A Linda Rosa Juvenil e as crianças da 3ª série na escola municipal Bárbara Amábile Benvenutti barbaramabile@hotmail.com Ellen de Albuquerque Boger Stencel ellen.stencel@unasp.edu.br Silvane Pozeti de Campos Araújo pozeti_araujo@terra.com.br Centro Universitário Adventista de São Paulo Resumo. Este relato de experiência apresenta um projeto de estágio realizado com crianças entre 8-10 anos no interior de São Paulo que nunca tiveram aulas de musicalização. Foram dadas 12 aulas de 50 minutos e desenvolvidas 7 músicas, 6 parlendas onde foram explorados: pulsação, lateralidade, coordenação motora, subdivisão de compassos, desenvolvimento psicomotor, linguagem oral, linguagem escrita, expressão corporal e oral, auto-estima, altura sonora, ritmo, afinação, memória rítmica e melódica e socialização para estimular o aprendizado. Para que tais aspectos fossem trabalhados e desenvolvidos nas crianças de forma integral, utilizamos o folclore brasileiro e a música folclórica. Através de brincadeiras, jogos, parlendas e histórias do folclore brasileiro, as músicas foram apresentadas às crianças explorando o lado lúdico de cada canção. As canções escolhidas foram: Peneira (sendo inseridas em cada frase uma parlenda), Dona Baratinha, A linda rosa juvenil, Sambalelê, Lá em casa, Mané Pipoca e Escravos de jó. As parlendas foram: Pinguelinha, A casinha da vovó, Corre cutia, Osquindolelê, Bambalalão e Dona Chiquinha. O desenvolvimento da percepção musical através do folclore amplia o universo cultural da criança, valorizando seus conhecimentos e memória de nosso país, trazendo um gosto pela música e despertando maior interesse em áreas que são estimuladas por essa prática. Palavras-chave: folclore, musicalização, aprendizado. Este relato de experiência apresenta um projeto que foi desenvolvido nas aulas de Estágio Supervisionado do Curso de Licenciatura em Música do Centro Universitário Adventista de São Paulo (UNASP). Ele foi aplicado na Escola Municipal Elisa Franco, em Engenheiro Coelho SP, durante três meses, com alunos da terceira série do ensino fundamental, entre 8-10 anos de idade, uma vez por semana. Este estudo se baseia na experiência musical obtida na sala de aula, partindo da prática do folclore musical. Foram escolhidos cantigas, histórias e encenações, como uma forma de musicalização, socialização, desenvolvimento psicomotor e emocional. Foi feito um estudo descritivo com crianças que nunca tiveram contato com a musicalização. Para fundamentar nosso trabalho, buscamos referência histórica em alguns educadores que desenvolveram métodos ativos no processo de ensinar crianças e que foram resgatados para o ensino de música infantil. Entre eles gostaríamos de citar Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) que valoriza a natureza do afeto, caráter individual e interesses espontâneos da criança. De acordo com FONTERRADA (2005, p.51), ele é o primeiro pensador da
educação a apresentar um esquema pedagógico especialmente voltado para a educação musical onde as canções devem ser simples e não dramáticas, e seu objetivo é assegurar flexibilidade, sonoridade e igualdade às vozes. As ações propostas por ele não incluem a leitura musical, que só deverá ocorrer anos mais tarde. Pestalozzi (1745-1827) e Froebel (1782-1852) buscaram uma educação mais voltada à prática e que fosse apropriada para crianças de acordo com o seu entendimento. BEYER (1999, p. 27) ao comentar estes educadores coloca: no que se refere à educação musical, as crianças não teriam que aprender a teoria, mas cantavam um amplo repertório de canções de roda e de jogos musicados. No século passado, educadores musicais como Emile Dalcroze (1865-1950), Zoltán Kodaly (1882-1967), Edgar Willems (1890-1978) e Carl Orff (1895-1982) buscaram uma experiência musical onde as crianças pudessem sentir e experimentar a música de forma lúdica e espontânea, por meio do canto, do uso do corpo, da sensibilidade auditiva tornando a música prazerosa. Para KODALY, (apud SZÖNYI, 1996, p.31) o primeiro passo na direção da formação musical consisti em elaborar um método no qual se incluíram muitas canções infantis e populares, para se escolher aquelas mais adequadas para as crianças. Segundo BRITO (2003, p.46), a educação musical não deve visar a formação de possíveis músicos do amanhã, mas sim à formação integral das crianças de hoje.. A autora explica que um trabalho pedagógico-musical devem se realizar em contextos