FACIOLOGIA DA FORMAÇÃO MACEIÓ (APTIANO-ALBIANO) NA PORÇÃO NORTE DA BACIA DE ALAGOAS

Documentos relacionados
PALEOAMBIENTE DEPOSICIONAL DA FORMAÇÃO BARREIRAS NA PORÇÃO CENTRO-SUL DA ÁREA EMERSA DA BACIA DE CAMPOS (RIO DE JANEIRO)

CARACTERÍSTICAS DOS RESERVATÓRIOS

ANÁLISE FACIOLÓGICA DE DEPÓSITOS DA FORMAÇÃO BARREIRAS(?) NA REGIÃO DOS LAGOS, ENTRE MARICÁ E SAQUAREMA (RIO DE JANEIRO)

PROPOSTA DE REVISÃO ESTRATIGRÁFICA E ASPECTOS HIDROGEOLÓGICOS DO GRUPO URUCUIA NA BACIA SANFRANCISCANA.

Ambientes tectônicos e sedimentação

BACIA DO PARNAÍBA: EVOLUÇÃO PALEOZÓICA

2 o CONGRESSO BRASILEIRO DE P&D EM PETRÓLEO & GÁS

Rute Maria Oliveira de Morais 1,2 ; Claudio Limeira Mello 1 ; Fábio de Oliveira Costa 3 ; Carolina da Silva Ribeiro 1

ANEXO IV RESULTADO DAS ANÁLISES MINERALÓGICAS E GEOQUÍMICAS (TEOR DE FLÚOR) E DESCRIÇÃO MICROSCÓPICA DAS ROCHAS EM LÂMINA DELGADA

6º CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO EM PETRÓLEO E GÁS

CAPÍTULO 4: ROCHAS SEDIMENTARES 4.1. INTRODUÇÃO:

Capítulo 4 Caracterização da Área de Estudos. Capítulo 4

GEOLOGIA GERAL GEOGRAFIA

6º CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO EM PETRÓLEO E GÁS

FÁCIES SEDIMENTARES DA SUPERSEQUÊNCIA GONDWANA I NA BORDA LESTE DA BACIA DO PARANÁ, REGIÃO DE ALFREDO WAGNER/SC

Descrição Petrográfica

CAPÍTULO 6 OCORRÊNCIAS DE FLUORITA, COMPOSIÇÃO DAS ROCHAS E TEORES DE FLÚOR

A Granito; B Gnaisse (embasamento); R Dique de Diabásio; S Derrame; P Falha

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO ENGENHARIA CIVIL GEOTÉCNICA /2. Marita Raquel Paris Cavassani Curbani

1 Na figura abaixo há uma medida estrutural tirada em um afloramento com contato geológico.

RECONSTRUÇÃO PALEOAMBIENTAL DE DEPOSÍTOS CRETÁCEOS E CENOZÓICOS DA BACIA DO AMAZONAS, REGIÃO DO OESTE DO PARÁ COM BASE EM PETROGRAFIA DE ARENITOS

EDITAL DE SELEÇÃO 003/2018 GABARITO DA PROVA DE CONHECIMENTOS Data: 21/11/2018 ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: ESTRATIGRAFIA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E ENGENHARIAS DEPARTAMENTO DE PRODUÇÃO VEGETAL. DPV 053 Geologia e Pedologia

Bacia de Sergipe-Alagoas. Geólogos Marcos André Rodrigues Alves e Gustavo Santana Barbosa

MODIFICAÇÕES SEDIMENTARES NA

DETERMINAÇÃO DOS LIMITES DE CONCENTRAÇÃO ENTRE CORRENTES DE ALTA E BAIXA DENSIDADE

IDENTIFICAÇÃO MACROSCÓPICA. LEC. LET. Rochas Sedimentares

PRIMEIRO REGISTRO FÓSSIL (ICNOFÓSSEIS) DA FORMAÇÃO TUCANO (BACIA DO TACUTU/RR): Uma ferramenta no estudo da evolução da paleopaisagem de Roraima

1. Relativo ao tamanho dos grãos dos sedimentos, numere a segunda coluna de acordo com a primeira. iii) De 64 a 4 mm ( i ) matacões

ESTRATIGRAFIA DE SEQÜÊNCIAS E HETEROGENEIDADE DOS RESERVATÓRIOS FLÚVIO-DELTAICOS DA FORMAÇÃO SÃO SEBASTIÃO, BACIA DO RECÔNCAVO.

