DISTRIBUIÇÃO E ABUNDÂNCIA DE ESPÉCIES ARBÓREAS DO CERRADO SENSU STRICTO NO PANTANAL, MATO GROSSO, BRASIL
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- Marco Antônio Camelo Abreu
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1 DISTRIBUIÇÃO E ABUNDÂNCIA DE ESPÉCIES ARBÓREAS DO CERRADO SENSU STRICTO NO PANTANAL, MATO GROSSO, BRASIL Gilmar Alves Lima Júnior, Natasha Brianez Rodrigues, Débora Soares Barreto, Letícia Borges Pinto, Poliana Ferreira Couto, Cátia Nunes da Cunha (Universidade Federal de Mato Grosso, Departamento de Botânica e Ecologia, Av. Fernando Corrêa da Costa, s/nº, CEP Cuiabá, MT. gilmarjunior@yahoo.com.br) Termos para Indexação: composição florística, Cerrado, Cáceres. Introdução O Cerrado constitui a segunda maior formação vegetal brasileira, atrás da Amazônia com 3,5 milhões km 2 (Felfili e Silva Júnior, 1993). Considerado por pesquisadores um hotspot, o Cerrado destaca-se como um bioma de grande biodiversidade, com cerca de 50% suas espécies consideradas peculiares e uma das regiões do mundo mais ameaçadas de extinção (Henriques, 2003). Há uma grande variedade de paisagens e tipos fisionômicos do Cerrado, que englobam formações florestais, savânicas e campestres (Coutinho, 1978). São descritos onze tipos fitofisionômicos gerais, enquadrados em formações florestais (mata ciliar, mata de galeria, mata seca e cerradão); savânicas (cerrado sensu stricto, parque de cerrado, palmeiral e vereda) e campestres (campo sujo, campo rupestre e campo limpo), podendo apresentar subtipos (Ribeiro e Walter, 1998). De acordo com Ribeiro & Walter (1998), o Cerrado sensu stricto apresenta árvores baixas, inclinadas, tortuosas, com ramificações retorcidas e irregulares, com os arbustos e subarbustos espalhados. O cerrado sensu stricto ocupa 70% da área total do Cerrado (Felfili e Silva Júnior, 1993). Diversos estudos foram realizados sobre a flora do cerrado, desde os primeiros trabalhos de Warming, em Minas Gerais. Rizzini (1963) relaciona 537 espécies, Ratter et al. (1996)
2 registrou 534 espécies e Castro et al. (1999) apresenta uma lista refinada com 1709 espécies, os autores consideraram árvores e arbustos. Com a rápida devastação do Cerrado para fins econômicos, trabalhos apresentando a flora do bioma mostram-se importantes para a aquisição de conhecimento da identidade dos indivíduos, subsidiando estudos de preservação e manejo. O estudo objetivou a elaboração da composição florística das espécies do cerrado sensu stricto no Pantanal de Mato Grosso. Material e Métodos As áreas de estudo estão localizadas na Fazenda Baía de Pedra, município de Cáceres, Pantanal de Mato Grosso, Brasil. Este trabalho faz parte de um projeto Padrões de Biodiversidade do Pantanal (BioPan) Centro de Pesquisas do Pantanal (CPP). Para o estudo do cerrado sensu stricto, foram demarcadas 40 e 25 parcelas de 10 m 2 cada, na Área 1 ( / ) e a Área 2 ( / ), respectivamente, amostrando todos os indivíduos com DAP 4,7 cm. As duas áreas de estudo estão distribuídas seguindo o nível topográfico, sujeitas a encharcamento do solo ou presença de lâmina d água de 0,3 m no período chuvoso nas bordas, onde faz divisa com pastagem nativa e exótica. Quanto a caracterização geral das áreas, o estrato arbóreo alcança aproximadamente 5 metros de altura, onde predomina as espécies Curatella americana L., Byrsonima crassifolia L. Rich, Callisthene fasciculata Mart., Tabebuia spp.. No dossel sobressaem indivíduos de Hymenaea stigonocarpa Mart. ex Hayne e Tabebuia impetiginosa (Mart. ex DC.) Standl. com apoximadamente 10 metros de altura. No sub-bosque predomina espécies como Myrcia sp., Bauhinia sp., Magonia pubescens A. St.-Hil., Rhamnidium elaeocarpum Reissek, Terminalia argentea Mart. e Luehea paniculata Mart. O estrato herbáceo é ralo com predominância de gramíneas de Bromelia balansae Mez (gravatá) nos pontos mais altos, livres da água das cheias. A lista de espécies foi feita a partir da identificação de todos os indivíduos amostrados na área, por meio de literatura especializada e por comparação com material no herbário. A
