EDUCAÇÃO EM SAÚDE: A CARTA DOS DIREITOS DOS USUÁRIOS DA SAÚDE NO HOSPITAL SÃO JULIÃO NA PERSPECTIVA DOS DIREITOS HUMANOS

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Transcrição:

EDUCAÇÃO EM SAÚDE: A CARTA DOS DIREITOS DOS USUÁRIOS DA SAÚDE NO HOSPITAL SÃO JULIÃO NA PERSPECTIVA DOS DIREITOS HUMANOS Priscilla Fernandes Fagundes 1 Walquiria da Cruz Batista Lima 2 Estela Márcia Rondina Scandola 3 RESUMO: O Pacto pela Saúde propiciou a aprovação da Carta dos Direito dos Usuários da Saúde. No Programa de Residência Multiprofissional do Hospital São Julião ocorrem processos de educação em saúde e, dentre esses, o trabalho com usuários do SUS na perspectiva do cuidado e da garantia de direitos em diversos cenários de práticas envolvendo públicos como: trabalhadores em saúde, pacientes, familiares, acompanhantes e residentes. O objetivo é refletir criticamente sobre a sensibilização dos usuários do HSJ sobre a carta dos direitos utilizando a prática da educação popular. Metodologia: Os dados coletados referem-se aos registros dos relatos dos participantes da atividade educativa e a análise ocorreu por meio dos fundamentos do Serviço Social e da educação popular. Resultados: (I) Os usuários e profissionais desconhecem a referida carta. (II) Há inúmeros relatos de desrespeito aos direitos nos serviços de saúde, tais como: Discriminação; tempo prolongado de espera para os atendimentos; ausência de esclarecimentos sobre o estado de saúde; receitas médicas ininteligíveis. Conclusões: Assim, observou-se que é possível realizar práticas de educação popular no ambiente hospitalar na perspectiva da garantia de direitos. A carta dos direitos dos usuários é um instrumento importante de garantia de direitos humanos. Os usuários sentem-se mais seguros quanto há a troca de saberes sobre seus direitos e podem atuar em todos os níveis de atenção. Palavras-chave: Educação Popular, Direitos Humanos, Saúde, Hospital, Serviço Social. GRUPO DE TRABALHO: 4. Educação em Direitos Humanos e Inclusão PROBLEMA DE PESQUISA: É possível trabalhar na perspectiva da garantia de direitos no âmbito hospitalar? 1 Assistente Social, pós graduanda na Residência Multiprofissional em Saúde do Hospital São Julião. E-mail: priscilla_assistentesocial@hotmail.com 2 Assistente Social, pós graduanda na Residência Multiprofissional em Saúde do Hospital São Julião. E-mail: wal.quirialima@hotmail.com 3 Doutora em Serviço Social, tutora na REMUS/UFMS/HSJ/Escola de Saúde Pública. E-mail: estelascandola@yahoo.com.br

