Verificação das pressões respiratórias através da máscara facial e bocal em pneumopatas hospitalizados



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ARTIGO ORIGINAL Arq Med Hosp Fac Cienc Med Santa Casa São Paulo 2011; 56(1):19-23 Verificação das pressões respiratórias através da máscara facial e bocal em pneumopatas hospitalizados Verification of respiratory pressures through the nozzle and facial mask in lung disease patientes hospitalized Elaine Aurelina Oliveira 1, Jamili Anbar Torquato 2 Resumo Objetivo: Comparar as medidas das pressões respiratórias através de máscara facial e bocal em pneumopatas hospitalizados. Método: Trata-se de um estudo transversal descritivo realizado com 75 pacientes com diagnóstico de doenças pulmonares internados no setor de Clínica Médica do Hospital Santa Marcelina no período de abril a outubro de 2010 de acordo com os critérios de inclusão utilizando o manovacuômetro para mensuração das pressões inspiratória e expiratória máximas. Os dados coletados foram submetidos à análise estatística pelo teste t de Student considerando o nível de significância 0,05 e análise em porcentagem pelo Excel. Resultados: A máscara facial não alterou de forma significativa (p > 0,05) os valores de pressão inspiratória máxima quando comparadas com o bocal, sendo a média na máscara de 58,80 ± 22,36 e no bocal de 62,53 ± 25,68, porém houve diferença estatisticamente significante na pressão expiratória máxima (p < 0,05), sendo a média na máscara 51,07 ±13,51 e no bocal 57,47 ± 17,48. Conclusão: A medida da pressão inspiratória máxima pode ser realizada nestes pacientes com máscara facial, sem interferência nos resultados obtidos, diferentemente da pressão expiratória máxima que houve diferença estatisticamente significante. 1. Especialista em Fisioterapia Cardiorespiratória e Hospitalar e Mestranda em Ciências da Saúde pela Universidade Cruzeiro do Sul, Aprimoramento em Fisioterapia Geral pelo Hospital Santa Marcelina, Fisioterapeuta do Hospital Santa Marcelina e do Hospital do Servidor Público Estadual IAMSPE Serviço de Terapia Intensiva São Paulo SP 2. Doutora em Ciências pela Faculdade de Medicina de São Paulo (FMUSP), Especialista em Fisioterapia Respiratória pela Universidade Cidade de São Paulo (UNICID), Coordenadora do Curso de Pós-graduação em Fisioterapia Cardiorespiratória e Hospitalar e docente do curso de Fisioterapia e do Programa de Mestrado em Ciências da Saúde da Universidade Cruzeiro do Sul Trabalho realizado: Hospital Santa Marcelina / Universidade Cruzeiro do Sul Endereço para correspondência: Elaine Aurelina Oliveira. Rua: Tristão José Ferreira, 223 São Miguel Paulista 08040-270 São Paulo SP Brasil. Email: naninhaao@ig.com.br / jamilianbar@ yahoo.com Descritores: Pneumopatias, Pacientes internados, Hospitalização, Músculos respiratórios, Testes de função respiratória, Modalidades de fisioterapia Abstract Objective: To compare the measurements of respiratory pressure by face mask and mouthpiece in lung hospitalized. Method: This is a cross sectional study conducted with 75 patients diagnosed with lung disease admitted to the unit of Clinical Medicine, Hospital Santa Marcelina from April to October 2010 in accordance with the criteria for inclusion using the manometer to measure the maximal inspiratory and expiratory pressures. The collected data were statistically analyzed by Student t test with the level of significance 0.05 and a percentage analysis by Excel. Results: The face mask did not change significantly (p > 0,05) values of maximal inspiratory pressure comparared with the nozzle, with an averrage of 58,80 ± 22,36 mask face of 62,53 ± 25,68 but statistically significant difference in maximal expiratory pressure (p <0.05), while the average in the shade and 51.07 ± 13.51 57.47 ± 17.48 in the nozzle. Conclusion: The measurement of maximal inspiratory pressure can be performed in these patients with facial mask, without interference on the results, unlike the maximum expiratory pressure that was statistically significant. Keywords: Lung diseases, Inpatients, Hospitalization, Respiratory muscles, Respiratory function tests, Physical therapy modalities Introdução As medidas das pressões respiratórias tem a função no diagnóstico e prognóstico de desordens neuromusculares e pulmonares, indicando indiretamente a força dos músculos respiratórios, permitindo o diagnóstico de insuficiência respiratória por falência muscular, diagnóstico precoce de fraqueza dos músculos respiratórios, auxiliando na avaliação da mecânica respiratória (1,2). A pressão inspiratória máxima (PI máx ) reflete a força muscular inspiratória gerada durante a inspiração forçada contra uma via aérea ocluída, não 19

