Registro: 2016.0000264151 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos do Ação Rescisória nº 2104821-02.2015.8.26.0000, da Comarca de Taubaté, em que são autores PATRICIA KUNE PIRAGINE, MAURO SERGIO GEENEN PIRAGINE, ANANDA MELO PIRAGINE, MAGALLY BATISTUCCI KUNE e GABRIEL KUNE PIRAGINE, é réu UNIMED TAUBATÉ. ACORDAM, em 3ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de, proferir a seguinte decisão: "Julgaram improcedente a ação rescisória. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores BERETTA DA SILVEIRA (Presidente) e DONEGÁ MORANDINI., 19 de abril de 2016. ALEXANDRE MARCONDES RELATOR Assinatura Eletrônica
AÇÃO RESCISÓRIA Nº 2104821-02.2015.8.26.0000 Comarca: Taubaté Autores: PATRÍCIA KUNE PIRAGINE e OUTROS Ré: UNIMED DE TAUBATÉ COOPERATIVA DE TRABALHO MÉDICO VOTO Nº 9.403 AÇÃO RESCISÓRIA. Contestação tempestiva. Inicial que preenche os requisitos legais. Inépcia não configurada. Preliminares afastadas. Plano de saúde. Migração. Rescisória fundada no artigo 485, V, do CPC. Alegação de violação do art. 15, III da Resolução nº 254 da ANS. Inocorrência. Sentença que interpreta corretamente a norma legal supostamente violada. Autores que pretendem na realidade o novo julgamento da causa. Inadmissibilidade. AÇÃO IMPROCEDENTE. Trata-se de AÇÃO RESCISÓRIA movida por PATRÍCIA KUNE PIRAGINE, MAURO SERGIO GEENEN PIRAGINI, ANANDA MELO PIRAGINE, GABRIEL KUNE PIRAGINE, PATRICIA KUNE PIRAGINE, ROBERTO NEGÃO KUNE e MAGALLY BATISTUCCI KUNE em face de UNIMED DE TAUBATÉ COOPERATIVA DE TRABALHO MÉDICO, objetivando, em síntese, a rescisão da sentença reproduzida a fls. 31/38, que julgou improcedente ação de obrigação de fazer. Sustentam os autores, em síntese, que a sentença teria violado o disposto no artigo 15, III da Resolução nº 254 da ANS. Insistem, ainda, na garantia do direito de migrarem do plano extinto para AÇÃO RESCISÓRIA Nº 2104821-02.2015.8.26.0000 TAUBATÉ VOTO Nº 9403-2/6
outro plano de saúde, com mensalidade igual à do plano anterior. A tutela antecipada foi indeferida (fls. 75/76). A ré contestou a ação, arguindo a inépcia da inicial. No mérito sustenta que ao comunicar a extinção do plano deu aos autores opção de contratar outro, sem carências. Insiste que os autores interpretam equivocadamente a Resolução nº 254 da ANS e confundem faixa de preço com mesma contraprestação. Tece comentários sobre a Lei nº 9.656/98 e as características dos contratos de plano de saúde, pedindo a improcedência da ação (fls. 89/127). Réplica às fls. 683/687 e 690/692. É o RELATÓRIO. De saída, oportuno enfatizar que a questão ora enfrentada não depende da produção de qualquer meio de prova, haja vista situar-se exclusivamente no campo do direito, de maneira que é aplicável à espécie, por expressa recomendação legal (art. 491 do CPC/1973), a regra de julgamento antecipado da lide (inciso I, do art. 330 do CPC/1973). Não há que se falar em revelia da ré, pois o AR positivo da carta de citação foi juntado aos autos em 27/10/2015 (fls. 87/88) e a contestação foi protocolada em 11/11/2015, dentro do prazo legal. Também sem fundamento a preliminar de inépcia arguida na contestação. A inicial preenche os requisitos dos arts. 282 e 488 do CPC/1973 e a alegação de inexistência de violação literal a disposição de lei acarreta a improcedência da ação rescisória e não sua extinção. No mérito, é caso de improcedência da ação. Os autores pretendem a rescisão da sentença de fls. AÇÃO RESCISÓRIA Nº 2104821-02.2015.8.26.0000 TAUBATÉ VOTO Nº 9403-3/6
31/38 com fundamento no artigo 485, V, do CPC/1973. Alegam, para tanto, que de forma abusiva e unilateral a ré extinguiu contrato de plano de saúde destinado à classe médica, obrigando-os a migrar ou a contratar um novo plano de saúde, pagando mensalidades com valores significativamente mais elevados. Insistem que a sentença, ao julgar improcedente o pedido de migração dos autores para planos com as mesmas coberturas e condições estipuladas no plano ao qual estavam vinculados contrariou dispositivos legais do Código de Defesa do Consumidor, bem como a Resolução nº 254 da ANS. Requerem, portando, a rescisão da sentença, com a condenação da ré em migrar os autores para um plano compatível (abrangência nacional) com o plano de origem e com a mesma faixa de preço. Pois bem. Analisadas as questões levadas em juízo e a sentença combatida, é