NOTA TÉCNICA UCCI Nº. 03/2016 Data: 31 de Março de 2016. EMENTA: Orientação sobre servidores municipais que exercem mandato eletivo de Vereador concomitante a cargo público efetivo no Poder Executivo. As ausências ao serviço público no Poder Executivo para participar de atividades no interesse do Poder Legislativo devem ser consideradas faltas injustificadas, acarretando o desconto remuneratório e demais reflexos previstos no Estatuto e Plano de Carreira. Precedentes Jurisprudenciais oriundos do TCE/RS e TJRS. Emissão de ALERTA ao atual gestor. A presente Nota Técnica tem por escopo esclarecer e orientar o setor de Recursos Humanos e ao gestor do Poder Executivo, quanto aos procedimentos administrativos a serem adotados no tocante às ausências de servidores públicos ao serviço no Poder Executivo, quanto se tratar de servidor que exerça concomitantemente o cargo eletivo de Vereador no Poder Legislativo, para participar de atividades no interesse do legislativo. Assim, a competência desta Unidade Central de Controle Interno em emitir a presente Nota Técnica está contida no art. 12, I, II, V e VI do Decreto Municipal nº. 1.585/2014 de 16 de outubro de 2014. Como substrato fático e conceitual da presente Nota Técnica, foi usada as Informações Técnicas emitidas pela DPM Delegações de Prefeituras Municipais empresa de Consultoria Técnica e Jurídica prestadora de serviços ao Poder Executivo Municipal e, jurisprudências do Tribunal de Contas do Estado TCE/RS e Tribunal de Justiças - TJRS. 1. A matéria envolve, exclusivamente, servidores municipais do Poder Executivo com exercício concomitante de cargo eletivo de Vereador junto ao Legislativo, nas hipóteses de falta ao trabalho para participar de atividades de interesse exclusivo do legislativo, tais como: cursos, seminários, treinamentos, agendas em Normativo de reestruturação: Lei nº. 1.511/2014 e Decreto nº. 1.585/2014 1
órgãos Estaduais e Federais, participação em comissões da câmara em horário de expediente, e demais afastamentos. 2. A princípio, a matéria está regulada no art. 38, III, da Constituição Federal, no qual se estabelece a possibilidade de acumulação de cargo público com o exercício de mandato eletivo de vereador, desde que observada a compatibilidade de horários, nos seguintes termos: Art. 38. Ao servidor público da administração direta, autárquica e fundacional, no exercício de mandato eletivo, aplicam-se as seguintes disposições: (...) II investido no mandato de Prefeito, será afastado do cargo, emprego ou função, sendo-lhe facultado optar pela sua remuneração; III investido no mandato de Vereador, havendo compatibilidade de horários, perceberá as vantagens de seu cargo, emprego ou função, sem prejuízo da remuneração do cargo eletivo, e, não havendo compatibilidade, será aplicada a norma do inciso anterior; (grifei) Da análise dos dispositivos constitucionais acima transcritos, pode-se concluir, sob a visão da doutrinadora Medauar 1, que ao ser investido no mandato de vereador surgirá para o servidor duas diferentes situações: a primeira, em que há compatibilidade de horários entre as sessões da Câmara Municipal e a jornada de servidor, caso em que exercerá os dois vínculos, recebendo pagamento por ambos ; e uma segunda, em que se verifica a ausência de compatibilidade de horários, acarretando o afastamento do cargo, função ou emprego, com faculdade de optar pela sua remuneração. Desta forma, se preenchido o requisito constitucional da compatibilidade de horários, portanto, mantendo-se assim inalterada sua remuneração, o servidor possui a prerrogativa de exercer suas funções regularmente, sem prejuízos da carga horária estabelecida por lei, limitando o exercício da vereança ao tempo que estiver fora do serviço público municipal. Caso contrário, poderá, inclusive, ser 1 MEDAUAR, Odete. Direito Administrativo Moderno. 9. ED. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 278. Normativo de reestruturação: Lei nº. 1.511/2014 e Decreto nº. 1.585/2014 2
