APROVEITAMENTO DE BIOMASSA AGRÍCOLA EM PORTUGAL Situação de referência



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APROVEITAMENTO DE BIOMASSA AGRÍCOLA EM PORTUGAL Situação de referência 1. Energia renovável em Portugal A energia é a força motriz das sociedades actuais. Face às preocupações crescentes no âmbito das alterações climáticas, à crescente dependência de combustíveis fósseis e ao aumento dos custos da energia, diversos países, em particular europeus, têm vindo a promover fontes de energia renováveis (FER), tal como Portugal. Apesar do nosso país ser pobre em recursos energéticos de origem fóssil e, por isso, com forte dependência energética do exterior (cerca de 83,3% em 2008), com valores de importação de energia primária na ordem dos 87,1% em 2008 (APA, 2010), apresenta um elevado potencial de recurso a energias renováveis. Este potencial deve-se à sua localização, características e recursos naturais do território, com destaque para a energia solar, eólica, hídrica e da biomassa. Os sucessivos governos portugueses têm reconhecido a importância do sector das energias renováveis para o País e por isso o têm incentivado, contribuindo em simultâneo não só para a A biomassa é uma fonte renovável de produção de energia sob a forma de electricidade, calor ou combustível. redução da dependência energética e das emissões de GEE, como também para o PIB e para a geração de emprego (APA, 2010), como se constata na Figura 1. Figura 1 Evolução relativa do PIB e da população e impactes ambientais associados Vários factores estão na base da tendência geral de estabilização / decréscimo das emissões dos últimos anos, como seja o crescimento da penetração de fontes energéticas menos poluentes, como o gás natural, a instalação de centrais de ciclo combinado e de unidades de cogeração, bem como o crescimento significativo de energia produzida a partir de FER (eólica e hídrica, essencialmente) e a implementação de medidas de eficiência energética. De facto, em 2007, a energia primária produzida em Portugal foi 21% superior aos valores de 1998 e, actualmente, a produção doméstica de energia primária em Portugal baseia-se exclusivamente em FER: em 2008 o peso das renováveis no total da energia primária era de 17,9%. Por outro lado, desde 2005 que tem havido uma quebra do consumo e das importações de energia primária (10% em 2007). Por outro lado, em 2008 foram produzidos 15 19 GWh de electricidade a partir de FER ( Figura 2). A incorporação de FER no consumo bruto de energia eléctrica foi de 3,3% em 2008 e de 5% em 2009, atingindo a meta estabelecida pelo Governo Português (RCM n.º 1/2008). 1

FONTE DE ENERGIA Eólica Hídrica Figura 2 Produção bruta de energia eléctrica, em Portugal continental (APA, 2010) PRÓS - Redução da dependência energética; - Fonte de energia renovável abundante; - Sem emissão de poluentes; - Tecnologia bastante desenvolvida e fiável. - Redução da dependência energética; - Sem emissão de poluentes; - Responde rapidamente às necessidades de consumo; - Permite o desenvolvimento turístico. CONTRAS - Produção eléctrica dificilmente previsível; - Emissão de ruídos; - Impacto visual. - Afectação dos ecossistemas durante a fase de construção; - Produção eléctrica depende do índice de pluviosidade. De facto, com esta aposta, Portugal foi, em 2008, o quinto país da UE-27 com maior incorporação de energias renováveis no consumo bruto de energia eléctrica, encontrando-se acima da média europeia (21%). No entanto, cada tipo de FER apresenta prós e contras (Tabela 1). Tabela 1 Prós e contras de cada tipo de FER (http://www.apren.pt/) 2

Solar Biomassa Biogás Geotermia Ondas marés e - Redução da dependência energética; - Sem emissão de poluentes; - Produção coincide com os períodos de maior procura; - Manutenção mínima das centrais; - Fonte de energia renovável abundante. - Redução da dependência energética; - Regularidade da produção e possibilidade de modulação (maior controlo na produção da electricidade); - Possibilidade de gestão integradas das florestas (se assegurada de forma sustentável); -Possibilidade de aproveitamento de resíduos industriais; - Balanço de emissões de CO 2 nulo. - Redução da dependência energética; - Redução das emissões de dióxido de carbono e metano para a atmosfera; - Fonte de energia renovável abundante; - Diminuição do volume de resíduos no final do processo; - Resíduos resultantes passíveis de utilização como fertilizantes. - Redução da dependência energética; - Custos baixos em relação a combustíveis fósseis; - Baixa emissão de CO 2 e SO 2. - Redução da dependência energética; - Fonte de energia renovável abundante; - Sem emissão de poluentes. 1.1. Espaço rural português - Construção de centrais cara; - Densidade energética baixa, requerendo grandes áreas; - Sem produção nocturna. - Menor poder calorífico comparativamente com os combustíveis convencionais, sazonalidade; - Necessidade de armazenamento, com complexas e onerosas operações de transporte e manuseamento da biomassa 1 ; - Poderá colocar em risco a sustentabilidade do recurso a médio e longo prazo (colocando em risco os investimentos); - A pressão sobre o recurso poderá aumentar consideravelmente o seu custo comprometendo a rentabilidade dos projectos; - Custos de investimentos por MW elevados; - Maior probabilidade de emissão de partículas para a atmosfera. - Custo de investimento inicial elevado; - Obrigação de monitorização e manutenção adequadas, com custos extras; - Libertação de gás sulfídrico, um gás tóxico. - Restrição a um número limitado de regiões; - Energia utilizável nas proximidades do campo geotérmico; - Libertação de gases sulfurosos; - Possibilidade