No caso do Chile, a Aliança do Pacífico não altera significativamente suas relações entrevista com Tullo Vigevani



Documentos relacionados
Pisa 2012: O que os dados dizem sobre o Brasil

Aula 9.1 Conteúdo: Tentativas de união na América Latina; Criação do Mercosul. FORTALECENDO SABERES DINÂMICA LOCAL INTERATIVA CONTEÚDO E HABILIDADES

Bússola Eleitoral Portugal

Organizações internacionais Regionais

DIREÇÃO NACIONAL DA CUT APROVA ENCAMINHAMENTO PARA DEFESA DA PROPOSTA DE NEGOCIAÇÃO DO SALÁRIO MÍNIMO, DAS APOSENTADORIAS E DO FATOR PREVIDENCIÁRIO

Período pré-colonial

Reforma Política Democrática Eleições Limpas 13 de janeiro de 2015

Universidade de St. Gallen, da Suíça, abre escritório internacional no Brasil para ampliar sua presença na América Latina Vestibular 1-14/07/2010

VAMOS CUIDAR DO BRASIL COM AS ESCOLAS FORMANDO COM-VIDA CONSTRUINDO AGENDA 21AMBIENTAL NA ESCOLA

e a p e c d o d e s e m p r e g o Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo - CNC

Presidência da República Federativa do Brasil. Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial

MOTIVAÇÕES PARA A INTERNACIONALlZAÇÃO

DE DÉCADAS DE ESTAGNAÇÃO DO MERCADO INDUSTRIAL, VERIA A REDUÇÃO DE OPORTUNIDADES, CEDIDAS À INVASÃO DE PROFISSIONAIS ESTRANGEIROS?

O BRASILEIRO E AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Acordo-Quadro de Associação entre o MERCOSUL e a República do Suriname

COMO SE ASSOCIAR 2014

Ateneo de investigadores (Espaço de intercâmbio entre pesquisadores)

A POSIÇÃO DO MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS (SP) EM RELAÇÃO AO ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO (IDH) E AO ÍNDICE DE GINI

Indicadores Anefac dos países do G-20

IX Colóquio Os Direitos Humanos na Ordem do Dia: Jovens e Desenvolvimento - Desafio Global. Grupo Parlamentar Português sobre População e

INSTITUTOS SUPERIORES DE ENSINO DO CENSA PROGRAMA INSTITUCIONAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA PROVIC PROGRAMA VOLUNTÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA

Esclarecimentos sobre rentabilidade das cotas do Plano SEBRAEPREV

FORMANDO AS LIDERANÇAS DO FUTURO

A perspectiva de reforma política no Governo Dilma Rousseff

Brasil avança, mas é quarto país mais desigual da América Latina, diz ONU

ACORDO ECONÔMICO ENTRE A REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL E O REINO DA ESPANHA, INTEGRANTE DO TRATADO GERAL DE COOPERAÇÃO E AMIZADE BRASIL-ESPANHA

O indicador do clima econômico piorou na América Latina e o Brasil registrou o indicador mais baixo desde janeiro de 1999

VESTIBULAR ª Fase HISTÓRIA GRADE DE CORREÇÃO

A VERDADE SOBRE AS FUNERÁRIAS NO MUNICÍPIO DO RJ:

GRITO PELA EDUCAÇÃO PÚBLICA NO ESTADO DE SÃO PAULO

DECLARAÇÃO FINAL Quebec, 21 de setembro de 1997

COMUNICADO FINAL. XXIXª Comissão Bilateral Permanente Washington 5 de Maio de 2011

Plano Municipal de Educação

Ciências Humanas e Suas Tecnologias - Geografia Ensino Médio, 2º Ano Blocos Econômicos. Prof. Claudimar Fontinele

27/09/2011. Integração Econômica da América do Sul: Perspectiva Empresarial

IDH do Brasil melhora, mas país cai no ranking Mudança se deve a desempenho melhor de outro país

BRICS Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul

Pontes ao Sul: Argentina Brasil Laços com o Rio Grande do Sul. Consulado Geral da República Argentina em Porto Alegre Novembro 2015

INSTRUMENTOS DE TRATAMENTO DE CONFLITOS DAS RELAÇÕES DE TRABALHO NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA FEDERAL

