MARINHA DO BRASIL ESCOLA DE GUERRA NAVAL C-EMOS/ 2004 GEOPOLÍTICA/ MBA TRABALHO EM GRUPO (GRUPO N)



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Transcrição:

MARINHA DO BRASIL ESCOLA DE GUERRA NAVAL C-EMOS/ 2004 GEOPOLÍTICA/ MBA TRABALHO EM GRUPO (GRUPO N) TEMA: AS TENDÊNCIAS DEMOGRÁFICAS NOS EUA E NA UNIÃO EUROPÉIA CC GAMA CEMOS 006 - DIRIGENTE CC VIAMONTE CEMOS 064 CC TEIXEIRA - CEMOS 080 CC HENRIQUE MARTINS CEMOS 082 - RELATOR CC BRAZ CEMOS 088 CC(FN) FEITOSA CEMOS 100 CC(FN) CABRITA CEMOS 112 CC(IM) CAMPOS COSTA CEMOS 132 2004

MARINHA DO BRASIL ESCOLA DE GUERRA NAVAL C-EMOS/2004 GEOPOLÍTICA/ MBA TRABALHO EM GRUPO ( GRUPO N) TEMA: AS TENDÊNCIAS DEMOGRÁFICAS NOS EUA E NA UNIÃO EUROPÉIA 2004

MARINHA DO BRASIL ESCOLA DE GUERRA NAVAL AS TENDÊNCIAS DEMOGRÁFICAS NOS EUA E NA UNIÃO EUROPÉIA CC GAMA CEMOS 006 - DIRIGENTE CC VIAMONTE CEMOS 064 CC TEIXEIRA - CEMOS 080 CC HENRIQUE MARTINS CEMOS 082 - RELATOR CC BRAZ CEMOS 088 CC(FN) FEITOSA CEMOS 100 CC(FN) CABRITA CEMOS 112 CC(IM) CAMPOS COSTA CEMOS 132 2004

SUMÁRIO INTRODUÇÃO...3 1 A DEMOGRAFIA E SUAS COMPLEXIDADES...3 2 ASPECTOS HISTÓRICOS E FATOS RELEVANTES DAS DEMOGRAFIAS DOS EUA E DA UE...4 3 INFLUÊNCIAS SÓCIO-ECONÔMICAS NO CENÁRIO ATUAL...7 4 CENÁRIOS PROSPECTIVOS DEVIDO À DEMOGRAFIA...8 5 OPORTUNIDADES E AMEAÇAS DERIVADAS DA DEMOGRAFIA...9 CONSIDERAÇÕES FINAIS...10 BIBLIOGRAFIA...12

INTRODUÇÃO A nova geopolítica contempla, discute e amplia, de forma sistematizada, o conhecimento das forças profundas, suas mudanças e continuidades que interferem nas relações internacionais, contribuindo para as reações e respostas dos principais atores, nações ou estados diante dos obstáculos e desafios a serem superados. A demografia, inserida no contexto das dinâmicas do mundo globalizado, é um assunto que direciona tendências políticas, comerciais, econômicas e, até mesmo, militares na história da humanidade. Este trabalho visa identificar as oportunidades e ameaças decorrentes da demografia que se constitui em uma das forças profundas com relevante potencial para interferir e influenciar o futuro de fatos marcantes, relacionados aos países e suas principais políticas. Essa força profunda, como uma ferramenta, norteará este trabalho, contribuindo para apresentação de oportunidades e ameaças identificadas relacionadas à demografia, com seus efeitos a longo prazo, nos fenômenos sociais, econômicos e, principalmente, as tendências que possam repercutir no futuro, como já o fizeram no passado das nações e de suas populações. Os fatos pertinentes sobre este assunto foram obtidos a partir de pesquisas sobre a diferença demográfica hoje existente entre os Estados Unidos da América (EUA) e a União Européia (UE) e que papel essa diferença poderá desempenhar no futuro, sabendo-se desde já, que, apesar de lenta, há percepção de mudanças. Será apresentado, nos próximos tópicos, um retrospecto do problema através da história, enfocando as principais diferenças, influências sócio-econômicas, situação atual demográfica, cenários futuros, coincidências e tendências da demografia nos EUA e na UE, identificando as oportunidades e ameaças para as relações internacionais. A DEMOGRAFIA E SUAS COMPLEXIDADES A demografia é um dos mais antigos e complexos problemas da humanidade, sempre alvo de estudos e preocupações por parte de diferentes especialistas interessados no assunto. Em virtude de seu caráter dinâmico, à medida que a população vai sofrendo transformações quantitativas, os problemas e as contradições sócio-econômicas tornam-se cada vez mais agudos e evidentes.