de contaminação de resíduos líquidos nas águas próximas. - Custo de investimento bastante elevado; - Tecnologias ainda em fase de desenvolvimento; - Impacto visual; - Dificuldades associadas ao transporte de electricidade para terra. O sector da Agricultura e Pescas tem um peso de apenas 2,2% no consumo final de energia do país. A agro-indústria está incluída nas indústrias transformadoras, sendo um dos sectores mais importantes em termos de consumo de energia, com 28,5% (MADRP, 2005). Dado o peso reduzido do consumo energético sectorial no total nacional, a promoção de utilização de energias alternativas neste sector terá um contributo reduzido para atingir as metas estabelecidas para o efeito. No entanto, ao nível das unidades produtivas individuais, pode haver uma contribuição importante na redução da factura energética através da valorização para este fim, de resíduos orgânicos resultantes da actividade produtiva, nomeadamente em unidades de pecuária intensiva e de agro-indústria (MADRP, 2005). Em 2005 verificou-se o encaminhamento de excedentes da destilação de sub-produtos (bagaços e borras), existentes em Portugal, para produção de bioetanol. Tal solução passa pela negociação directa pela Comissão com empresas europeias dotadas da tecnologia para a transformação do álcool em bioetanol, sendo que o álcool armazenado por Portugal foi alienado a duas empresas espanholas em 2 lotes de 0 000 hl, ou seja, 80 000 hl no total (MADRP, 2005). Face a todas estas questões, compreende-se que a utilização actual de energias renováveis pelo sector agrário tenha sido diminuta, não existindo informação quantificada e resumindose por exemplo a (MADRP, 2005): utilização de energia eólica para accionamento de motores de bombagem em furos; aproveitamento de biomassa diversa para produção de calor na agro-indústria; utilização de painéis solares para electrificação das explorações; produção de biogás a partir de efluentes da pecuária suinícola para produção de calor destinado a aquecimento das instalações ou de energia eléctrica com ligação à Rede Eléctrica Nacional (REN); 1 MADRP (2005) afirma antes que a biomassa pode ser facilmente armazenada, de forma económica. 3

utilização de biomassa (serrim) para aquecimento de pavilhões de recria de frangos. 1.1.1. Biomassa agrícola A biomassa agrícola inclui os produtos e resíduos da actividade agrícola e florestal (cereais, forragens, produtos amiláceos, oleaginosas, produtos fibrosos e lenhoso, efluentes da pecuária, etc.) que podem ser convertidos por diversos processos (fermentação, gaseificação, combustão) em: combustíveis, tais como etanol, biodiesel, hidrogénio; energia eléctrica e calorífica; e diversos materiais, como sejam plásticos, adesivos, tintas, detergentes, produtos farmacêuticos, algodão e linho. A biomassa utilizável para produção energética tem assim dois tipos de origem: biomassa resultante da actividade produtiva para fins alimentares ou florestais; produção dedicada de biomassa para fins energéticos. A biomassa corresponde a um recurso disperso, mas ao contrário da electricidade, pode ser armazenada. Além disso, as unidades de produção podem variar em escala, desde pequenas unidades até instalações de vários MW de potência instalada. A actividade agrícola portuguesa dispõe de variados produtos residuais que podem ser aproveitados como fonte de produção de energia. A Tabela 2 mostra a energia potencial contida nos mesmos. Tabela 2 Energia potencial contida em resíduos agrícolas estimativa para Portugal (MADRP, 2005) Para além das fontes de biomassa referidas na Tabela 2, podem utilizar-se também os óleos alimentares usados e as gorduras animais (MADRP, 2005). O bagaço de azeitona ou de uva e a casca de frutos secos têm sido usados para produção de calor através de queima (MADRP, 2005). Nas condições nacionais, o aproveitamento energético da biomassa residual, que se estima significativa, tem incidido principalmente na produção de energia eléctrica e/ou calor a partir de (MADRP, 2005): Biogás produzido nos processos de gestão de efluentes da pecuária intensiva, matadouros e agro-indústria; Biomassa florestal resultante dos resíduos de explorações florestais (ramas e bicadas) e de medidas de silvicultura preventiva (podas, desrames e desbastes). Não foram encontradas referências de aproveitamento energético exclusivo de biomassa agrícola para produção de electricidade, nomeadamente bagaços de azeitona e resíduos de podas de vinha. 1.1.2. Biomassa florestal Os produtos utilizáveis como biomassa são variados, muitos vindos da actividade agrícola, silvícola e respectivas fileiras industriais: produtos e subprodutos da floresta, resíduos da indústria da madeira, culturas e resíduos de culturas agrícolas, efluentes domésticos e agropecuários, efluentes e resíduos de indústrias agro-alimentares, como por exemplo lacticínios, matadouros, lagares ou indústrias de transformação de frutos secos e resíduos sólidos urbanos. O aproveitamento dos resíduos florestais está desde sempre ligado à necessidade em madeira para energia, nomeadamente para utilização doméstica. Com o desenvolvimento industrial muitos destes resíduos passaram a ser canalizados para o abastecimento de unidades industriais como fonte de energia (MADRP, 2005). O aproveitamento de resíduos florestais é realizado, em geral, manualmente e de modo complementar, recorrendo-se à recolha e transporte das ramagens, bicadas, pinhas, etc., para o local de transformação, após as operações de podas, desrama, limpezas ou abate de árvores. A tradicional limpeza de matos para obtenção de biomassa para a cama do gado e para fins energéticos caiu em desuso (MADRP, 2005).

