Paula Caetano Viúva de Horácio Roque é a rainha dos seguros
ESPECIAL BILIONÁRIOS Rainha nos seguros Herdou de Horácio Roque a sexta maior seguradora em Portugal. Agora, Paula Caetano tem como principal desafio dar continuidade à determinação e engenho do marido, num período de grave crise económica e financeira. Texto Elisabete Tavares Comemorariam este ano o décimo aniversário de vida em comum. Com a sua partida, em maio de 2010. então com 66 anos, Horácio Roque, deixou muitos milhões. Mas também muita dor. Paula Caetano, a segunda mulher do empresário, herdou ambos. E ainda não ultrapassou a partida precoce do companheiro de uma vida. seu professor e amigo. Não consegue falar sobre a herança. Não tem vontade. As saudades são fortes, poderosas. Paula, ex-secretária do banqueiro, conhece os negócios do império do seu marido como poucos. Acompanhou todos os desenvolvimentos e movimentos do grupo de Horácio Roque durante mais de três décadas. Nos últimos anos, fez parle do conselho de administração da Rentipar, holding financeira de Horácio Roque. De repente, sem esperar e sem aviso, viu -se confrontada com a responsabilidade de gerir ativos que chegaram a ser avaliados em 100 milhões de euros pela consultora Deloitte, em tempos de pré -crise. Horácio Roque deixou à sua viúva o controlo da Soil. SGPS, uma holding que detém 52,31% da Rentipar Seguros, SGPS, que por sua vez controla 100"í, da Companhia de Seguros Açoreana, SA. Esta seguradora detém 29,19% da Banif Açor Pensões. Uma vida nova "A Paula é tratada como uma rainha", dizia Horácio Roque na festa de aniversário da sua companheira, em 2009, que teve lugar nos jardins do luxuoso ReicTs Hotel, no Funchal. Uma festa que reuniu 40 convidados, ilustres figuras pertencentes à alta sociedade madeirense. A felicidade de Paula esmoronou-se quando um acidente vascular Honrar Horãcio Roque É um objectivo permanente na vida de Pauta Caetano desde a morte prematura do marido.
ESPECIAL BILIONÁRIOS Centenária e em mudança - cerebral colocou Horácio Roque numa cama do Hospital São José, em Lisboa. Na altura, Paula não acreditou no pior. Começou a preparar-se para receber o marido em casa e tratou de criar as condições para ajudar o empresário a recuperar no seu lar. A morte do marido foi um choque para Paula. Quando esteve presente na entrega póstuma a Horácio Roque de um galardão da EXAME de personalidade que mais se distinguiu em 2009, na área de banca e seguros, Paula Caetano falou sobre a morte do empresário. "A ausência física é dilacerante", afirmou na altura, numa breve entrevista à revista Caras, em outubro de 2010. Haviam passado cinco meses da partida de Horácio Roque. Amigos distanciam-se As notícias sobre uma guerra entre os herdeiros do comendador ocuparam muitas páginas de jornais e revistas nos últimos dois anos. Paula Caetano negou estar em guerra com as filhas do empresário, Paula e Teresa, pela herança entretanto disputada também pela primeira mulher do empresário, Fátima Roque. Amigos e pessoas próximas da família Roque preferem não falar. Foram apanhados no meio de uma luta e o silêncio é a escolha da maioria. Parece que Horácio Roque era a cola que unia o grupo de familiares e amigos e que sem ele a união se desfez. Todas as portas se fecham quando se tenta falar sobre a família Roque. "Se eu falar bem de alguém, haverá outra pessoa que não vai gostar. Prefiro ficar fora disso", afirma um amigo da família. São ligações profundas de muitos anos com raízes emocionais e muitas recordações. Paula Caetano tem de lidar com tudo isto. E prosseguir com o negócio de seguros criado pelo marido. De resto, sente orgulho pelo facto de Horácio Roque, ter sido um sei/ made man que criou um império do nada com sede na Madeira. Aliás, todos o confundiam por madeirense, apesar de ter nascido em Oleiros, Açoreana é a sexta maior no sector segurador português, segundo o Instituto de Seguros de Portugal. A companhia de seguros, fundada em 1892, foi integrada na Rentipar Seguros quando esta sociedade foi criada em 1 de abril de 2002, com o objetivo de integrar o negócio relacionado com a atividade seguradora do império de Horácio Roque. Inicialmente, foi nomeada de Banif Seguros, mas em 2005 a sua designação foi alterada para Rentipar Seguros. A 3 de março de 2010, a Rentipar Seguros concretizou a compra à CNP Assurances da posição que esta detinha na Global - Companhia de Seguros (83,52% do capital) e na Global Vida - Companhia de Seguros de Vida (83,57% do capital). Em abril e maio de 2010 