podendo ser isolado o diafragma, embora 70% do esforço realizado na inspiração equivale ao trabalho desse músculo. A pressão expiratória máxima (PE máx ) reflete a força muscular expiratória avaliando assim a musculatura abdominal, sendo a maior pressão gerada durante um vigoroso esforço expiratório (3,4). Atualmente grande atenção tem sido dada aos estudos de força muscular respiratória em indivíduos normais, com patologias pulmonares e/ou doenças neuromusculares, sendo de conhecimento científico e clínico que sintomas como dispnéia, tosse e fadiga são comuns em tais disfunções, porém variações metodológicas podem interferir na interpretação dos resultados obtidos. Para a avaliação das pressões respiratórias a literatura é controvérsia no que diz respeito a melhor interface (máscara facial ou bocal) a ser utilizada (1,3,5). As doenças pulmonares ou pneumopatias podem ser classificadas em doenças restritivas, obstrutivas ou mistas. As doenças pulmonares restritivas incluem uma variedade de processos que podem afetar o aparelho neuromuscular respiratório, a caixa torácica, o espaço pleural e o parênquima pulmonar. Enquanto as doenças pulmonares obstrutivas são caracterizadas pela presença de obstrução crônica do fluxo aéreo, que não é totalmente reversível, como por exemplo, a bronquite crônica e o enfisema pulmonar e as doenças mistas caracterizam-se por ambos comprometimentos (6,7,8). As pneumopatias são responsáveis por grande número de internações e morbi-mortalidade e atualmente não existem estudos realizados em pneumopatas hospitalizados analisando as possíveis interferências das variações metodológicas nas medidas das pressões respiratórias na interpretação dos resultados obtidos com a máscara facial e uso do bocal. A avaliação das pressões respiratórias é muito utilizada em pacientes hospitalizados, identificando indivíduos suscetíveis a apresentarem complicações respiratórias por fraqueza muscular, dessa forma o presente estudo tem por objetivo comparar as medidas das pressões respiratórias através de máscara facial e bocal em pneumopatas hospitalizados, visto que a análise dessas medidas pelo bocal, limitam a aplicação da técnica em alguns pacientes, impossibilitando a identificação de fraqueza muscular respiratória, assim o presente estudo contribui com o campo da fisioterapia respiratória para outras formas de avaliação das pressões respiratórias máximas. Material e Métodos O estudo é do tipo transversal descritivo realizado com 75 pacientes com diagnóstico de doenças pulmonares internados no setor de Clínica Médica do Hospital Santa Marcelina (São Paulo) de acordo com os critérios de inclusão no período de abril à outubro de 2010. O estudo foi previamente aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Hospital Santa Marcelina de acordo com a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, conforme parecer número 11/2010. Os critérios de inclusão foram pacientes internados na clínica médica com 48 horas de admissão; pacientes com diagnóstico de doenças pulmonares e com nível de consciência preservados. Os critérios de exclusão foram co-morbidades (alterações cromossômicas e neoplasias). Antes dos pacientes serem incluídos no presente estudo, os mesmos foram informados sobre os procedimentos, sendo solicitado assinarem um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido autorizando a participação do eventual estudo. Os pacientes selecionados foram submetidos à avaliação da força muscular respiratória com o aparelho Manovacuômetro da marca Clinical Medical, com escala variando de 0 a 120 cmh 2 O positivos (para medidas de pressão expiratória máxima PE máx ) e de 0 a 120 cmh 2 O negativos (para medidas de pressão inspiratória máxima PI máx ). Estudos sugerem que o teste deve ser repetido mais de uma vez, variando de 2 a 10 vezes com uma variação inferior a 10% e diferem no uso do clipe nasal e no posicionamento do pacien te. No presente estudo o paciente permaneceu sentado no leito, formando um ângulo de 90.