As lenhas e carvão vegetal em Portugal, que se continuam a comercializar, têm hoje origens tão distintas como a oliveira, o eucalipto, o sobreiro e a azinheira (MADRP, 2005). O aproveitamento de biomassa florestal para energia eléctrica, ou simultaneamente para produção de energia eléctrica e calor (cogeração), enquadra-se na organização do Sistema Eléctrico Nacional, de sistemas de menor dimensão, por ex., a Central Termoeléctrica de Mortágua, e instalações de cogeração, ambas não totalmente integradas nas grandes fileiras energéticas, mas relacionando-se com elas (MADRP, 2005). Em 2005 existiam apenas 2 centrais termoeléctricas com ligação à rede eléctrica, a de Mortágua e a de Vila Velha do Ródão. A Central de Mortágua que começou a operar em 1999, utiliza como principal combustível a biomassa florestal, enquanto que a CENTROLIVA, S.A., (Vila Velha do Ródão) fundada em 1990, passa a apostar, a partir de 1997, na produção de energia eléctrica a partir de resíduos florestais, casca de pinheiro, serradura e bagaço de azeitona. Na última década, a utilização da biomassa como fonte energética de calor e electricidade aumentou ao nível industrial, diminuindo ao nível da utilização doméstica. É de realçar o contributo das indústrias da fileira florestal, que através do Programa PRIME e da medida MAPE, concretizaram projectos de aproveitamento energético, utilizando resíduos florestais associados à produção deste sector. Actualmente, as instalações de cogeração (caldeiras de biomassa) das indústrias do sector florestal e que fazem aproveitamento de biomassa, são as seguintes: Tabela 3 Instalações de cogeração das indústrias do sector florestal com aproveitamento de biomassa (MADRP, 2005) A Central de Mortágua foi projectada para o escoamento de cerca de 80 000 ton ano de resíduos florestais queimados numa caldeira de 33 MWh. Em 2002, esta central consumiu cerca de 70 000 ton de biomassa e em 2003 o consumo foi superior a 80 000 ton. Tem uma potência instalada de 10 MVA 9 MW e foi projectada para entregar à rede de distribuição de energia eléctrica cerca de 60 GWh por ano, permitindo abastecer cerca de 35 mil habitantes (MADRP, 2005). A integração da valorização da biomassa, no quadro das políticas florestais, tem sido promovida no contexto da promoção de FER em território nacional, em complementaridade com as implicações para a defesa da floresta contra os incêndios e no âmbito da gestão florestal sustentável. Em 2006, foi lançado um concurso para a atribuição de quinze lotes para centrais a biomassa florestal, totalizando uma capacidade instalada de 100 MW. Esta medida pretende resultar num consumo de 1 milhão ton/ano de biomassa florestal (ou resíduos florestais). Dois dos quinze lotes ficaram desertos; dos restantes, duas centrais encontram-se já a laborar, com uma capacidade de 3.3 MW e 1.92 MW. Os restantes lotes encontram-se em processo de licenciamento (APA, 2010). 2. Enquadramento legal O recurso à produção de electricidade a partir de fontes de energia renovável requer o cumprimento de vários trâmites legais. Neste sentido, far-se-á uma retrospectiva da evolução da política energética nacional, em articulação com outras políticas conexas ao longo dos anos, até ao quadro actualmente em vigor, nomeadamente ao nível da produção em regime especial (PRE). 5

Ainda antes da Directiva 2001/77/CEE, relativa à produção de electricidade a partir de FER, com a qual Portugal ficou obrigado a que 39% da energia eléctrica total consumida em 2010 fosse produzida a partir de FER, já o Governo Português promovia FER. Tome-se o caso do Decreto-Lei (DL) n.º 70-B/2000, de 5 de Maio, que promove o apoio ao aproveitamento do potencial energético e à racionalização de consumos energéticos, com vista à promoção da utilização racional de energia, à produção de energia com base em FER e à conversão de consumos para gás natural. A Resolução de Conselho de Ministros (RCM) n.º 63/2003, de 28 de Abril, estabeleceu a política energética portuguesa, constando dos seus objectivos instalar até 2010 uma potência de 3750 MW de origem eólica e uma potência de 00 MW de pequenos aproveitamentos hidroeléctricos (até 10 MW cada). A RCM n.º 119/200, de 15 de Junho, aprovou o Programa Nacional para as Alterações Climáticas (PNAC 200). Dentro das medidas previstas, afectas às energias renováveis e com relevância para o sector agrícola, incluem-se: Tratamento e valorização energética (produção de calor e electricidade) de resíduos da pecuária; Melhoria da eficiência energética ao nível da procura energética, tendo em vista uma redução de 1300 GWh do consumo de electricidade até 2010; Promoção da electricidade produzida a partir de FER, tendo em conta as metas fixadas, em termos de capacidade instalada em 2010, pela RCM n.º 63/2003. No Programa de Actuação para reduzir a dependência de Portugal face ao petróleo, aprovado pela RCM n.