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CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA EMENTA: ANÁLISE SOBRE A POSSIBILIDADE DE CÓPIAS DE SINDICÂNCIAS E PROCESSOS ÉTICOS PARA DELEGADOS DE POLÍCIA, POR PEDIDO DE OFÍCIO. IMPOSSIBILIDADE. Nota Técnica de Expediente nº 084/2008, do SEJUR. (Aprovado em Reunião de Diretoria em 11/12/2008) Expediente: 9414/2008. I DOS FATOS Esta assessoria jurídica foi instada a se manifestar acerca do questionamento, protocolado sob o nº 9414/2008, feito pelo CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA DO DISTRITO FEDERAL, com a seguinte transcrição: Solicitamos a essa Assessoria Jurídica, em caráter de urgência, emissão de parecer acercar do envio de cópia de Sindicâncias e Processos Éticos, em apuração neste Regional, a delegados de polícia. a questão. Diante do exposto, passo a tecer as devidas considerações sobre II DO DIREITO A nossa Constituição Federal, elaborada logo após o regime da ditadura militar, teve suas bases axiomáticas pautada sob o pálio de um cenário político altamente garantista dos direitos e garantias fundamentais, exaltando, principalmente, a dignidade da pessoa humana, a liberdade de manifestação do pensamento, a liberdade de culto e a intimidade da pessoa. A Constituição cidadã de 1988 foi elaborada de modo a proteger e inibir os abusos cometidos pelo Estado aos seus administrados.

Diante do expresso, o direito à intimidade, à honra, à vida privada e à imagem, por sua importância perante o Estado foram conferidos pela CF nos ditames do art. 5º, X, LX e XXXIII, consagrados como direitos fundamentais protegidos por cláusula pétrea. Para uma cristalina compreensão, pertinente se faz a transcrição dos dispositivos, litteris: X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; XIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado; LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem; Nesse diapasão, em defesa do sigilo processual de procedimento disciplinar que sofre o profissional da medicina, o art.1º da Resolução do CFM nº 1.617/2001, em consonância com a Lei n.º 3.268/57 e o art. 14, de seu Decreto Regulador nº 44.045/58, dispõem respectivamente: Art. 1º O Processo Ético-Profissional, nos Conselhos de Medicina, reger-se-á por este Código e tramitará em sigilo processual. Art.14 Somente na Secretaria do Conselho Regional de Medicina poderão as partes ou seus procuradores ter "vista" do processo, podendo, nesta oportunidade, tomar as notas que julgarem necessárias à defesa. Parágrafo único É expressamente vedada a retirada de processos pelas partes ou seus procuradores, sob qualquer pretexto, da Secretaria

do Conselho Regional, sendo igualmente vedado lançar notas nos autos ou sublinhá-los de qualquer forma. Assim, as partes que figuram nos autos do processo ético ou os seus advogados devidamente constituídos são aqueles que podem obter cópias reprográficas, podendo responder civil e criminalmente pelos eventuais danos causados decorrentes da publicidade do material sigiloso. A Lei nº 8.159/91, regendo acerca do acesso dos documentos em sigilo, em seu artigo 4º, também no art. 37 do Decreto Regulador n.º 4.553/2002, preceituam respectivamente: Art. 4º Todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular ou de interesse coletivo ou geral, contidas em documentos de arquivos, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujos sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado, bem como à inviolabilidade da intimidade, da vida privada, da honra e da imagem das pessoas. (sic). Art. 37. O acesso a dados ou informações sigilosos em órgãos e entidades públicos e instituições de caráter público é admitido: I - ao agente público, no exercício de cargo, função, emprego ou atividade pública, que tenham necessidade de conhecê-los; e II - ao cidadão, naquilo que diga respeito à sua pessoa, ao seu interesse particular ou do interesse coletivo ou geral, mediante requerimento ao órgão ou entidade competente. 1º Todo aquele que tiver conhecimento, nos termos deste Decreto, de assuntos sigilosos fica sujeito às sanções administrativas, civis e penais decorrentes da eventual divulgação dos mesmos. 2º Os dados ou informações sigilosos exigem que os procedimentos ou processos que vierem a instruir também passem a ter grau de sigilo idêntico. 3º Serão liberados à consulta pública os documentos que contenham informações pessoais, desde que previamente autorizada pelo titular ou por seus herdeiros.

