Superior Tribunal de Justiça

Documentos relacionados
Superior Tribunal de Justiça

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Superior Tribunal de Justiça

: MIN. DIAS TOFFOLI :DUILIO BERTTI JUNIOR

DIREITO PROCESSUAL PENAL

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO. MÓDULO II 1. Regras de competência 2. Procedimento 3. Pedidos 4. Recurso Ordinário Constitucional

Supremo Tribunal Federal

Superior Tribunal de Justiça

DIREITO PROCESSUAL PENAL

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

HABEAS CORPUS Nº PR (2018/ )

Superior Tribunal de Justiça

Supremo Tribunal Federal

Superior Tribunal de Justiça

Superior Tribunal de Justiça

ACÓRDÃO. O julgamento teve a participação dos Desembargadores OTÁVIO DE ALMEIDA TOLEDO (Presidente) e NEWTON NEVES.

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

Superior Tribunal de Justiça

Superior Tribunal de Justiça

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 3ª REGIÃO RELATÓRIO

DIREITO CONSTITUCIONAL

Superior Tribunal de Justiça

ESTADO DO CEARÁ PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA GABINETE DESEMBARGADOR FRANCISCO MARTÔNIO PONTES DE VASCONCELOS

Superior Tribunal de Justiça

Valendo-se de seu direito, o paciente optou por não realizar o exame do bafômetro, sendo submetido somente a exame clínico (anexo n.º 02).

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO MÉDICO E DA SAÚDE - SAÚDE PÚBLICA AULA: 26 TEMA: MANDADO DE SEGURANÇA PARA OBTEÇÃO DE MEDICAMENTO

HABEAS CORPUS Nº DF (2018/ )

DIREITO CONSTITUCIONAL. A Incoerência do Mandado Coletivo de Busca e Apreensão

DIREITO PROCESSUAL PENAL

Superior Tribunal de Justiça

Superior Tribunal de Justiça

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL Procuradoria Geral da República

ADMINISTRATIVO CONSTITUCIONAL. EXERCÍCIOS ESPECIAIS 2ª FASE XXV EOAB Junho de 2018 GABARITO

Busca e Apreensão. Processual. Direito. Penal

Superior Tribunal de Justiça Brasília, 10 de Junho de Nº 36 HABEAS CORPUS

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO DESPACHO. Vistos.

Superior Tribunal de Justiça

Superior Tribunal de Justiça

ACÓRDÃO. Hermann Herschander RELATOR Assinatura Eletrônica

Superior Tribunal de Justiça

MALOTE DIGITAL REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL PODER JUDICIÁRIO

VISTOS, RELATADOS E DISCUTIDOS

PETIÇÃO INICIAL MÍNIMA Habeas corpus

EMENTA. : 1ª Turma Criminal : HC - Habeas Corpus : Órgão Classe Num. Processo Impetrantes Pacientes

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO SEÇÃO JUDICIÁRIA DO DISTRITO FEDERAL

Superior Tribunal de Justiça

HABEAS CORPUS Nº PR (2018/ )

Superior Tribunal de Justiça

: DESEMBARGADORA FEDERAL ASSUSETE MAGALHÃES

EXCELENTÍSSIMA JUÍZA DA 12ª VARA FEDERAL CRIMINAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO CEARÁ. Execução Provisória nº

:LUIS ALEXANDRE RASSI E OUTRO(A/S) :RELATOR DO HC Nº DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

impulsionada pelo Procurador-Geral de Justiça visando, desde logo, a suspensão

HABEAS CORPUS Nº RS (2018/ )

DIREITO CONSTITUCIONAL

HABEAS CORPUS E SEU PROCESSO

A C Ó R D Ã O N.º (Nº CNJ: ) QUARAÍ LEANDRO NUNES LOPES DELEGADO DE POLICIA CIVIL DE QUARAI REU

Número:

O crime de violação de direito autoral e o procedimento penal: equívocos e incertezas da nova Súmula 574 do STJ

Nº /000 MANHUMIRIM DECISÃO

TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO HABEAS CORPUS N /MT

Número:

Mandado de Segurança Coletivo n DECISÃO

D E C I S Ã O. denominada Operação Rosa dos Ventos, indeferiu os pedidos de deslocamento do paciente até o escrito de advocacia de seus defensores.

