NOEMI FERNANDA ALVES DA CONCEIÇÃO O SALÁRIO E A SUA FUNÇÃO SOCIAL



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Transcrição:

NOEMI FERNANDA ALVES DA CONCEIÇÃO O SALÁRIO E A SUA FUNÇÃO SOCIAL CAMPINAS SP DEZEMBRO - 2009

NOEMI FERNANDA ALVES DA CONCEIÇÃO O SALÁRIO E A SUA FUNÇÃO SOCIAL Artigo científico apresentado como Exigência final do curso de Pós-graduação Latu Sensu em Direito do Trabalho, pela Universidade Gama Filho. Professor orientador: Eduardo Azevedo Campinas SP Dezembro de 2009

O SALÁRIO E A SUA FUNÇÃO SOCIAL Noemi Fernanda Alves da Conceição* RESUMO O presente trabalho tem por objetivo aprofundar um aspecto essencial do salário, seu caráter de essencialidade como renda e sua função social, fazendo a verdadeira implementação do princípio fundamental expresso na Constituição Federal de 1988 Art. 1º IV, valores social do trabalho (...). Palavras-chave: Salário Trabalho Renda Remuneração INTRODUÇÃO A população no Brasil é fundamentalmente assalariada, com carteira assinada ou não, mas dependentes de salário, e diferentemente de outras formas de renda, como juros, lucros, aumento de capital, especulações imobiliárias, aluguéis etc. O Salário é a forma de renda mais popularizada e essencial a manutenção do trabalhador e sua família, no Brasil; * Bacharel em Direito. Prós-graduanda em Direito do Trabalho. E-Mail: noeminanda@yahoo.com.br

Diante de tal importância a Constituição Federal de 1988, estatuiu o trabalho, e a atribuição do seu valor como princípio fundamental, e além do artigo 7º IV, que dispões: Art. 7 IV - Salário mínimo, fixado em lei, nacionalm ente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte, e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim. O protegeu ainda nas alíneas V e VI, do mesmo artigo: V - piso salarial proporcional a extensão e à complexidade do trabalho; VI - irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção e acordo coletivo; Além dessa proteção verificamos na legislação ordinária que por diversas vezes o salário é tratado de maneira especial, recebendo proteção, como na lei 11.101/2005 regula a recuperação judicial; extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária; notadamente observamos a proteção ao salário quando veda pelo art. 161 1 a possibilidade de inclusão de cr éditos trabalhistas, o que incluí principalmente o salário, no plano de recuperação extrajudicial, e no artigo 83, I classifica os créditos trabalhistas como primeiro dos beneficiário na lista de créditos, acima dos créditos tributários, ainda que o haja limitado a 150 (cento e cinqüenta) salários mínimos; Observamos na legislação apenas em raríssimas exceções a permissão da penhora do salário de forma expressa, e tão somente para salvaguardar outras dívidas da mesma natureza, que é alimentar. O salário tem natureza alimentar.

Assim, nos incumbimos em demonstrar que o salário, forma mais popular de remunerar o trabalho, é um dos pilares da economia e do próprio estado brasileiro, e juntamente com a livre iniciativa sustentam o Estado no seu desenvolvimento, e da mesma forma, em sendo desprotegido, poderá ser fator primeiro para o declínio de um Estado. II-SALÁRIO. O conceito de trabalho, remunerado, tal qual conhecemos hoje, teve sua origem no fim do século XVIII, e início do século XIX, regra geral com a popular revolução industrial, marco de nascimento histórico do próprio direito do trabalho.até então existiam diversas formas de pagamento pelo trabalho, mas certamente nada igual ao que conhecemos atualmente, após os citados eventos. Karl Marx foi um dos maiores estudiosos desse evento, e definiu-o como sendo o preço oferecido pelo capitalista ao empregado pelo aluguel de sua força de trabalho por um período determinado, ou por unidade de produção. Além do que cuidou em conceituar a mais valia, que é o valor da diferença entre o produzido pelo trabalho, e o salário pago ao trabalhador, a base do lucro no sistema capitalista. O termo tem origem no latim salarium argentum pagamento em sal, forma primária de pagamento oferecida aos soldados do Império Romano. O Artigo 457 da CLT, uma conceituação própria, a qual diferencia remuneração de salário. Art. 457 compreendem-se na remuneração do empregado, para todos os efeitos legais, além do salário devido e pago diretamente pelo empregador, como contraprestação do serviço, as gorjetas que receber. 1 Integram o salário não só a importância fixa estipu lada, como também as comissões, percentagens, gratificações ajustadas, diárias para viagens e abonos pagos pelo empregador. 2 Não se incluem nos salários as ajudas de custo, assim com o as

