INTRODUÇÃO À PATOLOGIA Profª. Thais de A. Almeida



Documentos relacionados
COMPROMETIMENTO COM OS ANIMAIS, RESPEITO POR QUEM OS AMA.

TÉCNICAS DE ESTUDO EM PATOLOGIA

Gradação Histológica de tumores

CITOLOGIA ONCÓTICA CÂNCER

Colaboradores Acadêmicos Selene Círio Leite Diego Lunelli Marcelle Círio Leite

Oncologia. Aula 2: Conceitos gerais. Profa. Camila Barbosa de Carvalho 2012/1

macroscopia clivagem processamento inclusão - parafina coloração desparafinização microtomia bloco

SISTEMATIZAÇÃO DA ANÁLISE ANÁTOMO-PATOLÓGICA NO CÂNCER GÁSTRICO. Luíse Meurer

Nomenclatura Brasileira. Norma Imperio DIPAT

Entende-se como boa amostra àquela obtida em quantidade suficiente, em recipiente adequado, bem identificado e corretamente transportado.

Patologia. Pathos = sofrimento, doença.

Diagnóstico do câncer

LABORATORIO DE CITOPATOLOGIA E ANATOMIA PATOLOGICA ANNALAB LTDA MANUAL DE EXAMES

Fundamentos de oncologia. Você sabe o que é o câncer e como ele se desenvolve em nosso corpo?

FAMERP - FACULDADE DE MEDICINA DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO Prof. Dr. Júlio César André

Perda da uniformidade nas células e desarranjo estrutural tecidual

TABELA DE EQUIVALÊNCIA Curso de Odontologia

Câncer. Claudia witzel

UNIC Universidade de Cuiabá NEOPLASIAS CMF IV

Easy PDF Creator is professional software to create PDF. If you wish to remove this line, buy it now.

Prof a Dr a Camila Souza Lemos IMUNOLOGIA. Prof a. Dr a. Camila Souza Lemos. camila.souzabiomedica@gmail.com AULA 4

Neoplasias 2. Adriano de Carvalho Nascimento

Agentes... Célula Normal. Causa... Divisão Celular. Célula Neoplásica. Divisão Celular. Físicos Químicos Biológicos. Fatores Reguladores.

O sistema TNM para a classificação dos tumores malignos foi desenvolvido por Pierre Denoix, na França, entre 1943 e 1952.

Biossegurança RISCOS BIOLOGICOS. UNISC Departamento de Biologia e Farmácia Prof. Jane Renner

ANÁLISE COMPARATIVA DOS GRAUS HISTOLÓGICOS ENTRE TUMOR PRIMÁRIO E METÁSTASE AXILAR EM CASOS DE CÂNCER DE MAMA

BETHESDA 2001 Versão portuguesa

Câncer de Próstata. Fernando Magioni Enfermeiro do Trabalho

INSTITUTO DE PREVIDÊNCIA DO ESTADO DO RS PORTARIA 13/2014

MANUAL PARA UTILIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DO LABORATÓRIO DE ANATOMIA PATOLÓGICA DO HC/UNICAMP

NEOPLASIAS. Prof. Dr. Fernando Ananias

ANEXO I (Resolução CFM nº 2074/2014) TERMO DE ESCLARECIMENTO, INFORMAÇÃO E CONSENTIMENTO PARA TRANSPORTE DE AMOSTRA DE MATERIAL BIOLÓGICO

Gráficos: experimento clássico de Gause, 1934 (Princípio de Gause ou princípio da exclusão competitiva).

ONCOGÊNESE UNESC FACULDADES ENFERMAGEM ONCOLOGIA PROFª FLÁVIA NUNES O QUE É O CÂNCER PROCESSO FISIOPATOLÓGICO 16/08/2015

Humberto Brito R3 CCP

Resposta Imune contra o Câncer

Papilomavirus Humano (HPV)

Prevenção do Câncer do Colo do Útero. Profissionais de Saúde

EXERCÄCIOS DE HISTOLOGIA. 1- (PUC-2006) Associe o tipo de tecido animal Å sua correlaçéo:

Aos bioquímicos, técnicos de laboratório e estagiários do setor de imunologia e hematologia.

