RELAÇÕES HOMOAFETIVAS DIREITOS & CONQUISTAS ADOÇÕES HOMOAFETIVAS
Lute com determinação, abrace a vida com paixão, perca com classe e vença com ousadia, porque o mundo pertence a quem se atreve e a vida é muito para ser insignificante. Charles Chaplin O livro é a porta que se abre para a realização do homem. Jair Lot Vieira
Ana Brúsolo Gerbase RELAÇÕES HOMOAFETIVAS DIREITOS & CONQUISTAS ADOÇÕES HOMOAFETIVAS Participaram desta publicação Flavio Fahur Marcelo Napolitano Silvana do Monte Moreira
RELAÇÕES HOMOAFETIVAS Direitos & Conquistas Adoções homoafetivas Ana Brúsolo Gerbase 1ª edição 2012 desta edição: Edipro Edições Profissionais Ltda. CNPJ nº 47.640.982/0001-40 Editores: Jair Lot Vieira e Maíra Lot Vieira Micales Produção editorial e diagramação: Murilo Oliveira de Castro Coelho (CNPJ 14.630.816/0001-03) Revisão: Wânia Milanez Arte: Danielle Mariotin e Mariana Ricardo Dados de Catalogação na Fonte (CIP) Internacional (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Gerbase, Ana Brúsolo Relações homoafetivas : direitos e conquistas / Ana Brusolo Gerbase. São Paulo : EDIPRO, 2012. Bibliografia ISBN 978-85-7283-818-4 1. Casamento homossexual 2. Família 3. Homossexuais Casamento 4. Homossexuais Direitos civis 5. Homossexualidade 6. Relações homoafetivas I. Título. 12-03802 CDU-347.62:613.885 Índices para catálogo sistemático: 1. Homossexuais : União afetiva : Direito civil 347.62:613.885 2. União afetiva : Homossexuais : Direito civil 347.62:613.885 edições profissionais ltda. São Paulo: Fone (11) 3107-4788 Fax (11) 3107-0061 Bauru: Fone (14) 3234-4121 Fax (14) 3234-4122 www.edipro.com.br
À minha família plural: Antonio: marido e companheiro de todas as horas, pela compreensão e cumplicidade; Bárbara e Bruno, fontes de amor eterno; Maria Cecília, pela confiança; Joseléa, pela doação de amor e incentivo constantes.
Agradecimentos Agradecer é uma tarefa muito simples e fácil. Agradecer de forma justa, nem tanto. Percebo, então, como é difícil fazer justiça. Bem já dizia Vitor Hugo: Ser bom é fácil. O difícil é ser justo. Diante da dificuldade de apresentar aqui agradecimentos a todos que contribuíram direta e indiretamente com este trabalho de pesquisa, sem correr o risco de cometer injustiças, decidi homenagear a todos aqueles que se sentiram parte desta obra, permitindo que ela se concretizasse, escolhendo algo que demonstra a sua essência: o desejo de um mundo melhor, sem hipocrisia, repleto de satisfação e respeito. Tempos Modernos Lulu Santos Eu vejo a vida melhor no futuro Eu vejo isso por cima de um muro De hipocrisia Que insiste em nos rodear... Eu vejo a vida mais clara e farta Repleta de toda satisfação Que se tem direito Do firmamento ao chão... Eu quero crer no amor numa boa Que isso valha pra qualquer pessoa Que realizar, A força que tem uma paixão... Eu vejo um novo começo de era De gente fina elegante e sincera Com habilidade pra dizer mais sim Do que não, não, não... Hoje o tempo voa amor Escorre pelas mãos Mesmo sem se sentir E não há tempo que volte amor Vamos viver tudo que há pra viver Vamos nos permitir...
Sumário Apresentação - Dra. Maria Berenice Dias (Presidenta da Comissão Nacional da Diversidade Sexual)... 9 Introdução... 11 A homossexualidade no mundo - Breve histórico... 15 Os direitos LGBT no mundo - Reconhecimento das uniões homoafetivas e o casamento entre pessoas do mesmo sexo... 17 O Supremo Tribunal Federal e a decisão que muda o rumo da história LGBT... 21 O Superior Tribunal de Justiça autoriza o casamento entre pessoas do mesmo sexo... 25 A união estável... 27 Conversão da união estável em casamento... 30 O casamento... 38 O registro de casamento estrangeiro e sua transcrição no registro civil brasileiro... 40 Documentação... 40 O direito de herança nas uniões homoafetivas... 42 Sucessão e partilha de bens... 45 O testamento... 51 A pensão por morte - INSS... 54 Servidores públicos... 57 PIS/PASEP... 58 Ação judicial... 59 Justiça autoriza INSS a pagar pensão por morte para companheiro homoafetivo... 64 O Imposto de Renda... 67 Os planos de saúde... 70
O seguro de vida... 73 O seguro DPVAT... 74 A concessão de visto... 76 O mandato e a curatela... 84 O direito à visita íntima do homossexual preso... 92 As cirurgias de transgenitalização... 95 Etapas do tratamento... 98 Acompanhamento terapêutico... 98 Trasgenitalização... 98 Atenção continuada... 99 As técnicas de reprodução assistida... 101 A identidade civil... 104 A adoção homoafetiva... 112 Todo mundo reconhece que adotar é um gesto de amor! - Maria Berenice Dias... 112 Adoção homoafetiva - Silvana Monte Moreira... 113 Histórias reais de adoção... 131 A aplicação da Lei Maria da Penha nas relações homoafetivas - Marcelo Napolitano... 163 Caminhos a seguir contra a homofobia - Flavio Fahur... 169 Conquistas... 177 Direitos que são negados aos casais homossexuais... 177 Projetos de Lei existentes... 188 O Estatuto da Diversidade Sexual... 191 Anteprojeto... 195 Proposta de Emenda Constitucional... 208 Legislação infraconstitucional a ser alterada... 209 Referências... 235