ANÁLISE DAS FÁCIES SILICICLÁSTICAS DA PARTE SUPERIOR DA FORMAÇÃO SANTANA (BACIA DO ARARIPE): CARACTERIZAÇÃO DE POTENCIAIS ROCHAS-RESERVATÓRIO

Rochas Sedimentares IDENTIFICAÇÃO MACROSCÓPICA. LEC. LET

ESTUDO DA RECARGA DO AQÜÍFERO FURNAS NA CIDADE DE RONDONÓPOLIS-MT

RECONSTRUÇÃO PALEOAMBIENTAL DA FORMAÇÃO ALTER DO CHÃO NA ÁREA URBANA DE SANTARÉM-PA

ANÁLISE TECTONOESTRATIGRÁFICA DO INTERVALO FORMACIONAL GRAJAÚ- CODÓ (APTIANO) DA BACIA DO PARNAÍBA, NE DO BRASIL

MODELAGEM DE RESERVATÓRIOS

45 mm EVIDÊNCIA MARINHA NA FORMAÇÃO BARREIRAS DO LITORAL DO ESTADO DA BAHIA

Rochas sedimentares na crosta terrestre

Luiz Carlos WEINSCHÜTZ 1 & Joel Carneiro de CASTRO 2 INTRODUÇÃO

ESTRATIGRAFIA DO QUATERNÁRIO DA PLANÍCIE DELTAICA AO SUL DO RIO PARAÍBA DO SUL, RJ

Vanir Tiscoski Junior CURITIBA / PR RELATÓRIO DE SONDAGENS A PERCUSSÃO

IDENTIFICAÇÃO MACROSCÓPICA. LEC. LET. Rochas Sedimentares. Relatório Prático

2 Geologia 2.1. Carvão

ANÁLISE PETROGRÁFICA APLICADA À DISTINÇÃO ENTRE ESTRATOS TERCIÁRIOS E QUATERNÁRIOS, ÁREA EMERSA DA BACIA PARAÍBA

Figura 07: Arenito Fluvial na baixa vertente formando lajeado Fonte: Corrêa, L. da S. L. trabalho de campo dia

Difratometria por raios X

45 mm SEDIMENTOS BIODETRITICOS DA PLATAFORMA CONTINENTAL SUL DE ALAGOAS

Cada par Granularidade + Estrutura constitui uma Litofácies própria, traduzindo condições de fluxo com determinadas característcias.

OS AQUÍFEROS BOTUCATU E PIRAMBÓIA NO ESTADO DE SÃO PAULO: NOVOS MAPAS DE ISÓBATAS DO TOPO, ESPESSURA E NÍVEL D'ÁGUA.

EDITAL DE SELEÇÃO 001/2017. PROVA DE CONHECIMENTOS Data: 07/12/2017 ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: ESTRATIGRAFIA

RECONSTRUÇÃO DO PALEOAMBIENTE DEPOSICIONAL DE POÇOS SITUADOS NA BACIA POTIGUAR COM BASE EM AMOSTRAS DE CALHA

MAPEAMENTO GEOLÓGICO DA BACIA DE CEDRO E SUA RELAÇÃO COM A BACIA DO ARARIPE. Palavras chave: Bacia de Cedro, mapeamento, novas formações.

DESCRIÇÃO DE AMOSTRAS DE CALHA DO POÇO 7-CLB-1-RN PERFURADO PELA EMPRESA PARTEX BRASIL NO CAMPO COLIBRI, BACIA POTIGUAR/RN

3 Aspectos Geológicos e Geotécnicos

Os sedimentos da Formação Urucutuca foram originalmente interpretados por Bruhn

As rochas sedimentares

FACIES SEDIMENTARES E AMBIENTES DEPOSICIONAIS DA FORMAÇÃO BARBALHA NO VALE DO CARIRI, BACIA DO ARARIPE, NORDESTE DO BRASIL

Rampa. Plataforma protegida. (In Törnqvist, 2006) Ambientes Sedimenatres, A. Azerêdo, FCUL

VII Simpósio Brasileiro de Geofísica. Copyright 2016, SBGf - Sociedade Brasileira de Geofísica

MORFOLOGIA E ESTRUTURAS DOS DERRAMES DA FORMAÇÃO ARAPEY

2 o CONGRESSO BRASILEIRO DE P&D EM PETRÓLEO & GÁS

CARACTERIZAÇÃO DE ZONAS PRODUTIVAS E CORRELAÇÃO DE POÇOS A PARTIR DA INTERPRETAÇÃO DE PERFIS ELÉTRICOS

FICHA (IN)FORMATIVA Nº 1 Biologia e Geologia Módulo 6

CONCEITO DE SOLO CONCEITO DE SOLO. Solos Residuais 21/09/2017. Definições e Conceitos de Solo. Centro Universitário do Triângulo