RELATÓRIO PARA A. SOCIEDADE informações sobre recomendações de incorporação de medicamentos e outras tecnologias no SUS

CARACTERÍSTICAS GERAIS DAS NEOPLASIAS

HISTÓRIA NATURAL DOS TIPOS RAROS DE CÂNCER DE MAMA

Por outro lado, na avaliação citológica e tecidual, o câncer tem seis fases, conhecidas por fases biológicas do câncer, conforme se segue:

Exames de anatomia patológica

Processos Patológicos Gerais 3º ano/2012 Carga horária 144 horas

Tecido Epitelial Glandular

RESOLUÇÃO CFM Nº 1.823/ Nov-2007

avaliar : como Prof Simone Maia Presidente ANACITO presidente@anacito.org.br

Citologia oncótica pela Colpocitologia

Gaudencio Barbosa R3 CCP Hospital Universitário Walter Cantídio UFC Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço

CARACTERÍSTICAS GERAIS DAS NEOPLASIAS

O perfil do Citotecnologista em Angola

Citologia, Histologia e Embriologia

Página ORIGEM PULMONAR E EXTRAPULMONAR 01 de 05. Anexo 1. Figura 1: Características do frasco rígido com tampa rosca para a coleta de escarro

Higienização do Ambiente Hospitalar

Câncer de Pulmão. Prof. Dr. Luis Carlos Losso Medicina Torácica Cremesp

PORTARIA Nº 876/GM, DE 16 DE MAIO DE p. DOU, Seção1, de , págs. 135/136

- Ambulatório: Termo usado geralmente em regime de tratamentos não obriga a estar acamado ou em observação;

DRT: Professor(es): Eder de Carvalho Pincinato Carga horária: 4 horas/aula (2 hs teóricas e 2 hs práticas

Faculdade de Medicina Programa de Pós-graduação em Patologia

Sandra Heidtmann 2010

DOCUMENTOS NECESSÁRIOS PARA ABERTURA DE SINISTRO DIAGNÓSTICO DE CÂNCER

Imuno-histoquímica - aplicações

Iniciação. Angiogênese. Metástase

ACIDENTES DE TRABALHO COM MATERIAL BIOLÓGICO E/OU PERFUROCORTANTES ENTRE OS PROFISSIONAIS DE SAÚDE

Introdução à patologia. Profª. Thais de A. Almeida 06/05/13

RADIAÇÃO ULTRAVIOLETA E CÂNCER DE PELE

NORMAS DE COLETA E ACONDICIONAMENTO DE AMOSTRAS Setor: Logística

RESOLUÇÃO CFM Nº 2.074/2014

Cytothera Baby O serviço Cytothera Baby permite recolher e criopreservar células estaminais obtidas a partir do sangue do cordão umbilical do bebé.

ONCO-HEMATOLOGIA ATENÇÃO: IF001 - Imunofenotipagem para Classificação de Leucemias Técnica: Material: Volume:

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE MEDICINA - BACHARELADO

-Os Papiloma Vírus Humanos (HPV) são vírus da família Papovaviridae.

CURSO DE FARMÁCIA Autorizado pela Portaria nº 991 de 01/12/08 DOU Nº 235 de 03/12/08 Seção 1. Pág. 35 PLANO DE CURSO

A LINGUAGEM DAS CÉLULAS DO SANGUE LEUCÓCITOS

Diretrizes ANS para realização do PET Scan / PET CT. Segundo diretrizes ANS

Azul. Novembro. cosbem. Mergulhe nessa onda! A cor da coragem é azul. Mês de Conscientização, Preveção e Combate ao Câncer De Próstata.

FORMULÁRIO PARA SUBMISSÃO DE PROJETO DE PESQUISA ENVOLVENDO SERES HUMANOS

Carcinoma Escamoso Invasor

Cancro Gástrico. Prevenção, Diagnóstico e Tratamento. Cancro Digestivo. 30 de Setembro Organização. Sponsor. Apoio.

Relação entre as características ecográficas de um nódulo tiroideu e a sua benignidade/malignidade

O que é câncer de mama?

TOTVS Gestão Hospitalar Manual Ilustrado Central de Material Esterilizado. 11.8x. março de 2015 Versão: 3.0

Técnicas Moleculares

Registro Hospitalar de Câncer de São Paulo:

INFECÇÃO ASSOCIADA AO ZIKA VÍRUS ORIENTAÇÕES: COLETA AMOSTRAS LABORATORIAIS VERSÃO PARANÁ

Programa Mínimo da Residência Médica em Patologia

HUCFF-UFRJUFRJ ANM/2010

CANCER DE MAMA FERNANDO CAMILO MAGIONI ENFERMEIRO DO TRABALHO

PALAVRAS-CHAVE Sintoma. Neoplasias do Colo. Enfermagem. Introdução

CAPÍTULO 2 CÂNCER DE MAMA: AVALIAÇÃO INICIAL E ACOMPANHAMENTO. Ana Flavia Damasceno Luiz Gonzaga Porto. Introdução

Papilomavírus Humano HPV

AGC sem especificação e AGC favorece neoplasia O que fazer? Yara Furtado

Transcrição:

