismos que assegurem algum nível de representatividade a essa participação. Só assim, acredita-se que transformações positivas venham acontecer no âmbito da política patrimonial brasileira. Revitalização de áreas históricas: algumas contribuições Na contemporaneidade, um dos fatores que tem impulsionado a preservação e conservação do patrimônio cultural é a revitalização de Centros Históricos. Scocuglia (2004) fala que esse processo teve início a partir do século XX, onde várias cidades do mundo passaram a revitalizar suas áreas históricas como forma de promover a reutilização do patrimônio, bem como os recursos ambientais existentes. perspectivas, práticas e resultados 10

Nessas experiências podemos destacar tanto resultados positivos como negativos. Em algumas cidades, ao invés dos projetos de revitalização trabalhar com intervenções urbanas utilizando estratégias de desenvolvimento local sustentável, a tendência é seguir outras táticas indesejáveis, gerando diversos efeitos negativos ao ambiente como um todo. Os principais problemas diagnosticados devido à falta de compromisso e planejamento adequado durante a revitalização de Centros Históricos são os seguintes: a cultura que se torna importante por ser vista apenas como um bem de consumo; a descaracterização do lugar; Nesse caso podemos destacar como exemplo, as mudanças que ocorrem nos prédios e monumentos, que ganham uma nova cor, geralmente cores fortes e coloridas para atrair os visitantes, não priorizando a originalidade de antes; exclusão social; os Centros Históricos que muitas vezes, por terem se tornados atrativos turísticos passam a ser freqüentados apenas por uma elite minoritária, encarecendo, consequentemente, os produtos e serviços; especulação imobiliária, e a gentrificação, um termo relativamente novo e que tem sido bastante debatido nos últimos tempos, dentre outros. De acordo com Hamnet (apud Bidou- Zachariasen, 2006, p. 23): A gentrificação é um fenômeno ao mesmo tempo físico, econômico, social e cultural. Ela implica não apenas uma mudança social, mas também uma mudança física do estoque de moradias na escala de bairros; enfim, uma mudança econômica sobre os mercados fundiário e imobiliário. É esta combinação de mudanças sociais, físicas e econômicas que distingue a gentrificação como um processo ou conjunto de processos específicos. Isso implica dizer que esse fenômeno é responsável pela mudança habitacional nos centros históricos, que ocorre depois ou durante o processo de revitalização. Em que a comunidade de baixa renda é expulsa do Centro e no seu lugar passa a habitar a classe média ou classe média alta. De acordo com Nobre (2003) a gentrificação ainda não se consolidou no Brasil, apenas em outros países. Pois aqui existe a expulsão dos perspectivas, práticas e resultados 11

moradores de baixa renda, mas ela ainda não está sendo substituída por uma população de maior renda. Porém, diante de todos esses problemas advindos da revitalização, vale salientar que essa também é responsável por trazer inúmeros resultados positivos. Contanto que o projeto seja bem elaborado e implantado, adotando como base as políticas de desenvolvimento urbano consolidadas. Por essa e outras razões, sentiu-se a necessidade de se aprofundar um pouco mais nesses casos de sucesso e insucesso de intervenções urbanas em ambientes históricos, para compreender de certa forma como acontece a revitalização em diferentes lugares e conhecer os projetos que estão por trás da mesma. Desta forma, escolheu-se como lugar histórico o Pelourinho, em Salvador, para fazer o comparativo com o Centro Histórico de João Pessoa. No caso do Pelourinho, o processo de intervenção teve início a partir de 1967, onde foi realizado o levantamento sócio-econômico do Pelourinho. No entanto, essa reabilitação não foi tão profunda, apesar de várias ações terem sido colocadas em prática, a restauração se deu apenas em alguns imóveis isolados (IPAC, 1995). O verdadeiro processo de revitalização veio ter início, de fato, na década de 1990, e essa iniciativa partiu do princípio de que o local estava precisando passar por reformulações, devido ao estado crítico em que se encontrava, semelhante inclusive ao que aconteceu em outros Centros Históricos. Na época, o Pelourinho estava sendo ocupado, em sua maioria, por uma população extremamente pobre, que não tinha condições se quer de desenvolver trabalhos para preservar a região. Pelo contrário, essa população era responsável ainda mais por provocar a marginalização no lugar, contribuindo para aumentar o número de furtos, de drogas e de prostituição. (ZANIRATO, 2007). Zanirato (2007) fala que em 1991, Antônio Carlos Magalhães ao assumir o Governador do Estado da Bahia, pela terceira vez, a idéia de revitalizar o Pelourinho se intensificou perspectivas, práticas e resultados 12