Na Grécia Antiga, os filósofos viam a cidade como a unidade por onde deviam organizar a vida coletiva. Platão e Aristóteles buscavam descobrir o seu tamanho ideal, criando leis e especulação no intuito de haver uma conciliação entre a distribuição dos cidadãos e dos recursos. Outros pensadores procuraram estabelecer conceitos de modelos de populações de crescimento limitado. Thomas Malthus seguiu um modelo matemático onde estabeleceu a premissa básica de que uma população cresce numa taxa diretamente proporcional ao seu tamanho. O modelo Verhulstisiano generalizou o modelo Malthusiano, levando em conta o fato de que populações se deparam com competição interna enquanto crescem dentro de um ambiente fechado, e esta competição tende a retardar a taxa de crescimento. Sua idéia diz que enquanto a população cresce com o tempo, a taxa na qual se dá esse crescimento torna-se menor. Esta é uma abordagem ligeiramente mais realista que a de Malthus (9). Para Alfred Sauvy, o potencial econômico e demográfico depende do espaço, dos instrumentos existentes e da capacidade de ação coletiva. O "optimum" da população e do bem-estar é atingido no momento em que começa a atuar a lei do rendimento decrescente, no qual o rendimento de mais de um trabalhador suplementar é inferior à produtividade média (2). As teorias demográficas foram importantes elementos de interpretação, permitindo tratar do problema relativo ao crescimento da população humana, prevendo seu comportamento reprodutivo e ajudando a entender os problemas que poderiam advir da expansão da capacidade de reprodução humana sobre os recursos da terra. ASPECTOS HISTÓRICOS E FATOS RELEVANTES DAS DEMOGRAFIAS DOS EUA E DA UE Grande parte dos fluxos migratórios do passado ocorreu dentro da própria Europa. Metade dos trabalhadores estrangeiros que ajudaram a reconstruir a Europa Ocidental era originária da Europa meridional. As nações do Sul, com grandes populações rurais, funcionavam como reserva demográfica para as nações industriais do Norte. Com isso, a Europa meridional, entre 1950 e 1970, teve uma perda no saldo migratório de 7,3 milhões de pessoas. Na década de 1980, com a entrada desses países para a Comunidade Européia, a melhoria de seus desempenhos econômicos, incentivou o retorno de seus nativos que haviam emigrado anteriormente, bem como os tornando mais atraentes para estrangeiros, inclusive migrantes de países longínquos. Os imigrantes da Europa meridional vêm, primariamente, de países pobres da Ásia (principalmente das Filipinas), África, América Latina e Europa oriental.