º 171/200, de 29 de Novembro, foi identificado um conjunto de medidas, visando reduzir em 20% a intensidade energética e a dependência do petróleo. Abaixo são listadas algumas das medidas deste Programa, relevantes para a energia renovável relacionada com a biomassa oriunda da actividade agrícola, florestal e respectivas fileiras industriais. Sector energético Medida E3 Utilização da biomassa Eliminação de obstáculos no processo de licenciamento; Criação de incentivos à existência de circuitos fiáveis de recolha e transporte de biomassa, aumentando a fiabilidade, reduzindo o custo da biomassa e promovendo a prevenção de fogos florestais; Desenvolvimento de um processo eficiente de recolha sistémica da biomassa de limpeza de matas e florestas; Definição da tarifa de forma a incentivar o investimento não comprometendo o preço da energia eléctrica ao consumidor final; Revisão do sistema de incentivos (PRIME), de forma a garantir disponibilidade financeira para apoio a projectos de energias alternativas até ao próximo quadro comunitário. Sector Industrial Medida I2 Criação de incentivos para redução da utilização de petróleo Relançamento da cogeração em Portugal, com base nas necessidades reais de calor e frio nos diferentes sectores de actividade; Revisão das variáveis económico-financeiras de estímulo ao desenvolvimento de cogeração com base em biomassa; Desenvolvimento de um programa para estímulo do uso de energias alternativas na indústria; Criação de um fundo para financiamento de projectos; Aproximação das empresas industriais às instituições científicas e às empresas da especialidade; Revisão dos incentivos à substituição de cogeração a fuel em fim de vida por cogeração a biomassa ou gás natural (MAPE). Este Programa admite que as medidas de promoção do aumento da produção de electricidade através de FER não podem ser cegas à factura energética suportada pelos consumidores, tendo sido criado um regime de remuneração das FER, conforme explicitado na secção 2.2.. Com a RCM n.º 169/2005, de 2 de Outubro, o Governo pretendeu actualizar as orientações quanto à política energética portuguesa, vertidas na RCM n.º 63/2003, bem como actualizar 6

as metas traçadas, nomeadamente no que diz respeito às energias renováveis. Foi assim aprovada nesta RCM a Estratégia Nacional para a Energia, que detalha os objectivos do Programa do Governo para o sector energético e define medidas e instrumentos legislativos e regulamentares a desenvolver e adoptar ao longo da legislatura. Esta Estratégia prevê a reestruturação do tecido empresarial do sector energético, através do alargamento do âmbito de actividade das principais empresas que nele operam, de modo a haver mais do que um operador integrado relevante nos sectores da electricidade e do gás natural, em ambiente de concorrência, e elege vários eixos de actuação, em particular uma forte promoção do desenvolvimento das energias renováveis e a implementação de um plano para o aumento da eficiência energética. Posteriormente, reforçando as medidas anteriormente estabelecidas, num esforço de combate às alterações climáticas, de redução da dependência do exterior e promoção do desenvolvimento económico, a RCM n.º 1/2008, de de Janeiro, estabeleceu novos compromissos para 2010: A produção de electricidade com base em energias renováveis passa de 39% para 5% do consumo em 2010, com uma aposta forte em todas as vertentes; Os biocombustíveis utilizados nos transportes aumentam de 5,75% dos combustíveis rodoviários para 10% em 2010 e promovendo fileiras agrícolas nacionais de suporte através da isenção de ISP para combustíveis rodoviários que assegurem a sua incorporação; 5 a 10% do carvão utilizado nas centrais termoeléctricas de Sines e do Pego será substituído por biomassa ou derivado de resíduos; Micro-geração: promoção da instalação de 50 000 sistemas até 2010, com incentivo à instalação de água quente solar em casas existentes; Biomassa: as metas continuam a ser traduzidas apenas em termos dos recursos florestais e na perspectiva de combate ao risco de incêndios; Biogás: definição de objectivos e plano de acção numa vertente não contemplada anteriormente, estabelecendo a meta de 100 MW de potência instalada em unidades de tratamento anaeróbico de resíduos. Por outro lado, a RCM n.º 80/2008, de 20 de Maio, aprovou o Plano Nacional de Acção para a Eficiência Energética (PNAEE) (2008-2015), que integra as políticas e medidas de eficiência energética a desenvolver. O Ministério da Economia e da Inovação é responsável pela monitorização do PNAEE, mediante relatório anual a preparar pela Direcção-Geral de Energia e Geologia (DGEG), com o apoio da Agência para a Energia ADENE. O PNAEE abrange áreas específicas e áreas transversais de actuação, agregando um conjunto de programas com medidas de eficiência energética por área, orientadas para a procura energética. A área Residencial e Serviços integra o Programa Renováveis na Hora, com vista a promover maior facilidade de acesso a tecnologias de micro-geração de energia eléctrica e de aquecimento solar de águas quentes sanitárias. A área Fiscalidade desenvolve várias medidas orientadas para o fomento da eficiência energética pela via fiscal, como sejam a criação de regimes de amortizações aceleradas para equipamentos eficientes e a interligação do regime de benefícios em sede de IRS com o Sistema de Certificação Energética nos Edifícios (previsto pelo DL n.