Apresentação Um bando de delirantes! São assim chamados os que duvidam da verdade aceita por todos como imutável. Não há outra forma de se referir a quem não se conforma com o que está posto. E quando o posto como verdade se expressa por meio de comportamentos sociais ou dogmas religiosos, questionamentos tornam o desafio ainda maior. Quase uma heresia. Mais desafiador ainda é revolver temas permeados de preconceito e discriminação, como a diversidade sexual e identidade de gênero, que exigem uma dose muito maior de coragem. Quem ousa incursionar nesta área é invariavelmente e de forma pejorativa chamado de homossexual. Uma verdadeira estratégia banal de intimidação para blindar qualquer debate. É por isso que a população de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais identificada pela sigla LGBT jamais recebeu atenção, quer da sociedade, quer do legislador. Como são alvo do preconceito da própria família, é o segmento mais vulnerável entre os excluídos. Sem voz e sem vez, sempre foram condenados à inviabilidade. Restam à margem do direito e fora do sistema jurídico. Não ver ou negar a sua existência é a forma mais perversa de exclusão. Trata- -se de postura recorrente das sociedades que marginalizam as minorias, os que não detêm o poder ou aqueles que vivem fora do modelo convencional. Certamente, foi o sentimento de indignação que motivou advogados de todos os cantos do país a se mobilizarem. Começaram a surgir grupos de debates e fóruns de discussões, visando a qualificação profissional e a difusão das conquistas obtidas no âmbito do Poder Judiciário. Daí a criação de Comissões de Diversidade Sexual junto a OAB e de Comissões de Direito Homoafetivo pelo Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM). Foi assim que, em âmbito nacional, teve início um arrojado projeto que visa a alteração da Constituição Federal; a aprovação de um estatuto para assegurar todos os direitos e criminalizar a homofobia; a adequação da legislação infraconstitucional; além de impor a adoção de políticas públicas nas esferas federal, estadual e municipal. Após ter sido nomeada uma comissão especial pelo Conselho Federal da OAB, foi elaborado o projeto que contou com a participação de professores e especialistas e de representantes dos movimentos sociais. Quando foi apresentado o Estatuto da Diversidade Sexual ao Conselho Federal da OAB, este recebeu parecer favorável do relator. As propostas de emenda constitucional que acompanharam o projeto encontram-se em tramitação nas casas legislativas. Ainda que a Ordem dos Advogados do Brasil tenha legitimidade para encaminhá-lo ao Congresso Nacional, a proposta é de tal envergadura, que impõe
uma mudança de comportamento. Como há a necessidade de construção de uma nova consciência social, foi aceito um novo desafio: apresentar o Estatuto por iniciativa popular. A mobilização de toda a sociedade, além de dar maior legitimidade ao projeto, permite a contribuição de todos os segmentos, que podem apresentar propostas, encaminhar sugestões e alterações. Esse sonho de transformação, não só das leis, mas da própria sociedade, tem um outro ganho, que é imensurável: a possibilidade de se identificarem todos que comungam das mesmas ideias e ideais. Foi isso que me possibilitou conhecer Ana Gerbase, uma pessoa incrível, que não tem limites na incessante busca da justiça. Além de ter abraçado o direito homoafetivo como especialidade profissional, ela faz parte da Comissão da Diversidade Sexual da OAB do Rio de Janeiro, sendo uma das realizadoras do I Congresso Nacional de Direito Homoafetivo. Agora, lança a primeira obra que aborda o Estatuto da Diversidade Sexual, e o traz em anexo. A ânsia pela construção de uma sociedade mais rente à realidade da vida também contagiou Silvana Monte Moreira, cuja dedicação à adoção homoafetiva tornou o Rio de Janeiro o estado mais avançado nesse tema. Mas não dá para falar em direito homoafetivo sem enfrentar a homofobia. A omissão do legislador é suprida pela coragem do Judiciário quanto à concessão de direitos. Mas o juiz é impotente para criminalizar os crimes de ódio. Esta foi a tarefa assumida por Flavio Fahur, nesta obra. Para não dizer que nada existe, a única referência legal à orientação sexual está na Lei Maria da Penha que, além de coibir a violência doméstica, tem outros dois méritos significativos: define família como relação íntima de afeto e expressamente insere nesse conceito as uniões homoafetivas. Desse tema se encarrega Marcelo Napolitano. A visão caleidoscópica das relações homoafetivas, trazendo os direitos e elencando as conquistas, permite afirmar que só agora a sociedade brasileira está ingressando no século da tolerância, da igualdade. Claro que a codificação dos direitos vai emprestar segurança às conquistas que se somam, mas é preciso ter tenacidade, responsabilidade e persistência para vislumbrar novas auroras. Todos têm de aprender a sentir a dor do seu semelhante. Só assim construiremos uma sociedade em que os delírios de uns se tornam a realidade de todos. Maria Berenice Dias Advogada Vice-presidente do IBDFAM Presidenta da Comissão Nacional da Diversidade Sexual