O ESTUDO DE CASO NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES: POTENCIALIDADES NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA



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O ESTUDO DE CASO NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES: POTENCIALIDADES NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA Resumo Maria Aparecida Alves Sobreira Carvalho 1 - IFPB Valmiza da Costa Rodrigues 2 - IFPB Grupo de Trabalho - Diversidade e Inclusão Agência Financiadora: não contou com financiamento Esta investigação tem como objeto analisar a utilização do estudo de caso na formação de professores na perspectiva inclusiva. Focamos na compreensão do mesmo como ferramenta de qualificação docente na atenção aos alunos com deficiência, na busca de confrontação de uma lógica produtivista da educação no modelo liberal, tão presente no fazer docente. Na metodologia realizamos uma revisão da literatura baseada em estudos empíricos nacionais. Estamos em processo de interpretação dos resultados utilizando a hermenêutica crítica na busca de apreensão do significado do fenômeno sob estudo, a partir da ótica dos atores envolvidos, estabelecendo uma aproximação com a subjetividade, considerando-a em relação à materialidade a que se vincula. As conclusões parciais foram organizadas por meio de dois temas que surgiram da rede interpretativa: as concepções de estudo de caso e o estudo de caso na formação de professores na perspectiva inclusiva. Para Yin (2001) o estudo de caso pode construir, alargar ou desafiar teorias, superando o enquadramento teórico, investigando um fenômeno do presente em seu contexto natural, utilizando múltiplas fontes de evidência. Para André (1984,2005) o estudo de caso não é um pacote de técnica, mas um modo de estudar o fenômeno, tendo como característica a busca pela descoberta; a abertura aos dados da experiência estudada; a interpretação do contexto; a apresentação de diferentes pontos de vista numa situação social, permitindo a emergência de pontos discordantes. Na formação de professores reconhecemos que o estudo de caso é uma ferramenta a ser investigada em maior profundidade por ter um caráter grupal, abrir-se à a experimentação de novos modelos de atuação em sala de aula, oportunizando aprendizagens que fortaleçam a autonomia dos alunos com deficiência, resgatando o papel do professor como mediador dos processos de aprendizagem. Palavras-chave: Educação inclusiva. Formação de professores. Estudo de caso. 1 Psicóloga. Mestre em Psicologia pela Universidade Federal do Ceará- UFC. Professora do Instituto Federal da Paraíba. Coordenadora do Grupo de Pesquisa do IFPB- Campus Sousa: Educação, Inclusão e Fortalecimento. E- mail: apsobreira1@hotmail.com. 2 Pedagoga. Especialista em Psicopedagogia. Professora do Instituto Federal da Paraíba. E-mail: valmiza.durand@gmail.com ISSN 2176-1396

9412 Introdução Esta investigação tem como objeto analisar a utilização do estudo de caso na formação de professores na perspectiva inclusiva por meio de uma revisão da literatura baseada em estudos empíricos nacionais. Este tema ganha importância quando a educação atual tem como desafio a garantia do acesso e permanência a todas as pessoas, onde nenhum aluno é excluído. Temos a Constituição de 1988 (BRASIL, 1988) como fundamento de validade para a defesa da inclusão preconizada nos princípios da dignidade da pessoa humana e da cidadania, no princípio da não discriminação e da solidariedade. A educação tem como objetivo, portanto, o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho. Nesta pesquisa buscamos aportes teóricos para uma formação de professores que supere a visão tecnicista de um modelo médico-pedagógico que segundo Borowsky (2010) e Michels (2011), compõe o pensamento hegemônico, não somente na Educação Especial, mas na educação de maneira geral, que explica o insucesso escolar por uma base biológica ou problemas psicológicos, enfatizando questões individuais sem dimensionar o contexto sóciohistórico. De forma mais específica focamos na compreensão do estudo de caso como ferramenta de qualificação docente na atenção aos alunos com deficiência, na busca de confrontação de uma lógica produtivista da educação no modelo liberal, tão presente no fazer docente. Metodologia A necessidade de investigar este tema nasce da realidade do campus Sousa, desde a criação do Núcleo de Atendimento às Pessoas com Necessidades Especiais (NAPNE) instituído pela Portaria nº 903, de 14.07.2010 (IFPB, 2010). No acompanhamento de alunos com deficiência nos cursos de Medicina Veterinária, Licenciatura em Educação Física, Licenciatura em Química e Licenciatura em Letras observamos o estranhamento e angústia em muitos professores e servidores, confrontando as fragilidades em seus processos de formação, os preconceitos históricos da relação com o diferente e o medo do novo. Diante da problematização da realidade faz-se necessário a definição de marcos conceituais para o desenvolvimento de estratégias metodológicas que tenham uma organização flexível e funcional, por isto a escolha do estudo de caso. Para o desenvolvimento do estudo de caso como estratégia de formação docente no IFPB- Campus Sousa, propusemos