º entre o tronco e as coxas, iniciando a avaliação das pressões respiratórias pelo bocal, sendo que o nariz foi ocluído com um clipe nasal para não ocorrer vazamento de ar pelas narinas gerando menor pressão respiratória e os pacientes foram orientados a segurar firmemente com os lábios o conector bocal cilíndrico do aparelho (2,9). Durante a mensuração da PI máx o paciente foi instruído a expirar o volume corrente e o volume de reserva expiratório e imediatamente no início da inspiração o orifício do manovacuômetro foi ocluído a fim de gerar uma pressão negativa intratorácica verificado o valor da PI máx no manômetro. A inspiração durou aproximadamente 3 segundos realizada com o máximo de força e pelo maior tempo possível, contra uma via ocluída com um pequeno orifício de esca pe para prevenir que os pacientes mantivessem a glote aberta, evitando a ação dos músculos da boca. Durante a mensuração da PE máx o paciente foi instruído a inspirar até a capacidade pulmonar total, após isso o orifício do manovacuômetro foi ocluído imediatamente no início da expiração, a fim de gerar uma pressão intratorácica verificando o valor da PE máx no manômetro. A expiração durou aproximadamente 3 segundos, realizada com o máximo de força e pelo maior tempo possível. Ambos os procedimentos foram realizados 3 vezes considerando o melhor resultado. O mesmo procedimento foi realizado utilizando a máscara facial plástica com borda pneumática inflável (figura 1). A 20

avaliação durou 20 minutos, sendo realizada pela pesquisadora responsável (4,9,10). Após a avaliação dos pacientes os dados coletados foram organizados e submetidos a análise estatística pelo teste t de Student considerando o nível de significância 0,05 e análise em porcentagem pelo Excel, verificando as diferenças nos valores obtidos com a máscara facial e bocal. Figura 1 Manovacuômetro com máscara facial (A) e bocal (B) Resultados A média de idade dos 75 pacientes avaliados foi de 53 ± 20,46 anos, variando de 20 à 99 anos, correspondendo 52% do sexo feminino e 48% do sexo masculino, sendo que apenas 33 pacientes apresentavam um único diagnóstico de doença pulmonar, incluindo doenças restritivas (46% pneumonias e 27% broncopneumonias), obstrutivas (12% Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica DPOC, 3% tromboembolismo pulmonar TEP e 6% asma) e 6% tuberculose; 42 pacientes apresentavam 2 ou mais diagnósticos de doença pulmonar, sendo associações de doenças restritivas/obstrutivas, restritivas/restritivas, restritivas/ tuberculose e restritivas/pneumocistose. O óbito ocorreu em apenas 3 pacientes, sendo que 1 apresentava tuberculose, pneumocistose e SIDA Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, 1 apresentava broncopneumonia e estenose de traquéia como complicação por tempo prolongado de intubação orotraqueal em internações anteriores por vasculopatia e 1 apresentava broncopneumonia, sepse de foco pulmonar além de insuficiência renal. A média da PI máx com a máscara foi de 58,80 ± 22,36 e com o bocal foi de 62,53 ± 25,68, sendo o valor de p > 0,05 e a média da PE máx com a máscara foi de 51,07 ± 13,51 e com o bocal foi de 57,47 ± 17,48, sendo o valor de p < 0,05. Discussão As medidas das pressões respiratórias por meio da manovacuometria são frequentemente utilizadas para o diagnóstico de fraqueza muscular respiratória em pacientes com doenças pulmonares e neuromusculares, conforme descrito por Troosters et al (1). Segundo Gráfico 1 Medidas da pressão inspiratória máxima (PI máx p > 0,05) e pressão expiratória máxima (PE máx p < 0,05) com a utilização da máscara facial e bocal. Costa et al (11) esse método simples, prático e preciso de avaliação da força muscular respiratória têm sido utilizados desde as décadas de 60 e 70, sendo excelentes parâmetros de avaliação e acompanhamento de diversos procedimentos técnicos empregados na fisioterapia respiratória, tornando-se um método fidedigno das medidas de pressões respiratórias estáticas máximas. Os valores normais de PI máx e PE máx estão bem estabelecidos para adultos e crianças, conforme relatado nos estudos de Gonzales et al (12), Nicot et al (13) e Vasconcellos et al (14). Em muitos laboratórios de função pulmonar, as medições das pressões respiratórias constituem um procedimento rotineiro assim como em ambientes clínicos e hospitalares. Um teste que resulte em uma PI máx altamente negativa (em torno de 80 cm H 2 O) ou uma PE máx altamente positiva (90 cm H 2 O) exclui fraqueza muscular inspiratória ou expiratória clinicamente importante. Nos últimos anos estudos têm sido realizados em indivíduos saudáveis para a uniformização dos métodos de avaliação, pois variações metodológicas (tipos de bocais e máscaras) prejudicam a sua reprodutibilidade e resultados obtidos, porém em alguns casos outras técnicas de mensuração das pressões respiratórias são necessárias quando os indivíduos são incapazes de realizá-las de modo estabelecido na literatura (2,15). Os pacientes que apresentam dificuldade em segurar firmemente o bocal com os lábios, como por exemplo, idosos, indivíduos com alteração/ausência de arcada dentária ou pacientes com paralisia facial, apresentam escape de ar ao redor do bocal, tornando impossível avaliação da musculatura respiratória (16). Em 2007 a World Health Organization (17) descreveu que as pneumopatias tem sido cada vez mais frequentes na população, incluído uma variedade de patologias como pneumonias, doenças pulmonares obstrutivas, infecções respiratórias agudas, pneumo- 21