Como o Scup pode ajudar consultores políticos durante o período eleitoral

COMISSÃO DA AMAZÔNIA, INTEGRAÇÃO NACIONAL E DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL

Exercícios sobre Tigres Asiáticos

Ministério das Relações Exteriores Instituto Rio Branco. Prova Escrita de Política Internacional

ATUALIDADES. Top Atualidades Semanal DESTAQUE PROFESSOR MARCOS JOSÉ SEMANA 19 A 25 DE MAIO SEMANA 19 A 25 DE MAIO. Material: Raquel Basilone

PROJETO RUMOS DA INDÚSTRIA PAULISTA

Prof. Bosco Torres CE_15_Blocos Econômicos Regionais

Minuta do Capítulo 10 do PDI: Relações Externas

Ser grande não significa ser mais rico, e ter relevância em um dos indicadores não confere a cada país primazia em comparação a outro.

36,6% dos empresários gaúchos julgam que o. 74,4% dos empresários gaúchos consideram que. 66,0% das empresas contempladas pela medida a

Baixo investimento público contribui para desigualdade no acesso e queda em indicadores de qualidade

ANEXO I QUADRO COMPARATIVO DOS GOVERNOS LULA E fhc

A Cooperação Energética Brasil-Argentina

difusão de idéias EDUCAÇÃO INFANTIL SEGMENTO QUE DEVE SER VALORIZADO

Especialização em Gestão de Negócios

CONSTITUINTE EXCLUSIVA E SOBERANA DO SISTEMA POLITICO

Metodologia. Pesquisa Quantitativa Coleta de dados: Público Alvo: Amostra: 500 entrevistas realizadas. Campo: 16 a 29 de Setembro de 2010

PROGRAMA ULBRASOL. Palavras-chave: assistência social, extensão, trabalho comunitário.

PROGRAMA CAPES-CONICYT. Cooperação Brasil-Chile

Plataforma dos Centros Urbanos

Imigração: problema ou solução?

DECLARAÇÃO DE BRASÍLIA

Corte Internacional de Justiça se manifesta acerca da declaração de independência do Kosovo

DISCURSO SOBRE LEVANTAMENTO DA PASTORAL DO MIGRANTE FEITO NO ESTADO DO AMAZONAS REVELANDO QUE OS MIGRANTES PROCURAM O ESTADO DO AMAZONAS EM BUSCA DE

ilupas da informação e comunicação na área de Saúde entrevista

RELATÓRIO DA OFICINA DE PAÍSES FEDERATIVOS E DA AMÉRICA DO NORTE. (Apresentado pelo Brasil)

Fórum Social Pan Amazônico

ACORDO-QUADRO SOBRE MEIO AMBIENTE DO MERCOSUL

GLOBALIZAÇÃO DEFINIÇÃO

Contextos da Educação Ambiental frente aos desafios impostos. Núcleo de Educação Ambiental Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro

Pequenas e Médias Empresas no Chile. Pequenos Negócios Conceito e Principais instituições de Apoio aos Pequenos Negócios

AMÉRICA LATINA Professor: Gelson Alves Pereira

Discurso do Ministro de Estado da Educação do Brasil, Fernando Haddad

Presidência da República Casa Civil Secretaria de Administração Diretoria de Gestão de Pessoas Coordenação Geral de Documentação e Informação

CAMPANHA NACIONAL HOSPITAIS SEGUROS FRENTE AOS DESASTRES

A ASSOCIAÇÃO DAS NAÇÕES DO SUDESTE ASIÁTICO E SEU AMBIENTE DE NEGÓCIOS

O Brasil e os acordos internacionais de comércio e investimentos

Análise do Ambiente estudo aprofundado

Exportação de Serviços

Ata de Reunião da UTE/2014 realizada durante a XIX Cúpula da Rede Mercocidades

MUNICÍPIO DE LAGOA AÇORES REGULAMENTO DO CONSELHO MUNICIPAL DE SAÚDE PREÂMBULO

FACIL LOCADORA E COMERCIO DE VEICULOS LTDA

INTERVENÇÃO DO ESTADO NO DOMÍNIO ECONÔMICO

Seminário A economia argentina e as perspectivas das relações com o Brasil e o Mercosul Rio de Janeiro, 22 de agosto de 2008

Uma política econômica de combate às desigualdades sociais

Maurício Piragino /Xixo Escola de Governo de São Paulo.

