RELATÓRIO INTEGRADO DESEMPENHOS FINANCEIRO E DE SUSTENTABILIDADE CAMINHANDO CADA VEZ MAIS ALINHADOS



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Transcrição:

RELATÓRIO INTEGRADO DESEMPENHOS FINANCEIRO E DE SUSTENTABILIDADE CAMINHANDO CADA VEZ MAIS ALINHADOS O Relatório Integrado, ou <IR>, é um tema que vem sendo abordado pela Revista RI já há algumas edições e reúne cada vez mais argumentos para que as empresas o enxerguem como uma ferramenta de gestão que irá melhorar suas relações com investidores, acionistas e com a sociedade como um todo. Nesta edição vamos apresentar pontos discutidos na Conferência Global sobre Sustentabilidade e Transparência da Global Reporting Initiative (GRI) - que foi realizada entre os dias 22 e 24 de maio, em Amsterdã, Holanda -, opiniões de profissionais do mercado e o conteúdo tratado no webinar do IBGC Relato Integrado: como a transparência nas informações pode melhorar o foco das organizações?. por ISABELA DOMENICI 40 REVISTA RI Junho Julho 2013

O Relatório Integrado harmoniza elementos tangíveis e intangíveis necessários para que os públicos de relacionamento das Organizações tenham um panorama mais holístico para avaliar a Companhia em suas diversas dimensões, seja na cadeia de suprimentos, nas opções de investimento, de consumo e de parcerias. Por mais que o relato se materialize numa peça (impressa ou virtual), o objetivo do Relatório Integrado não recai somente na peça final, mas no processo de sua construção, no ato de relatar, já que, para realizar tal tarefa, é necessário o exercício de olhar para dentro, analisar forças e fraquezas, oportunidades e riscos, e, desta maneira, conhecer mais o próprio negócio, avaliando pontos-chave da gestão operacional e estratégica da Organização. inovação, dos processos de produção, ou seja, fazem realmente parte da estratégia da Organização. De uma maneira mais abrangente, Favaretto aponta que o Relatório é mais uma peça dentro de um quebra-cabeças que vai inserir a sustentabilidade no novo modus dos negócios, dos cidadãos e do comportamento dos consumidores. Ele é só mais um item da mudança de mundo que precisamos ter. A Diretora de Sustentabilidade da BM&FBovespa se mostra otimista e aponta que os Relatórios de Sustentabilidade que existem hoje são o melhor exercício das práticas de sustentabilidade corporativa, visto que ainda não há uma empresa que realmente divulgue um Relatório Integrado. Ainda de acordo com ela, a adoção de novas práticas de reporte provoca reflexões internas na Organização, fazendo-a, muitas vezes, questionar e mudar processos. Dentre os exemplos citados por Favaretto, estão o lançamento das diretrizes para a concepção do Relatório de Sustentabilidade pela GRI como eles existem hoje e a criação do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), que gerou demanda das Organizações interessadas em fazer parte da carteira. Estamos mais perto do que longe, a discussão é do momento presente, colocou Sônia Favaretto. A proposta do Relatório Integrado não é criar novas regras, políticas e regulamentações, mas sim garantir a coerência entre os temas das Organizações e envolver todos os públicos de relacionamento por meio de uma abordagem eficiente. Por exemplo, se há uma multa em decorrência de questões ambientais presente nas demonstrações financeiras, é imprescindível que o Relatório apresente os motivos e as ações da Organização para resolver o problema de maneira transparente e natural. Para conseguir esta sinergia, é fundamental que todos setores das Organizações estejam alinhados. Por essa razão, a comunicação entre as diferentes áreas deve, imprescindivelmente, acontecer durante todo a elaboração, para que sejam estabelecidos processos que resultarão no documento Relatório Integrado. Segundo o Conselho Internacional de Reporte Integrado (IIRC), cumpridos estes processos, a própria Organização será a maior beneficiada com a construção do Relatório, pois com o lastro dos dados financeiros, as informações não financeiras terão maior coerência e credibilidade. Segundo Sônia Favaretto, Diretora de Sustentabilidade da BM&FBovespa, o desafio é da sustentabilidade como um todo e não apenas do Relatório Integrado. O Relatório é uma consequência de uma estratégia. Ele será viável quando a estratégia integrar as questões de sustentabilidade, pois fazem parte da SÔNIA FAVARETTO, BM&FBovespa Junho Julho 2013 REVISTA RI 41