º 78/2006) e as energias renováveis. A área Incentivos e Financiamento desenvolve nomeadamente a criação do Fundo de Eficiência Energética e de Empresas de Serviços de Energia, as ESCO. Estas empresas investem na eficiência energética e pretendem criar relações contrartuais entre comercializadores de energia e consumidores finais, sejam eles privados, empresariais ou estatais. Por outro lado, o Regulamento de Gestão do Consumo de Energia (RGCE), introduzido em 1980, foi substituído, em 2008, pelo Sistema de Gestão dos Consumos Intensivos de Energia (SGCIE) DL n.º 71/2008. O SGCIE tem como objectivo a promoção da eficiência energética e controlo do consumo de energia em instalações com utilização intensiva de energia, que consomem mais de 500 tep/ano. Instalações abrangidas pelo PNALE ou com consumo de 7

energia inferior a 500 tep/ano não estão abrangidas pelo SGCIE, embora possam participar voluntariamente (APA, 2010). 2.1. Enquadramento da PRE O DL n.º 189/88 e demais legislação subsequente vieram regular a actividade de produção independente de energia mediante a utilização de combustíveis fósseis, recursos renováveis ou resíduos industriais, agrícolas ou urbanos. Permitiu-se, assim, a abertura do mercado a novos operadores e posteriormente garantiu-se a sua integração no Sistema Eléctrico Nacional (SEN) no âmbito do Sistema Eléctrico Independente (SEI). O quadro organizativo do sistema eléctrico nacional foi aprovado em 1995 e estabeleceu a coexistência de um sistema eléctrico de serviço público e de um sistema eléctrico independente, sendo este último organizado segundo uma lógica de mercado. Aquele quadro foi sofrendo alterações, tendo o DL n.º 29/2006 estabelecido um SEN integrado, em que as actividades de produção e comercialização são exercidas em regime de livre concorrência, mediante a atribuição de licença, e as actividades de transporte e distribuição são exercidas mediante a atribuição de concessões de serviço público. O SEN baseia-se na existência de dois sistemas complementares: o SEI e o SEP (Sistema Eléctrico de Serviço Público). Relativamente à actividade de produção de electricidade, esta integra a classificação de produção em regime ordinário e produção em regime especial (PRE). A PRE suporta-se num conjunto de tecnologias de produção de energia eléctrica através de FER, tais como o vento, a água, o sol, a biomassa e o mar, e de tecnologias de elevada eficiência energética, como a produção combinada de calor e electricidade - cogeração. A PRE enquadra-se num quadro legal específico, podendo distinguir-se várias categorias, com trâmites legais distintos: co-geração renováveis microprodução (até 5,75 kw) produtor consumidor de baixa tensão (até 150 kw) mini-produção (hídrica) (até 20 MW) Portanto, a produção de energia eléctrica com biomassa pode fazer-se através da cogeração com fontes renováveis ou no âmbito da categoria renováveis. A regulação da PRE é essencialmente da competência do Governo, através da DGEG, enquanto que a incorporação do sobrecusto resultante da PRE nas tarifas é atribuído à ERSE, como Entidade Reguladora do Sector Eléctrico. 2.2. Ligação às redes do Sistema Eléctrico de Serviço Público (SEP) A entidade que pretenda instalar uma unidade de produção de energia eléctrica deverá consultar o disposto no DL n.º 312/2001 e posteriores alterações. O processo que visa a obtenção das autorizações legais e a verificação da adequação das instalações às condições técnicas de ligação de centros electroprodutores às redes do SEP encontra-se sistematizado na Figura 3. Note-se que com as alterações do DL n.º 33-A/2005 ao DL n.º 312/2001, a potência disponível na rede do SEP e os pontos de recepção necessários para a sua ligação à rede poderão ser atribuídos mediante a realização de procedimento concursal, incluindo ajuste directo, dando prioridade na concretização de projectos inseridos em programas específicos aprovados pelo Governo no âmbito das opções da política energética nacional. É o caso dos concursos lançados pela DGEG, com abertura de períodos específicos de apresentação de pedidos de informação prévia (PIP) para ligação à rede eléctrica destinado a centrais que utilizam biomassa florestal (em 2006, abriram 15 concursos para novas centrais termoeléctricas a biomassa florestal, com uma potência conjunta máxima de 100 MW) ou, mais recentemente (2010), a abertura para procedimentos concursais para a implementação de aproveitamentos hidroeléctricos para captação de água para produção de energia eléctrica com capacidade instalada até 20 MW (mini-produção hídrica). 8