coniose e doenças pleurais, além de malignidades do trato respiratório, assumindo papel fundamental em relação a saúde pública. Anualmente morrem, em todo o mundo, cerca de 4 milhões de pessoas por doenças respiratórias crônicas, destacando-se entre estas a asma, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), doenças alérgicas respiratórias, doenças profissionais, apnéia do sono e hipertensão pulmonar. As doenças respiratórias estão classificadas em 5.º lugar sendo responsáveis por 17,4% dos óbitos e 13,3% de absenteísmo. Infecções do trato respiratório inferior, DPOC, tuberculose e câncer de pulmão estão entre as 10 principais causas de morte no mundo. As doenças respiratórias agudas e crônicas, ocupam posição de destaque entre as principais causas de internação no Sistema Único de Saúde SUS, correspondendo 13% de todas as internações, sendo as pneumonias responsáveis por 7% das hospitalizações, porém em indivíduos maiores de 60 anos, as doenças do aparelho respiratório representam respectivamente 16% e as pneumonias representavam 8% das internações hospitalares, especialmente em pacientes com doenças crônicas (18,19). A internação hospitalar é muito frequente nos pacientes pneumopatas (indivíduos que apresentam processos patológicos envolvendo os pulmões), especialmente na população idosa, desencadeando um processo de diminuição da capacidade funcional uma vez que o meio não oferece estímulos aos pacientes, dessa forma interferindo no prognóstico intra-hospitalar e na função respiratória, levando a dificuldades na readaptação domiciliar após a alta, por isso a importância de avaliações das pressões respiratórias máximas (20). Segundo Fiore Junior et al (21) em seu estudo realizado com 30 pacientes no pré-operatório de cirurgia abdominal, verificaram que não houve interferência nos resultados obtidos com o uso de máscara facial durante a avaliação da PI máx, não sendo influenciado pelo meio de acoplamento entre o paciente e o manovacuômetro, porém a avaliação da PE máx mostrou ser significativamente influenciada pela utilização da máscara facial, pois os valores das PE máx foram menores quando esta variável foi avaliada por meio da máscara facial. Esses dados correlacionam-se com o presente estudo, pois não houve diferença estatisticamente significante nos valores de PI máx obtidos com a máscara facial e bocal (p > 0,05), porém na PE máx houve diferença estatisticamente significante quando comparado as duas interfaces (p < 0,05). O escape de ar ao redor de máscaras de ventilação não-invasiva é comum, como descrito por Schettino et al (22). Em seu estudo, realizado com aplicação de ventilação não-invasiva em um modelo de pulmão mecânico, verificou que o vazamento de ar era desencadeado especialmente quando o interior da máscara era submetido a níveis de pressão acima de 15 cmh 2 O. No presente estudo a diferença ocorreu apenas para a PE máx, mostrando que esforço expiratório dos pacientes avaliados em nosso estudo gerou pressão positiva média de 51.07 cmh 2 O no interior da máscara, ou seja, bem acima do nível pressórico possível de ser mantido com ausência de vazamentos, sendo necessário a avaliação cuidadosa do escape aéreo ao redor da máscara. É importante ressaltar que para o uso da máscara facial é necessário o acoplamento correto ao rosto do paciente sempre observando a presença de vazamentos e no uso do bocal é necessário a compreensão do paciente para execução da técnica corretamente. Conclusão A manovacuometria realizada nos pneumopatas hospitalizados mostrou que não houve diferença estatisticamente significante na PI máx comparando o uso de máscara facial com o bocal. A medida da pressão inspiratória máxima pode ser realizada nos pneumopatas hospitalizados com o uso de mascara facial, sem interferência nos resultados obtidos. Na medida de PE máx, houve alteração estatisticamente significante (p < 0,05) nos valores obtidos com as duas interfaces. Referências Bibliográficas 1. Troosters T, Gosselink R, Decramer M. Respiratory muscle assessment. Eur Respir Mon. 2005; 31: 57-71. 2. Steier J, Kaul S, Seymour J, Jolley C, Rafferty G, Man W, et al. The value of multiple tests of respiratory muscle strength. Thorax, 2007; 62:975-80. 3. Fregadolli P, Sasseron AB, Cardoso AL, Guedes CAV. Avaliação das pressões respiratórias através do bocal e máscara facial. Rev Bras Clin Med. 2009; 7:233-7. 4. Cader AS, Vale RGD, Pereira FF, Dantas EHM. 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