NELSON CARVALHO, IIRC MARCO GEOVANNE, Previ Na qualidade de maior referência na América Latina, o Brasil possui quatro membros entre os 40 participantes do IIRC. Segundo Nelson Carvalho, um dos representantes brasileiros neste Conselho, o grande desafio do Relatório Integrado é a complexa mudança de mentalidade. Para ele, a maioria dos mercados de capitais com exceção dos fundos de pensão como investidores institucionais tem uma visão de curto prazo, com foco em resultados mensais ou trimestrais. Na contramão desta linha de análise, os Relatos Integrados buscam incorporar e apresentar modelos de gestão de criação de valor no longo prazo. Essa ruptura de curto para longo prazo será eventualmente demorada, como qualquer mudança cultural de profundidade, afirmou Nelson Carvalho. Já para o Diretor de Participações da Previ, Marco Geovanne Tobias da Silva, o grande objetivo do Relatório Integrado é comunicar a maneira como a Organização cria valor ao longo do tempo, por meio da relação entre seis capitais : natural, social e de relacionamentos, financeiro, manufaturado, humano e intelectual. A divulgação dessas informações tornará mais claros os compromissos da organização para com o ambiente e a sociedade, reforçando a importância do conceito de sustentabilidade inclusive quanto à longevidade das organizações no contexto de criação de valor, disse o Diretor de Participações da Previ. Alessandra Polastrini, Coordenadora da Comissão Técnica do Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (IBRI), também concorda com a questão do pensamento integrado e enxerga este como o grande desafio das Organizações. Para ela, algumas empresas já evoluíram nesse sentido, mas a grande maioria ainda precisa reavaliar e até repensar o seu papel na sociedade. Alessandra menciona uma citação de Don Tapscott (canadense especialista em estratégia corporativa, escritor bastante focado na geração da internet), negócios não podem ser bem sucedidos em um mundo que fracassa e conclui que isso significa dizer que o planejamento sustentável de longo prazo será fundamental e que diversos temas, tais como o crescimento e o envelhecimento da população, a escassez de recursos naturais e os impactos ambientais, as maiores taxas de urbanização, as novas formas de consumo, dentre outros, precisam ser considerados nesse plano. 42 REVISTA RI Junho Julho 2013

Outro assunto discutido com relação à implantação do Relatório Integrado é a sua regulamentação e obrigatoriedade. Esta questão deve ainda ser muito debatida, pois, até o presente momento, há correntes que acreditam na obrigatoriedade, na legislação e até mesmo na bonificação pela prática de relatos, enquanto outras acreditam que o mercado será o propulsor da prática, recompensando naturalmente as Organizações que saírem na frente e publicarem conteúdos relevantes. Durante a Conferência Global da GRI, foram apontadas algumas práticas dos diferentes países participantes. Dentre eles, o Brasil teve uma posição de destaque e foi elogiado pela criação do projeto Relate ou Explique, da BM&FBovespa, que consiste em uma recomendação da Bolsa de Valores para as Organizações relatarem dentro de qualquer modalidade de Relatório (seja de Sustentabilidade ou Relatório Integrado) ou, se não estiverem preparadas para tal, expliquem o porquê do não relato. Na Europa, a obrigatoriedade ou não do relato integrado também tem gerado discussão. Nelson Carvalho lembra que há uma corrente em Londres que advoga a favor da obrigatoriedade por meio de imposição de órgãos reguladores, de Bancos Centrais, ou mesmo com mudança de leis. Eu pertenço a uma ala mais cética quanto à obrigatoriedade: o tomador de decisão na empresa é um ser racional, profit oriented e, se não enxergar um claro saldo positivo na relação custo x benefício em ter que fazer o relato integrado, não irá se esmerar. Na opinião de Carvalho, desenvolver o relato sem enxergar benefícios apenas pela obrigatoriedade irá gerar publicações com baixa relevância, por isso, ele acredita que haja caminhos mais eficazes para a implementação dessa prática do que torná-la mandatória por força legal. O brasileiro membro do IIRC afirma ainda que se bancos, credores e investidores do mercado de capitais utilizarem o Relato Integrado como critério de decisão para investimentos, o empresário fará um excelente Relato Integrado mesmo sem ser obrigatório. Na mesma linha de Carvalho, Sônia Favaretto também acredita na criação de demanda pelo mercado e aponta a recomendação como um caminho facilitador para a adoção de novas práticas. Sônia acredita que o papel da bolsa é apoiar as Organizações para que elas consigam desenvolver o Relatório Integrado, formando e fazendo o mercado evoluir. Assim, o próprio mercado controla as Organizações de forma natural, visto que os principais públicos que analisam os relatórios (investidores, analistas, imprensa) acabam exigindo as publicações do mercado. Comprovamos isso com o ISE e com os resultados do Relate ou Explique, que apresentou aumento de 65% no número de empresas que autorizaram a publicação das respostas do porquê não publicam um Relatório. Esta é a forma madura de criar o mercado, cada um com a sua velocidade, o seu ritmo, mas não totalmente solto. Assim, as ações são mais consistentes. Favaretto ainda complementa: a regulação acelera, tem o seu papel, mas não carrega essa maturidade, essa consistência. Outra questão inerente ao desempenho do Relatório Integrado e à Sustentabilidade Corporativa como parte da estratégia das empresas é o envolvimento da alta gestão das Organizações. Nesse ponto, Nelson Carvalho é categórico: na minha percepção, ou o Relato Integrado nasce a partir de uma convicção e determinação do mais alto nível decisório da empresa, ou não nasce. De acordo com ele, o reporte integrado só terá futuro se o Presidente do Conselho e/ou o Presidente/CEO da Organização se convencer de que ele agrega valor, reduz custo de dívidas, melhora preço de ações e permite passar aos stakeholders a percepção de que determinada empresa tem um próspero futuro pela frente. A Diretora de Sustentabilidade da BM&FBovespa vê essa questão com otimismo: há 4 ou 5 anos atrás, ter uma questão como essa na pauta da alta gestão de uma empresa era um sonho. Hoje o cenário já é bem diferente. Na opinião de Favaretto, o envolvimento da alta gestão é muito importante, porém ainda que não seja possível contar com pleno apoio do top management, é possível realizar o relato. Não é tão rápido, não é tão grande, mas é viável, é possível, disse ela. Na Natura, companhia de vanguarda nas questões de sustentabilidade, há alguns anos, havia menos integração de áreas distintas, como finanças e sustentabilidade. No entanto, felizmente, as fronteiras têm sido transpostas. Segundo Roberto Pedote, Vice- -Presidente de Finanças, Relações com Investidores e Jurídico da Natura, o plano de sustentabilidade é tão importante quanto o balanço financeiro, e a integração entre os temas socioambientais e financeiros já faz parte da gestão em todas as áreas da companhia. Quanto mais evoluímos em nossas práticas socioambientais, mais percebemos as novidades de inovação e os desafios que temos pela frente a fim de transformá-los em geradores de valor para os negócios. Por exemplo, em 2012, ao mesmo tempo em que a Natura cresceu 13,5%, investimos no Núcleo de Inovação Natura Amazônia, em Manaus, de forma a avançar no nosso compromisso de atuar como um dos agentes indutores do potencial de desenvolvimento da sociobiodiversidade pan-amazônica. De acordo com Pedote, essa realidade mostra que é possível inovar com sustentabilidade e garantir a lucratividade a longo prazo. Os responsáveis envolvidos no processo de relato devem desafiar a segmentação e hierarquização entre áreas e projetos, já que com uma gestão integrada TBL - Triple Bottom Line pessoas (people), planeta (planet) e lucro (profit) as fronteiras tendem a se diluir, para se criar cada vez mais valor nos negócios e ampliar o conceito de valor de mercado atual, completou ele. 44 REVISTA RI Junho Julho 2013