Figura 3 Processo de ligação às redes do SEP (DL 312/2001, alterado pelo DL 118-A/2010) Os actos principais, após obtida a licença de exploração, encontram-se sistematizados em www.edpsu.pt: Apresentação, pelo promotor, da Licença de Exploração ao Operador de Rede, após vistoria efectuada pelas entidades competentes; Inspecção a realizar pelo Operador de Rede aos sistemas de medida, contagem e telecontagem de energia bem como às protecções de interligação e às suas regulações; Assinatura do Auto de Ligação das instalações de produção que é parte integrante do Contrato de Compra de Energia; Elaboração e assinatura do Protocolo de Exploração A Licença de Exploração, o Auto de Ligação, o Protocolo de Exploração e o Diagrama Previsional de fornecimento de energia são anexos que constituem parte integrante do Contrato de Compra de Energia. 2.2.1. Baixa tensão Com o DL n.º 68/2002 passou a poder ser integrado no SEI a figura de produtor-consumidor de energia eléctrica em baixa tensão (ou do produtor em auto-consumo), sem prejuízo de continuar a manter a ligação à rede pública de distribuição de energia eléctrica, na tripla perspectiva de autoconsumo, de fornecimento a terceiros e de entrega de excedentes à rede. Este diploma regulava a actividade de produção de energia eléctrica em baixa tensão destinada predominantemente a consumo próprio, sem prejuízo de poder entregar a produção excedente a terceiros ou à rede pública, desde que a potência entregue em cada ponto de recepção não fosse superior a 150 kw. 2.2.2. Microprodução Face ao baixo número de sistemas de microgeração de electricidade licenciados e a funcionar, foi publicado o DL n.º 363/2007, que estabelece o regime jurídico simplificado aplicável à produção de electricidade por intermédio io de unidades de microprodução (também conhecido o por Renováveis na Hora ). De acordo com este diploma, qualquer entidade pode ser produtora de electricidade por intermédio de unidades de microprodução, caso disponha de um contrato de compra de electricidade em baixa tensão, cujo modelo é aprovado pelo director-geral de Energia e Geologia, sendo que a unidade de microprodução deve ser integrada no local da instalação eléctrica de utilização. 9

O acesso à actividade de microprodução é sujeito a registo no SRM (Sistema de Registo de Microprodução), tendo o produtor o direito de ligar a unidade de microprodução à Rede Eléctrica de Serviço Público (RESP), de acordo com o que sistematiza na Figura. Figura Registo e ligação à rede de unidades de micro-produção, de acordo com o DL 363/2007, alterado pelo DL 118-A/2010 O programa da microprodução, iniciado em 2007, permitiu instalar mais de 500 unidades de microprodução, correspondentes a cerca de 19 MW de potência instalada. No entanto, o diploma foi revisto através do DL n.º 118-A/2010. Este cria condições para produzir mais electricidade em baixa tensão, de forma mais simples, mais transparente e em condições mais favoráveis, para unidades de microprodução o com potência de ligação até 5,75 kw que ou utilizem FER ou produzam, combinadamente, electricidade e calor. As principais diferenças com o diploma anterior são sistematizadas nos pontos seguintes e na Tabela : aumentou a quantidade de electricidade que pode ser produzida. A potência atribuída passa para 25 MW/ano. Para o ano de 2010 serão atribuídos os 1 MW já registados, acrescidos de 10 MW a atribuir ao abrigo desta revisão; passa a ser obrigatório comprar a electricidade microgerada para a generalidade dos comercializadores que fornecem a electricidade; são criados mecanismos para garantir o acesso à microprodução, com base em critérios de interesse público, a entidades que prestem serviços de carácter social, nomeadamente estabelecimentos na área da saúde, educação, solidariedade e protecção social, bem como na área da defesa e segurança e outros serviços do Estado ou das autarquias locais; simplificação dos procedimentos de registo da microprodução: qualquer particular que queira produzir energia neste regime passa a poder fazê-lo através de um registo aberto que só deixa de estar disponível quando é atingida a potência máxima destinada para o ano em causa. Os registos passam a ser ordenados por ordem de chegada, permitindo aos interessados essados ter maior previsibilidade quanto à data em que podem proceder à instalação da microprodução; o regime bonificado de venda de electricidade, que apenas é acessível mediante o cumprimento de determinadas condições, é ajustado para se tornar mais adequado aos custos dos equipamentos associados às unidades de microprodução; o regime bonificado fica também associado à implementação de medidas de eficiência energética: exige-se que o local de consumo disponha de colectores solares térmicos, caldeiras de biomassa ou, no caso dos condomínios, que sejam identificadas em auditoria medidas de eficiência energética; cria-se um regime para que os laboratórios do Estado e de outras entidades públicas possam investigar, desenvolver, testar e aperfeiçoar novas tecnologias de produção de electricidade. DL 363/2007 DL 118-A/2010 10