Enquanto a Alemanha representa a porta de entrada oriental da União Européia, Itália e Espanha, ao Sul, constituem agora uma porta bastante vulnerável, defrontando-se com uma onda de imigrantes vindos de lugares menos desenvolvidos em busca de asilo, como falsos turistas, estudantes, trabalhadores sazonais ou familiares de imigrantes já residentes no país. Contribui para essa vulnerabilidade o fato das fronteiras serem longas e de fácil acesso para quem vem do outro lado do Mediterrâneo, estando suas alfândegas ainda não preparadas ou equipadas para a fiscalização da entrada, além do que, o fato de serem países com grande fluxo de turistas, o controle de fronteira torna-se substancialmente mais difícil. À medida que o mercado unificado se solidifica, estabelecem-se maiores pressões dos países do Norte da UE para que os controles e a vigilância nas fronteiras meridionais tornem-se mais efetivos, em face das crescentes tensões entre os imigrantes e a população nativa. Essa questão reveste-se em uma importante questão política. Uma recente publicação da ONU intitulada Perspectivas da População Mundial - revisão 2000 - tratou amplamente dos temas de Demografia e Migração, e revelou um agravamento da situação populacional dos países europeus: envelhecimento da população e queda da taxa da fecundidade. As previsões das Nações Unidas indicam que, entre 1995 e 2050, a população diminuirá em praticamente todos os países europeus. Países como Bulgária, Espanha e Itália poderão perder a quarta parte de suas populações. As projeções indicam um aumento de pessoas da terceira idade criando uma demanda, cada vez maior, de aposentadorias e de serviços sociais e uma diminuição, cada vez maior, de números de filhos por cada família, o que sinaliza uma queda significativa da população ativa que sustentará um país envelhecido. Essas conjunções de fatores negativos põem em discussão o futuro da Europa, sua cultura e importância no cenário mundial. Caso as mulheres continuem com a atual taxa de fertilidade baixa de 1,5 filhos por casal, dentro de duas gerações (50 anos), a maioria dos povos europeus poderá desaparecer, incluindo suas culturas, tradições e histórias, sendo substituídos pelos imigrantes, isto é, pessoas de outras culturas, raças, religiões e histórias. Pela projeção estatística, a Europa precisaria, já nos próximos 25 anos de 24 milhões de imigrantes, somente para manter a atual população economicamente ativa (1). A Divisão de População do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas publicou uma matéria intitulada Migrações de Substituição: uma solução diante da diminuição e do envelhecimento das populações?. Essas migrações de substituição serviriam para definir a quantidade de migrações internacionais necessárias, em cada país, para evitar a diminuição e o envelhecimento da população. Para tentar reverter a atual perspectiva, sem necessitar de uma imigração maciça, seria necessário que as mulheres européias alcançassem,

nos próximos 25 anos, uma taxa de fertilidade mínima de 2,1 filhos. Junto a esse crescimento natural da população, a migração torna-se um fator fundamental no qual podemos identificar três tipos de fluxos migratórios diferentes: - fluxos migratórios de entrada e saída da UE trata-se de uma migração que influi no tamanho da população total da UE; a queda do crescimento populacional, causada pela redução da fertilidade, não pode ser compensada completamente com a imigração; - fluxos migratórios entre regiões da UE a população tende a se deslocar para zonas atrativas economicamente, especialmente as zonas costeiras meridionais; e - fluxos migratórios entre áreas urbanas e rurais a tendência da urbanização, o crescimento do setor de serviços nas cidades, a emigração de zonas que um dia foram áreas industriais geram fortes desequilíbrios na estrutura demográfica (4). Os resultados dos relatórios da ONU indicam que nos próximos 50 anos, a população da maioria dos países desenvolvidos diminuirá e envelhecerá como resultado dos baixos níveis de fecundidade e mortalidade atuais. Porém, seguindo uma tendência contrária, os EUA terão sua população aumentada em 25%. O volume de imigração legal permanente para os EUA aumentou, nas últimas quatro décadas, de cerca de 450 mil por ano na década de 1950 para 650 mil na de 1960, atingindo 700 mil por ano nas duas décadas seguintes. O aumento real foi maior do que esses números revelam devido à imigração ilegal. O fluxo clandestino anual para esse país é estimado, atualmente, entre 300 e 500 mil migrantes. Em 1965 a lei de imigração aboliu a discriminação antioriental e de nacionalidade, causando grande impacto na direção dos fluxos migratórios. A população de origem asiática total aumentou de meio milhão em 1950, para mais de 3 milhões em 1980 e 8 milhões em 1990 (3:11). A imigração foi maior que a prevista e a taxa de natalidade dos americanos nativos foi acima do esperado. A explicação para o ocorrido nos EUA, entre 1970 e 1985, referente à taxa de natalidade é que muitas mulheres adiaram sua gestação, ocorrendo este surpreendente crescimento na década 90. A taxa dos norte-americanos se aproxima da taxa de reposição de 2,1. A fertilidade mais elevada e a imigração foram os grandes responsáveis por este aumento da população, tendo este último maior peso, mesmo não se levando em conta os que entraram ilegalmente no país, apesar de alguns serem deportados e outros retornarem por vontade própria. Por parte dos especialistas, há uma grande atenção em relação à região sudoeste dos EUA por estar cada vez mais ligada às províncias do Norte do México, numa comunidade social e econômica binacional. Essa integração aumentou com a ratificação do NAFTA.