9413 nesta investigação uma revisão da literatura baseada em estudos empíricos nacionais, na base de dados das revistas Qualis CAPES das áreas de Educação enquadrados em estratos indicativos da qualidade- A1; A2; B1 e B2 por indicarem maior qualidade dos veículos de divulgação, ou seja dos periódicos científicos que apresentem as palavras chave: formação de professores x educação inclusiva, formação de professores x educação especial. Apresentaremos neste artigo as conclusões iniciais por meio de dois temas que surgiram da rede interpretativa: as concepções de estudo de caso e o estudo de caso na formação de professores na perspectiva inclusiva. Utilizamos para esta definição a compreensão proporcionada pela hermenêutica crítica. Bosi e Mercado (2007) afirmam que a perspectiva crítico interpretativa visa à apreensão do significado do fenômeno sob estudo, a partir da ótica dos atores envolvidos, estabelecendo uma aproximação com a subjetividade, considerando-a em relação à materialidade a que se vincula. As concepções de estudo de caso Nos artigos analisados que apresentam a realização de estudo de caso, dois autores foram destacados por ser referência no que se refere ao tema: Robert Stake (1995), mais afinado com o construcionismo social, e Robert Yin (1984, 2001), com o pós-positivismo. Iniciamos com um artigo histórico da pesquisadora Marli André (1984) que discute o potencial do estudo de caso para educação, indicando sua importância a partir da Conferencia ocorrida em Cambridge, na Inglaterra em 1975. O estudo de caso é definido como uma família de métodos de pesquisa que tem como foco uma instância que pode ser um evento, uma pessoa, um grupo, uma escola, uma instituição ou programa. Alves-Mazzotti (2006) traduzindo Yin (1984) define o estudo de caso como uma pesquisa empírica que investiga um fenômeno do presente em seu contexto natural, utilizando múltiplas fontes de evidência. Este autor organiza as características da escolha de um fenômeno para ser estudado como um caso de acordo com Yin (1984): a) O caso deve ser completo. Três indicadores de completude são apontados: as fronteiras do caso, isto é, a distinção entre o fenômeno que está sendo estudado e seu contexto, são objeto de atenção; a narrativa demonstra, de modo convincente, que houve "um esforço exaustivo" (YIN, 1984, p.142) para coletar as evidências relevantes; e o estudo é planejado de tal maneira que sua finalização não é determinada por limites de tempo ou de recursos.