2 1. INTRODUÇÃO No ano de 2006 foi divulgado o Pacto pela Saúde, por meio da portaria nº 399 estabelecendo o compromisso entre as três esferas federativas de gestão do SUS, firmando como prioridade o Pacto pela Vida, Pacto em Defesa do SUS e o Pacto de gestão do SUS. (BRASIL, 2006) A partir do Pacto em Defesa do SUS, foi divulgada a Carta de Direito dos Usuários da Saúde, aprovada pela portaria MS/GM nº 675 de 30 de Março de 2006 (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006), posteriormente substituída pela portaria GM/MS nº 1.820 de 2009, elaborada pelo Ministério da Saúde, Conselho Nacional de Saúde e Comissão Intergestora Tripartite (MINISTÉRIOD DA SAÚDE, 2009). A partir desta carta os atores envolvidos no sistema de saúde deveriam divulgar os direitos dos usuários do Sistema na perspectiva que pudessem ativar uma rede de pessoas e organizações decididas à melhoria da atenção nos serviços. O documento se constitui de seis (6) princípios básicos de cidadania, os quais necessitam ser divulgados e discutidos em todos os níveis de atenção à saúde, a fim de que os usuários, gestores e trabalhadores se apropriem de seu conteúdo: 1. Todo cidadão tem direito ao acesso ordenado e organizado aos sistemas de saúde. 2. Todo cidadão tem direito a tratamento adequado e efetivo para seu problema. 3. Todo cidadão tem direito ao atendimento humanizado, acolhedor e livre de qualquer discriminação. 4. Todo cidadão tem direito a atendimento que respeite a sua pessoa, seus valores e seus direitos. 5. Todo cidadão também tem responsabilidades para que seu tratamento aconteça da forma adequada. 6. Todo cidadão tem direito ao comprometimento dos gestores da saúde para que os princípios anteriores sejam cumpridos (BRASIL, 2007). Nesta perspectiva, o Hospital São Julião de Campo Grande, por meio do Programa de Residência Multiprofissional (PREMUS) em Cuidados Continuados Integrados (CCI), realiza Educação Popular em Saúde nos diferentes cenários de prática envolvendo os segmentos da instituição e, dentre os processos educativos estão aqueles com usuários e seus familiares. A Carta dos Direitos dos Usuários, além de ser um dos documentos que propicia implementar direitos, é também um instrumento mediador para as práticas educativas de troca de saberes. As práticas educativas no PREMUS, mesmo considerando as diferentes vertentes, tem, no trabalho com os usuários a fundamentação em Freire (1980), cujo um dos

3 pressupostos é que o processo de tomada de consciência não ocorre de uma relação somente de ensino na medida em que ninguém conscientiza ninguém, mas na ação consciente que na prática educativa os oprimidos tomam para si a luta por sua libertação. E, ainda, que O educador e o povo se conscientizam através do movimento dialético entre a reflexão crítica sobre a ação anterior e subsequente no processo de luta (FREIRE 1980, p.290). Os pressupostos da educação popular e a atuação do Serviço Social desafiam-se e complementam-se mutuamente nas práticas de educação em saúde. A Lei de Regulamentação da Profissão (Brasil, 1993) preconiza que cabe ao Assistente Social orientar indivíduos e grupos de diferentes segmentos sociais no sentido de identificar recursos e de fazer uso dos mesmos no atendimento e na defesa de seus direitos. Assim, participando do PREMUS o Serviço Social não somente é desafiado na atenção direta com os usuários, como também na relação com as demais profissões visando construir saberes horizontalizados. Por isso a necessidade de refletir criticamente sobre a disseminação da carta dos usuários do SUS nos ambientes do Hospital São Julião, especialmente nas salas de espera do ambulatório. 2. OBJETIVO Refletir criticamente sobre a sensibilização dos usuários do HSJ sobre a carta dos direitos utilizando a prática da educação popular. 3. METODOLOGIA Os dados coletados referem-se aos registros dos relatos dos participantes da atividade educativa e a análise ocorreu por meio dos fundamentos do Serviço Social e da educação popular. 4. RESULTADOS ALCANÇADOS A realização da Educação em Saúde a troca de saberes e experiências entre os profissionais e usuários que participaram foi uma forma de democratizar as informações referentes à Carta de direitos dos usuários. A sala de espera do ambulatório geralmente está repleta de usuários e é um momento de possibilidades de abordagem individual e coletiva para diferentes informações rápidas sobre as doenças que os levaram ao atendimento, as prevenções e também sobre o funcionamento do hospital.