SUCESSÃO SEDIMENTAR DO GRUPO BAURU NA REGIÃO DE PIRAPOZINHO (SP)

5º CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO EM PETRÓLEO E GÁS

DESCRIÇÃO DE AMOSTRAS DE CALHA DO POÇO 7-CLB-2-RN PERFURADO PELA EMPRESA PARTEX BRASIL NO CAMPO COLIBRI, BACIA POTIGUAR/RN

16º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental. 3º Simpósio de Recursos Hídricos

o preenchimento sedimentar continental terciário da Bacia de Taubaté é

Sedimentação e Processos Sedimentares

CARACTERIZAÇÃO, ANÁLISE E MODELAGEM TRIDIMENSIONAL DE RESERVATÓRIOS EM AMBIENTES PARÁLICOS NO INTERVALO EOPERMIANO, REGIÃO DE SÃO GABRIEL - RS

Introdução. Objetivo Principal. Objetivos adicionais

IDENTIFICAÇÃO MACROSCÓPICA. LEC. LET. Rochas Sedimentares

Análise estratigráfica da bacia Paraíba: a restinga do bairro do Recife Antigo PE

URI: DOI:

APLICAÇÃO DO RADAR DE PENETRAÇÃO SUBTERRÂNEA NA CARACTERIZAÇÃO EM SUBSUPERFÍCIE DE DEPÓSITOS DA FORMAÇÃO BARREIRAS PETROBRAS/E&P-EXP/IABS/PS

Geologia, problemas e materiais do quotidiano

CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DO LOCAL - GEOMORFOLOGIA

6º CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO EM PETRÓLEO E GÁS

Claudia Paiva Silva Partex Oil&Gas Portugal IST Nov Importância no estudo de sistemas petrolíferos

45 mm. Av. Colombo, 5.790, Bloco J-12, Zona 7, Maringá, Paraná, Brasil. Fone: (44)

20/04/2011 USO ESTRATIGRÁFICO DOS FÓSSEIS E O TEMPO GEOLÓGICO

GEOLOGIA DAS ROCHAS GRANÍTICAS E METASSEDIMENTARES

CLASSIFICAÇÃO DAS ROCHAS SEDIMENTARES

Importância dos oceanos

ANÁLISE FACIOLÓGICA DA FORMAÇÃO CODÓ (CRETÁCEO, BACIA DO PARNAÍBA) EM TESTEMUNHOS DE SONDAGEM

ANÁLISE TECTÔNICA PRELIMINAR DO GRUPO BARREIRAS NO LITORAL NORTE DO ESTADO DE SERGIPE

Classificação: Leve/pesado viscosidade (% de parafínicos ou alcanos pesados) Sweet/sour teor de enxofre baixo/elevado. Octano

Considerações sobre amostragem de rochas

1 ROCHAS Assembléia de minerais Rocha = mineral essencial (principal) + minerais assessórios

Fósseis e estratigrafia: conceitos e princípios da estratigrafia, litoestratigrafia, bioestratigrafia e cronoestratigrafia

Evolução geológica da Amazônia Central e Ocidental desde o Cretáceo até o Recente

Aula 10 OS DELTAS - quando os rios depositam mar-adentro

FORMAÇÃO CRATO DA BACIA DO ARARIPE: UM RESERVATÓRIO ANÁLOGO AO CALCÁRIO TRAIRÍ (FORMAÇÃO PARACURU), BACIA DO CEARÁ

Determinações do Grau de Saturação de alguns solos ao final do

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JULIO DE MESQUITA FILHO. Trabalho de Formatura. Curso de Graduação em Geologia

2 o CONGRESSO BRASILEIRO DE P&D EM PETRÓLEO & GÁS

Reyes-Pérez, Y.A. Tese de Doutorado 51

Prática da Estratigrafia de Sequências: Interpretação Sísmica, Afloramentos e Testemunhos

PROPOSTA DE PADRONIZAÇÃO DAS DENOMINAÇÕES DOS AQUÍFEROS NO ESTADO DE SÃO PAULO. José Luiz Galvão de Mendonça 1

Transcrição:

Copyright 2004, Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás - IBP Este Trabalho Técnico Científico foi preparado para apresentação no 3 Congresso Brasileiro de P&D em Petróleo e Gás, a ser realizado no período de 2 a 5 de outubro de 2005, em Salvador. Este Trabalho Técnico Científico foi selecionado e/ou revisado pela Comissão Científica, para apresentação no Evento. O conteúdo do Trabalho, como apresentado, não foi revisado pelo IBP. Os organizadores não irão traduzir ou corrigir os textos recebidos. O material conforme, apresentado, não necessariamente reflete as opiniões do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás, Sócios e Representantes. É de conhecimento e aprovação do(s) autor(es) que este Trabalho será publicado nos Anais do 3 Congresso Brasileiro de P&D em Petróleo e Gás FACIOLOGIA DA FORMAÇÃO MACEIÓ (APTIANO-ALBIANO) NA PORÇÃO NORTE DA BACIA DE ALAGOAS Maria Caroline do Nascimento 1, Mario Lima Filho 2 1 PPGeo-UFPE PRH-26/ANP/FINEP/UFPE, Av. Acadêmico Hélio Ramos s/n, Cidade Universitária, 50730-540, Recife, mcn_caroline@yahoo.com.br 2 UFPE, Av. Acadêmico Hélio Ramos s/n, Cidade Universitária, 50730-540, Recife-PE, mflf@ufpe.br Resumo Este trabalho apresenta uma atualização do conhecimento faciológico da Formação Maceió aflorante no litoral norte do Estado de Alagoas, fornecendo subsídios para o entendimento das relações entre estes depósitos e os reservatórios de hidrocarbonetos em subsuperfície. A Formação Maceió é constituída por arcósios intercalados por folhelhos betuminosos depositados do mesoaptiano ao eoalbiano. Uma distinta faciologia pode ser caracterizada na Formação Maceió aflorante nesta área, onde se distinguem depósitos de fandeltas próximos a borda da bacia (fácies Cg, Ac e Pl) e depósitos de caráter turbidítico (Ct, Aa, Am, Af e Rt), situados mais distalmente, com seqüências pelíticas. O final desta deposição foi marcada pela subida no nível de águas, resultando na deposição dos folhelhos da fácies Fn, ricos em matéria orgânica, mostrando um caráter de rocha geradora. Os arenitos da fácies Aa mostram grãos angulosos e mal selecionados de feldspato, quartzo e fragmentos líticos. Esta fácies apresenta visualmente uma porosidade heterogênea, com a média de 8%, onde a microporosidade predomina sobre as porosidades intergranular e intragranular. A matriz é argilosa, provavelmente de origem secundária (alteração de feldspatos), com baixa permeabilidade, mostrando poucas características de rocha reservatório. Todavia, localmente, existam áreas com porosidade de 20%, adequadas ao armazenamento de hidrocarbonetos. Palavras-Chave: Formação Maceió; faciologia; porosidade Abstract This paper brings an up-to-date faciologic knowledge of the Maceió Formation that outcrops in the north coast of the state of Alagoas, supplying information to understand the correlation between these deposits and the hydrocarbon reservoirs in subsurface. This Formation is constituted by arcoses intercalated by bituminous shales from Middle Aptian to Late Albian age. A faciology can be characterized in the Maceió Formation in this area, by deposits of fan deltas close the border of the basin (facies Cg, Ac and Pl), turbidites with pelitic sequences (Ct, Aa, Am, Af and Rt), distal located. The end of this deposition was marked by the rise in the water level, resulting in the deposition of shales of the fácies Fn, rich in organic matter, showing a character of source rock. The sandstones of the facies Aa show angular and poorly selected grains of feldspars, quartz, and lithic fragments. This facies has heterogeneous porosity, with the average of 8%, with microporosity prevailing over intergranular and intragranular porosities. The matrix is clayey, probably of secondary origin (feldspars alteration), with limited permeability, as low quality rock reservoir. However, locally there are areas with porosity of 20%, appropriate to the hydrocarbons storage. Keywords: Maceió Formation, faciology, porosity

