Lutando contra o bullying escolar Jovens e adolescentes Falar aos jovens e adolescentes é sempre mais complicado, porque vocês possuem uma linguagem própria, muito especial, que infelizmente nós, mais velhos, não dominamos. O que nós temos é um pouco mais de experiência, e muita vontade de ajudar a banir das escolas e universidades brasileiras um mal que importamos: o bullying. Você deve saber o que é o bullying, afinal ele tem sido manchete de jornais escritos e falados com mais frequência do que gostaríamos. Talvez você não o conheça por este nome, mas o bullying é a agressão, física ou moral endereçada à outra pessoa, de forma constante e com o interesse cruel de ganhar poder através do sofrimento psicológico ou físico de outro ser humano. É a atitude do colega que rouba o dinheiro do seu lanche, ou que costuma dar uma cotovelada no seu estomago toda vez que ninguém esta olhando, ou ainda que encara você no pátio e faz piadinhas em voz alta sobre suas roupas ou modos para fazer a galera dar risadas as suas custas. 1
No passado só víamos isso em filmes americanos, mas hoje este problema esta crescendo tanto que no Brasil já existem jovens que entram nas escolas dispostos a matar e a morrer por estarem fartos de serem perseguidos. Esta cartilha foi escrita para todos os jovens: para os que praticam agressão, para os que são agredidos, e para aqueles que são testemunhas das agressões. Nós acreditamos que muitos praticam o bullying porque não tem total consciência do que estão fazendo, do mal que estão causando, e de que o feitiço pode virar contra o feiticeiro. Também acreditamos que muitos não sabem como e onde procurar ajuda para fazer com que o bullying pare. Como é o padrão da Fundação JK esta cartilha vem no formato de perguntas e respostas. Talvez você queira fazer perguntas diferentes, talvez nós não tenhamos todas as respostas. O mais importante, é que estaremos juntos, nós e você, para combater este mal que entrou em nossas escolas e que ameaça as vidas de nossos jovens. 2
Entre em nosso site, ligue para nós. Com certeza haverá sempre alguém disposto a ouvir e a ajudar. Myrian Massarollo Presidente 3
Afinal de contas, o que é bullying? O bullying envolve uma série de atitudes, de palavras e de comportamentos intencionais, ou seja, feitos de propósito, que prejudicam de alguma forma a pessoa a quem são endereçados. São atos repetitivos. Quais os atos e comportamentos que caracterizam o bullying? Atos de humilhação, de exposição ao ridículo, isolamento, exposição a boatos, insultos, ofensas relativas a alguma característica pessoal (altura, peso, uso de óculos, cor da pele, orientação sexual, entre outras) ou comportamental (ser quieto, ser falante, ser independente, ser passivo, etc.), socos, chutes, ameaças, roubos ou furtos de materiais escolares ou de lanche, destruição de bens (caderno, livros, mochilas, etc.), enfim, situações que dificultam a vida da vítima. O que é mobbing? O mobbing é o bullying praticado por dois ou mais indivíduos contra uma vítima. É o comportamento agressivo praticado por um grupo. Talvez seja um dos mais cruéis, 4
porque leva a vítima ao isolamento, o que causa um desespero intenso. O que são bullies? Bullie é o termo usado para o agressor, ou seja, para a pessoa que pratica o bullying. Existe mais de um tipo de bullie? Sim. Em verdade, os especialistas têm dividido os bullies em três classes diferentes: o bullie agressivo, o bullie passivo e o bullie vítima. Cada um desses tipos apresenta características próprias que vamos explicar a seguir. Bullie agressivo Apresenta postura agressiva a maior parte do tempo. É o valentão que intimida fisicamente. Normalmente é destemido, explosivo e fisicamente mais forte. Gosta de brincadeiras pesadas e demonstra certo prazer em causar dor. Bullie Passivo 5
Normalmente é o amigo do bullie agressivo. Em verdade, é um jovem infeliz, inseguro e com baixa autoestima, que apóia o bullie agressivo como forma de não ser vítima do mesmo. É o típico se não pode vencê-lo, junte-se a ele. No intimo tem vergonha da situação. Bullie Vítima Este bullie foi ou é vítima de bullying, e desconta em pessoas mais fracas que ele a dor que sente. São jovens altamente traumatizados. Este tipo de bullie é aquele que aparece nos noticiários americanos (e agora, infelizmente, nos brasileiros) como o garoto que cansado de sofrer se vinga matando os colegas da escola. São pessoas que se sentem abandonadas pela sociedade, que acreditam que todos de uma forma ou de outra são ou foram coniventes com as agressões sofridas. Este comportamento agressivo do bullie passa com o tempo? 6