a Rentipar Seguros comprou o restante capital destas seguradoras e a partir de 12 de maio de 2010 passou a deter a totalidade dos seus capitais. Na sequência das aquisições das companhias de seguros Global, iniciou-se o processo de preparação para a fusão por incorporação destas duas empresas na Açoreana, uma operação que foi aprovada a 13 de dezembro de 2010 em assembleia geral. A fusão concretizou-se a 1 de janeiro de 2011 com a transferência global do património das companhias de seguros Global e Global Vida para a Açoreana e consequente extinção das companhias incorporadas. A atividade económica da Rentipar Seguros, em 2011, reduziu-se ao simples acompanhamento da gestão da sua única participada a companhia de seguros Açoreana. No final de 2011, já depois da integração da Global e da Global Vida, o valor dos prémios totais brutos da Açoreana ascendeu a 475 milhões de euros. No total, a companhia empregava 767 funcionários e tinha 49 balcões. Os resultados líquidos cresceram para 5 milhões de euros no ano passado versusum 1,1 milhões em 2010 e um prejuízo de 24, 9 milhões em 2009. perto de Castelo Branco. Mas o empresário empreendedor amava o continente africano e foi em África do Sul que Paula o conheceu. Paula descreveu a sua relação com Horácio Roque como "muito próxima e especial". Como almas gémeas. Da "história de amor" sobrou a dor e a saudade profundas. E também uma seguradora para gerir. Pensa no que "ele iria querer" e isso deu-lhe forças para prosseguir. Até porque "ele foi o melhor professor do mundo" para Paula. Porto seguro? As lições e ensinamentos do "professor" Horácio Roque irão ser cruciais agora. Paula Caetano dirige uma grande seguradora numa altura em que Portugal e a Europa enfrentam uma crise com contornos especialmente ameaçadores. O desemprego recorde, o aumento do número de falências de empresas portuguesas, o agravamento dos impostos e menores rendimentos dos portugueses, tudo somado levou a que a "massa segurável" tivesse sofrido uma contração em 2011, refere a própria Açoreana no seu relatório e contas do anua passado. O mercado segurador português no ramo Vida sofreu uma quebra de 38% em 2011. Em 2010, tinha registado um crescimento. O enfoque da banca na captação de recursos próprios tem sido um dos principais fatores que tem levado à quebra de produção de seguros no ramo Vida. Isto porque os bancos são os principais distribuidores deste tipo de produto. A perda de benefícios fiscais dos planos de poupança e reforma (PPR) afastou potenciais investidores deste produto. Ainda assim, em 2011, a Açoreana teve uma quebra na produção de seguro direto de 13,4%, inferior à descida de 28,7% registada pelo mercado, segundo o ISP. Paula Caetano conta com a ajuda de Diogo da Silveira, presidente da comissão executiva da Companhia de Seguros Açoreana, desde janeiro de 2008, para dirigir a seguradora para um porto seguro. Diogo da Silveira conhece bem o sector dos seguros e a Açoreana, que detém atualmente uma quota de mercado de 4,1%.
O ex-sócio da consultora McKinsey & Company tem uma vasta experiência de gestão empresarial e no sector financeiro. Diogo da Silveira é administrador do Banif, SGPS, desde 2009, administrador do Banif-Banco Internacional do Funchal, SA, desde 2007, e também tem assento na administração da Banif Imobiliária. O gestor esteve na administração do Banco Comercial dos Açores, SA, e passou pelo grupo Sonae, então liderado por Belmiro de Azevedo, nomeadamente pela Sonae Distribuição e Sonaecom, dona da operadora móvel Optimus, onde foi vice-presidente. Foi ainda administrador da Sonae Indústria e também presidente da operadora de telecomunicações Oni, entre 2005 e 2007. José Carlos Brites, João Ribeiro, António Lourenço e Maurício de Casal unido Nos negócios e na vida privada, Horácio Roque e Paula Caetano mantinham uma relação próxima Oliveira, são os gestores que completam a comissão executiva da Açoreana. 2012: um ano delicado O presente ano é visto como "bastante delicado" pela Açoreana. Apesar da seguradora contar com um agravamento da conjuntura em Portugal, a Açoreana está confiante que o sector segurador vai resistir a este cenário dantesco. "O setor segurador tem dado mostras de uma significativa capacidade de adaptação e resistência", refere a companhia. Mas o desfecho desta crise é incerto e as consequências para a economia europeia e para a portuguesa, em particular, poderão ser maiores dos que as estimadas. Nada que atemorizasse Horácio Roque. Ou a sua "aluna" Paula Caetano.