1. Introdução Uma atualização do conhecimento faciológico da Formação Maceió, Bacia de Alagoas (aqui entendida como a porção norte da Bacia de Sergipe-Alagoas), aflorante no litoral norte do Estado de mesmo nome é aqui apresentada (Fig.1), fornecendo subsídios para o melhor entendimento entre estes depósitos emersos e os reservatórios de hidrocarbonetos existentes em subsuperfície. A Formação Maceió é constituída por arcósios acinzentados intercalados por folhelhos betuminosos castanhos com anidrita e dolomita interlaminadas, e por camadas de halita, informalmente denominadas de Evaporitos Paripueira. Sua sedimentação ocorreu do mesoaptiano ao eoalbiano (Feijó, 1994). É recoberta concordantemente pela Formação Riachuelo, ausente na porção emersa da bacia, e discordantemente pela Formação Barreiras. Em termos paleontológicos, a Formação Maceió apresenta, ao lado de macrofósseis, foraminíferos, nanofósseis calcários, palinomorfos e ostracodes (Feijó, 1993). Em níveis sílticos, ocorre uma fauna monoespecífica de conchostráceos cizicídeos (Carvalho & Arai, 2001), de origem lacustre. Também foram descritos peixes provenientes de folhelhos betuminosos, de espécies pertencentes aos actinopterígeos (Silva Santos, 1985) e clupeomorfos (Malabarba et al., 2002). O ambiente deposicional da Formação Maceió durante o mesoaptiano é tido como de fandeltas que se desenvolveram entre áreas de intensa evaporação na borda da bacia; ao norte, sedimentos eólicos e flúvio-deltaicos foram depositados, sendo posteriormente soerguidos e passando a servir como área fonte (Abreu & Potter, 1990). Durante o neoaptiano e eoalbiano, uma plataforma carbonato-siliciclástica desenvolveu-se em frente aos fandeltas, oferecendo a oportunidade de leques aluviais ultrapassarem-na e formarem depósitos turbidíticos (Lira, 2004). Figura 1. Localização da área estudada no litoral norte de Alagoas. 2. Material e Métodos A área foi estudada através da observação de afloramentos no litoral norte de Alagoas, inseridos na Folha Porto Calvo, SE.25-V-C-II MI-1526, limitada pelas coordenadas 225.000mE, 248.000mE, 8.988.000mN e 8.960.000mN (Fig.1). Durante o trabalho de campo realizado em 2003, foram identificadas, fotografadas e descritas nove fácies sedimentares, seis das quais se encontram na praia de Morros de Camaragibe. Análises petrográficas foram efetuadas nos arenitos provenientes deste afloramento, procurando avaliar seu possível potencial como rocha reservatório. 3. Faciologia da Formação Maceió Na porção norte e emersa da Bacia de Alagoas, foram identificadas três fácies representando a deposição de fandeltas, aqui denominadas de Cg, Ac e Pl. Seus melhores afloramentos estão situados próximos à cidade Passo de Camaragibe, na rodovia AL-435. A fácies Cg (Conglomerados) caracteriza-se por um paraconglomerado composto por seixos a blocos arredondados de rochas graníticas, de até 50cm de diâmetro, por vezes imbricados, imersos em matriz arenosa maciça ou fluidizada, podendo conter fragmentos de carvão ou níveis centimétricos de folhelhos. As partículas desta fácies foram transportadas por fluxos hiperconcentrados de grande competência, justificando a presença dispersa ou localmente concentrada de blocos e seixos nas porções mediana a superior da seqüência (Fig.2a e 2b). A fácies Ac (Arenitos conglomeráticos) se caracteriza por um arenito de coloração creme, que varia lateralmente de conglomerático a fino. É predominantemente maciço, podendo por vezes apresentar fluidizações e intraclastos contorcidos de siltito e folhelho (Fig.2c). Equivale à porção mediana do fandelta, depositado por fluxo arenoso de alta densidade.