responsabilizado disciplinarmente, afastando-se qualquer exceção pelo fato de ser vereador. 3. Entretanto, cumpre observar que o exercício da vereança exige do servidor mandatário a participação em cursos, seminários, conferências, audiências e outras atividades de aperfeiçoamento vinculadas ao Poder Legislativo que demandem em viagens a outros municípios, inclusive à capital do Estado ou á capital federal. Contudo, esta necessidade não é suficiente para justificar sua ausência no desempenho do cargo efetivo do qual não está legalmente afastado. Isso tudo decorre da obrigação no cumprimento dos deveres inerentes ao provimento do cargo público de carreira, que deve ser com zelo e dedicação funcional de suas atribuições, além da assiduidade e pontualidade no dia-a-dia do labor. Por conseguinte, o desempenho de atividades vinculadas à vereança dentro do horário normal de expediente da repartição pode ser considerado desempenho de atividade particular no serviço público, e assim, constituindo-se em situações sujeitas às sanções disciplinares constantes no Regime Jurídico (Estatuto dos Servidores). Diante disso, orienta-se e recomenda-se que cabe a Secretaria Municipal de Administração órgão: Recursos Humanos, apurar as ausências decorrentes do exercício da vereança e descontá-las da remuneração do cargo efetivo, considerandoas como faltas injustificadas, inclusive com reflexos no dia de repouso semanal remunerado do servidor e demais reflexos estatutários cabíveis (férias, promoção por classe, licenças, prêmio assiduidade, etc). 4. Nessa linha, a Procuradoria Geral do Estado PGE, por meio do Parecer nº. 9909/93, há muito tempo já se manifestou que a ausência do servidor em seu horário de trabalho sem justificativa, reflete no descumprimento de seus deveres funcionais, dentre os quais destaca a efetividade, a assiduidade e a pontualidade, conforme transcrito: Exercício acumulado de cargo público municipal de mandato eletivo. Impossibilidade por ausente a compatibilidade de horários se o Edil deve afastar-se durante o horário de expediente para comparecer a reuniões da Comissão que integra, no Poder Legislativo. (...) Essa autorização constitucional pressupõe a possibilidade de exercício Normativo de reestruturação: Lei nº. 1.511/2014 e Decreto nº. 1.585/2014 3
pleno de uma outra posição, com observância rigorosa da efetividade, assiduidade e pontualidade. (PARECER nº. 8172). (...) 5. Por sua vez, o Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Sul, já se posicionou expressamente que os dias de ausência do servidor para atender atividades envolvendo seu mandato eletivo devem ser consideradas como faltas não justificadas, com os conseqüentes descontos remuneratórios e demais reflexos estatutários, nos seguintes termos 2 : No que tange ao apontado no item 1.4, referente a servidor, que também é Vereador, ter viajado pela Câmara e não ter esses mesmos dias descontados, no Poder Executivo, pela sua falta ao serviço, o Administrador alega que não houve o desconto porque o servidor possui banco de horas extras, motivo pelo qual seu afastamento na condição de edil foi suportado pela compensação. Não há como acolher os argumentos do gestor, tendo em vista que o documento encaminhado para comprovar o crédito de horas além de não comprovar que as horas foram efetivamente prestadas (...). Sendo assim, deve o Gestor assumir o ônus do ato que acarretou o débito impugnado ressarcindo ao erário o valor do prejuízo causado (...). Assim, considerando que a falhas, em sua