Quanto mais evoluímos em nossas práticas socioambientais, mais percebemos as novidades de inovação e os desafios que temos pela frente. Para Alessandra Polastrini, ainda temos muito para avançar neste aspecto, pois o interesse dos investidores e analistas sobre sustentabilidade ainda é limitado e foca seus questionamentos na geração de caixa e na distribuição de dividendos, com visão de curtíssimo prazo. ROBERTO PEDOTE, Natura Geraldo Soares, Superintendente de Relações com Investidores do Itaú-Unibanco, acredita que o desenvolvimento do Relato Integrado seja uma consequência da maturidade do mercado de capitais mundial, na qual as empresas devem se antecipar e atender a essas demandas. É responsabilidade de toda empresa de capital aberto prover informações ao mercado de forma clara, simples, objetiva e transparente, gerando valor aos seus acionistas, colocou o executivo. Hoje, por mais que a maioria dos analistas ainda sejam estimulados ao curto prazismo, a questão da sustentabilidade deve ser tratada como de longo prazo. Não é novidade que os ativos intangíveis, como reputação, marca e inovação, já representam percentuais importantes do valor das Organizações e, por essa razão, parte dos investidores já estão mais atentos a essas mudanças de comportamento. Há 20 anos, defendia-se sustentabilidade por amor à causa; hoje, defende-se por inteligência, quando se vê que estamos acabando com o planeta, não deixando nada útil para as próximas gerações; daqui a 20 anos vamos aderir à sustentabilidade por dor, afirmou Nelson Carvalho. Para Roberto Pedote, a melhor maneira de gerar valor para acionistas e sociedade no curto, médio e longo prazos é comunicar em apenas um documento os resultados financeiros, sociais e ambientais, de maneira estruturada e transparente. O VP da Natura acredita que por ser o principal instrumento de comunicação de desempenho da empresa, (o Relatório Integrado) estimula o diálogo qualificado com nossa rede de relacionamentos, gera mais valor para a sociedade, garante transparência e demonstra a boa governança corporativa. Além disso, esse instrumento pretende reequilibrar as métricas de desempenho e evitar uma ênfase excessiva no desempenho financeiro de curto prazo. Com essa afirmação, o executivo concorda com Nelson Carvalho, afirmando que a análise de curto prazo deve ser cada vez menos importante. O bloco acadêmico presente na Conferência da GRI questionou o primeiro rascunho do <IR> do IIRC escrito mediante um programa piloto com 95 empresas por ser muito focado no investidor, no mercado de capitais e não ter o real foco na totalidade dos stakeholders. Representantes do IIRC afirmaram que essa discussão é muito positiva para que seja possível agregar os diferentes públicos e trabalhar o <IR> com o objetivo de construir um conteúdo de maneira colaborativa. O fato é que a o formato de relatos integrados já começa a valer para os relatórios publicados em 2013, e quem sair na frente colherá os frutos de uma ferramenta de gestão que está sendo moldada globalmente. A expectativa é que o sucesso da versão 1.0 seja mais contundente do que os protótipos que vêm desde 2009. Vale dizer que a proposta do Relatório Integrado não é substituir as diretrizes da GRI, muito pelo contrário, quem esteve presente na Conferência em Amsterdã pôde ver que as novas diretrizes G4 da Junho Julho 2013 REVISTA RI 45