A fácies Pl (Pelitos laminados) é composta por pelitos cinza-claros a esverdeados, que podem variar de arenito muito fino a siltito laminado e folhelho (Fig.2d), mostrando fragmentos vegetais e icnofósseis indeterminados. Corresponde a uma fácies localizada na porção distal do fandelta, tendo sido depositada provavelmente em ambiente lacustre, a partir de partículas em suspensão. Figura 2. Fácies de depósitos de fandeltas. a) e b) fácies Cg (conglomerados) sendo a) próximo à Usina de Camaragibe e b) na AL-435 próximo à cidade de São Luiz do Quitunde. c) Afloramento na rodovia AL-435 mostrando a fácies Ac (Arenitos conglomeráticos) com fluidizações. d) fácies Pl (Pelitos laminados) recobertos pelos arenitos da Formação Barreiras. No extremo leste da área estudada afloram depósitos de fácies mais distais, que se constituem em sedimentos transportados por correntes turbulentas e depositados por fluxos gravitacionais sub-aquosos. No afloramento da Praia de Morros de Camaragibe, com uma exposição de cerca de 800m, foram identificadas fácies destes depósitos (Ct, Aa, Am, Af, Rt e Fn). A fácies Ct (Conglomerados tabulares) compreende um conglomerado matriz-suportado (Fig.3a) com grande quantidade de clastos (até 20cm de diâmetro) de arenito, siltito, folhelho e carvão imersos em matriz arenoconglomerática, quartzo-feldspática, com aparente gradação normal. Esta fácies ocorre geralmente associada com a fácies Af, representando uma porção proximal de depósito turbidítico depositado sob fluxo hiperconcentrado. A fácies Aa (Arenitos arcosianos) é caracterizada por um arenito de médio a muito grosso, maciço a gradacional, fluidizado, por vezes com porções conglomeráticas e intraclastos de folhelho e siltito (Fig.3b) variando de poucos centímetros a cerca de 1m, que localmente podem estar imbricados. São comuns estratificações cruzadas tabulares, laminação planoparalela e bioturbação, representando uma deposição em canais amalgamados, através de um fluxo turbidítico arenoso e cascalhoso de alta densidade. Composicionalmente a fácies Aa mostra-se composta por 36% de feldspatos, 33% de quartzo, 9% de fragmentos líticos e 22% de intraclastos de folhelho, de outros minerais (biotita, muscovita, clorita, zircão, pirita, etc.) e de matéria orgânica. Os grãos minerais e fragmentos de rochas (estes maiores do que 0,5mm e maioria acima de 1,1mm) apresentam-se geralmente bastante angulosos e mal selecionados. Muitos grãos de minerais estão corroídos e alguns feldspatos mostram crescimento secundário. Há predominância de contatos pontuais e sub-retilíneos, com porosidade visual média em torno de 8%. Entretanto, há áreas onde ela chega a 20%, e outras onde atinge apenas 5%. A matriz é fina, predominantemente argilosa, com percentual aproximado de 30%. A fácies Am (Arenitos maciços) corresponde a um arenito cinzento (Fig.3c), de médio a grosso, com intraclastos de folhelho, siltito e carvão concentrando-se nos níveis mais superiores das camadas. Por vezes, apresenta laminação planoparalela e estruturas de sobrecarga do tipo ball and pillow, pseudonódulos e nódulos de pirita. Ocorre intercalada nas fácies Af e Rt, gradando vertical e lateralmente para a fácies Aa. Resulta da deposição de um fluxo turbidítico arenoso de alta densidade. A fácies Af (Arenitos finos) compreende intercalações de estratos centimétricos de arenitos médios a finos, siltitos e folhelhos, dispostos gradacionalmente da base para o topo, caracterizando típicos ciclos de fining upward. São encontradas estruturas de sobrecarga do tipo ball and pillow e em chama, laminações convolutas e restos carbonosos.

Nos arenitos há estratificações planoparalelas e climbing ripples. Na porção setentrional do afloramento são observadas microfalhas lístricas e de gravidade, menores do que 3cm (Fig.3d), sendo provavelmente o reflexo de falhas de escorregamento de maior escala. Representa a porção distal de um depósito turbidítico, onde ocorreu uma desaceleração do fluxo. Figura 3. Fácies de depósitos turbidíticos na Praia de Morros de Camaragibe, Alagoas: a) fácies Ct (Conglomerados tabulares) mostrando uma geometria tabular e estando associada com a fácies Af (Arenitos finos) e com a fácies Am (Arenitos maciços); b) fácies Aa (Arenitos arcosianos) contendo níveis da fácies Af extremamente deformados e rompidos; c) fácies Am intercalada pela fácies Rt (Ritmitos) e d) fácies Af correspondendo a intercalações de arenito, siltito e folhelho (areia/argila > fácies Rt) formando ciclos de fining upward e mostrando microfalhas de gravidade. A fácies Rt (Ritmitos) ocorre restrita na porção meridional do afloramento de Morros de Camaragibe, apresentando a razão areia/argila bem menor do que na fácies Af, e sendo constituída por ritmitos que intercalam finas lâminas de calcilutitos e de arenitos finos (Fig.4a). Observam-se estruturas de lisen nas lâminas de siltito e de climbing ripples nas lâminas areníticas. Corresponde a fácies final de deposição turbidítica. A fácies Fn (Folhelhos negros) corresponde a três níveis de folhelhos cinza-escuros, ricos em matéria orgânica, sendo caracterizada pela presença de peixes, vegetais e coprólitos. Na porção meridional do aforamento (Fig.4b) há lentes milimétricas de silte a areia fina com cutículas vegetais, formando linsen e suaves ondulações. Mostra a deposição de fundo de lago. Figura 4. Fácies distais do afloramento da Praia de Morros de Camaragibe, Alagoas: a) ritmitos (fácies Rt) finamente laminados de siltito e folhelho, intercalados com a fácies Am (Arenitos maciços) e b) fácies Fn (Folhelhos negros).