Tarifa única de referência para cada produtor no regime bonificado 1.º P 650 /MWh, para os primeiros 10 MW de potência de ligação registados a nível nacional; para cada 10 MW adicionais de potência de ligação registada a nível nacional, redução sucessiva da tarifa única aplicável em 5% 2.º P Anualmente, a tarifa corresponde à que seja aplicável no dia 01/01 desse ano, às novas instalações equivalentes Findos os 15 anos 00 /MWh Redução anual em 20 /MWh 20 /MWh Redução anual em 20 /MWh Regime geral, isto é, a tarifa de venda de electricidade é igual ao custo da energia do tarifário aplicável pelo comercializador de último recurso do fornecimento à instalação de consumo 1.º período (1.º P) 5 8 2.º período (2.º P) 10 7 % sobre tarifa de referência de acordo com o tipo de energia renovável Limite de electricida de vendida consoante tipo de energia renovável (MWh/ano /kw instalado) Solar Eólica Hídrica Co-geração biomassa a Pilhas de combustível com base em hidrogénio proveniente de microprodução renovável Combinação das fontes de energia listadas acima na mesma unidade Co-geração não renovável Solar Eólica Hídrica Co-geração biomassa a Pilhas de combustível com base em hidrogénio proveniente de microprodução renovável Combinação das fontes de energia listadas acima na mesma unidade Co-geração não renovável 100 70 30 30 prevista nas alíneas anteriores aplicável ao tipo de energia renovável utilizado para a produção do hidrogénio média ponderada das percentagens individuais aplicáveis utilizando como factor de ponderação os limites máximos de energia -- 2, -- 100 80 0 70 prevista nas alíneas anteriores aplicável ao tipo de energia renovável utilizado para a produção do hidrogénio -- 0 2, 2, Removido 11

Limite anual da potência de ligação registada no regime bonificado 10 MW no ano de entrada em vigor deste decreto-lei com aumento anual e sucessivo em 20 % 25 MW Aditamentos Possibilidade de reserva de 5% da quota de potência de ligação anual para atribuição a entidades que prestem serviços sociais bem como na área da defesa e segurança e outros serviços do Estado ou das autarquias Tabela Comparação entre o DL 363/2007 e DL 118-A/2010 2.2.3. Unidades de mini-produção O DL n.º 126/2010, de 23 de Novembro, veio estabelecer o regime de implementação dos aproveitamentos hidroeléctricos que se destinem à captação de água para produção de energia eléctrica com capacidade instalada até 20 MW. Neste caso, a implementação dos aproveitamentos hidroeléctricos é realizada através de procedimento concursal de iniciativa pública e visa a atribuição de uma concessão para a utilização privativa de recursos hídricos do domínio público, bem como a atribuição, em simultâneo, de reserva de capacidade de injecção de potência na Rede Eléctrica de Serviço Público (RESP) e de identificação de pontos de recepção associados para energia eléctrica produzida nesses aproveitamentos hidroeléctricos. O prazo das referidas concessões é de 5 anos, sendo que o adjudicatário paga ao Estado uma contrapartida financeira pela concessão, pela atribuição da capacidade de injecção e identificação dos pontos de recepção, já referidos. Estes aproveitamentos hidroeléctricos serão remunerados pelo fornecimento de electricidade entregue à RESP, através da fórmula definida no DL 189/88, com as alterações do DL 225/2007 e a rectificação da Declaração de Rectificação n.º 71/2007, de 2 de Julho, com as algumas alterações sobre o valor do coeficiente Z. 2.2.. Cogeração e Renováveis Os produtores de energia eléctrica com base em fontes de energias renováveis devem ser licenciados ao abrigo dos DL n.º 189/88 e 312/2001, com as alterações introduzidas pelos DL n.º 33-A/2005 (nomeadamente a tarifa garantida por 15 anos e actualização da remuneração da tarifa) e DL n.º 225/2007 (possibilidade de renovação da licença por mais 10 anos). De acordo com estes diplomas, estes produtores são remunerados com base numa fórmula estabelecida na legislação. Os elementos da fórmula representam diferentes factores que influenciam o valor da remuneração pelo fornecimento da electricidade produzida em centrais de energias renováveis entregue à rede. Devido à introdução do coeficiente Z com o DL n.º 339-C/2001, o sistema de remuneração das FER que apenas se baseava nos custos evitados, evoluiu para um conceito que considera os custos diferenciados de acordo com as tecnologias, estabelecendo uma remuneração diferenciada por tecnologia e regime de exploração. A actualização dessa remuneração foi sendo feita, garantindo a respectiva remuneração por um prazo considerado suficiente para permitir a recuperação dos investimentos efectuados e a expectativa de retorno económico mínimo dos promotores. Por exemplo, com a actualização dos valores de remuneração de electricidade a partir de FER em 2005, o tarifário aumentou cerca de 39% no caso da biomassa (de 67 /MWh produzido para 105 /MWh produzido). No entanto, se formos comparar a tarifa portuguesa com a tarifa de remuneração de energia eléctrica a partir de biomassa de outros países da UE, pode verificar-se que a tarifa de venda de energia em Portugal é das mais baixas (Santos, P, 2008). 12