Nos EUA, os latinos são aproximadamente 39 milhões, incluindo os 8 milhões de imigrantes ilegais. Na maioria, jovens bilíngües que farão parte da força de trabalho americana. O crescimento desta parte da população é de 3% ao ano, sendo que outros grupos crescem 0,8%, representando a maior minoria racial dos EUA. Para a economia, este quadro é importante para o crescimento, representando uma oferta de novos trabalhadores e consumidores causando uma retração no envelhecimento da população americana. Na cultura, nas emissoras de rádio e televisão, bem como nas instituições americanas, há uma tendência a acomodarem um segundo grupo lingüístico. O crescimento da população hispânica, por exemplo, poderá ocasionar profundas implicações no cenário eleitoral americano (15:A9). INFLUÊNCIAS SÓCIO-ECONÔMICAS NO CENÁRIO ATUAL Os EUA e a Europa, nos últimos 50 anos, foram consideradas regiões ricas, com aspectos demográficos semelhantes refletindo estabilidade econômica e social dessas regiões, considerando possuírem uma população estável, com fertilidade baixa ou em declínio, quantidades crescentes de pessoas idosas e círculos migratórios que retratavam os fatores econômicos das regiões. Atualmente, observamos uma mudança em relação a essa situação, que reflete uma divergência entre as duas regiões, chamando a atenção de políticos, instituições, governos e outros atores internacionais, pois, as conseqüências decorrentes dessas divergências, ainda não estão equacionadas (7). As principais divergências estão abaixo mencionadas decorrentes das pesquisas efetuadas pelo Grupo: - a taxa de fertilidade da América está em elevação, enquanto que a da Europa está caindo; - a imigração na América está superando a européia, e a sua população de imigrantes está se reproduzindo mais rápido do que os americanos nativos; - a população americana está se tornando rapidamente jovem. A população da Europa está envelhecendo; - na década 90, a América recebeu mais de 11 milhões de imigrantes. O que supera os 6 milhões da década de 70 e os 7 milhões da década de 80; - cerca de 9 milhões de pessoas entraram ilegalmente nos EUA a partir de 1990, contribuindo para o aumento da população diretamente e indiretamente;