9414 b) O caso deve considerar perspectivas ou hipóteses alternativas. O pesquisador deve buscar explicações ou perspectivas rivais daquelas adotadas no estudo e examinar as evidências de acordo com essas perspectivas. c) As evidências devem ser suficientemente poderosas para sustentar as conclusões e ganhar a confiança do leitor quanto à seriedade do trabalho realizado. O relato do estudo deve ser atraente. Isso significa que deve ser escrito de maneira clara e instigante, "seduzindo" o leitor, de modo a que este permaneça "ligado" na narrativa até o final. Para André (1984) o estudo de caso não é um pacote de técnica, mas um modo de estudar o fenômeno, tendo como característica a busca pela descoberta; a abertura aos dados da experiência estudada; a interpretação do contexto; a apresentação de diferentes pontos de vista numa situação social, permitindo a emergência de pontos discordantes. A autora acrescenta que linguagem utilizada no estudo de caso deve buscar retratar a realidade estudada de forma completa e profunda, sendo capaz de utilizar nos relatórios acadêmicos uma linguagem clara e acessível, valorizando o conhecimento experiencial e o papel do leitor na generalização desse conhecimento, capaz de facilitar a compreensão das relações históricas do caso. Duarte (2008) usando como base os estudos de Yin e Stake afirma que o estudo de caso permite uma visão em profundidade de processos educacionais, na sua complexidade contextual, podendo constituir um interessante modo de pesquisa para a prática docente, incluindo investigação de cada professor nas suas aulas. Este autor afirma que a vantagem do estudo de caso, usando a compreensão de Yin de theory development é a possibilidade de se construir, alargar ou desafiar teorias, superando o enquadramento teórico, pois o estudo aprofundado da realidade pode questionar a teoria de apoio. Neste sentido, o estudo de caso nasce da observação atenta da realidade experienciada, de uma pergunta norteadora que deve guiar a investigação. Duarte (2008) nos lembra que o pesquisador deve atentar para a importância da seleção do caso como o ponto mais crítico da investigação, devendo ser capaz de uma generalização analítica, escolhendo um caso extremo ou único, um caso típico, um caso crítico ou longitudinal. Configura-se consenso entre os autores (DUARTE, 2008; ANDRÉ, 1984; ALVES- MAZZOTTI, 2006) a necessidade da utilização de uma variedade de fontes de informação no estudo de caso capaz de revelar experiências vicárias e generalizações naturalísticas. Por meio de uma narrativa densa e viva, o pesquisador pode oferecer oportunidade para a experiência vicária, isto é, pode levar os leitores a associarem o que foi observado naquele caso a

9415 acontecimentos vividos por eles próprios em outros contextos. Esse processo corresponde ao que Stake denominou "generalização naturalística", conceito introduzido em artigo publicado em 1978, como uma alternativa à generalização baseada em amostras consideradas representativas de uma população (ALVES-MAZZOTTI, 2006). A escolha do estudo de caso no foco da pesquisa traz algumas limitações que André (1984) destaca como a falta de tempo do pesquisador e as pressões das agencias financiadoras que dificulta o exame aprofundado e sistemático de uma realidade que o estudo de caso requer. É necessário que o pesquisador apresente as diversas interpretações e discordâncias da realidade estudada, pois um estudo condensado compromete a confiabilidade dos dados, sendo necessário corrigir interpretações duvidosas. Para Duarte (2008) uma das limitações do estudo de caso é a resistência de pesquisadores que estão presos a um conceito de generalização baseado exclusivamente em critérios estatísticos, não reconhecendo a importância desta modalidade de investigação. Alves-Mazzotti (2006) faz uma critica importante ao uso indiscriminado do estudo de caso quando pesquisadores utilizam a denominação estudo de caso sem situar seu estudo na discussão acadêmica mais ampla, reduzindo a questão estudada ao recorte de sua própria pesquisa, restringindo a possibilidade de aplicação de suas conclusões a outros contextos, pouco contribuindo para o avanço do conhecimento e a construção de teorias. Desta forma, estes estudos ficam à margem do debate acadêmico. Ele dá como exemplo estudos que são desenvolvidos em apenas uma unidade (uma escola, uma turma) ou incluem um número muito reduzido de sujeitos onde são aplicados um questionário ou entrevistas, sem explicitar por que aquela escola e não outra, deixando a impressão de que poderia ser qualquer uma. Ou seja, a escola ou a turma escolhida não é um "caso", não apresenta qualquer interesse em si, é apenas um local disponível para a coleta de dados. Em consequência, a interpretação desses dados é superficial, sem aprofundar o conhecimento do contexto e sua história. Para avaliar a coerência na utilização do estudo de caso na pesquisa qualitativa Alves- Mazzotti (2006), destaca a definição de uma unidade específica, situada em seu contexto, selecionada segundo critérios predeterminados e explícitos, utilizando múltiplas fontes de dados, que se propõe a oferecer uma visão holística do fenômeno estudado. Esta escolha e interpretação dos dados, bem como as formas de generalização propostas, variam segundo a vinculação paradigmática do pesquisador, a qual é de sua livre escolha e deve ser respeitada.