globalidade, não são de molde a levar a rejeição das contas, entretanto evidenciam a prática de atos contrários às normas de administração financeira e orçamentária, acolho a manifestação do ilustre representante Ministerial, e voto: a) pela emissão de Parecer favorável á aprovação das contas dos senhores José Antônio Ruver e Elemar Dill, Chefes do Executivo Municipal de São Paulo das Missões no exercício de 2006, com fundamento no art. 5º da Resolução 414/92 deste Tribunal; b) pela glosa dos seguintes valores: R$: (...) relativo ao item 1.4, que trata do pagamento indevido à servidor, que também é vereador e este esteve viajando pela Câmara e não teve esse mesmo dias descontados. Ainda, em outro processo, a Corte de Contas (TCE/RS) inclusive entendeu pela responsabilização do Gestor ao abonar faltas de servidores, decorrentes 2 Processo nº. 3988-0200/07-9. Natureza: Prestação de Contas. Data da Sessão: 01-04-2008. Órgão julgador: Primeira Câmara. Relator: Conselheiro HELIO SAUL MILESKI. Disponível em: http//www.tce.rs.gov.br/. Normativo de reestruturação: Lei nº. 1.511/2014 e Decreto nº. 1.585/2014 4
do exercício da vereança, conforme se constata do excerto extraído do processo de prestação de contas nº. 003188-02.00/06-5: Item 1.6 (fls. 148 e 603/604) o servidor Jerri Adriano Paier, tendo em vista a compatibilidade de horários, exerce de forma cumulativa as funções de cargo efetivo e a função de Vereador Municipal. O servidor realizou duas viagens a Porto Alegre, com objetivo de participar de encontros de interesse do legislativo Municipal. Não foi efetuado o desconto dos dias não trabalhados pelo servidor. O exercício de vereança não pode interferir no desempenho do cargo efetivo, portanto, os dias não trabalhados para participar de curso de interesse do Legislativo não podem ser considerados como faltas justificadas. O valor de R$: 203,67, referentes aos dias não trabalhados, é passível de devolução aos cofres públicos; (...) 6. Corroborando com os entendimentos até aqui transcritos, o Tribunal de Justiça do Estado, em situação análoga, qualificou como ato de Improbidade Administrativa do Administrador permitir o afastamento do servidor do serviço público para participar de reuniões de comissões sem constar no registro do seu ponto a falta injustificada, bem como sem qualquer compensação de horário, no seguinte julgado: APELAÇÕES CÍVEIS E RECURSO ADESIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE ADMINSITRATIVA. MUNICÍPIO DE BAGÉ. LEI N. 8429/92. ART. 10 E 11. ACÚMULO DE ATIVIDADES DE SERVIDOR MUNICIPAL E VEREADXOR EM INCOMPATIBILIDADE DE HORÁRIO. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE COMPENSAÇÃO DE HORÁRIO. OMISSÃO DO PREFEITO DIANTE DO ATO ILEGAL. PROVA DA PRÁTICA DOS ATOS DE IMPROBIDADE. (...) Com efeito, as sessões da Comissão de Constituição e Justiça, integrada pelo demandado Ricardo Cougo, tinham início dentro do horário em que o servidor municipal e também vereador deveria estar exercendo atividade, a exemplo dos documentos das fls. 32, 78 e 196, o que comprova a ilegalidade praticada. Do exame dos cartões e livro ponto (fls. 200-7), verifica-se que o preenchimento era feito sem qualquer alteração de horário de horário, seja para maior ou para Normativo de reestruturação: Lei nº. 1.511/2014 e Decreto nº. 1.585/2014 5