ainda mais, principalmente pela intenção de querer transformar o Centro Histórico num importante atrativo turístico. No entanto, o principal problema com relação à revitalização veio à tona, que era justamente a questão do que fazer com a população ali residente. Pois pelo que se sabe, o projeto era almejado para curto prazo, e quando se tem o envolvimento da comunidade local, impossível trabalhar num curto espaço de tempo. E foi assim que aconteceu, o projeto acabou por não beneficiar a população ali residente, o que pode ter sido um dos motivos para o insucesso do mesmo. Além de não ter a participação da prefeitura municipal de Salvador, ficando a revitalização restrita apenas ao poder do Governo do Estado. Segundo a mesma autora, esse processo aconteceu de forma totalmente desordenada, pois como se pôde perceber, os moradores não foram levados em consideração, ao contrário do que era proposto pelo projeto. A maioria teve que abandonar suas casas, para que o lugar que era habitado por eles se transformasse em atrativos turísticos, ou até mesmo em repartições públicas. Alguns receberam indenizações, outros que não aceitaram o fato de ter que sair da localidade foram expulsos das residências, não recebendo nada em troca. É preciso deixar bem claro que essas residências não pertenciam aos moradores, no entanto, os mesmos tinham direito a uma justa indenização pelos anos que habitaram o lugar. Apesar de que, como citado anteriormente, as indenizações não foram tão justas assim. Na verdade, apenas as indenizações não seriam suficientes para dar uma qualidade de vida melhor àquelas pessoas, a população merecia participar do processo e sair beneficiada com a revitalização e as atividades que ali seriam desenvolvidas. O próprio IPAC (1995, p. 20) enfatiza a questão dos antigos moradores ao dizer que: um dos maiores desafios do Programa de Recuperação do Centro Histórico de Salvador foi, sem dúvida, a relocação dos moradores e outros usuários para realização das obras. Apesar de algumas melhorias que ocorreram no local, como a restauração de monumentos, criação de vários atrativos turísticos, aumento da rede hoteleira, melhoria perspectivas, práticas e resultados 13

na iluminação e segurança, é possível diagnosticar mais efeitos negativos do que positivos. Azevedo (Apud Zanirato, 2007, p. 46) fala que [...] o Pelourinho tornou-se uma vitrine para ser apreciada pelos turistas. Durante o dia não se vê mais vida, a não ser a comercial. À noite, a boemia é policiada, o Pelourinho se transformou em um cenário [...] um teatro onde se representa Salvador para turistas. Diante desses exemplos, ficou claro que não precisou se aprofundar para mostrar os problemas relacionados à revitalização do Pelourinho em Salvador. O projeto desde o início foi criado em cima de falhas, o que resultou nesses desastres que se consolidam até os dias atuais. Sem dúvida alguma existe uma analogia entre a experiência do Pelourinho à maioria das intervenções urbanas que ocorreram em várias cidades do mundo. Que idealizaram um modelo de desenvolvimento econômico, mas sem se importar com os outros aspectos, sejam eles ambientais e/ou socioculturais. Semelhante ao que aconteceu nessas cidades e em outras cidades do mundo, em que os bens históricos e culturais começaram a ser restaurados/revitalizados, os da cidade de João Pessoa, local de estudo, também adotou essa idéia -, principalmente depois que o patrimônio passou a representar algo de grande interesse para a sociedade (SCOCUGLIA, 2004). João Pessoa foi criada em 5 de agosto de 1585, sendo considerada a 3ª cidade mais antiga do Brasil. O Centro Histórico do município é constituído por um conjunto urbano formado a partir das relações econômicas, políticas, culturais e sociais, e que na atualidade, representa o marco da identidade histórica e cultural da sociedade pessoense (COMISSÃO DO CENTRO HISTÓRICO, 2009). Na década de 1980, a cidade começou a se desenvolver em torno dos bairros voltados para a orla da capital, e o Centro Histórico, responsável por abrigar o comércio na época, se viu ameaçado, em estado de total abandono (SCOCUGLIA, 2004). Aqui, pode-se perceber a forte presença da modernização, que na época representava um fator importantíssimo para a sociedade, que tinha o interesse de modificar os centros perspectivas, práticas e resultados 14

urbanos, seguindo os padrões da cultura global, sem se preocuparem com os fatores ligados a identidade local e a preservação do patrimônio. O próprio Centro Histórico teve monumentos demolidos devido ao alargamento das ruas para adequar-se à modernidade. Segundo a Comissão do Centro Histórico (2009), apenas no ano de 1987, é que o Centro Histórico foi inserido no processo de restauração/revitalização. As pessoas começaram a perceber a importância que representava o local e como era fundamental tentar deixá-lo com a mesma essência de antes. Mas, a participação da população ainda era mínima. E como se sabe, de fato, para que uma atividade seja desenvolvida adequadamente, é fundamental que os órgãos públicos, a iniciativa privada, e a comunidade local estejam realmente inseridos no planejamento das ações que serão postas em prática. Na verdade, vários prédios e espaços públicos foram restaurados/revitalizados, tanto na Cidade Alta, como na Cidade Baixa. Como exemplos, temos algumas igrejas, casarões, a Praça Anthenor Navarro e o Largo de São Frei Pedro Gonçalves. Alguns bares, boates e cafés foram implantados e, em determinadas épocas do ano, a Praça Anthenor Navarro passou a abrigar alguns eventos, como o carnaval e o São João, promovidos pela Fundação Cultural de João Pessoa (FUNJOPE). Depois que iniciou o processo de restauração/revitalização, o Centro Histórico passou a ser frequentado novamente pela sociedade, principalmente pela elite, apesar de a comunidade local não ter sido expulsa da área. Mas, o que parecia ser algo perfeito, não passava de uma fantasia. Segundo Scocuglia (2004), por trás da restauração/revitalização de alguns espaços e monumentos, se escondiam os problemas que passaram a interferir bastante no desenvolvimento local. Após alguns anos em que se deu inicio o processo de restauração, bares que estavam instalados na Praça Anthenor Navarro vieram a fechar e o número de eventos que estavam sendo realizados no local diminuiu gradativamente. perspectivas, práticas e resultados 15