9416 A formação de professores na perspectiva inclusiva A formação na perspectiva da educação inclusiva deve ser continuada, partindo da realidade dos professores em um espaço que considere suas experiências pedagógicas, suas dificuldades e possibilidades de ação, onde a escola também esteja aberta a novas experimentações. Uma formação que favoreça o desenvolvimento de estratégias que melhorem os processos de ensino e de aprendizagem, garantindo a inclusão de todos na educação. Para André (2005) o estudo de caso pode ser utilizado quando o interesse é investigar fenômenos educacionais no contexto natural em que ocorrem, sendo um instrumento valioso por permitir ao pesquisador descrever ações e comportamentos, captar significados, analisar interações, compreender e interpretar linguagens, estudar representações, sem desvinculá-los do contexto e das circunstâncias especiais em que se manifestam. Desta forma, permitem compreender não só como surgem e se desenvolvem esses fenômenos, mas também como evoluem num dado período de tempo. O estudo de caso como recurso metodológico pode ser uma ferramenta importante na formação de professores por superar as macro formações que não valorizam a experiência do professor, suas iniciativas e capacidade criativa. Precisamos considerar os elementos sociais, culturais e epistemológicos para a compreensão de como se expressa o desenvolvimento da aprendizagem das pessoas com deficiência em um currículo vivo, na busca de compreender também os diferentes professores em suas diferenças e modos de expressão. A formação de professores deve reconhecer os saberes docentes, partindo de sua realidade em sala de aula, oportunizando o domínio de métodos, técnicas e recursos de ensino, capazes de atender às mais variadas necessidades educacionais dos alunos. Deve ser construída uma nova concepção sobre o ensino e sobre o desenvolvimento e aprendizagem, capaz de acolher as diferenças apresentadas pelos alunos. Tal formação implica a mudança de visão e convicção dos professores sobre a deficiência, frequentemente fundados em estereótipos e preconceitos (OMOTE et al., 2005). Costas e Honnef (2012) alertam que a formação de professores capaz de trabalhar o acolhimento às diferenças não pode ser imposta por um poder institucional, pois os próprios professores precisam perceber a importância e necessidade deste processo, estando predispostos e motivados a fazê-lo. A educação inclusiva e a educação especial nesta perspectiva aludem ao fato de que a diversidade do contexto escolar seja percebida como algo