diárias para viagem que não excedam de cinqüenta por cento do salário percebido pelo empregado. 3 Consideram-se gorjeta não só a importância espontane amente dada pelo cliente ao empregado, como também aquela que for cobrada pela empresa ao cliente, como adicionais nas contas, a qualquer título, e destinada a distribuição aos empregados. Podemos citar outras definições atuais, Maurício Godinho Delgado¹: Salário é o conjunto de parcelas contraprestativas pagas pelo empregador ao empregado em função do contrato de trabalho. Trata-se de um complexo de parcelas (José Martins Catharino) e não de uma única verba. Todas tem caráter contraprestativo, não necessariamente em função da precisa prestação de serviços, mas em função do contrato ( nos períodos de interrupção, o salário continua devido e pago); todas são também devidas e pagas diretamente pelo empregador, segundo o modelo referido pela CLT (art. 457, caput) e pelo conceito legal de salário mínimo (art. 76 da CLT e leis do salário mínimo após 1988). Renato Saraiva², considera salário: [...]é a contraprestação paga diretamente pelo empregador, seja em dinheiro, seja em utilidades (alimentação, habitação etc.). Umas das características do salário é a possibilidade de sua natureza composta, ou seja, a possibilidade de parte da contraprestação ser paga em dinheiro e parte em in natura (utilidades). ¹ Delgado Mauricio Godinho, Curso de Direito do Trabalho, 7 Edição, Editora LTr. ² Saraiva Renato, Direito do Trabalho, 10 Edição, Editora Método.

O trabalho, que é a origem primeira do salário, é a forma essencial de subsistência do ser humano no planeta, dificilmente existiríamos sem ele. O ócio que já foi cultuado outrora fatalmente poderia extinguir a espécie. A execução de um trabalho possui inúmeras formas de realização, algumas estudadas pelo Direito do Trabalho, outras pelo Direito Civil, outras ainda pelo Direito Empresarial. O presente artigo se limitou a estudar o salário como contraprestação do serviço prestado, habitualmente, por pessoa física, a um empregador que é o próprio conceito de empregado com vínculo empregatício no Direito do Trabalho brasileiro, em síntese o disposto nos artigos 2º e 3º da CLT, uma vez que em sua grande maioria é esse trabalhador em tese que recebe salário. Os demais como vimos, em regra manejam sua própria prestação de serviços, recebendo o pagamento por determinado serviço prestado. A CLT, como vimos, traz uma subdivisão entre remuneração e salário em seu artigo 457, a remuneração compreenderia o salário direto pago pelo empregador mais o salário indireto (gorjeta). O Salário direito compreende-se além do valor fixo ajustado como base, as comissões, os percentuais, adicionais indenizatórios, gratificações ajustadas, ajudas de custo e diárias para viagem quando ultrapassar a metade da remuneração no seu total, e abonos pagos pelo empregador; O salário indireto se compõe essencialmente da gorjeta, remuneração, paga por terceiro de forma direta ou indiretamente através da nota fiscal. O que podemos verificar regra geral, é que o trabalhador remunerado por salário, por conseqüência do aluguel da força de trabalho pela quase totalidade de seu tempo útil diário, e na maioria dos casos como único meio de subsistência própria e familiar, acaba sendo a forma mais fragilizada, mais denegrida, de trabalho. Acaba aceitando as condições impostas, se sujeitando dentro da relação contratual a todas as exigências, e apenas podendo se salvaguardar nas regras protetivas da Constituição Federal e da CLT, especialmente, nas regras de proteção do salário que é razão primeira de sua prestação de serviços.