INTRODUÇÃO À PATOLOGIA Profª. Thais de A. Almeida DEFINIÇÃO: Pathos: doença Logos: estudo Estudo das alterações estruturais, bioquímicas e funcionais nas células, tecidos e órgãos visando explicar os mecanismos através dos quais surgem os sinais e sintomas das doenças. PATOLOGIA: Patologia geral: Estudo das reações aos estímulos anormais que ocorrem em todas as células e tecidos. Patologia sistêmica (especial): Estudo das reações específicas de cada tecido ou órgão a uma agressão. Patologia Clínica: Especialidade médica que tem por atribuição identificar e quantificar a presença de substâncias, células, moléculas e elementos anormais no sangue, urina, fezes e em outros liquídos biológicos. Anatomia Patológica: Especialidade médica que tem por atribuição analisar as alterações causadas pelas mais variadas doenças nas células e nos tecidos. ANATOMIA PATOLÓGICA: Patologia cirúrgica: Análise de espécimes cirúrgicos sólidos visando a detecção de alterações em suas células e tecidos (histopatológicas).

Citopatologia: Análise de líquidos e secreções corporais visando avaliar a presença de alterações celulares (citopatológicas). Necropsias: Estudo post mortem das alterações macroscópicas, histológicas e citológicas presentes no organismo buscando identificar a causa do óbito. CONCEITOS BÁSICOS: Tumor: Aumento no volume de uma área do organismo causado por um processo inflamatório ou neoplásico. Neoplasia: Alteração tecidual ocorrida devido a uma proliferação celular excessiva e descontrolada, que persiste mesmo após a retirada do estímulo inicial. Pode ser benigna ou maligna. Câncer: Neoplasia maligna. Neoplasia maligna: Capacidade de invadir estruturas adjacentes e vasos, levando a formação de metástases. - NEOPLASIA MALIGNA: Origem (linhagem): epitelial carcinomas; mesenquimal sarcomas; hematológica linfomas e leucemias; melanocítica melanoma;

LINHAGEM EPITELIAL: - Carcinoma de células escamosas células neoplásicas se assemelham ao epitélio da pele (escamoso estratificado). - Adenocarcinoma células neoplásicas crescem com tendência a formar glândulas. Metaplasia: Mecanismo celular de adaptação a uma agressão, no qual um tipo de célula dá lugar a outro, mais resistente. Displasia: Alteração celular geralmente, porém nem sempre, originada em uma área de metaplasia. É caracterizada pelo surgimento de proliferação celular descontrolada, resultando em alterações na arquitetura das células. Lesão pré-neoplásica. Carcinoma in situ: Displasia que ocupa toda a espessura do epitélio, porém permanece contida pela membrana basal. Carcinoma invasivo: Alteração tecidual caracterizada pela invasão da membrana basal pelas células neoplásicas. Grau de diferenciação de uma neoplasia: bem diferenciado; moderadamente diferenciado; pouco diferenciado; indiferenciado.

O QUE É O EXAME DE CONGELAÇÃO? Exame realizado pelo médico patologista. Intra-operatório, rápido, realizado com o paciente ainda na sala de cirurgia. Pode ser realizado no centro cirúrgico ou no laboratório de Anatomia Patológica. 10 a 15 minutos. Principais indicações: - definir a natureza da lesão (neoplásica x não neoplásica); - avaliar margens cirúrgicas; - avaliar a qualidade e quantidade da amostra para diagnóstico posterior; DETERMINA A CONDUTA A SER TOMADA AINDA NO ATO CIRÚRGICO! COMO É REALIZADO? Cirurgião: retirada do material a ser avaliado. envio a fresco, à temperatura ambiente. Patologista: avaliação macroscópica processamento o material é congelado (-20ºC); cortar, colocar em lâmina e corar. avaliação microscópica

COMO ENVIAR UM MATERIAL PARA ANÁLISE ANATOMOPATOLÓGICA? PEÇAS CIRÚRGICAS: - Integridade da peça: evitar seccionar materiais pequenos e médios; peças muito grandes devem ser cortadas para melhor fixação do material; órgão ocos: abri-los; temperatura ambiente (obs: produtos de amputação). - Recipiente: tamanho adequado (10 vezes o tamanho da peça); abertura larga; vidro ou plástico; hermeticamente fechados; sempre com identificação. - Fixação: imediata; formol a 10% (fixador universal); recobrir toda a peça (10 volumes para cada volume da peça); - Identificação do material: identificar o frasco com: nome completo do paciente; número de registro hospitalar (prontuário); identificação da peça cirúrgica e topografia; nome do médico responsável; data do procedimento. - Formulário de solicitação de exame: nome completo do paciente e idade; número do registro hospitalar (prontuário);