- as seguintes taxas de fertilidade têm sido observadas, atualmente, nos EUA: Brancos não hispânicos, um pouco acima de 1.8; negros são de 2.1 e latinos está próxima de 3.0 (7:21). A confiança social, que significa apoio e investimentos no bem-estar social, e a fertilidade acima da média observada entre os imigrantes são indicadores das oscilações, das taxas de fertilidade nos EUA e na União Européia nos últimos 20 anos. A fertilidade dos EUA, no início dos anos 80, caiu mais rapidamente que a européia, para cerca de 1,8, levemente abaixo dos níveis europeus e fortemente abaixo do nível de reposição de 2,1. Por volta dos anos 90, a fertilidade americana teve uma recuperação, retornando a níveis um pouco abaixo de 2,1. Já a fertilidade na Europa continua a cair, tendo ficado abaixo de 1,9 no meio da década de 80 e atualmente encontra-se menor do que 1,4, com expectativa de continuar baixando nos próximos 10 anos (7:20). Dentro dessa análise observamos que as taxas de fertilidade dos EUA oscilam sempre para cima de tal forma que a reposição está garantida. Em contrapartida, as taxas européias oscilam para baixo e acredita-se que não tenham o mesmo vigor de recuperação quando comparadas com a norte-americana. Esse declínio do número de jovens e aumento do número de idosos poderá levar a dois problemas principais: uma escassez de mão-de-obra e de novas habilidades, resultando numa diminuição do crescimento econômico; e uma crise financeira do sistema de bem-estar social. CENÁRIOS PROSPECTIVOS DEVIDO À DEMOGRAFIA As taxas de fertilidade, segundo a ONU, continuarão divergentes entre os EUA e a UE, permanecendo relativamente estável e se recuperando pouco, respectivamente. O hiato, portanto, já foi criado e acentuar-se-á no futuro. As causas, conseqüências, soluções e políticas populacionais ainda não estão bem definidas pelos governos e outros atores internacionais para tomarem providências visando amenizar os efeitos nocivos desse hiato demográfico. As projeções decorrentes dos censos demográficos estão sendo superadas graças a emigração e das taxas de natalidades dos americanos nativos, contribuindo para, por volta de 2030-40, a população americana ultrapassar a européia. Caso sejam observadas as projeções baseadas apenas em números e taxas acima de 2,5, a população americana dobrará de tamanho e a européia será menor. Essas projeções são vistas com desconfianças, mas impressiona pelos

números alarmantes tornando a equação das relações internacionais mais complexas, pois somado a essas projeções, agregam-se outros fatores, como as inovações tecnológicas e a água, considerada a bola da vez do atual momento das conversações internacionais (7:21). A UE vangloria-se de seu atual mercado, reivindicando status nas negociações comerciais similar ao dos EUA, chegando a equiparar o euro com o dólar. Caso as projeções da economia americana para 2050, decorrentes dos aspectos demográficos, sejam confirmadas, ou seja, duas vezes maior que a européia, o equilíbrio do poder econômico global tenderá fortemente para os EUA e, conseqüentemente, suas práticas comerciais serão bem mais dominantes que as atuais adotadas. Com as atuais taxas de imigração a população total da América continuará crescer, talvez não tão rápido quanto as estimativas sugerem. A Europa também vem sofrendo um boom de imigração, porém com tendência a cair. A imigração aumenta a população americana e a torna diferente, caracterizada por brancos nativos e latinos com suas respectivas crianças, contribui decisivamente para alterar a economia e a geopolítica. No tocante à economia, verifica-se que uma nação mais hospitaleira e com políticas de imigração mais acessíveis, os trabalhadores imigrantes contribuirão para o crescimento da economia desse país. Quanto ao impacto geopolítico se verifica hoje que os valores compartilhados entre os EUA e a UE ainda são fortes, porém tendem a ficar cada vez mais distantes, em virtude do fortalecimento dos laços e valores culturais com os países de origem das imigrações. A imigração sozinha não pode restaurar a pirâmide etária de um país esvaziado por um déficit de nascimentos. A imigração é melhor aceita e os imigrantes mais facilmente assimilados em sociedades que têm nascimentos nativos suficientes. As políticas de fertilidade e imigração são inseparáveis a longo prazo. A médio prazo, parece que as políticas de imigração serão motivadas, como sempre, por fatores econômicos, especialmente para contrabalançar mudanças no mercado de trabalho, bem como por objetivos humanitários e políticos. Dessa forma, a eficácia da imigração para deter o processo de envelhecimento da população é bastante limitada. A UE está tentando um acordo para criar uma política comum de migração. O impacto do terrorismo traz consigo a necessidade de um controle mais rígido no trânsito de ilegais. Os países membros têm problemas com a falta de uma política para exilados, distribuição de vistos e pouco controle em suas fronteiras.