Não. Este comportamento tende a se fixar criando adultos com personalidade questionável, que normalmente perseguirão colegas de trabalho, vizinhos e conhecidos. Pessoas com tendência a fofocas e a puxar o tapete daqueles que o cercam. Aquele tipo de adulto de quem todos querem manter distancia porque tende a usar os outros como escada, provoca conflitos entre os demais, se apodera dos feitos alheios, e não tem vergonha de inventar fatos desabonadores sobre os outros. Como fazer o bullie parar com o comportamento agressor? Antes de qualquer coisa é importante entender que quanto mais rápido este comportamento for combatido, melhor será para todos, inclusive para o bullie. Normalmente, para que o bullie mude sua atitude são necessários três elementos: intervenção constante, confrontação sensível e consequências. Os nomes parecem difíceis? Não se preocupe. Cada um deles diz respeito a atitudes bem simples, mas necessárias. Vamos explicar cada uma. Intervenção Constante 7
Os adultos, e até mesmo os adolescentes e jovens, que cercam o bullie devem impedir que ele execute qualquer ação que caracterize o bullying. Para isso todos devem estar atentos a todo comportamento que possa fazer parte deste tipo de ação e denunciá-lo sempre que surja. Os demais jovens podem se sentir incapazes de tomar atitudes contra o bullying, mas os adultos têm o dever de fazê-lo. Assim como, uma vez caracterizada a situação, devem manter um monitoramento constante. Confrontação sensível O bullie deve ser forçado a responder pelo seu comportamento. Muitos agressores buscam no poder exercido sobre os demais, esconder as próprias inseguranças e medos. É mais ou menos atacar como forma de defesa. Ao ressaltar os defeitos dos outros ele acredita estar escondendo os seus próprios defeitos. É o caso do péssimo aluno que tem dificuldade de entender a matéria e em vez de pedir ajuda fica zoando os bons alunos, chamando de nerd, ou de CDF, ou de esquisito ; na verdade ele quer esconder o próprio problema, e para isso ataca os outros. Ele é o descolado, que no fundo sabe que é inferior ao colega que escolhe como vítima. 8
É por este motivo que atitudes firmes normalmente afastam os bullies, que irão à busca de alvos mais fáceis. Se você não se sente preparado para o confronto, peça ajuda aos adultos que o cercam (pais, professores, médicos, qualquer um em quem você confie), eles podem e devem ajudar a você e ao bullie. Muitas vezes o bullie precisará de ajuda profissional para encarar os próprios medos. Consequências O bullie deve ser forçado a responder pelas suas atitudes e pelas consequências delas. A impunidade, o passar a mão na cabeça, pode fazer com que ele piore cada vez mais. Por este motivo não deixe nada prá lá. Leve a situação para um adulto e cobre dele que o bullie seja chamado à responsabilidade. Se houver retaliação, ou seja, se o bullie ameaçar se vingar volte ao adulto procurado e conte a ele o que esta ocorrendo. Seus pais e professores têm a obrigação de zelar pelo seu bem estar. Em último caso procure um órgão que o ajude: polícia, o Conselho Tutelar da sua cidade, a Fundação JK. Sempre haverá alguém sensível a situação e que saberá que atitudes tomar. 9
As atitudes agressivas partem mais de rapazes ou de moças? Em verdade, ocorrem nos dois grupos e também nos grupos mistos (formados por garotos e garotas). A diferença esta no modo como ocorre. Os meninos são mais propensos a violência física, a humilhações mais vulgares, a ameaças. Em outras palavras: os garotos batem, chutam, empurram, ameaçam quebrar a cara, xingam a mãe, chamam de bicha, etc. Já as meninas são propensas a ataques dissimulados, a boatos maliciosos, a olhares e risinhos insultuosos e ao isolamento da vítima. Elas elaboram frases do tipo: Ai querida, se eu fosse gorda como você eu me mataria! As duas atitudes são mesquinhas e dolorosas. Dentro da estrutura da escola quais são os ambientes onde o bullying ocorre com mais frequência? O bullying é uma ação covarde, portanto, normalmente não ocorre perto dos professores ou de outros adultos que possam tomar algum tipo de medida imediata. Os bullies buscam executarem suas condutas agressivas em lugares onde a vítima esteja só, ou onde as possíveis testemunhas sintam-se ameaçadas a ponto de não interferirem. 10