3 grafia dos nomes científicos foi verificada no banco de dados nomenclatural do Missouri Botanical Garden. A lista de espécies foi preparada em ordem alfabética de famílias de acordo com Angiosperm Phylogeny Group (APG) atualizado em APG II (2003). O material botânico fértil encontra-se depositado no herbário da Universidade Federal de Mato Grosso (HC). Resultados e Discussão Foram amostradas 36 espécies e 2 morfo-espécies, distribuídas em 18 famílias botânicas e 28 gêneros (Tabela 1). Destacaram-se em número de espécies, as famílias Rubiaceae (5 espécies), seguida por Fabaceae e Bignoniaceae, com 4 espécies cada. Do total, 11 famílias foram representadas por uma única espécie. Quanto aos gêneros, foram amostradas 3 e 2 espécies de Tabebuia e Terminalia, respectivamente. Souto e Felfili (dados não publicados) citam as espécies Qualea parviflora Mart., Curatella americana L. e Myrcia parviflora D. Legrand. num cerrado de Chapada dos Guimarães, destas as duas primeiras se destacaram em número de indivíduos nas duas áreas estudadas no Pantanal de Cáceres. A riqueza de espécies foi menor do que a citada para o cerrado sensu stricto de Chapada dos Guimarães (MT), onde foram amostradas 79 espécies distribuídas em 35 famílias (Souto e Felfili, dados não publicados) e de uma área em Água Boa, região oeste de Mato Grosso, onde Felfili et al cita 80 espécies e 34 famílias botânicas. Na comparação das listas florística, 13 espécies amostradas foram semelhantes ao cerrado sensu stricto do Pantanal do Rio das Mortes (Marimon e Lima, 2001). Quanto à distribuição, doze espécies ocorreram apenas na Área 1 e dez espécies apenas na Área 2. As duas áreas apresentaram elementos na composição florística que indica uma transição de cerrado sensu stricto para cerradão, dentre estas espécies, na área 1, Tabebuia impetiginosa (Mart. ex DC.) Standl., Dipteryx alata Vogel., Magonia pubescens A. St.-Hil., Callisthene fasciculata Mart. e Astronium fraxinifolium Schott ex Spreng. Na Área 2,
4 Jacaranda cuspidifolia Mart., Lafoensia pacari A. St.-Hil. e Luehea paniculata Mart. são comuns aos cerradões do Pantanal. Contudo, as espécies com maior número de indivíduos foram Byrsonima crassifolia L. Rich e Curatella americana L. para ambas as áreas, espécies que caracterizam a fisionomia cerrado sensu stricto. Conclusões O cerrado sensu stricto do Pantanal de Mato Grosso apresenta baixa riqueza de espécies quando comparado com áreas localizadas no Planalto Central. A inundação e umidade no período de chuvas e a distância com a área core do Cerrado podem ser fatores que indicam esta baixa riqueza de espécies. A ocorrência das áreas de cerrado sensu stricto e demais fitofisionomias de Cerrado no Pantanal representam a ampla distribuição das espécies de Cerrado no Pantanal.
5 Tabela 1. Flora arbórea amostrada em duas áreas de cerrado sensu stricto, Pantanal de Cáceres, Mato Grosso, Brasil. 1 Mendonça et al. 1998; 2 Silva Júnior (2005). Família Nome científico Nome popular Área 1 Área 2 Ocorrência Anacardiaceae Astronium fraxinifolium Schott ex Spreng. gonçaleiro, gonçalo-alves 7 12 mata seca 1 Apocynaceae Aspidosperma sp. peroba 1 Arecaceae Attalea phalerata Mart. ex Spreng acuri 2 Astrocaryum aculeatum G.F.W. Meyer tucumã 1 Bactris glaucescens Drude tucum 1 Bignoniaceae Jacaranda cuspidifolia Mart. carobinha 1 mata seca 1 ;cerrado 1 Tabebuia aurea (Silva Manso) Benth. & Hook. f. ex S. Moore paratudo 2 9 cerrado 1 Tabebuia impetiginosa (Mart. ex DC.) Standl. ipê 6 mata seca 1 ;cerrado 2 Tabebuia roseoalba (Ridl.) Sandwith ipê-branco 2 2 mata seca 1 Cecropiaceae Cecropia pachystachya Trécul embaúba 1 2 Combretaceae Terminalia argentea Mart. capitão-do-mato 8 2 cerradão 1,2 ;cerrado 1 ;mata seca 2 Terminalia brasiliensis (Cambess. ex A. St.