Estatuto. Sociedade Baden Sul do Brasil. Cláusula 1ª Da denominação, da sede e do exercício

Sessão 3: Envolvendo empregadores e sindicatos

FEVEREIRO 2015 BRASÍLIA 1ª EDIÇÃO

Oficina Cebes DESENVOLVIMENTO, ECONOMIA E SAÚDE

Desempenho do Comércio Exterior Paranaense Junho 2010

Milho Período: 11 a 15/05/2015

Capítulo 03 Mercados regionais

CURSO DE GESTÃO EM COOPERATIVISMO: Aproximando educação popular e tecnologias

Ações Reunião Extraordinária realizada no dia 30 de outubro de 2014

Aguascalientes, 4 de julho de 2005

CENÁRIOS ECONÔMICOS O QUE ESPERAR DE 2016? Prof. Antonio Lanzana Dezembro/2015

TERMO DE REFERÊNCIA. Local de atuação: Brasília/DF com disponibilidade para viagens.

SEGUROS E RESSEGUROS

DESENVOLVIMENTO DAS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS, GERAÇÃO DE EMPREGO E INCLUSÃO SOCIAL. XII Seminario del CILEA Bolívia 23 a 25/06/2006

Conclusão. Patrícia Olga Camargo

Transcrição:

No caso do Chile, a Aliança do Pacífico não altera significativamente suas relações entrevista com Tullo Vigevani Por Lys Ribeiro No primeiro pleito presidencial com voto facultativo e duas candidatas ascendendo ao segundo turno no Chile, a candidata de centro-esquerda Bachelet saiu vitoriosa com 62,2% dos votos no domingo, dia 15, e garantiu seu retorno à presidência do país. No entanto, o mandato, que inicia oficialmente a partir de março de 2014, reserva muitos desafios à líder socialista. Entre os principais, estão o andamento das reformas continuamente reiteradas durante a campanha presidencial, especialmente as tributária, educacional e constitucional e, também, o combate à desigualdade social e o consequente alto índice de Gini, por meio do fortalecimento do Estado, implementação de políticas públicas e capitalização das demandas sociais. Ademais, o aprofundamento da integração regional parece caminhar para um modelo transversal enquanto há, ainda, disputas fronteiriças na América Latina, inclusive envolvendo o país andino. Para tratar destas e outras questões relacionadas à eleição de Bachelet, o Blog Brasil no Mundo conversou com Tullo Vigevani. Professor na Universidade Estadual Paulista UNESP, Vigevani possui vasta produção científica em temas que abarcam o Mercosul, Política Exterior do Brasil, Integração Regional e Estados Unidos. O acadêmico atua na área de Ciência Política, com ênfase em Relações Internacionais, é pesquisador do Centro de Estudos de Cultura Contemporânea (CEDEC) e também membro do Grupo de Reflexão sobre Relações Internacionais (GR-RI). Ressaltando a possibilidade ou não de convocar uma Assembleia Constituinte e da importância da concertação no interior da Nueva Mayoría para o futuro das reformas, Vigevani observa a tendência ao crescimento da arrecadação estatal no Chile e o ambiente propício para as ( ) lutas contra a pobreza, as desigualdades e a concentração da renda. O pesquisador também aborda os bons rumos das relações fronteiriças e diplomáticas na América do Sul e analisa a situação e perspectivas da integração regional sob a ótica da eleição de Bachelet. ( ) no Chile, todas as suas elites preocupam-se centralmente com a área Ásia-Pacífico. Se o Brasil e o Mercosul