Figura 5 Tarifa de remuneração de energia eléctrica em diferentes países da UE (Santos, P, 2008) 3. Desafios futuros O aumento da potência instalada em FER nos últimos anos em Portugal, para produção de electricidade, atingiu no final de 2009, mais de 9000 MW de potência instalada. Mesmo assim, para concretizar o desígnio do último Programa de Governo, foi aprovada a RCM n.º 29/2010, de 15 de Abril, que aprova a Estratégia Nacional para a Energia 2020 (ENE 2020). A ENE 2020 apresenta novas metas (Tabela 5) e tem como principais objectivos: reduzir a dependência energética do País face ao exterior para 7% em 2020; garantir o cumprimento dos compromissos assumidos por Portugal no contexto das políticas europeias de combate às alterações climáticas, permitindo que, em 2020, 60% da electricidade produzida e 31% do consumo de energia final tenham origem em FER e uma redução de 20% do consumo de energia final; reduzir em 25% o saldo importador energético com a energia produzida a partir de fontes endógenas; criar riqueza e consolidar um cluster energético no sector das energias renováveis em Portugal, e desenvolver um cluster industrial associado à promoção da eficiência energética. Tabela 5 Metas estipuladas na ENE2020 para as FER (APA, 2010) Potência instalada (MW) FER Existente no final Meta 2020 Outras metas de 2009 Eólica 358 (3556 no 8 500 Instalação de 2 000 MW de Continente) potência já atribuída até 2012 Hídrica 888 (centrais hidroeléctricas) + 36 (mini-hídrica) 8 600 Implementação de um plano de acção para as mini-hídricas para o licenciamento de 250 MW; Desenvolvimento da capacidade reversível. Biomassa 500 Instalação efectiva da potência já atribuída (250 MW), introduzindo mecanismos de flexibilidade na concretização dos projectos; Promoção da produção de biomassa florestal. Solar Fotovoltaica: 96,3 (destaque para Central Fotovoltaica (CF) Amareleja 6,; CF Serpa 11; CF MARL 6) Microgeração: 15,6 ( 23 unidades de 1 500 Actualização do Programa de Microgeração e introdução de um Programa de Minigeração; Desenvolvimento de um novo cluster industrial baseado na energia solar de concentração, para projectos de demonstração; Promoção da energia solar térmica 13

microgeração em produção) Ondas 2,25 (em 2008, primeira unidade de produção) Implementação da zona piloto (250 MW) Geotermia 250 MW Promoção de uma nova fileira Hidrogénio Exploração do potencial Biocombustíveis e Biogás Implementação efectiva das directivas europeias e das melhores práticas associadas aos biocombustíveis; Exploração do potencial associado ao biogás proveniente da digestão anaeróbia de resíduos. Cátia Rosas Departamento Técnico da CONFAGRI. Agradecimentos Ao Eng.º Martins Carvalho (DGE), Eng.º Carlos Martins (UCASUL), Eng.º Fernando Natálio (EDP) e Eng.º Tiago Gaio (AREANA Tejo), pelos esclarecimentos prestados. 5. Bibliografia APA (2010). Relatório do Estado do Ambiente 2009. Agência Portuguesa do Ambiente, Amadora MADRP (2005). Biomassa e energias renováveis na agricultura, pescas e floresta ponto da situação, Junho de 2005. Ministério da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas Santos, P (2008). A biomassa nas políticas energéticas nacionais questões relevantes e as centrais termoeléctricas e as biomassas. Sobioen, Simpósio Transfronteiriço de Energias Renováveis, Badajoz http://www.apren.pt/ Associação Portuguesa de Energias Renováveis (APREN) http://www.dgge.pt/ - Direcção Geral de Energia e Geologia http://www.edpsu.pt 6. Outras leituras recomendadas CONFAGRI (2010). Compilação da legislação sobre energia em Portugal. CONFAGRI, Lisboa Rosas, C, Godinho, D (2010). RuralE.Evolution em Portugal. CONFAGRI, Lisboa http://www.confagri.pt/ambiente/pages/ruralevolution.aspx http://www.apenergia.pt Associação Portuguesa de Energia (APE) http://bioenergy.ornl.gov/main.aspx - Bioenergy Feedstock Information Network (BFIN) http://www.bapdriver.org/doku.php/national_actions_plans - Biomass in Renewable Action Plans http://www.centrodabiomassa.pt/ - Centro da Biomassa para a Energia (CBE) http://www.erse.pt Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE) http://www.prime.min-economia.pt PRIME - Programa de Incentivos à Modernização de Economia http://www.ren.pt Rede Eléctrica Nacional 1