RESUMO IMPACTO DO FOGO NA VEGETAÇÃO EM BEIRA DE RODOVIAS Jovan Martins Rios¹*, Lilian C. da Silva Santos¹, Ismael P. Martins², Vagner S. do Vale³ e-mail: Jovan_jmr@hotmail.com ¹(PG) do Curso de Pós-Graduação em Produção Vegetal - UEG ²(PQ) do Curso Engenharia Florestal - UEG ³(PQ) do Curso de Pós-Graduação em Produção Vegetal - UEG As rodovias acarretam um dos maiores impactos diretos e negativos ao ambiente causando a fragmentação da biota natural, deve existir uma faixa entre a estrada e as propriedades próximas, denominadas faixas de proteção, com pelo menos 15m de comprimento sendo essas definidas como Áreas de Preservação Permanentes. Os objetivos deste trabalho são comparar a diversidade alfa dos cerrados antropizados em beira de estrada, com aquela existente em cerrados protegidos em unidades de conservação e/ou cerrados pouco antropizados e demonstrar o potencial conservacionista dessas áreas e as possíveis diferenças florísticas e estruturais. Demarcou-se 11 parcelas de 10 x 50m no norte e sudeste do estado de Goiás e amostradas árvores com circunferência a 0,30 m 15 cm. Foram calculados os parâmetros fitossociológicos densidade, dominância, frequência relativas e o valor de importância (VI). Para a avaliação da diversidade alfa, foi utilizado o índice de diversidade de Shannon (H ). Foram amostrados 283 indivíduos (0,033 indivíduos.ha -1 ), 960.444,39 m² de área basal, distribuídos em 97 espécies, 48 famílias. A riqueza amostral está dentro dos padrões para cerrados, no entanto o número de indivíduos por hectare está abaixo da média para áreas nativas. Palavras-chave:Biodiversidade. Fragmentação. Impacto Ambiental. INTRODUÇÃO Tendo em vista que as rodovias acarretam um dos maiores impactos diretos e negativos ao ambiente (SPOONER; SMALLBONE, 2009), deve existir uma faixa entre a estrada e as propriedades próximas, denominadas faixas de proteção, com pelo menos 15m de comprimento (DNIT, 2008), sendo essas entendidas como Áreas de Preservação Permanentes pelo Código Florestal Brasileiro, LEI Nº 12.651 (BRASIL, 2012), chamadas de faixas de proteção ao longo de rodovias e ferrovias. No Brasil, a construção de estradas representa uma das principais ameaças à biodiversidade e interfere diretamente no ambiente, alterando as diferentes fitofisionomias, inclusive àquelas presentes no do bioma Cerrado (VASCONCELOS et al., 2014). O Brasil abriga uma imensa diversidade biológica, sendo o principal país depositário da mega diversidade do Planeta, comportando entre 15% a 20% das 1,5 milhão de espécies identificadas na Terra (LEWINSOHN; PRADO, 2000). Cerca de 12% das espécies de plantas, por exemplo, estão presentes no bioma Cerrado (KLINK; MACHADO, 2005). Atualmente o Bioma é considerado um hotspot de biodiversidade. Este trabalho avaliará a atual condição de comunidades arbóreas de cerrado e o real valor conservacionista presentes nas "faixas de proteção para a
conservação do Bioma Cerrado, comparando os cerrados antropizados em beira de estrada do norte e sudeste de Goiás, com aqueles cerrados protegidos em unidades de conservação e/ou cerrados pouco antropizados da região. MATERIAL E MÉTODOS Área de Estudo - O estudo será realizado as margens de rodovias, nas faixas adjacentes as áreas denominadas como "faixas de proteção", ao longo de rodovias no estado de Goiás, GO-164 (trecho entre Goiás - Faina); GO-070 (trecho entre Goiás Mossâmedes), GO-330 e BR-352 (trecho entre Ipameri - Catalão) e GO-213 e BR-490 (trecho entre Ipameri - Campo Alegre de Goiás); totalizando aproximadamente 207km de rodovias no decorrer dos pontos mencionados. O trabalho tem foco nas savanas arborizadas, fitofisionomia dominante, a área onde será realizado o estudo abrangerá 2,5 hectares de cerrado, distribuída em 50 parcelas de 50x10m, dispostas aleatoriamente na beira das rodovias (Já foram amostradas 11 parcelas, referentes a este estudo). Serão mensurados apenas os indivíduos arbóreos que atingirem 15cm de circunferência a 30cm do solo (C 30 15cm, metodologia proposta pela Rede de Parcelas Permanentes dos Biomas Cerrado e Pantanal - FELFILI et al., 2005). A identificação das espécies quando possível ocorrerá em campo, em caso de dificuldades na identificação serão coletadas amostras botânicas para consulta em Herbário. A classificação das famílias será feita de acordo com o sistema Angiosperm Phylogeny Group III (APG, III) e os nomes específicos serão atualizados de acordo com o W3tropicos (disponível em http://www.tropicos.org/). Serão calculados os parâmetros fitossociológicos de densidade, dominância e frequência relativas e o valor de importância (VI). Para a avaliação da diversidade alfa, será utilizado o índice de diversidade de Shannon (H ). Todos os resultados obtidos foram comparados com outros inventários de cerrados nativos localizados em áreas com poucos impactos antrópicos. RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram amostrados 283 indivíduos (0,033 indivíduos.ha -1 ), 960.444,39 m² de área basal (174,63 m 2.ha -1 ). Estes valores, ao serem comparados com cerrados nativos de Lopes et al., 2011, está abaixo daqueles encontrados na região. O mesmo para área basal. A incidência de fogo esta presente em grande parte das
parcelas, ocorrendo com mais frequência nos períodos de seca, embora a vegetação lenhosa do Cerrado apresente características adaptativas ao fogo, o mesmo é um fator determinante para a estrutura da vegetação e sua composição. A riqueza amostrada, porém, é elevada e dentro dos padrões para cerrados protegidos. As espécies de cerrado tem adaptações ao fogo como presença de casca e rebrote pós fogo, fatores capazes de promover a persistência de indivíduos nas áreas, porém é notório que a baixa densidade é também devido á frequência de incêndios. As espécies mais importantes foram Curatella americana L., Plathymenia reticulata Benth., Machaerium opacum Vogel (Tabela 1.) comumente encontradas em cerrados protegidos e possuem adaptações ao fogo. Provavelmente essas adaptações promovem a manutenção não somente dessas espécies, mas também de suas populações em ambientes com alta frequência de incêndios. Tabela 1. Parâmetros fitossociológicos das espécies amostradas ao longo de "faixas de proteção" no estado de Goiás, 2016. Legenda: NI - número de indivíduos, DR - densidade relativa (%), DoR - dominância relativa (%), FR - frequência relativa (%) e VI - Valor de importância. Espécies NI DR FR DoR VI Curatella americana L. 43 15,19 4,58 22,02 13,93 Plathymenia reticulata Benth. 14 4,94 2,61 9,47 5,67 Machaerium opacum Vogel 18 6,36 4,58 5,33 5,42 Qualea grandiflora Mart. 15 5,30 3,92 5,98 5,07 Bowdichia virgilioides Kunth 6 2,12 3,27 2,21 2,53 Inga nobilis Willd. 1 0,35 0,65 6,18 2,40 Myracrodruon urundeuva Allemão 8 2,83 0,65 3,68 2,39 Guazuma ulmifolia Lam. 5 1,77 0,65 3,90 2,11 Brosimum gaudichaudii Trécul 7 2,47 2,61 1,15 2,08 Eugenia dysenterica DC. 7 2,47 2,61 0,95 2,01 Anacardium humile A.St.