inviável a pretensão dos autores, não havendo que se falar em violação a literal dispositivo de lei capaz de autorizar a pretensão rescisória. Como já adiantado na decisão que indeferiu o pedido de antecipação da tutela, a norma regulamentar supostamente violada não dá ao beneficiário do plano de saúde extinto o direito a migrar para outro plano com o mesmo preço do plano de origem e a r. sentença está em linha com o que tem decidido esta C. Câmara (Apelação nº 4001095-14.2013.8.26.0625, Rel. Carlos Alberto de Salles, j. 18/11/2014). A r. sentença rescindenda interpretou corretamente a norma legal supostamente violada, sendo oportuno reproduzir trecho de sua fundamentação: O primeiro diz respeito à mantença do preço afirmada pelos autores, que entendem que deva corresponder ao AÇÃO RESCISÓRIA Nº 2104821-02.2015.8.26.0000 TAUBATÉ VOTO Nº 9403-4/6
mesmo valor praticado anteriormente, enquanto que a ré sustenta que o que deve ser mantido é a faixa de preço, a qual não corresponde à igualdade da contraprestação. Vê-se, pois, que a aplicação do inciso III, do artigo 15 da Resolução normativa 254 da ANS é incontroversa, sendo que a discordância se faz naquilo que se relaciona à sua interpretação. Eis o seu teor: Art. 15 Para o exercício do direito previsto no artigo anterior, é necessário que o plano de destino atenda aos seguintes requisitos:... III sua faixa de preço seja igual ou inferior à faixa de preço em que se enquadra o valor do plano de origem, considerada a data da assinatura da proposta de migração na forma prevista no Anexo da RN nº 186, de 2009. Acerca da questão, tem-se que a interpretação mais consentânea é aquela que considera as faixas de preço não como um valor único, mas valores variáveis dentre um montante menor e outro montante maior. Como da própria ANS: Faixa de preço: Intervalo de preço em que se enquadra o valor comercial da mensalidade do plano para garantir a prestação continuada dos serviços contratados (fls. 34/35). Portanto, não há ofensa a literal disposição de lei e sim decisão fundada na melhor interpretação da norma legal, o que desautoriza a via rescisória. Neste sentido: Para ser julgado procedente, o pedido rescindendo deduzido em ação rescisória fulcrada no inc. V do art. 485 do CPC depende, necessariamente, da existência de violação, pelo v. acórdão rescindendo, a literal disposição de lei. A afronta deve ser direta contra a literalidade da norma jurídica e não deduzível a partir de interpretações possíveis, restritivas ou extensivas, ou mesmo integração analógica (STJ-2ª Seção, AR 720-EI, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 09/10/2002, DJU 17/02/2003). Para que a ação rescisória fundada no art. 485, V, do CPC prospere, é necessário que a interpretação dada pelo decisum rescindendo seja de tal modo aberrante que viole o dispositivo legal em sua literalidade. Se, ao contrário, o acórdão rescindendo elege uma dentre as interpretações cabíveis, ainda que não seja a melhora, a AÇÃO RESCISÓRIA Nº 2104821-02.2015.8.26.0000 TAUBATÉ VOTO Nº 9403-5/6
ação rescisória não merece vingar, sob pena de tornar-se recurso ordinário com prazo de interposição de dois anos (RSTJ 93/416). O que pretendem os autores, na realidade, é a reanálise das questões apresentadas, segundo sua interpretação da norma legal supostamente violada, o que não se admite em sede de ação rescisória. Neste sentido: Ação rescisória. Suposta violação literal de lei pela decisão atacada (CPC art. 485, V). Inexistência. Acórdão que tratou com correção as questões levantadas. Tentativa da parte de utilizar o instrumento rescisório como meio para novo julgamento da causa. Inépcia decretada. Processo extinto sem resolução do mérito (Ação Rescisória nº 615.404.4/8-00, Relator Des. Neves Amorim). É incabível ação rescisória por violação de lei se, para apurar a pretensa violação, for indispensável reexaminar matéria probatória debatida nos autos (STJ-1ª Seção, AR 3.731-AgRg, Min. Teori Zavascki, j. 23.5.07, DJU 04.06.2007). Do exposto, JULGO IMPROCEDENTE a presente ação rescisória, condenando os autores ao pagamento das custas e despesas processuais, além de honorários advocatícios arbitrados, com base no artigo 20, 4º, do CPC/1973, em R$ 2.000,00 (dois mil reais). ALEXANDRE MARCONDES Relator AÇÃO RESCISÓRIA Nº 2104821-02.2015.8.26.0000 TAUBATÉ VOTO Nº 9403-6/6