menor, o que mostra a má-fé do servidor que lançava alguns horários, sem correspondência com a realidade, o que, por si só é um ilícito 3. 7. No que tange a possibilidade de descontar os dias de afastamento do servidor do serviço público por dias do período de férias, esta Unidade de Controle entende que tal expediente não é viável por várias razões. A primeira, por não existir na legislação municipal previsão legal nesse sentido. Segundo, por que a própria natureza da vantagem não o permite, uma vez que é destinada ao descanso do servidor. Por último, porque as férias devem ser gozada, de regra, de forma ininterrupta, e não em períodos fracionados de um dia, conforme previsto no art. 102 do Estatuto dos servidores. Não obstante, uma vez considerada a ausência como falta injustificada, haverá reflexo no repouso semanal remunerado (art. 61), nas férias (art. 98), no prêmio Assiduidade (art. 94, Único) todos do Estatuto Lei Municipal nº. 875/2005, e ainda sobre a promoção por Classe prevista no art. 16, Inc. III e IV do Plano de Carreira dos Servidores Lei 1.1502009. 8. Na hipótese de ocorrer o afastamento de servidor/vereador em horário normal de seu expediente no Poder Executivo, para realização de qualquer espécie de atividade no legislativo, abre-se duas alternativas de resolução: (i) se o servidor se afasta sem prévia autorização do Executivo, assume de forma unilateral as conseqüências da falta ao trabalho, que poderá ocasionar inclusive em responsabilização disciplinar nos termos do Estatuto; (ii) ou será impositivo o afastamento do servidor pela inexistência de compatibilidade de horários, a teor do que estabelece o art. 38, III, da Constituição Federal. 9. Diante do exposto, esta Unidade Central de Controle Interno conclui pela seguinte uniformização de procedimentos ao gestor público municipal: a) As ausências do servidor/vereador para cumprir compromissos do Poder Legislativo devem ser entendidas como faltas injustificadas, com todas as conseqüências estatutárias daí decorrentes, inclusive do ponto de vista disciplinar; b) Não é possível descontar as faltas do período de férias, porque a ausência do servidor para participar de compromissos ligados ao Poder Legislativo 3 Apelação Cível nº 70028370740, Quarta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Agathe Elsa Schmidt, julgado em 01/07/2009. Normativo de reestruturação: Lei nº. 1.511/2014 e Decreto nº. 1.585/2014 6
caracteriza-se como falta injustificada e, em razão disso, não há embasamento legal para descontar dos períodos de gozo de férias, o que, aliás, sequer seria razoável, diante da própria natureza da vantagem e da regra contida no art. 38, III, da Constituição Federal. c) Impossibilidade de instituição de sistema de compensação de horário prevista no art. 55 da lei Municipal nº. 875/2005, pela falta de interesse público, conveniência ou a necessidade do serviço, pois, assim, o interesse particular se sobrepõe ao público. Portanto, de regra, fica prejudicada a adoção desse sistema na hipótese do servidor que exerce concomitantemente o mandato de vereador e, em razão disso, necessita ausentar-se do trabalho. Limitado ao exposto, é o que se tem a esclarecer e orientar acerca do tema. À consideração da autoridade superior e demais interessados. Sala da Unidade Central de Controle Interno, em 31 de março de 2016. Marlon Valmir Voltz Coordenador da UCCI. GABINETE DO SENHOR PREFEITO MUNICIPAL 1. Aprovo a Nota Técnica UCCI nº. 03/2016 por seus próprios fundamentos. 2. Após manifestação da Assessoria Jurídica, providencie-se a divulgação e publicação. Roberto Bruinsma Prefeito Municipal. Normativo de reestruturação: Lei nº. 1.511/2014 e Decreto nº. 1.585/2014 7
SECRETARIA MUNICIPAL DE ADMINISTRAÇÃO 1. Ciente e de acordo. Adair dos Anjos Pires Secretário de Administração. 1. Ciente. ÓRGÃO DE RECURSOS HUMANOS Eneiva K. Rodrigues Responsável do RH. ÓRGÃO DE ASSESSORIA JURÍDICA 1. Ciente e de acordo. 2. Ratifico os esclarecimentos e orientações contidas na presente Nota Técnica UCCI nº. 03/2016, pelos seus próprios fundamentos jurídicos. Luana Rocha Porto Cavalheiro OAB/RS: 91.609 Normativo de reestruturação: Lei nº. 1.511/2014 e Decreto nº. 1.585/2014 8