Conforme inteligência dos artigos transcritos, as informações individuais protegidas por preceito constitucional, somente se admite a sua utilização em situações especialíssimas, fundadas em razões de eminente interesse público, que se sobreponham à proteção individual, mas, sempre, com resguardo da imagem das pessoas. No Brasil, a regra é que apenas o Poder Judiciário pode autorizar o uso de tais informações, incidência do art. 24, da Lei nº 8.159/91, in verbis: Art. 24. Poderá o Poder Judiciário, em qualquer instância, determinar a exibição reservada de qualquer documento sigiloso, sempre que indispensável à defesa de direito próprio ou esclarecimento de situação pessoal da parte. A jurisprudência do TRF da 1º Região, in casu, é esclarecedora sobre a questão, e também a do STJ, conforme ementas respectivas: CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. REQUISIÇÃO DE DOCUMENTOS QUE INTEGRAM PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR ABERTO EM FACE DE MAGISTRADO FEDERAL. IMPOSSIBILIDADE. SIGILO DAS INFORMAÇÕES. COMPATIBILIDADE COM A ORDEM CONSTITUCIONAL INAUGURADA EM 1988.1. Por força do que dispõe o art. 27, 6o da LOMAN (Lei Complementar n 35, de 14.03.79), o processo e julgamento de procedimento administrativo destinado à eventual aplicação de penalidade a magistrado é secreto. A restrição à publicidade escora-se no permissivo constitucional dos arts. 5o, LX e 93, IX. O interesse público (interesse social) recomenda o sigilo na apuração administrativa, de sorte a não menoscabar a credibilidade do magistrado, em face mesmo da relevância social das funções que exerce.2. Precedentes do Superior Tribunal de Justiça.3. Agravo de Instrumento a que se nega provimento.(ag 2002.01.00.001751-6/GO, Rel. Juiz Federal Marcus Vinicius Bastos (conv), Quarta Turma,DJ p.21 de 07/07/2005) MAGISTRADO - SIGILO - O PROCESSO DISCIPLINAR CORRE EM SEGREDO DE JUSTIÇA. TERCEIROS NÃO PODEM TOMAR CONHECIMENTO DA FUNDAMENTAÇÃO, PROVAS E CIRCUNSTANCIAS. DIFERENTE, POREM, QUANDO SE TRATA DO INTERESSADO. O SIGILO NÃO O ALCANÇA. DIREITO PUBLICO SUBJETIVO AO CONHECIMENTO E

RESPECTIVAS CERTIDÕES, CONSTANTES DO PROCESSO ADMINISTRATIVO OU DE OUTROS ASSENTAMENTOS.(REsp 1.799/RJ, Rel. Ministro LUIZ VICENTE CERNICCHIARO, SEGUNDA TURMA, julgado em 07/02/1990, DJ 05/03/1990 p. 1405) Os médicos prestam serviços em caráter personalíssimos, fator esse que vindo a ser exposto, sem o devido julgamento, arruinaria sua credibilidade perante a sociedade. No entanto em relação aos P. E. P. transitados em julgados em que a sanção disciplinar aplicada seja de caráter público, por óbvio não há que se restringir o acesso ao acórdão do julgamento e à situação do médico (certidão de nada consta), vedados os documentos protegidos pelo sigilo profissional (prontuário). III DA CONCLUSÃO Diante do exposto entendemos que por ser o sigilo do Processo Ético Disciplinar do médico uma garantia de cunho constitucional, somente é permitido transladar cópias de seu conteúdo as partes que figuram nos autos e de seus advogados devidamente constituídos e a pedido do Judiciário. É o que nos parece, s.m.j. Brasília, 25 de novembro de 2008. Dinarth Araújo Cardoso Junior Estagiário do SEJUR Giselle Crosara Lettieri Gracindo Chefe do Setor Jurídico