4. Considerações Finais A porção aflorante da Formação Maceió na área estudada mostra, de oeste para leste, o desenvolvimento de depósitos de fandeltas que progradam para um ambiente lacustre e, por fim, para depósitos turbidíticos (Azambuja Filho et al., 1998; Lira, 2004). Arienti (1996) distinguiu diversas fácies sedimentares na Formação Maceió, analisando-a em sua extensão emersa e submersa, descrevendo fácies constituídas desde conglomerados clasto- e matriz-suportados a siltitos e folhelhos, similares ao que foi observado no presente trabalho. Na área estudada, foram identificadas ao longo da rodovia AL-435 três fácies (Cg, Ac e Pl) representantes da deposição de fandeltas alimentados pela borda oeste da bacia, que progradam para uma área lacustre. Estes depósitos de fandeltas são caracterizados por fácies de maiores granulometrias, com grandes blocos de rochas graníticas (fácies Cg), bem como porções areno-conglomeráticas (fácies Ac). À medida que se distancia da borda da bacia, no sentido leste, o fluxo perde sua força e passa a transportar e depositar partículas de granulometrias cada vez menores, o que pode ser observado nas fácies Ac e Pl. No afloramento de Morros de Camaragibe, à leste da área estudada, observam-se fácies mais distais, com sedimentos turbidíticos e folhelhos ricos em matéria orgânica (fácies Fn), representando a provável subida no nível das águas. Segundo Lira (2004), estas fácies têm o Alto de Maragogi como principal área fonte. Verifica-se uma variação de fluxo de transporte sub-aquoso, passando de hiperconcentrado (deposição dos paraconglomerados da fácies Ct) para um fluxo de alta densidade (arenitos das fácies Aa e Am), até sofrer maior desaceleração e tornar-se um fluxo de baixa densidade, onde as fácies mais pelíticas (Af e Rt) foram depositadas. Toda esta deposição mostra as feições similares a turbiditos, na qual a seqüência sedimentar, descrita por Bouma (1962), é formada, da base para o topo, por um intervalo gradacional, um com laminação paralela, outro com microlaminação cruzada e finalmente por intervalos pelíticos. Abreu & Potter (1990) calcularam o percentual das diferentes litologias que compõem a Formação Maceió, em testemunhos de 30 poços perfurados pela Petrobrás, constatando que os arenitos podem ser petrograficamente classificados em arcósicos (80%), sub-arcósicos (16%), e líticos ou sub-líticos (4%). Segundo estes autores, nos sedimentos desta formação há três classes de porosidades: intergranular, intragranular e microporosidade. Estas três classes foram observadas nas seções delgadas de arenitos da fácies Aa analisadas no presente trabalho, sendo mais freqüente a microporosidade (Fig.5), o que está de acordo com os referidos autores, que constataram que esta classe é a mais abundante nos arenitos com percentual de porosidade menor do que 10%. A fácies Aa mostrou a média de 8%. Figura 5. a) e b) Arenitos da fácies Aa mostrando as três classes de porosidade (Abreu & Potter, 1990): P.Inter. - intergranular; P.Intra. intragranular e Micro.P. microporosidade (Qtz - quartzo; Felds - feldspato; Bio - biotita; M matriz ). De modo geral, na fácies Aa é observada grande quantidade de matriz (em torno de 30%), sendo predominantemente argilosa e atuando, juntamente com os intraclastos de folhelho, como um obstáculo à permeabilidade. Parte dessa matriz pode ter origem secundária, proveniente da alteração dos feldspatos (com grãos bastante corroídos), o que diminuiria o percentual de porosidade da rocha. Isto contribui para o aumento da quantidade de matriz e conseqüentemente para a redução da porosidade intragranular, gerando perda de qualidade como rocha reservatório. Apesar do percentual de porosidade desta fácies ser interessante para o armazenamento de hidrocarbonetos, o tipo de porosidade dominante (microporosidade) dificulta sua permeabilidade. Entretanto, a distribuição heterogênea da porosidade em toda a fácies Aa deve ser levada em consideração no estudo de potencial de reservatório, dada a presença de áreas com porosidade próxima a 20%, do tipo intergranular e microporosidade, muito adequadas ao armazenamento de hidrocarbonetos. Nos folhelhos da fácies Fn são observados alguns locais com grande quantidade de restos de peixes subarticulados, por vezes mostrando uma concentração seletiva de tamanho, provavelmente causado por transporte subaquático. A existência destes folhelhos escuros, ricos em matéria orgânica na fácies Fn, mostra o caráter de rocha geradora de hidrocarbonetos da Formação Maceió.