III PRINCÍPIOS DE PROTEÇÃO AO SALÁRIO. Como observado em linhas iniciais, na introdução deste trabalho, a constituição federal se preocupou sobremaneira em delinear o salário, que em face as demais normas infraconstitucionais têm força de princípios. Colocou o trabalho, logo no artigo 1º, ao lado da livre iniciativa, como sustentáculos do Estado, denominando expressamente como princípio fundamental. Trouxe ainda um salário mínimo federal como forma de padronizar um mínimo razoável as necessidades do trabalhador brasileiro, bem verdade que apenas programou diversas necessidades que deveriam ser contempladas pelo Salário Mínimo, hoje ainda não sendo nossa realidade, mas como norma programática, se pretende que seja num breve futuro. Se preocupou em proibir a vinculação do salário mínimo como índice de reajuste de qualquer bem ou serviço que não de caráter salarial, afim de evitar a preocupação com o seu reajuste e o efeito cascata na economia brasileira, conferindo a real possibilidade de reajustes superiores a inflação, parte final do artigo 7 IV, supra citado,... sendo vedada sua vinculação para qualquer fim. Balizou o princípio da irredutibilidade salarial ou inalterabilidade: disposto fundamentalmente no artigo 7 VI, combinado com o artigo 468 da CLT, em que dispõe em síntese que o salário é irredutível, e se proíbe a alteração contratual lesiva ao empregado (pacta sunt servanda), bem verdade que a parte final do dispositivo constitucional trouxe uma atenuação a regra, permitindo que negociações coletivas por acordo ou convenção pudessem na negociação garantindo o emprego, reduzi-lo, um verdadeiro confronto entre dois institutos importantes, e visando proteger bem maior, optou pela própria garantia do vínculo de emprego. O mestre Maurício Godinho Delgado¹, nos ensina: [...]a ordem justrabalhista, entretanto, não tem conferido a semelhante garantia toda a amplitude possível. Ao contrário, como se sabe, prevalece, ainda hoje, a pacífica interpretação jurisprudencial e doutrinária de que a regra da irredutibilidade salarial restringe-se, exclusivamente, à noção do valor nominal do salário do obreiro (art. 468, CLT, combinado com art. 7, VI,

CF/88) ¹ Delgado Mauricio Godinho, Curso de Direito do Trabalho, 7 Edição, Editora LTr. Princípio de Intangibilidade: o trabalhador deve receber o salário integralmente, abstendo-se o empregador de efetuar descontos não autorizados previamente pelo artigo 462 da CLT, e súmula 342 do TST. Observamos que a quebra desse princípio, via de regra, resulta numa das formas mais cruéis de trabalho humano o escravo que fundamentalmente se caracteriza pelo não pagamento de salário, justificado muita das vezes, pelo desconto dos itens essenciais a existência do trabalhador, itens de higiene, alimentação, moradia, etc. O tomador do serviços se utiliza desses expedientes de desconto gerando dívidas do trabalhador para prendê-lo ao trabalho. A Constituição Federal assegurou reajustes periódicos, nos termos do Artigo 7º, IV - Assegurou valor mínimo nacionalmente unificado, proporcional (...), ou seja, nenhum brasileiro pode salvo os casos previstos pela própria CF, ou sua proporcionalidade em hora de trabalho, ganhar menos do que este valor nacional. A Constituição abriu a possibilidade dos Estados federados definirem no âmbito de sua competência, valor superior ao nacional, mas nunca inferior. O que na prática está sendo utilizado em muitos Estados Brasileiros, a lei complementar 103/2000 veio regulamentar essa matéria: Lei Complementar nº 103, de 14 de julho de 2000. (DOU 17.07.2000) Autoriza os Estados e o Distrito Federal a instituir o piso salarial a que se refere o inciso V do artigo 7º da Constituição Federal, por aplicação do disposto no parágrafo único do seu artigo 22. O Presidente da República Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei Complementar: Art. 1º Os Estados e o Distrito Federal ficam autorizados a instituir, mediante lei de iniciativa do Poder Executivo, o piso salarial de que trata o inciso V do artigo 7º da Constituição Federal para os empregados que não tenham piso salarial definido em lei federal, convenção ou acordo coletivo de trabalho. (...) Podemos ficar com o exemplo do Estado de São Paulo, que em dias atuais