educativos que entendam a música como processo contínuo de construção, que envolve perceber, sentir, experimentar, imitar, criar e refletir. O papel da música na educação é de elevada importância, tanto, que JANNIBELLI (1971, pp. 21 e 22) diz que a música, como sendo veículo de educação, consegue alcançar objetivos visados pela nossa maneira de entender a sociedade e a correspondente educação. Também é promotora de fraternidade e compreensão entre os homens, estimuladora de seus valores éticos e sociais. A autora esclarece que a música se destaca como sendo o setor da educação que estimula, de maneira especial, o impulso vital e as mais importantes atividades psíquicas humanas: a inteligência, a vontade, a imaginação criadora e, principalmente, a sensibilidade e o amor. Nisto está sua peculiaridade, pois reúne, harmoniosamente, conhecimentos, sensibilidade e ação (JANNIBELLI, 1971, p. 22). Entende-se que musicalizar é permitir que a criança seja sensibilizada pela música de forma dinâmica e lúdica. É o despertar musical na educação, dando oportunidade para a criança fazer música e ter prazer em ouvi-la. Musicalizar é tornar a música acessível a todos, usando a música elementar que está inserida no movimento e na palavra. É fazer com que as crianças amem a música, preparando-as para realizarem com alegria a prática musical. É
construir o conhecimento com o objetivo de despertar e desenvolver o gosto musical através do estímulo, e assim contribuir para a formação global da criança. Esse processo de educação musical deve ser adaptado a realidade social, respeitando as fases evolutivas da criança, sendo multidisciplinar, com objetivos claros e precisos, preparando seres humanos capazes de criar, realizar e vivenciar emoções. Para que tais aspectos fossem trabalhados e desenvolvidos nas crianças de forma integral, utilizamos o folclore brasileiro e a música folclórica. O folclore é o conjunto das tradições, costumes, conhecimentos e crenças de um povo. Compreende músicas, lendas, danças, costumes, adivinhações, rimas, jogos, poesias e demais práticas que nasceram e se desenvolveram com o povo. Para GARCIA ( 2000, p.28), o folclore é um campo de conhecimento que tem por objeto de estudo a cultura viva de um povo. Para a autora, é importante despertar no aluno o gosto pelos seus usos e costumes, sua maneira de viver e sentir. Enfatizar o folclore na escola significa aproveitá-lo para enriquecer as experiências de aprendizagem em diferentes matérias ministradas (GARCIA, 2000, p.29) Através de brincadeiras, jogos, parlendas e histórias do folclore brasileiro, as músicas foram apresentadas às crianças explorando o lado lúdico de cada canção. Para NOVAES (1986, p. 7), as cantigas de roda são atividades de muito valor educativo e agente socializador, pois incluem tradição, música e movimento. De acordo com GARCIA e MARQUES (2001, p.11), o aprendizado das brincadeiras pela criança propicia a liberação de energia, expansão da criatividade, fortalece a sociabilidade e estimula a liberdade de desempenho. Em nossos estágios, percebemos que a música folclórica é repleta de melodias tradicionais e que possuem um amplo significado para os alunos pois caracteriza-se pela espontaneidade, transmissão oral, funcionalidade, aceitação coletiva e curta extensão, o que facilita a memorização. Foram dadas 12 aulas de 50 minutos e desenvolvidas 7 músicas, 6 parlendas onde foram explorados: pulsação, lateralidade, coordenação motora, subdivisão de compassos, desenvolvimento psicomotor, linguagem oral, linguagem escrita, expressão corporal e oral, auto-estima, altura sonora, ritmo, afinação, memória rítmica e melódica e socialização. Tendo como base a Eurritmia de Dalcroze, foram incorporados atividades como: marcação do ritmo batendo palmas e/ou o pé no chão, andar num tempo determinado e fora dele, cantar marcando o ritmo corporalmente, mudança de intensidade e duração. No senso rítmico buscou-se a base no movimento e na palavra. As rimas são empregadas desde as primeiras aulas, usando gestos, movimentos corporais, instrumentos
