SER NEGRO NO CEARÁ UM OLHAR SOBRE AS COMUNIDADES QUILOMBOLAS PARA O DIGITAL MUNDO MIRAIRA



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Transcrição:

SER NEGRO NO CEARÁ UM OLHAR SOBRE AS COMUNIDADES QUILOMBOLAS PARA O DIGITAL MUNDO MIRAIRA Izaura Lila Lima Ribeiro 1 Maria de Lourdes Macena Filha 2 RESUMO Este artigo versa sobre o papel dos negros na sociedade cearense, destacando a existência de Comunidades Quilombolas no estado. Diante disso, o Projeto Digital Mundo Miraira surge como uma ferramenta para auxiliar o conhecimento de estudantes, professores e pesquisadores acerca do tema. Neste trabalho temos como objetivo destacar fatos históricos que falam sobre a presença negra no Ceará, como também pontos importantes relacionados ao reconhecimento e regularização dessas comunidades, e a partir disso proporcionar através do Digital Mundo Miraira um olhar atual sobre os Quilombolas cearenses. Vale ressaltar que neste estudo utilizo revisão bibliográfica de temas relacionados à História do Ceará para auxiliar em uma análise inicial sobre o tema. PALAVRAS-CHAVE: Comunidades Quilombolas, Ceará, Digital Mundo Miraira. 1 INTRODUÇÃO Nos últimos anos têm-se observado que tanto as expressões culturais do povo negro como os seus modos e costumes, estão sendo focalizados em nosso estado. Esse novo olhar está sendo possibilitado devido à ação de movimentos sociais e também pela atuação do governo que atualmente exige que as escolas do nosso país transmitam a cultura negra e indígena para os seus alunos. A partir disso, o Projeto Digital Mundo Miraira está sendo criado para auxiliar de forma eficiente na socialização do conhecimento, disponibilizando pesquisas, vídeos, fotos e informações gerais sobre os fazeres e saberes do povo cearense, estabelecendo assim um ambiente virtual com cunho educativo além de ser uma forma inovadora de transmitir o conhecimento adquirido. 1 Aluna do Curso Superior de Gestão de Turismo e Bolsista de Iniciação Científica pelo CNPQ no Projeto Digital Mundo MiraIra, no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, IFCE, izauralila@hotmail.com. 2 Prof ª. MS. Orientadora do Projeto Digital Mundo Mira Ira e Professora de Cultura Popular do Centro Federal de Educação Tecnológica do Ceará, IFCE, lumacena@cefetce.br..

Vale ressaltar, que em nosso estado ainda existe uma concepção erronia de que no Ceará não existe negros, porém os fatos históricos ressaltam a presença negra no estado e a sua contribuição na formação do povo cearense. Com base nisso, acredito ser relevante a discussão sobre a existência de Comunidades Quilombolas no Ceará, já que segundo o INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) no Ceará existem aproximadamente 84 comunidades Quilombolas, porém apenas duas comunidades estão regularmente reconhecidas. Este trabalho tem como objetivo falar sobre a presença das Comunidades Quilombolas no Ceará, estabelecendo uma discussão teórica baseada nas opiniões de estudiosos sobre o assunto, utilizando dados do Ministério da Cultura e do INCRA. Além disso, iremos esplanar de forma sintética, porém esclarecedora, como o tema será abordado no Digital Mundo Miraira. 2 A PRESENÇA NEGRA NA HISTÓRIA DO CEARÁ Baseado em fatos históricos acredito ser fundamental ressaltarmos um pouco da presença negra na História do nosso estado. Alguns documentos históricos afirmam que quando Pero Coelho veio ao Ceará mais precisamente na região da Ibiapaba, já existiam negros na região, porém esses eram confundidos com indígenas. A primeira prova inequívoca da existência do negro cativo no Ceará deve-se a Matias Beck, holandês que ao conquistar a capitania em 1649 trouxe 10 negros, um dos quais chamado Domingos, nascido na própria terra cearense e que falava com desenvoltura o abanheenga, língua indígena. Encontrou aquele capitão flamengo outros negros no Ceará, todos morando há algum tempo e servindo de escravos aos índios ( há indícios de que tinham sido capturados de um navio cuja tripulação foi assassinada pelos nativos ao atracar na capitania). (FARIAS, 2004, p. 200). A partir desse trecho podemos perceber que a presença negra no estado se deu de forma lenta e com um pequeno número de negros. Com o desenvolvimento da Pecuária nos sertões cearenses, alguns negros também foram trazidos para trabalhar nas fazendas, porém como o trabalho com o gado garantia certa liberdade aos vaqueiros, os donos das fazendas preferiam colocar os negros para auxiliarem nos serviços domésticos, pois assim dificultaria mais a fuga desses escravos. Os negros que vieram para o Ceará eram usados como cativos, empregados domésticos ou fincavam suas raízes para habitar como proprietários. Portanto, mesmo não havendo uma tradição escravocrata no Estado grupos