Nos dias atuais, o Centro Histórico continua com diversos problemas, mas a importância em relação ao lugar tem aumentado gradativamente. Vários projetos estão sendo elaborados para dar continuidade à restauração e revitalização da área. Os órgãos públicos, entre eles, o IPHAN, o IPHAEP (Instituto do Patrimônio Histórico e Cultural do Estado da Paraíba), a FUNJOPE e a Comissão Permanente do Centro Histórico (Responsável pelo Programa de Revitalização), estão trabalhando em prol do desenvolvimento social, cultural e turístico do local. Contudo, a execução das tarefas é bastante demorada frente às verbas que não são suficientes para adiantar o processo. Mas como se pôde observar, muita coisa tem mudado, e os responsáveis pelo projeto tem lutado para que a revitalização realmente aconteça. O crescimento do turismo é um exemplo de que o Centro tem se tornado a cada dia mais importante. O número de atrativos cresceu e segundo uma pesquisa realizada por Silva (2006), os turistas têm saído bem mais satisfeitos depois que fazem a visitação. O turismo cultural pode ser visto como uma das principais ferramentas de apoio para ajudar na reestruturação do Centro Histórico, pois é uma forma de promover a cultura local, valorizar os bens culturais e sensibilizar a sociedade da importância que o ambiente representa, para que, consequentemente, a sociedade tenha a curiosidade e o interesse em frequentar e visitar a localidade. Segundo o Mtur, o turismo cultural compreende as atividades turísticas relacionadas à vivência do conjunto de elementos significativos do patrimônio histórico e cultural e dos eventos culturais, valorizando e promovendo os bens culturais e imateriais da cultura (BRASIL, 2006, p. 10). Entretanto, para que este tipo de turismo venha a se desenvolver, faz-se necessário um processo de planejamento adequado para a realidade da região, que contemple diversos projetos voltados inclusive para a área cultural. Considerações finais Apesar de o trabalho não ter sido concluído, acredita-se que se todo o Projeto de Revitalização do Varadouro e do Antigo Porto do Capim for realmente colocado em perspectivas, práticas e resultados 16

prática, a área terá uma grande diversidade de atrativos que poderá melhorar bastante o turismo e, por conseguinte propiciar o desenvolvimento sociocultural local. Porém, a preocupação maior é com relação à estrutura do projeto, no que se refere a sua eficácia, suas propostas, e sua sustentabilidade, ou seja, se seria realmente esse adequado para desenvolver o turismo cultural e a cultura local. Sabe-se que isso vai depender de uma série de fatores, sendo um dos principais a questão do planejamento, pois sem um planejamento adequado, a revitalização tomará as mesmas proporções e resultados negativos da maioria dos lugares históricos brasileiros. O projeto de Revitalização do Centro Histórico de João Pessoa é composto por importantes propostas, no entanto, é preciso analisá-las com maior cautela. Principalmente no que diz respeito à pretensão do projeto para com os moradores locais. Pois, se o mesmo não tiver por objetivo manter esses moradores no Centro ou incluí-los, de alguma forma, nas atividades que estão sendo desenvolvidas na região, acontecerá o mesmo que no Pelourinho: exclusão social; pedintes nas ruas; criminalidade; drogas e prostituição; descaracterização da cultura local; aumento no custo dos produtos e serviços, entre outros fatores negativos. Nesse sentido, o ideal é, em primeiro plano, investir no planejamento (através de uma harmoniosa articulação entre política patrimonial e política de turismo), pois este é um fator fundamental e indispensável para o desenvolvimento de qualquer atividade, seja nas áreas da economia, saúde, educação, cultura, turismo, enfim, de todos os setores que envolvem as ações humanas. Por ser considerado como uma ferramenta capaz de garantir resultados desejáveis na execução das tarefas, ou até mesmo, impedir que algo prejudicial possa vir a acontecer. Referências bibliográficas BIDOU-ZACHARIASEN, Catherine. De volta à cidade: dos processos de gentrificação às políticas de revitalização dos centros urbanos. Tradução: Helena Menna Barreto Silva. São Paulo: Annablume, 2006. perspectivas, práticas e resultados 17

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