em seu primeiro nível conforme disposto abaixo, apresenta um valor de 8,6% frente ao valor do salário mínimo nacional que está em R$ 465,00 (quatrocentos e sessenta e cinco reais). LEI Nº 13.485, DE 3 DE ABRIL DE 2009. Revaloriza os pisos salariais mensais dos trabalhadores que especifica, instituídos pela Lei nº 12.640, de 11 de julho de 2007. O GOVERNADOR DO ESTADO DE SÃO PAULO: Faço saber que a Assembléia Legislativa decreta e eu promulgo a seguinte lei: Artigo 1º - O artigo 1º da Lei nº 12.640, de 11 de julho de 2007, passa a vigorar com a seguinte redação: Artigo 1º - No âmbito do Estado de São Paulo, os pisos salariais mensais dos trabalhadores a seguir indicados ficam fixados em: I - R$ 505,00 (quinhentos e cinco reais), para os trabalhadores domésticos, serventes, trabalhadores agropecuários e florestais, pescadores, contínuos, mensageiros e trabalhadores de serviços de limpeza e conservação, trabalhadores de serviços de manutenção de áreas verdes e de logradouros públicos, auxiliares de serviços gerais de escritório, empregados não-especializados do comércio, da indústria e de serviços administrativos, cumins, "barboys", lavadeiros, ascensoristas, "motoboys", trabalhadores de movimentação e manipulação de mercadorias e materiais e trabalhadores não-especializados de minas e pedreiras; II - R$ 530,00 (quinhentos e trinta reais), para os operadores de máquinas e implementos agrícolas e florestais, de máquinas da construção civil, de mineração e de cortar e lavrar madeira, classificadores de correspondência e carteiros, tintureiros, barbeiros, cabeleireiros, manicures e pedicures, dedetizadores, vendedores, trabalhadores de costura e estofadores, pedreiros, trabalhadores de preparação de alimentos e bebidas, de fabricação e confecção de papel e papelão, trabalhadores em serviços de proteção e segurança pessoal e patrimonial, trabalhadores de serviços de turismo e hospedagem, garçons, cobradores de transportes coletivos, "barmen", pintores, encanadores, soldadores, chapeadores, montadores de estruturas metálicas, vidreiros e ceramistas, fiandeiros, tecelões, tingidores, trabalhadores de curtimento, joalheiros, ourives, operadores de máquinas de escritório, datilógrafos, digitadores, telefonistas, operadores de telefone e de "telemarketing", atendentes e

comissários de serviços de transporte de passageiros, trabalhadores de redes de energia e de telecomunicações, mestres e contramestres, marceneiros, trabalhadores em usinagem de metais, ajustadores mecânicos, montadores de máquinas, operadores de instalações de processamento químico e supervisores de produção e manutenção industrial; III - R$ 545,00 (quinhentos e quarenta cinco reais), para os administradores agropecuários e florestais, trabalhadores de serviços de higiene e saúde, chefes de serviços de transportes e de comunicações, supervisores de compras e de vendas, agentes técnicos em vendas e representantes comerciais, operadores de estação de rádio e de estação de televisão, de equipamentos de sonorização e de projeção cinematográfica e técnicos em eletrônica." Artigo 2º - Esta lei entra em vigor no primeiro dia do mês subseqüente ao da data de sua publicação. Palácio dos Bandeirantes, aos 3 de abril de 2009. José Serra Sidney Estanislau Beraldo Secretário de Gestão Pública Mauro Ricardo Machado Costa Secretário da Fazenda Francisco Vidal Luna Secretário de Economia e Planejamento Aloysio Nunes Ferreira Filho Secretário-Chefe da Casa Civil COMENTÁRIOS IMPORTANTES: Conforme previsto na Lei Estadual 12.640/07, este piso salarial NÃO é aplicável: 1) Aos trabalhadores que tenham outros pisos definidos em lei federal, 2) Aos empregados que tenham piso definido em convença ou acordo coletivo de trabalho, 3) Aos servidores públicos estaduais e municipais, 4) Aos contratos de aprendizagem regidos pela Lei federal n 10.097, de 19 de dezembro de 2000.