-Hil. 5 1,77 2,61 1,26 1,88 Astronium fraxinifolium Schott 8 2,83 1,31 1,01 1,71 Pseudobombax longiflorum (Mart. & Zucc.) A.Robyns 4 1,41 1,31 2,42 1,71 Luehea grandiflora Mart. 5 1,77 1,31 2,01 1,69 Dimorphandra mollis Benth. 4 1,41 2,61 0,73 1,59 Aspidosperma tomentosum Mart. 4 1,41 1,96 1,25 1,54 Davilla elliptica A.St.-Hil. 5 1,77 1,96 0,80 1,51 Andira vermifuga Benth. 4 1,41 1,31 1,61 1,44 Caryocar brasiliense A.St.-Hil. 3 1,06 1,96 1,26 1,43 Terminalia argentea Mart. 2 0,71 1,31 2,25 1,42 Cedrela fissilis Vell. 1 0,35 0,65 3,21 1,40 Aspidosperma subincanum Mart. ex A.DC. 4 1,41 1,96 0,56 1,31 Tabebuia ochracea A.H. Gentry 3 1,06 1,31 1,16 1,18 Senna sp. 3 1,06 0,65 1,71 1,14 Piptocarpha rotundifolia (Less.) Baker 4 1,41 1,31 0,45 1,06 Byrsonima crassifolia (L.) Kunth 3 1,06 1,31 0,69 1,02 Acrocomia aculeata (Jacq.) Lodd. ex Mart. 2 0,71 1,31 0,75 0,92 sp.13 4 1,41 0,65 0,52 0,86 Tabebuia aurea (Silva Manso) Benth. & Hook.f. ex S.Moore 2 0,71 1,31 0,48 0,83 Leptolobium dasycarpum Vogel 2 0,71 1,31 0,27 0,76 Familia: malpighiaceae 3 1,06 0,65 0,56 0,76 Annona coriacea Mart. 2 0,71 1,31 0,26 0,76
Schefflera morototoni (Aubl.) Maguire, Steyerm. & Frodin 2 0,71 1,31 0,16 0,72 Anadenanthera peregrina (L.) Speg. 2 0,71 0,65 0,75 0,70 Physocalymma scaberrimum Pohl 1 0,35 0,65 0,92 0,64 sp.14 2 0,71 0,65 0,53 0,63 Sclerolobium aureum (Tul.) Baill. 3 1,06 0,65 0,13 0,61 Qualea dichotoma (Mart.) Warm. ex Wille 3 1,06 0,65 0,10 0,60 Rourea induta Planch. 2 0,71 0,65 0,45 0,60 Xylopia aromatica (Lam.) Mart. 2 0,71 0,65 0,35 0,57 Vochysia thyrsoidea Pohl 2 0,71 0,65 0,28 0,55 Cupania sp. 1 0,35 0,65 0,60 0,54 Andira anthelmia (Vell.) J.F.Macbr. 2 0,71 0,65 0,20 0,52 sp.8 1 0,35 0,65 0,52 0,51 sp.15 2 0,71 0,65 0,17 0,51 Myrtaceae sp. 2 0,71 0,65 0,16 0,51 sp.16 2 0,71 0,65 0,11 0,49 Magonia pubescens A. St.-Hil. 1 0,35 0,65 0,46 0,49 Aegiphila sellowiana Cham. 2 0,71 0,65 0,10 0,49 Myrcia variabilis Mart. ex DC. 2 0,71 0,65 0,10 0,49 sp.5 1 0,35 0,65 0,44 0,48 Matayba guianensis Aubl. 2 0,71 0,65 0,08 0,48 Andira sp. 2 0,71 0,65 0,08 0,48 Rudgea viburnoides (Cham.) Benth. 1 0,35 0,65 0,40 0,47 Caesalpinia pulcherrima (L.) Sw. 1 0,35 0,65 0,38 0,46 sp.4 1 0,35 0,65 0,38 0,46 sp.3 1 0,35 0,65 0,36 0,45 Banisteriopsis sp. 1 0,35 0,65 0,35 0,45 Eriotheca pubescens (Mart. & Zucc.) Schott & Endl. 1 0,35 0,65 0,33 0,45 sp.1 1 0,35 0,65 0,33 0,45 Handroanthus chrysotrichus (Mart. ex DC.) Mattos 1 0,35 0,65 0,28 0,43 Guapira sp. 1 0,35 0,65 0,24 0,42 Emmotum nitens (Benth.) Miers 1 0,35 0,65 0,22 0,41 Schefflera macrocarpa (Cham. & Schltdl.) Frodin 1 0,35 0,65 0,22 0,41 Cardiopetalum calophyllum Schltdl. 1 0,35 0,65 0,21 0,41 Vochysia rufa Mart. 1 0,35 0,65 0,21 0,41 Eugenia sp. 1 0,35 0,65 0,20 0,40 Vatairea macrocarpa (Benth.) Ducke 1 0,35 0,65 0,20 0,40 Calophyllum brasiliense Cambess. 1 0,35 0,65 0,19 0,40 Roupala montana Aubl. 1 0,35 0,65 0,19 0,40 Cassia sp. 1 0,35 0,65 0,17 0,39 sp.6 1 0,35 0,65 0,17 0,39 Psidium salutare var. pohlianum (O.Berg) Landrum 1 0,35 0,65 0,17 0,39 Diospyros burchellii Hiern 1 0,35 0,65 0,15 0,39 Myrsine umbellata Mart. 1 0,35 0,65 0,15 0,39 sp.11 1 0,35 0,65 0,15 0,39 Andira fraxinifolia Benth. 1 0,35 0,65 0,14 0,38 Myrcia tomentosa (Aubl.) DC. 1 0,35 0,65 0,12 0,38 Salacia crassifolia (Mart. ex Schult.) G. Don 1 0,35 0,65 0,12 0,38 Styrax ferrugineus Nees & Mart. 1 0,35 0,65 0,12 0,38 sp.12 1 0,35 0,65 0,12 0,38 Kielmeyera coriacea Mart. 1 0,35 0,65 0,11 0,37 Campomanesia eugenioides (Cambess.) D.Legrand ex Landrum 1 0,35 0,65 0,09 0,37 Salvertia convallariodora A. St.-Hil. 1 0,35 0,65 0,09 0,37 sp.9 1 0,35 0,65 0,09 0,37 Connarus suberosus Planch. 1 0,35 0,65 0,08 0,36 sp.2 1 0,35 0,65 0,08 0,36 Aspidosperma macrocarpon Mart. 1 0,35 0,65 0,06 0,36 Andira cuiabensis Benth. 1 0,35 0,65 0,06 0,35 Dipteryx alata Vogel 1 0,35 0,65 0,06 0,35 Himatanthus obovatus (Müll.Arg.) Woodson 1 0,35 0,65 0,06 0,35 Pouteria torta (Mart.) Radlk. 1 0,35 0,65 0,04 0,35