também ter foco nos temas materiais, ou seja, temas da nossa matriz de materialidade, que também vão ao encontro das novas diretrizes G4 da GRI. Diante deste depoimento, podemos perceber que a Companhia se empenha na adoção das novas diretrizes de maneira estratégica, transformando realmente seus processos de gestão. A Coordenadora do IBRI, Alessandra Polastrini, aponta que o Instituto tem o papel de fomentar debates sobre o tema do Relatório Integrado, a fim de disseminar o conhecimento necessário para que as empresas possam fazer suas próprias avaliações. Acreditamos que a conclusão da audiência pública e a adoção da estrutura conceitual proposta pelo IIRC pelas empresas pioneiras trarão maiores subsídios para o engajamento de novas organizações. Uma novidade que apresenta mais um passo para o Relatório Integrado foi divulgada neste mês de junho de 2013: a GRI e o Carbon Disclosure Project (CDP) - ONG internacional que atua junto a investidores e empresas de todo o mundo para prevenir as mudanças climáticas e proteger os recursos naturais por meio da alocação eficiente de capital - assinaram um memorando de entendimento que prevê uma parceria visando o alinhamento dos seus parâmetros de reporte. ALESSANDRA POLASTRINI, IBRI GRI foram concebidas juntamente com o IIRC e que há um grande esforço das duas partes para facilitar a integração dos relatos. A Natura fez parte do piloto da G4, como uma das empresas do G4 Consortium. Segundo Roberto Pedote, a companhia buscou um princípio de alinhamento das diretrizes G4 da GRI e do IIRC já em seus relatos de 2012. Fazer parte do projeto piloto, com certeza nos permitiu começar a construir um relatório verdadeiramente integrado. Tanto que o Relatório Anual 2012, lançado em abril deste ano, é a 13ª edição da publicação na versão G3.1 da GRI e a primeira alinhada às diretrizes do IIRC. Nesta 13ª edição, antecipamos algumas diretrizes do IIRC, como visão de futuro e foco estratégico em busca de um relatório integrado TBL; maior detalhamento em governança e, em especial, remuneração dos executivos, já que incluímos metas socioambientais na PLR dos colaboradores e executivos. Também fizemos a reformulação do site do relatório, que tem recursos extras à edição impressa, tais como vídeos e links para outros documentos e publicações. Esta ação permite comunicação contínua com nossos públicos, já que antes tínhamos PDF navegável apenas da versão GRI online. Além disso, possibilita O século XXI chegou e os relatórios que as Organizações publicam continuam seguindo a lógica do século passado, apresentando os resultados financeiros sem relação com métricas socioambientais e de governança corporativa, o que diminui a importância do relato para os analistas e investidores. No entanto, ao ler os relatos de Organizações que se dedicam nas publicações que seguem as diretrizes do GRI, é possível perceber que essas empresas já entenderam a importância destas dimensões e têm repensado o modelo de seus negócios e gestão, a fim de garantir resultados realmente sustentáveis. Cada vez mais, para criarem valor sustentável no tempo e para demonstrar como pretendem continuar existindo nos próximos anos, as Organizações têm contado com diretrizes cada vez mais eficientes. Agora, elas passam a contar com uma nova ferramenta para dar este novo passo: o Relatório Integrado. RI ISABELA DOMENICI é responsável por conteúdos editoriais e gestão de Sustentabilidade na Ricca RI e esteve na Conferência Global do GRI, em Amsterdã. isabela.domenici@riccari.com.br Nota: Colaboraram nesta matéria Mariana Leite e Bruno Bacchi, responsáveis por conteúdos e gestão de projetos na Ricca RI. 46 REVISTA RI Junho Julho 2013