E por fim, para ficarmos nos princípios norteadores advindos da Constituição Federal, a alínea V (proporcional a extensão e complexidade), do mesmo artigo 7, a despeito do nacionalmente unificado, assegurou ainda, quantificá-lo pelo grau de complexidade. Bem verdade que esse inciso ainda não foi implementado, não tem regulamentação para lhe dar concretude, e o que se pretende como norte é a verdadeira efetivação do princípio da equidade em termos salariais. Infelizmente a não efetivação desse princípio em sua plenitude nos leva a verificar empiricamente classes de trabalhadores extremamente valorizadas, mas em sua grande maioria, classe de trabalhadores totalmente desvalorizados até marginalizados. E pelo que extraímos da realidade que a única diferença é o mercado econômico regulando quem ganha mais ou menos, momentaneamente, pela lei da oferta e da procura, que em nada condiz com o principio constitucional citado. IV O CARÁTER SOCIAL DO SALÁRIO Afora as normas constitucionais, as convenções e acordos coletivos no Brasil em sua grande maioria estabelecem além das condições de trabalho os pisos mínimos de cada categoria; E esse piso mínimo deveria em tese, atender todas as necessidades básicas desse trabalhador, e assegurar um investimento em sua qualificação. Infelizmente observamos um grande descompasso e falta de critério metodológico nessas aferições e medições, e na grande maioria os Sindicatos não conseguem assegurar salários condizentes com a respectiva complexidade, o que torna determinadas categorias estáticas socialmente. Por exemplo, a construção civil, que conta com uma mão de obra em regra barata diga-se - baixos salários deteriora essa profissão e seus trabalhadores, quase sempre não se qualificam, uma vez que sua remuneração não permite a continuidade nos estudados, e acabam sempre permanecendo nesta mesma função, não ascendendo socialmente... Outras classes de trabalhadores já conseguem se movimentar ascendentemente na escala social, por conta de um salário capaz de atender as necessidades básicas, e a continuidade de sua qualificação. Apenas por este - fator percebemos o quanto o salário é o fator que assegura a dignidade da pessoa do trabalhador, sua condição social, sua perspectiva de ascensão social e da sua família, a educação de seus

filhos. O fator financeiro é a finalidade precípua do trabalho humano, na medida que todos os bens e serviços que circulam no Brasil, dependem de contraprestação financeira. Com um salário condizente com sua força de trabalho, e assecuratório do programa corretamente estabelecido no Art. 7 IV, o tr abalhador poderia em tese experimentar a evolução social de sua condição.

V CONCLUSÃO Vimos que o valor social do trabalho, remunerado pelo salário, é um dos pilares de um Estado, repercutindo em toda sua dinâmica, sua economia, e seu crescimento. Os Estados que se preocupam verdadeiramente com o desenvolvimento estabelecem normas que protegem e regulamentam o salário, e quanto mais protegido, maior a segurança econômica e o desenvolvimento daquele mesmo estado. No Brasil, através deste trabalho, observamos que da junção das normas constitucionais e infraconstitucionais, há uma proteção substancial ao salário, e assim deve permanecer. A despeito de não concordarmos com o patamar atual do salário mínimo nacional, pelo valor baixo, e nessa mesma esteira as convenções coletivas de trabalho no Brasil, por não se utilizarem de regras técnicas e cientificas para determinar o quanto vale verdadeiramente aquela mão de obra para a Empresa, estabelecendo pisos salariais igualmente ínfimos em sua maioria, impossibilitando a plenitude do art. 7 IV ideário. O que torna realmente a mão de obra onerosa para uma Empresa no Brasil são os impostos incidentes no salário, regra geral, calcula-se que para cada real pago em salário, igualmente paga-se um real em imposto. Enfim, mesmo tendo de superar esses obstáculos de equalização do real valor da mão de obra, temos que suficientemente demonstrado nesse trabalho que o salário tem suma importância para a existência e desenvolvimento do Estado. Devendo o salário receber do Estado toda a proteção que for necessária.

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