5. Conclusões Com a presente investigação, é apresentada uma atualização da faciologia dos sedimentos da Formação Maceió na área norte da Bacia de Alagoas, com a presença de depósitos de fandeltas contendo granulometrias maiores, por estarem próximos da borda da bacia (fácies Cg, Ac e Pl). As fácies que caracterizam os depósitos de caráter turbidítico (Ct, Aa, Am, Af e Rt) situadas mais distalmente, mostram seqüências pelíticas depositadas em ambiente lacustre. O final desta deposição foi marcado pela provável subida no nível de águas, resultando na deposição dos folhelhos negros da fácies Fn. Nestes folhelhos, ricos em matéria orgânica, com caráter de rocha geradora de hidrocarbonetos, ocorrem abundantes restos de peixes e fragmentos vegetais, por vezes formando uma significativa concentração, o que sugere a ocorrência de eventos de mortalidade em massa. Os arenitos da fácies Aa mostram grãos bastante angulosos e mal selecionados, corroídos, de feldspatos (36%), quartzo (33%), fragmentos líticos (9%), e de outros minerais, intraclastos de folhelho e matéria orgânica (22%). Esta fácies apresenta uma porosidade heterogênea, com a média em torno de 8%, na qual predomina a microporosidade, ficando em segundo plano as porosidades intergranular e intragranular. É observada cerca de 30% de matriz predominantemente argilosa, provavelmente de origem secundária por alteração dos feldspatos, com limitada permeabilidade, ainda que existam áreas com porosidade próxima a 20%, principalmente do tipo intergranular e microporosidade, adequada ao armazenamento de hidrocarbonetos. Agradecimentos Nossos agradecimentos ao Dr. Joel de Castro (UNESP de Rio Claro), à Dra. Maria Helena Hessel (UFPE) à Cleide Regina Moura e a José Antonio Barbosa (UFPE), pelo auxílio durante os trabalhos de campo e por diversas sugestões que enriqueceram o trabalho. Referências ABREU, C.J. & POTTER, P.E. 1990. Tipos e distribuição de porosidade nos arenitos do membro Maceió, Cretáceo da bacia Sergipe-Alagoas, NE do Brasil. Boletim de Geociências da Petrobrás, Rio de Janeiro, 4(3): 315-336. ARIENTI, L.M. 1996. Análise estratigráfica, estudo de fluxos gravitacionais e geometria dos depósitos rift da Formação Maceió e Formação Poção, Bacia de Alagoas. Tese de doutorado, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 398p. AZAMBUJA FILHO, N.C., ARIENTI, L.M. & CRUZ, F.E.G. 1998: Guidebook to the rift-drift Sergipe-Alagoas passive margin basin, Brazil. Rio de Janeiro, AAPG, 113p. in CD room. BOUMA, A.H. 1962. Sedimentology of some flysch deposits. Amsterdam, Elsevier, 168p. CARVALHO, I.S. & ARAI, M., 2001. Os fósseis da Bacia de Sergipe-Alagoas. Os crustáceos: conchostráceos. Phoenix, Aracaju, 29: 1-3. FEIJÓ, F.J. 1993. Seqüências continentais das fases pré-rift e rift da sub-bacia de Alagoas Central. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 165p. FEIJÓ, F.J. 1994. Estratigrafia das bacias sedimentares do Brasil. Boletim de Geociências da Petrobrás, Rio de Janeiro, 8(1): 149-161. LIRA, A.R.A. 2004. Caracterização em multiescala de análogos de reservatórios da Formação Maceió (Aptiano da Bacia de Alagoas) nas regiões de Japaratinga e Morros de Camaragibe, AL. Tese de doutorado, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 157p. MALABARBA, M.C., CARMO, D.A. & PEREZ, I.G. 2002. New fóssil fishes from the Maceió Formation, Alagoas Basin, Northeastern Brazil. 6º Simpósio sobre o Cretáceo do Brasil, São Pedro, Boletim: 303-306. SILVA SANTOS, R. 1985. Sobre a presença do Vinctifer Jordan (Pisces, Aspidorhynchiformes) na Formação Muribeca, Estado de Alagoas. Boletim Especial do DNPM, Série Geológica (Coletânea de Trabalhos Paleontológicos), Brasília, 27:147-150.