OPORTUNIDADES E AMEAÇAS DERIVADAS DA DEMOGRAFIA Das principais áreas de desequilíbrio demográfico, o Mediterrâneo, que separa a Europa, com seus estados desenvolvidos e populações estacionárias, da África, de estabilidade política e econômica frágil e ameaçada por uma explosão populacional, oferece os maiores contrastes. A diferença de fertilidade entre a Europa e o outro lado do Mediterrâneo é duas vezes maior que a existente entre os Estados Unidos e a América Latina, ou entre o Japão e o resto da Ásia. As disparidades econômicas também são muito maiores. O poder de compra médio norte-americano é quatro vezes maior do que o latino-americano, enquanto que o cidadão médio da Comunidade Européia goza de um poder de compra entre sete e oito vezes maior que o do africano médio. A convergência de desequilíbrios demográficos, econômicos e políticos pode produzir migrações em escala sem precedentes. Com as atuais idades medianas nos EUA (35.5) e na UE (37.7) quase similares e a projeção para 2050 uma defasagem de 16.5, percebe-se o envelhecimento dramático da população européia e grandes mudanças nos padrões demográficos, reforçando as diferenças anteriormente citadas, em especial a população de crianças (7:22). Vemos com isso algumas ameaças. A primeira delas, é a educação que é um ônus para as finanças públicas na jovem América, pois a maior parte dos encargos financeiros será proveniente do custo de educação de crianças. Para a Europa velha, os problemas serão em fornecer pensões e assistência médica na medida em que seus baby-boomers forem se aposentando, arcando assim com seus custos de dependência, pois, neste caso, virá da população velha. Verifica-se, portanto, que o ônus nas finanças governamentais cresce em ambos os lados do Atlântico, porém é mais pesado na Europa (7:22). Em decorrência da aplicação das finanças públicas, surge uma outra ameaça nas relações entre os EUA e a UE. A Europa tem privilegiado nos últimos anos os programas sociais, diferentemente dos EUA que privilegiou a defesa, contribuindo para um evidente desequilíbrio militar. A UE pretende equacionar esse equilíbrio do poderio militar, preocupando-se inclusive com o seu peso no cenário mundial, porém as tendências populacionais poderão drenar a sua determinação, pois sua população economicamente ativa irá diminuir, com perspectivas do seu número de idosos ter dobrado, e, com isso, a longo prazo, a disparidade bélica aumentar entre os EUA e a UE.

CONSIDERAÇÕES FINAIS A força profunda população está verdadeiramente demarcando o perfil das potências no futuro. O tema demografia deve ser inserido de forma permanente em todas as agendas políticas, pois constatamos facilmente a forma como a evolução demográfica pode afetar a estrutura organizacional, social, econômica e política das regiões. As repercussões dos desequilíbrios demográficos impõem que os controles sobre os fluxos migratórios sejam encarados com elevada prioridade, no intuito de que sejam tomadas medidas para que afetem de maneira positiva o desenvolvimento econômico, o mercado de trabalho, a educação, a habitação, os serviços, os fundos de pensão, o sistema de saúde, a ordenação do território e toda a infra-estrutura a fim de cobrir as necessidades decorrentes desses movimentos migratórios. A interdependência planetária recebe, de forma cada vez mais acentuada, a influência da força profunda referente à população onde as diferenças demográficas terão papel preponderante nas relações internacionais, havendo a necessidade de um planejamento cuidadoso que deverá coordenar os movimentos migratórios internacionais, que continuarão a crescer. Essa realidade deve ser adequadamente encarada para que se chegue a futuros acordos multilaterais que contribuam para uma compreensão compartilhada entre países remetentes e receptores. A América juvenil e uma Europa velha implicarão em mudanças nessas relações, podendo surgir outros cenários. A longo prazo, o contraste entre os EUA e UE poderá elevar o poder americano, pois os recursos necessários para o gasto com a defesa da UE serão consumidos para o pagamento de pensões e assistência médica a sua população. Com a adesão de novos países a UE ocorrerão outras reflexões na política de imigração. Para a UE impor maior peso nas decisões, é importante que reaja a esses problemas, pois o poder norteamericano pesará fortemente para desequilibrar a balança.

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