Cordiera macrophylla (K.Schum.) Kuntze 1 0,35 0,65 0,04 0,35 Solanum lycocarpum A. St.-Hil. 1 0,35 0,65 0,04 0,35 sp.7 1 0,35 0,65 0,04 0,35 Byrsonima coccolobifolia Kunth 1 0,35 0,65 0,03 0,35 Total geral 283 100 100 100 300 O índice de diversidade de Shannon-Wiener obtido neste estudo foi de (H'=3,95) e a equabilidade (0,86), superior a maioria dos estudos fitossociológicos em Cerrado. Felfili et al., 2007 obteve índice de diversidade de (H =3,71) em ambiente tipico de Cerrado localizado em Alto Paraíso-GO. Assim, nota-se que as "faixas de proteção" possui grande biodiversidade (Lopes et al., 2011). CONSIDERAÇÕES FINAIS O fogo é um fator impactante na vegetação presente nas "faixas de proteção", porém apesar de diminuir a biodiversidade florística e selecionar espécies adaptadas a riqueza está dentro dos padrões para Cerrado. REFERÊNCIAS BRASIL. Lei nº 12.651 de 25 de maio de 2012. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, 2012. Dispõe sobre a proteção da vegetação nativa; altera as Leis nos 6.938, de 31 de agosto de 1981, 9.393, de 19 de dezembro de 1996, e 11.428, de 22 de dezembro de 2006; revoga as Leis nos 4.771, de 15 de setembro de 1965, e 7.754, de 14 de abril de 1989, e a Medida Provisória no 2.166-67, de 24 de agosto de 2001; e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12651.htm> DNIT - DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRA-ESTRUTURA E TRANSPORTES. Manual de procedimentos para a permissão especial de uso das faixas de domínio de rodovias federais e outros bens públicos sob jurisdição do departamento nacional de infra-estrutura de transportes. Brasília, DF, 2008, 36p. FELFILI, M. F.; CARVALHO, F. A.; HAIDAR, R. F. Manual para monitoramento de parcelas permanentes nos biomas Cerrado e Pantanal, Brasília: Universidade de Brasília, 55p, 2005. FELFILI, M.J.; REZENDE, A.V.; SILVA JÚNIOR, M.C. Biogeografia do Bioma Cerrado. Vegetação e Solos da Chapada dos Veadeiros. Universidade de Brasília - Finatec. Brasília, Brasil. p.256, 2007. KLINK, C. A.; MACHADO, R. B. A conservação do Cerrado brasileiro. Megadiversidade, Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p. 148-155, 2005. KREBS, C. J. Ecological Methodology, New York: Wesley Longman, 2000. LEWINSOHN, T. M.; PRADO, P. I. Biodiversidade brasileira: síntese do estado atual do conhecimento. Relatório final. Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais e Instituto de Biologia. Unicamp, Campinas, SP, 2000. LOPES, S. F., VALE, V. S., OLIVEIRA A. P. Análise Comparativa da Estrutura e Composição Florística de Cerrado no Brasil Central. InterCiencia. V.36, n.1, p.1-15, 2011. SPOONER, P. G.; SMALLBONE, L. Effects of road age on the structure of roadside vegetation in south-eastern Australia.Agriculture Ecosystems & Environment, Zurich, v. 129, p.:57-64, 2009. VASCONCELOS, P.B.; ARAÚJO, G. M., BRUNA, E. M.The role of roadsides in conserving Cerrado plant diversity.biodiversityandconservation, London, v. 23, p.3035-3050, 2014.