tiverem crescimento econômico significativo essa tendência poderá em parte ser contrabalançada, afirma o pesquisador. Confira na íntegra. Blog Brasil no Mundo - O retorno de Bachelet à presidência do Chile está alicerçado numa candidatura cuja plataforma conta com um pacote de reformas estruturais no país e incluiu no debate questionamentos dos movimentos estudantis e sociais que se fizeram ouvidos ao longo de 2013. No entanto, a base centro-direita tem presença expressiva no Congresso. Nesse sentido, qual a tendência para os próximos quatro anos no Chile? T. Vigevani - É evidente que nem tudo está definido no Chile para os próximos quatro anos. A primeira questão será a definição do ministério. A aliança Nueva Mayoría é um pouco diferente da anterior Concertación que governou de 1990 a 2010. Uma das diferenças é a volta do Partido Comunista à coligação de governo, ainda que com pequena representação parlamentar, seis deputados. Outro problema que deverá ter peso é o da possibilidade ou não de convocar uma Assembleia Constituinte. O tema foi debatido na campanha eleitoral, mas a candidata Bachelet não tomou posição definitiva. Esse ponto é relevante: se as necessárias mudanças constitucionais, da Constituição aprovada em plebiscito durante a ditadura Pinochet em 1980, tiverem que ser aprovadas pelo Congresso, exigirão acordo com a oposição de direita, Unión Democrata Independiente (UDI) e Renovación Nacional. O novo governo tem maioria, mas não os dois terços necessários para mudanças constitucionais: 21 senadores de 38 e 68 deputados de 120. A questão da constituinte tem sido insistentemente colocada pela esquerda da Nueva Mayoría. Os temas quentes do debate tendem a concentrar-se, ao menos inicialmente, em duas grandes questões: educação e previdência. Nos dois casos serão necessárias mudanças constitucionais. Não é certo o rumo futuro. Os dois grandes partidos de governo são o socialista e o democrata-cristão. Quem prevalecerá na administração será o indicador de quais políticas serão efetivamente levadas adiante. A vitória de Bachelet estava prevista há muito. Isso levou parte das forças sociais conservadoras, particularmente empresários, a sustentarem, inclusive financeiramente, a sua campanha. Esse apoio incluiu diferentes

grupos, inclusive financeiros e empresas estrangeiras. Uma necessidade coloca-se com urgência. Tanto educação quanto previdência não poderão sofrer intervenções efetivas de parte do Estado sem maiores recursos, o que implica crescimento dos impostos. Essa questão, como verificamos em todos os países onde se torna tema central (inclusive nos Estados Unidos), encontra resistências fortes. Portanto, a política chilena deve ser acompanhada de perto, com muito interesse. Fazer previsões é difícil. O que podemos considerar certo é que algumas das tensões vividas ao longo do governo Piñera, e mesmo nos governos anteriores da Concertación, terão continuidade, num contexto mais favorável às lutas contra a pobreza, as desigualdades, a concentração da renda. Blog Brasil no Mundo - Após a prevista vitória de Bachelet, Maduro a felicitou trazendo à tona o assunto do fortalecimento da Unasul e da Celac, Dilma também falou em integração regional e, segundo Emir Sader, a própria Bachelet durante a campanha declarou que tratará o Mercosul com mais ênfase em comparação à gestão Piñera. A tendência é um certo abandono da Aliança do Pacífico nas relações exteriores chilenas? Quais as perspectivas de integração regional na América Latina com a volta de Bachelet? T. Vigevani - Como acabamos de sinalizar, muito dependerá dos equilíbrios a serem estabelecidos na própria Nueva Mayoría. Não se pode prever o futuro, mas tudo indica que, apesar da experiência internacional recente da Presidenta em órgão das Nações Unidas, os temas que terão forte atenção serão os internos. Não parece previsível uma reorientação significativa da política internacional do Chile. Haverá maior simpatia pelos órgãos sul e latino-americanos. Respeito e cooperação ativa. O Chile é membro associado do Mercosul, tem sido membro ativo e apoiado efetivamente a Unasul e a Celac. Outra coisa seria mudar seu posicionamento internacional, inclusive a Aliança do Pacífico. O Chile assinou em 2002 um Acordo de Livre Comércio com a União Europeia, em 2003 com os Estados Unidos, nos governos da Concertación. A Aliança do Pacífico tem vida muito recente, iniciou-se em abril de 2011 com participação de Peru, Colômbia, Chile e México. Em junho de 2012 assinou-se um tratado. O grande peso econômico do Bloco é o México, cujo PIB e comércio internacional (em grande