identificação da peça cirúrgica e topografia; data do procedimento; história clínica resumida e hipóteses diagnósticas; identificação do médico solicitante (assinatura e carimbo). CITOLOGIAS: - Líquidos (pleural, ascítico, pericárdico, articulares, líquor, etc); lavados brônquicos; urina. - Esfregaços (colpocitologias, PAAF de tireóide, escovados brônquicos, etc). LÍQUIDOS (pleural, ascítico, pericárdico, articulares, líquor, etc); lavados brônquicos; urina. - Recipiente: vidro ou plástico; hermeticamente fechado; sempre com identificação; temperatura ambiente ou geladeira a 4 C. - Fixação: álcool a 70%, na proporção 1:1. - Identificação do material: identificar o frasco com: nome completo do paciente; número de registro hospitalar (prontuário); identificação do tipo de material e topografia; nome do médico responsável; data do procedimento. - Formulário de solicitação de exame: nome completo do paciente e idade; número do registro hospitalar (prontuário);

identificação do tipo de material e topografia; data do procedimento; história clínica resumida e hipóteses diagnósticas; identificação do médico solicitante (assinatura e carimbo). ESFREGAÇOS (colpocitologias, PAAF de tireóide, escovados brônquicos, etc) - Identificar todas as lâminas com as iniciais do paciente e número do registro hospitalar. - Fixação: imediata. álcool a 70%; spray fixador (Citofix). - Armazenamento: tubete (lâminas fixadas em álcool); tubete ou envelope, ambos identificados (lâminas fixadas com spray); CUIDADO PARA NÃO QUEBRAR AS LÂMINAS! - Formulário de solicitação de exame: nome completo do paciente e idade; número do registro hospitalar (prontuário); identificação do tipo de material e topografia; quantidade de lâminas enviadas; data do procedimento; história clínica resumida e hipóteses diagnósticas; identificação do médico solicitante (assinatura e carimbo).

EXAME DE CONGELAÇÃO: - Material a fresco em frasco de vidro ou plástico, sem fixador; - Formulário de solicitação de exame: nome completo do paciente e idade; número do registro hospitalar (prontuário); identificação do tipo de material e topografia; data do procedimento; história clínica resumida e finalidade do exame; identificação do médico solicitante (assinatura e carimbo). COMO O MATERIAL É PROCESSADO NO LABORATÓRIO DE ANATOMIA PATOLÓGICA? PEÇAS CIRÚRGICAS Macroscopia e clivagem: - Macroscopia: Avaliação da peça cirúrgica a olho nu, observando suas características e as descrevendo: - medidas; - forma; - coloração; - consistência; - características da superfície de corte; - descrição de todas as camadas dos órgãos; - achados atípicos. - Clivagem: Processamento manual da peça cirúrgica, seguindo técnicas específicas para cada órgão, com o objetivo de representar as áreas de interesse a serem estudadas.

- Processamento técnico: Após a clivagem, o fragmento selecionado é armazenado em um cassete plástico e colocado em um processador (histotécnico), onde ocorre a desidratação, clarificação e impregnação do tecido. Inclusão em parafina utilizando um molde metálico (bloco de parafina). CITOLOGIAS: - Macroscopia: Avaliação das características do líquido: volume; coloração; homogeneidade. Quantificar o número de lâminas. - Processamento técnico: - Líquidos ; lavados brônquicos; urina: citocentrifugação esfregaço - Líquidos; lavados brônquicos; urina e esfregaços: coloração (Papanicolaou) MICROSCOPIA: Após o processamento técnico, o material está pronto para a análise microscópica. De acordo com as características microscópicas observadas, pode ser necessária a realização de colorações especiais (método histoquímico) ou técnicas de imunohistoquímica.

COLORAÇÕES ESPECIAIS: Método que auxilia na identificação de microorganismos (vírus, bactérias, fungos), substâncias específicas (ex: pigmentos) e componentes teciduais (ex: tecido conjuntivo, gordura). IMUNO-HISTOQUÍMICA: Método especial que utiliza anticorpos específicos para detectar antígenos na superfície ou no interior das células. APLICAÇÕES: - Diagnóstico de doenças infecciosas; - Distinção entre processos inflamatórios e neoplásicos; - Identificação de produtos secretados pelas células; - Diagnóstico de tumores indiferenciados quanto à linhagem e tipo; - Identificação de sítio primário de neoplasias metastáticas; - Determinação do tipo e subtipo de leucemias e linfomas; - Orientação terapêutica; - Determinação de índice de proliferação celular; - Identificação de células e moléculas específicas (pesquisa).