-Hil.) Eichler 2 cerrado 1 Dilleniaceae Curatella americana L. lixeira cerrado 1 ;cerradão 1 Erythroxylaceae Erythroxylum cf. suberosum A.St.-Hil. 2 Fabaceae Dipteryx alata Vogel. baru, cumbaru 6 cerrado 1,2 ;cerradão 2 ;mata seca 2 Hymenaea stigonocarpa Mart. ex Hayne jatobá 1 2 cerrado 1 ;mata de galeria 2 cf. Vatairea macrocarpa (Benth.) Ducke angelim 2 cerradão 1 Fabaceae sp.1 1 Machaerium aculeatum Raddi 1 1
6 Lythraceae Lafoensia pacari A. St.-Hil. mangaba-brava, mangava 2 Malpighiaceae Byrsonima crassifolia L. Rich canjiqueira, murici Malvaceae Luehea cf. divaricata Mart. 1 cerrado 1 ;cerradão 2 ;mata seca 1 Luehea paniculata Mart. açoita-cavalo 9 cerradão 1 Moraceae Ficus sp. figueira 2 Rhamnaceae Rhamnidium elaeocarpum Reissek cabriteiro 2 cerrado 1 ;cerradão 1 Rubiaceae Genipa americana L. genipapo 2 cerradão 1 continuação Guettarda viburnoides Cham. & Schltdl. veludo 6 2 cf. Alibertia sp. marmelada 4 cf. Tocoyena sp. 1 Rubiaceae sp.1 4 Rutaceae Zanthoxylum riedelianum Engl. mamica-de-porca 14 7 cerrado lato sensu 1 Sapindaceae Magonia pubescens A. St.-Hil. timbó, tingui 4 8 cerrado 1 ;cerradão 1 ;mata seca 1 Vochysiaceae Callisthene fasciculata Mart. carvoeiro 22 8 mata seca 1 ;cerradão 1 Qualea parviflora Mart. pau-terra 2 10 cerrado 1 ; cerradão 2 morfo-espécies morfo-espécie 1 carijó 2 morfo-espécie 2 1
7 Referências bibliográficas APG II (ANGIOSPERM PHYLOGENY GROUP). An update of the angiosperm phylogeny group classification for the orders and families of flowering plants: APG II. Botanical Journal of the Linnean Society, v.141, p CASTRO, A. A. J. F.; MARTINS, F. R.; TAMASHIRO, J. Y.; SHEPHERD, G. J. How rich is the flora of Brazilian Cerrados?. Annals of the Missouri Botanical Garden, v.86, p COUTINHO, L.M. O conceito de cerrado. Revista Brasileira de Botânica v 1, p FELFILI, J. M. & SILVA JÚNIOR, M. C. A comparative study of cerrado (sensu stricto) vegetation of Central Brazil. Journal of Tropical Ecology. v.9, p FELFILI, J.M.; NOGUEIRA, P.E.; SILVA JÚNIOR, M.C.S.; MARIMON, B.S.; DELITTI, W.B.C. Composição Florística e Fitossociologia do cerrado sentido restrito no município de Água Boa-MT. Acta botanica brasilica, v.16, p HENRIQUE, R.P.B. O Futuro Ameaçado do Cerrado Brasileiro. Revista Ciência Hoje, v MARIMON, B.S.; LIMA, E.S. Caracterização fitofisionômica e levantamento florístico preliminar no Pantanal dos Rios Mortes-Araguaia, Cocalinho, Mato Grosso, Brasil. Acta botanica brasilica, v.15, p MENDONÇA, R.C.; FELFILI, J.M.; TELES, B.M.T.; SILVA JÚNIOR, M.C.; REZENDE, A.V.; FILGUEIRAS, T.S.; NOGUEIRA, P.E. Fitofisionomias do Bioma Cerrado. In: SANO, S.M.; ALMEIDA, S.P. (Ed.). Cerrado: ambiente e flora. Planaltina, EMBRAPA-CPAC, p RATTER, J.A.; BRIDGEWATER, S.; ATKINSON, R.; RIBEIRO, J.F. Analysis of the Floristic Composition of the Brazilian Cerrado Vegetation II: Comparison of the Woody Vegetation of 98 areas. Edinburgh Journal of Botany, v.53, p RIBEIRO, J.F.; WALTER, B.M.T Fitofisionomias do bioma do Cerrado: os biomas do Brasil. In: Cerrado: ambiente e flora. EMBRAPA, Planaltina, DF, p
8 RIZZINI, C.T. A flora do Cerrado: análise florística das savanas centrais. IN: Simpósio sobre o Cerrado. São Paulo: EDUSP, p SILVA JÚNIOR, M.C. 100 Árvores do Cerrado: guia de campo. Ed. Rede de Sementes do Cerrado p.
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