parte dirigido aos Estados Unidos) se destacam. O México já é fortemente ligado aos Estados Unidos por meio de um Tratado de Livre Comércio, o NAFTA. No caso do Chile, a Aliança do Pacífico não altera significativamente suas relações. Com o Mercosul, particularmente com a Argentina e o Brasil, as relações são sólidas e o intercâmbio com esses países tem sido crescente. Depois da China e dos Estados Unidos, o Brasil e a Argentina representam os parceiros importantes do Chile. Os acordos regionais, inclusive o Mercosul, mostram que ajudam a consolidar relações, mas encontram dificuldades para redirecioná-las de forma radical. As mudanças se dão ao longo do tempo. O interesse do Estado chileno e de seus grupos dirigentes é posicionar-se na futura área de Livre Comércio do Pacífico, que compreende China, Japão e Estados Unidos. A Aliança para o Pacífico representa isso. As relações do Chile com Peru, Colômbia e México são importantes e tem tido evolução alterna. No que se refere à Unasul e à Celac, a presença de Bachelet servirá para fortalecer os blocos. Blog Brasil no Mundo - O resultado da Corte Internacional de Justiça sobre o litígio da fronteira marítima entre Chile e Peru, previsto para 2014, também pode afetar as relações bilaterais entre os vizinhos e os rumos da integração latino-americana? De que maneira? T. Vigevani - Poderá afetar as relações externas do Chile, mas não de forma intensa. É necessário ter em conta que as relações fronteiriças, políticas, diplomáticas e de segurança têm sido crescentemente melhores na América do Sul nos anos 2000. A Unasul contribuiu, também a política externa brasileira ajudou. O conflito é secular, tem sua origem na Guerra do Pacífico que opôs o Chile a Peru e Bolívia entre 1879 e 1883. As consequências desse conflito nunca foram inteiramente sanadas. A Bolívia perdeu parte do território e sua saída para o mar. O Peru perdeu área de seu território. O julgamento da Corte Internacional de Justiça será sobre o mar territorial. As constituições chilenas e peruanas superpõem áreas marítimas. A Corte foi chamada a se manifestar em 2008, pois o Chile não reconhece a área que o Peru reivindica. Segundo o Chile, teria sido definida em acordos e tratados de 1950 e 1954. As relações entre os dois países têm sido claramente cooperativas em todo o último período, inclusive crescentemente cooperativas. Supondo que a decisão da Corte não seja totalmente desequilibrada para um dos lados, deve-se prever acomodação. Restituindo parte da área

ao Peru, poderá haver sinais de descontentamento fortes no Chile, particularmente de sua Marinha. Nesse caso, o papel da Presidenta será importante. De mais difícil solução é o conflito do Chile com a Bolívia, mesmo com sinais distensivos no período Evo Morales e mesmo de parte de Sebastián Piñera. O Presidente Morales declarou que buscará retomar as negociações visando a superação de parte das perdas bolivianas, mas não demonstra confiança na nova Presidenta. Blog Brasil no Mundo - Quanto às relações Brasil/Chile, a expectativa é de continuidade na expansão da interconexão Atlântico-Pacífico, do incremento do intercâmbio comercial e dos acordos de cooperação nos campos da educação, cultura e pesquisa na Antártica que têm se desenvolvido nos últimos anos? T. Vigevani - As relações dos governos Rousseff e Bachelet deverão ser positivas e devem ser fortalecidas. Do ponto de vista político as condições para o entendimento são excelentes. Como dissemos, as relações comerciais se fortaleceram de forma contínua desde o início dos anos 1990. O Brasil, ainda que com distância de China e Estados Unidos, é o terceiro parceiro comercial do Chile, em média. Com alternâncias, já que as exportações chilenas são maiores para o Japão e a Coréia do Sul que para o Brasil. O comércio com o Brasil decresceu em 2012 e também em 2013. A corrente de comércio foi de aproximadamente 9 bilhões de dólares em 2012. O Chile tem sido, com alternâncias, a partir de 2005 o sexto parceiro comercial do Brasil. Há também cruzamento de investimentos significativos. A interconexão Pacífico-Atlântico é importante para todos os países da região, mas depende de fortes investimentos. A conexão em si não pode alterar tendências econômicas estruturais. Como vimos no Chile, todas as suas elites preocupam-se centralmente com a área Ásia-Pacífico. Se o Brasil e o Mercosul tiverem crescimento econômico significativo essa tendência poderá em parte ser contrabalançada. Observemos que a qualidade do comércio bilateral é benéfica ao Brasil, pois exportamos produtos manufaturados, particularmente os automotivos. A forte orientação chilena para as exportações à área Ásia-Pacífico está ligada com sua capacidade de produção de cobre e minérios.

A cooperação continuará dando-se em inúmeros campos, inclusive nos de educação, onde o interesse chileno pelas experiências brasileiras será redobrado. O mesmo vale para a pesquisa na área Antártica, onde a cooperação é intensa, com fortes benefícios para o Brasil.