4 É do arcabouço de conhecimento e prática das profissões cada uma dedicar-se a temas que estão diretamente ligados ao saber profissional estrito, ou seja, ao conhecimento que consideram mais próximos das especificidades do conhecimento em saúde. Os assuntos tratados pelos residentes de enfermagem, farmácia, fisioterapia, nutrição, psicologia e serviço social seguem, a rigor, essa regra. No entanto, nas práticas educativas no PREMUS há o envolvimento de diferentes profissionais mesmo sabendo que alguns seguirão mais profundamente cada assunto e outros apoiarão. Assim ocorreu com o trabalho com a Carta dos Direitos dos Usuários do SUS, ou seja, as assistentes sociais residentes é que tomaram a frente. Embora o tempo fosse curto, em torno de 40 minutos, a primeira questão foi sobre quem conhecia a carta. A resposta foi que nenhuma pessoa conhecia. Na sequência foi sobre quem já tinha ouvido falar e a resposta novamente foi que ninguém tinha ouvido falar. Assim, o trabalho inicial foi apresentar a carta e ir discutindo direito por direito, dialogando com a realidade dos presentes, estavam presentes aproximadamente 30 pessoas, que residem em Campo Grande e no interior do Estado. O desconhecimento do conteúdo também modificou a possibilidade de discutir a implementação da carta como um todo, mas foi possível exercitar com os participantes as diferentes formas de colocar em prática, nos seus municípios e nas demais unidades de saúde, cada direito que estava sendo exposto. Foram dados diversos exemplos de situações em que estes consideraram a assistência prestada poderia ser mais resolutiva e humanizada. O diálogo e a construção compartilhada do conhecimento, princípios da educação popular, foi oportunizando e construindo ambientes de fala de todos residentes e usuários e as falas dos usuários evidenciaram que há muitos desrespeitos aos direitos, especialmente, quando se trata dos serviços Sistema Único de Saúde (SUS). Ao tomarem conhecimento dos princípios da Carta os presentes identificaram que estes já haviam sido infringidos e, especial, em situações em que receberam receitas médicas impossíveis de serem lidas, prejudicando assim a compreensão dos horários de medicação; discriminação pela situação econômica, raça cor e religião; tempo prolongado de espera nas unidades de saúde, sem justificativas e informações ineficientes sobre o estado de saúde, sua doença e agravos. 5. CONCLUSÕES

5 As práticas educativas em sala de espera, embora acontecendo em muitas unidades de saúde, ainda carecem de maior discussão sobre a necessidade de aprofundar não somente a metodologia, sobretudo a prática multiprofissional. Não são os usuários somente os destinatários dessa prática, mas também podem ser participantes verdadeiros de conhecimentos para a equipe de saúde como também podem ser disseminadores de novas informações e novas discussões em saúde para o conjunto do SUS e da comunidade. Sendo o Hospital São Julião uma referência estadual para várias especialidades, as salas de espera constituem-se em um lugar importante de processos educativos e os princípios da educação popular podem ser empoderadores com essa população. O ambiente hospitalar é um local privilegiado para desafios educativos nos princípios de construção de conhecimento e saberes. A Carta dos Direitos dos Usuários do SUS continua sendo desconhecida e isso é preocupante, pois os profissionais de saúde em seu cotidiano laboral podem descumprir os princípios por desconhecimento e os usuários não reivindicarem que sejam garantidos seus direitos. BIBLIOGRAFIA UTILIZADA. BRASIL. Ministério da Saúde. Carta dos direitos dos usuários da saúde. Ministério da Saúde. -2. Ed. Brasília: Ministério da Saúde. 2007.. Portaria nº 399, de 22 de fevereiro de 2006. Divulga o Pacto pela Saúde 2006 Consolidação do SUS e aprova as Diretrizes Operacionais do Referido Pacto. Ministério da Saúde, Gabinete do Ministro, Brasília, DF, 22 fev. 2006. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2006/prt0399_22_02_2006.html>. Acesso. Portaria nº 675, de 30 de março de 2006. Aprova a Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde, que consolida os direitos e deveres do exercício da cidadania na saúde em todo o País. Ministério da Saúde, Gabinete do Ministro, Brasília, DF, 30 mar. 2006. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2006/prt0675_30_03_2006.html>. Acesso. Portaria nº 1820, de 13 de agosto de 2009. Dispõe sobre os direitos e deveres dos usuários da saúde. Ministério da Saúde, Gabinete do Ministro, Brasília, DF, 13 ago. 2009. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2009/prt1820_13_08_2009.html >. Acesso FREIRE, Paulo. Conscientização: teoria e prática da libertação, uma introdução ao pensamento de Paulo Freire. São Paulo: Moraes, 1980.