musicais e diferenciação de altura. De acordo com Orff, o ritmo verbal deve ser o começo para o estímulo musical infantil. WEIGEL (1988, p. 14) afirma que o movimento é a condição principal da vida da criança, e este está presente em todo o tempo na música elementar. Usase os movimentos fundamentais de locomoção baseados em STOKOE apud MÁRSICO (2003, p. 59) que são explorados com canções dirigidas e movimentos livres de locomoção. As canções escolhidas foram: Peneira (sendo inseridas em cada frase uma parlenda), Dona Baratinha, A linda rosa juvenil, Sambalelê, Lá em casa, Mané Pipoca e Escravos de jó. As parlendas foram: Pinguelinha, A casinha da vovó, Corre cutia, Osquindolelê, Bambalalão e Dona Chiquinha. As crianças encenaram as histórias de Dona Baratinha e A linda rosa juvenil, sendo que em cada uma delas houve uma preocupação também com a afinação, a expressão corporal, a participação de todos a recontagem e escrita das histórias. As crianças gostam muito dessas atividades, pois atuando como atores, aprendem a contar melhor a história. Como o nosso principal objetivo era musicalizar, após criarem o gosto pelo que fazem, trabalhamos a parte de altura sonora, rítmica, memorização e expressão. Com a música da Peneira, todos em roda cantavam e batiam palmas, enquanto eles passavam uma peneira e imitavam o movimento que se faz para peneirar, buscando passar a peneira no pulso da música. Ao final de cada frase musical (quando a peneira parava), eles falavam uma parlenda de maneira rítmica com palmas. Na música Escravos de Jó foi muito explorado a pulsação, o andar de lado em círculo batendo o pé, a atenção, a afinação, a subdivisão dos compassos e a socialização. Em especial na música do Sambale-lê, foi muito trabalhada a psicomotricidade e a coordenação motora quando junta-se o movimento com pés, palmas e voz. Eles encararam esse desafio de bater o pulso nos pés e o contratempo nas palmas e houve grande dificuldade para a maioria deles, porém houve também grande avanço com o treino que fizeram. Eles levaram de lição de casa bater pés e palmas alternadamente. Duas atividades destacaram-se pela dificuldade de lateralidade e memorização, que foi a Dona Chiquinha e o Mané Pipoca. Desta forma foi necessário explorarmos essas brincadeiras de maneiras diferentes como: uma parte falada a outra pensada batendo palmas somente, batendo o pé, trabalhando dicção e grande prática silábica e de soletração. E para
finalizar fizemos a música Lá em casa, que é cumulativa onde eles representaram os bichos escolhidos e cantaram memorizando toda a seqüência de sons e palavras. O desenvolvimento da percepção musical através do folclore amplia o universo cultural da criança, valorizando seus conhecimentos e memória de nosso país, trazendo um gosto pela música e despertando maior interesse em áreas que são estimuladas por essa prática. Do ponto de vista das autoras, o projeto foi muito interessante e envolvente, apresentando vários aspectos satisfatórios. A participação das crianças foi percebida desde o primeiro contato. Apesar de terem dificuldades motoras e de percepção musical, como afinação e pulsação, elas tinham alegria em aprender e empenho em buscar um melhor desempenho nas atividades. Elas foram muito estimuladas no desenvolvimento da memória e da expressão corporal o que contribuiu para um desempenho positivo em sala de aula e maior atenção em outras matérias. Também, segundo a professora, houve um ganho quanto à atenção e ao gosto pelo escrever uma história, pois todas as vivências foram desenvolvidas com a participação direta de cada criança. Encerramos essas atividades com uma apresentação onde filmamos todo o trabalho dando aos alunos um papel especial de atores, participantes ativos, em destaque para as outras classes da escola, pois somente a 3ª série que aderiu o projeto. REFERÊNCIAS BEYER, Esther. Idéias em Educação Musical. Porto Alegre: Mediação, 1999. BRITO, Teca Alencar de. Música na Educação Infantil. São Paulo: Peirópolis, 2003. FONTERRADA, Marisa Trench de Oliveira. De tramas e fios: um ensaio sobre música e educação. São Paulo: editora UNESP, 2005. GARCIA, Rose Marie Reis (org.). Para Compreender e Aplicar Folclore na Escola. Porto Alegre: Comissão Gaúcha de Folclore, 2000. GARCIA, Rose Marie Reis e MARQUES, Lilian Argentina. Brincadeiras Cantadas. Porto Alegre: Kuarup, 2001. JANNIBELLI, Emilia d anniballe. A Musicalização na Escola. Lidador, 1971. MÁRSICO, Leda Osório. A Criança no Mundo da Música. Porto Alegre: Rígel, 2003. NOVAES, Iris Costa. Brincando de Roda. 2ª edição. Rio de Janeiro: Agir, 1986.
ROCHA, Carmem Maria Mettig. Educação Musical Método Willems. Editora Faculdade de Educação da Bahia, 1990. SZÖNYI, Erzsébet. A Educação Musical na Hungria Através do Método Kodály. São Paulo: Sociedade Kodály do Brasil, 1996.