É importante considerar que o bullying tem ampliado suas fronteiras, podendo ocorrer tanto dentro do estabelecimento escolar, quanto fora dele, ainda que em função das relações estabelecidas na escola. Desta forma, os ambientes mais comuns para as agressões são: banheiros, bibliotecas, corredores, sala de aula antes da entrada do professor ou após a saída do mesmo, pátio, imediações da escola, e trajeto entre a escola e a casa da vítima. Existem tipos de vítimas, assim como existem tipos de bullies? Sim. Hoje os especialistas também classificam as vítimas até mesmo para saber como lidar com suas necessidades. Dentre as classificações mais comuns temos: a vítima provocadora, a vítima agressora, a vítima vingativa, a vítima silenciosa, a vítima eterna ou permanente e a vítima vencedora. Vítima provocadora Trata-se da vítima que tenta reagir sozinha ao bullying através até mesmo do revide. É o rapaz que quando é ameaçado dispara um não tenho medo e apanha, porque 11
esta só e efetivamente não tem como suportar a atitude do outro. A sua reação não é eficaz e acaba atraindo mais agressividade. O correto seria usar esta coragem adicional denunciando os agressores, ou seja, buscando ajuda com pessoas que efetivamente podem tomar atitudes que acabem com o bullying. Vítima agressora É o caso do bullie passivo. O que junta-se ao agressor na esperança de não ser vítima. Vítima vingativa É o caso do bullie vítima. Ocorre quando a caça se torna caçador. Vítima Silenciosa É a mais comum das vítimas. Ela sofre em silêncio. Não fala com ninguém a respeito, nem com pais, nem com educadores, nem com amigos. Ela realmente acredita que se 12
ficar quieta, mais cedo ou mais tarde, a agressão vai acabar, porque o bullie vai cansar e buscar outra vítima. Vítima eterna ou permanente É aquela que passará a vida inteira sofrendo agressões, por ter desenvolvido a postura ou mentalidade de vítima. Poderíamos dizer que é a vítima silenciosa levada ao extremo, ou seja, é aquela que vai passar a vida esperando não ser notada para não sofrer agressões, e se elas ocorrerem vai tentar se anular para que cessem. Vítima vencedora A vítima vencedora é aquela que apesar do bullie, e do bullying, dá a volta por cima. Ela tem o apoio dos pais, dos educadores. Desta forma, sente-se capaz de denunciar. Coloca-se acima das hostilidades e não cede às exigências do grupo (como fumar, beber e usar drogas para se sentir aceito). Este jovem apesar de em algum momento ser vítima de alguma ação caracterizada como bullying, sente-se seguro o suficiente para não se deixar abater. Quando adulto provavelmente participará de algum tipo de ação antibullying. Enquanto jovem, normalmente serve de apoio para outros jovens na mesma situação. 13
A mídia tem veiculado muitos depoimentos de pessoas famosas que foram vítimas de bullying e que venceram o problema, tonando-se exemplos, enquanto seus agressores nunca conseguiram se firmar em nada. São jovens tão centrados, que muitas vezes chegam a ser fundamentais para o tratamento e mudança de comportamento do bullie. Existe alguma coisa que se possa fazer para evitar o bullying? Sabe aquela história de dirigir com cuidado, mas pagar um seguro para as eventualidades? O bullying funciona da mesma forma. Podemos listar uma série de coisas que podem ser feitas para tentar evitar ser uma vítima, e isto acontecer da mesma forma. Podemos dizer para evitar discutir assuntos como futebol, política ou religião; podemos dizer para não andarem sozinhos ou não revidarem agressões; podemos aconselhar a manter distância física do bullie, e nada disso ser suficiente. O ideal é acreditarem em vocês mesmos. O bullie, como mostramos, é alguém que precisa de ajuda. É alguém que não pode ter o poder de deixá-lo mal, porque ele mesmo está mal. A menina que zomba da outra porque não esta com roupas da moda ou porque esta mais cheinha, provavelmente 14
não tem atenção, carinho, ou no fundo no fundo tem um conceito bem baixo de si mesma, porque uma mulher é bem mais do que um corpo. O rapaz que agride, que maltrata, que judia dos demais, talvez esteja pedindo socorro, porque no fundo sabe que não tem méritos próprios. Enxergar isso, já coloca a vítima em uma situação anos luz à frente do agressor. Agora, entender, ter pena, não significa se submeter. É neste momento que entram os pais, os educadores, os amigos, enfim, todos aqueles que podem e devem ajudá-lo. Não tenha medo ou vergonha de denunciar. Tenha certeza de que estará fazendo um grande bem não só a você mesmo, mas, ao próprio bullie e à sociedade como um todo. Não tenha medo ou vergonha de pedir socorro. Sempre existe uma maneira de mudar a trajetória de um problema, que muitas vezes quem esta dentro dele não consegue enxergar. Não espere que a situação tome proporções catastróficas. Confie nos seus pais, nos seus professores, no Conselho Tutelar de seu município, enfim, busque alguém disposto a ouvir e a tomar providências. Por fim... conte conosco! 15
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