negros buscaram fixar moradia nessas terras pelos mais variados motivos. (em fase de elaboração) 3. Algumas medidas foram tomadas para evitar a fuga dos escravos das fazendas, além dos castigos que eram aplicados aos negros, os fazendeiros também decidiram aplicar um caráter paternalista, ou seja, tentar enquadrar aquele escravo na família. Vale ressaltar também que na Pecuária existia uma aproximação maior dos fazendeiros com os seus trabalhadores, isso facilitava para que os fazendeiros criassem laços de confiança com os seus escravos, permitindo assim que esses ocupassem cargos de confiança, além de futuras promessas de alforria. É fundamental dizer que o Ceará devido a diversos fatores, entre eles, a seca e o alto custo da mão de obra escrava, não possuía uma grande quantidade de escravos, tornando assim a mão de obra escrava como um símbolo de status para os fazendeiros. É importante lembrar a participação do Ceará como pioneiro na Abolição da Escravidão. Podemos dizer que quando a Lei Áurea foi decretada, quase não existiam negros escravizados no estado. Na realidade, a abolição veio como fruto da brava e heróica resistência negra (cujo exemplo mais famoso foi o legendário Quilombo de Palmares, em Alagoas), da mobilização da população numa campanha abolicionista que agitou o Império e de mudanças econômicas ocorridas no Brasil e no mundo no século XIX. (FARIAS, 2004, p. 198). Podemos dizer que não só a sociedade cearense, mais que houve um movimento abolicionista no Brasil, principalmente depois que os soldados brasileiros voltaram da Guerra do Paraguai. Com isso, a resistência dos negros aumentou e conseqüentemente as fugas, auxiliando para o fim da escravidão Mesmo com o fim da escravidão a situação dos negros não modificou muito, pois o racismo era algo que persistia, então alguns negros mesmo possuindo a liberdade preferiam continuar a trabalhar com seus senhores enquanto outros tentaram a vida na cidade morando em cortiços e favelas. Portanto, podemos dizer que não existiu uma intensa presença negra no Ceará, e isso se deu devido a diversos fatores, porém isso não significa dizer que não existem negros no estado e muito menos que o povo cearense é formado essencialmente por indígenas. 3 FONTELES, Lidianny Vidal. A Identidade do Negro Sertanejo e a Invenção dos Remanescentes de Quilombos. Artigo desenvolvido no IV ENECULT - Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura. Faculdade de Comunicação/UFBA, Salvador-Bahia-Brasil.

Aliás, a não grande presença africana ajuda a explicar o fenótipo dos sertanejos: um povo composto por uma minoria de negros e brancos e por uma massa mestiça, de pardos, caboclos, mulatos, morenos acaboclados e cafuzos oriundos de miscigenações sucessivas, tendo cabelos corredios duros ou levemente ondulados e uma estatura mediana ou baixa. (FARIAS, 2004, p. 40). 3 QUILOMBOS ONTEM E QUILOMBOS HOJE Os Quilombos eram sítios onde os negros, os mestiços e os brancos pobres, se refugiavam. Normalmente esses sítios se encontravam em locais de difícil acesso, para que assim os capitães do mato e os fazendeiros não pudessem encontrar os seus escravos fugidos. Esses sítios de fuga e de defesa eram chamados geralmente quilombos, palavra oriunda da língua dos negros que neles predominavam os bantos, e que significa exatamente, de acordo com a opinião da maioria das autoridades, habitação (Kilombo em língua bundo-angolense). (BRANDÃO, 1978, p. 03). Esses sítios eram organizados, as comunidades se dedicavam a agricultura de subsistência e até ao comércio, pois alguns líderes faziam acordos com pequenos agricultores. Segundo o artigo 68 da Constituição Federal, atualmente o conceito de Quilombo não está mais diretamente ligado ao que conhecemos e aprendemos nos livros de história. O site do OQ (Observatório Quilombola) afirma que: Hoje, o termo é usado para designar a situação dos segmentos negros em diferentes regiões e contextos no Brasil, fazendo referência a terras que resultaram da compra por negros libertos; da posse pacífica por ex-escravos de terras abandonadas pelos proprietários em épocas de crise econômica; da ocupação e administração das terras doadas aos santos padroeiros ou de terras entregues ou adquiridas por antigos escravos organizados em quilombos. Podemos dizer então que atualmente as terras habitadas pelas Comunidades Quilombolas são consideradas de uso comum, ou seja, que pertencem a todos os membros da comunidade, porém para que essas comunidades sejam realmente reconhecidas como Quilombolas, é necessário levar-se em conta alguns aspectos históricos e culturais. Para melhorar a vida dessas comunidades o Presidente Luís Inácio Lula da Silva (Lula), assinou o Decreto 4.887/2003, que concede o direito a auto-atribuição como único critério de identificação dessas comunidades, isso significa dizer que essas terras devem ser utilizadas para o uso social, econômico e cultural das pessoas que nela habitam.

Existem ainda projetos ligados ao Ministério da Cultura e a Fundação Palmares que garantem não só o reconhecimento das Comunidades, mas também programas que levem educação, alimentação e cultura para elas. É fundamental dizer que para que as comunidades quilombolas sejam certificadas pela Fundação Palmares é necessário que cumpram com algumas exigências, entre elas o Decreto de n 4.887/2003 e a Portaria interna da Fundação Palmares, a partir desse reconhecimento essas comunidades passam a usufruir de programas governamentais como o Programa Fome Zero e o Programa Luz Para Todos, além de estarem regularmente reconhecidas.