9417 que oportuniza inovação de situações de aprendizagem. Para Omote (2006) na formação de professores é essencial que lhes sejam oferecidas oportunidades não só para o domínio de métodos, técnicas e recursos de ensino, capazes de atender às mais variadas necessidades educacionais do seu alunato, como também para a construção de uma concepção sobre o ensino e sobre o desenvolvimento e aprendizagem de seus alunos, uma concepção genuinamente acolhedora das diferenças apresentadas pelos alunos. Tal formação implica a revisão de seus pontos de vista e convicções acerca dessas questões, frequentemente fundados em estereótipos e preconceitos. Conclusão parcial O estudo de caso é uma ferramenta a ser investigada em maior profundidade por ter um caráter grupal, oportunizar a experimentação de novos modelos de atuação em sala de aula, oportunizando aprendizagens que possam fortalecer a autonomia dos alunos com deficiência, resgatando o papel do professor como mediador dos processos de aprendizagem. É uma possibilidade de superar o espontaneísmo que caracteriza muitas intervenções docentes na educação especial em uma formação que muitas vezes esvazia o trabalho do professor na sala de aula regular pela dificuldade de lidar com as diferenças. Lembramos que o professor não é o único responsável pelo processo de inclusão dos alunos com deficiência na escola regular, mas é um ator importante nesta rede de atenção, assumindo sua dimensão de sujeito capaz de opor resistência ao domínio da racionalidade que tende a transformar a educação em instrumento da produção e do consumo. Superando a visão ingênua das diferenças em sala de aula, Arroyo (2010) afirma que existe uma produção histórica que caracteriza os diferentes em desiguais que exige a constituição de políticas de reconhecimento e não de compaixão, concebendo a exclusão como arena de luta. Acreditamos que a utilização do Estudo de Caso como instrumento de formação poderá repercutir em mudanças nos professores que poderão utilizar seus novos conhecimentos, intuições e percepções para melhorar sua prática docente com todos os alunos. REFERÊNCIAS ALVES-MAZZOTTI, A. J. Usos e abusos dos estudos de caso. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 36, n. 129, p. 637-651, dez. 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s0100-15742006000300007&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 6 jan. 2015.

9418 ANDRÉ, M. E. D. A. Estudo de caso: seu potencial em educação. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 49, p. 51-54, 1984. Disponível em: <http://www.fcc.org.br/pesquisa/publicacoes/cp/arquivos/528.pdf>. Acesso: 16 jan. 2015.. Estudos de caso revelam efeitos socio-pedagógicos de um programa de formação de professores. Rev. Lusófona de Educação, Lisboa, n. 6, p. 93-115, 2005. Disponível em <http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s1645-72502005000200008&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 6 jan. 2015. ARROYO, M. G. Políticas educacionais e desigualdades: a procura de novos significados. Educação e Sociedade, Campinas, v. 31, n. 113, p. 1381-1416, out./dez. 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/es/v31n113/17>. Acesso: 20 jan. 2015. BOROWSKY, F. Fundamentos teóricos do curso de aperfeiçoamento de professores para o atendimento educacional especializado: novos referenciais? 2010. 140 f. Dissertação (Mestrado em Educação) Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2010. BOSI, M. L. M.; MERCADO, F. J. Pesquisa qualitativa de serviços de saúde. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 2007. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da Republica Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1988. COSTAS, F. A. T.; HONNEF, C. Formação para a educação especial na perspectiva inclusiva: o papel das experiências pedagógicas docentes nesse processo. Revista Reflexão e Ação, Santa Cruz do Sul, v. 20, n. 1, p. 111-124, jan./jun. 2012. Disponível em: <https://online.unisc.br/seer/index.php/reflex/article/viewfile/2359/2046>. Acesso em: 16 jan. 2015. DUARTE, J. B. Estudos de caso em educação: investigação em profundidade com recursos reduzidos e outro modo de generalização. Revista Lusófona de Educação, Lisboa, n. 11, p. 113-132, 2008. Disponível em: <http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=34911875008>. Acesso: 5 jan. 2015. INSTITUTO FEDERAL DA PARAÍBA (IFPB). Portaria n. 903, de 14.07.2010. Sousa, 2010. MICHELS, M. H. O que há de novo na formação de professores para a educação especial? Revista Educação Especial, Santa Maria, v. 24, n. 40, p. 219-232, 2011. Disponível: <http://cascavel.ufsm.br/revistas/ojs- 2.2.2/index.php/educacaoespecial/article/viewFile/2668/2440>. Acesso em: 7 jan. 2015. OMOTE, S. Inclusão e questão das diferenças em educação. Perspectiva, Florianópolis, v. 24, n. esp., p. 251-272, jul./dez. 2006. Disponível em: <https://periodicos.ufsc.br/index.php/perspectiva/article/view/10589>. Acesso em: 6 fev. 2015.

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