Superior Tribunal de Justiça

PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE MINAS GERAIS COMARCA DE BELO HORIZONTE. 2ª Vara de Feitos Tributários do Estado da Comarca de Belo Horizonte

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Superior Tribunal de Justiça

Superior Tribunal de Justiça

ORLANDO JÚNIOR DIREITO CONSTITUCIONAL

Tribunal de Justiça do Estado de Goiás Gabinete do Desembargador Leandro Crispim C O R T E E S P E C I A L

Superior T ribunal de J ustiça

Número:

Superior Tribunal de Justiça

MANDADO DE SEGURANÇA N.º , DE CURITIBA - 10ª VARA CRIMINAL

Direito Processual Penal. Provas em Espécie

Superior Tribunal de Justiça

1. Trata-se de mandado de segurança, com pedido de medida liminar, impetrado pelo Deputado Federal Fernando DestitoFrancischini,

DIREITO CONSTITUCIONAL EM EXERCÍCIOS PROFESSOR IVAN LUCAS. Facebook: Professor Ivan Lucas

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR MINISTRO PRESIDENTE DO EGRÉGIO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.

MANUAL PRÁTICO DO MILITAR 3ª EDIÇÃO 2017 DR. DIÓGENES GOMES VIEIRA CAPÍTULO 9 MANDADO DE SEGURANÇA: UTILIZAÇÃO PELOS MILITARES

Supremo Tribunal Federal

Legislação Específica

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO. NOVA ORIENTAÇÃO.

Superior Tribunal de Justiça

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 3ª REGIÃO. : SP ANTONIO ROVERSI JUNIOR (Int.Pessoal)

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO. 1. Introdução histórica 2. Natureza jurídica 3. Referências normativas 4. Legitimidade 5. Finalidade 6. Hipóteses de cabimento

Superior Tribunal de Justiça

Superior Tribunal de Justiça

02/04/2019. Professor: Anderson Camargo 1

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR... DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE...

Superior Tribunal de Justiça

Superior Tribunal de Justiça

Superior Tribunal de Justiça

Superior Tribunal de Justiça

HC 5538-RN ( ). RELATÓRIO

Supremo Tribunal Federal

Superior Tribunal de Justiça

DECISÃO. Os impetrantes apresentam as seguintes alegações:

Transcrição:

HABEAS CORPUS Nº 416.483 - RJ (2017/0236856-5) RELATOR IMPETRANTE ADVOGADO IMPETRADO PACIENTE : MINISTRO SEBASTIÃO REIS JÚNIOR : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO DE : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO DE : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE : CIDADÃOS E CIDADÃS DOMICILIADOS NAS FAVELAS DO JACAREZINHO DECISÃO Trata-se de habeas corpus impetrado pela Defensoria Pública do Rio de Janeiro, em benefício dos cidadãos e cidadãs domiciliados nas favelas do Jacarezinho (nas localidades conhecidas como Vasco, Azul, Fundão, Esperança, Cruzeiro, Praça XV, Estuba, Concordia, Pontilhão, Abóbora), BANDEIRA 02 e CONJUNTO HABITACIONAL MORAR CARIOCA (TRIAGEM), Comarca do Rio de Janeiro, apontando como autoridade coatora o Desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, que revogou a decisão concessiva de liminar proferida pelo Desembargador de Plantão nos autos do HC 00481727520178190000. Consta dos autos que, em primeiro grau, o Juízo plantonista da Comarca do Rio de Janeiro/RJ deferiu, nos autos do processo n. 02085587620178190001, o requerimento para determinar a busca e apreensão na forma requerida pelas Autoridades Policiais, nos locais indicados na representação policiai, na forma da manifestação do Ministério Público constante dos autos, com fundamento nas alineas "b", "d" e "e" do parágrafo 1 o, do artigo 240, do Código de Processo Penal, com o objetivo de encontrar armas em situação irregular nas referidas residências, documentos, aparelhos celulares e objetos necessários à prova dos fatos investigados no presente procedimento policial, devendo as diligências serem realizadas EXCLUSIVAMENTE pela polícia civil judiciária, na presença das Autoridades Policiais (DELEGADOS DE POLÍCIA), designadas pela Subchefia Documento: 76534087 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 20/09/2017 Página 1 de 5

Operacional de Segurança Pública, com a participação de pelo menos 01 (um) Delegado de Polícia para supervisionar cada área em que se representa pelas buscas, a fim de garantir a legalidade do procedimento e a mínima invasão (fl. 87). Alega-se na impetração, em suma, que muito além de ofender a garantia constitucional que protege o domicílio da pessoa humana, o ato concessivo do mandado genérico de busca representou a legitimação de uma série de violações sistemáticas e generalizadas de direitos humanos da população das Favelas do Jacarezinho e adjacências (fl. 5). Afirma que é perfeitamente admissível o writ manejado em prol de uma coletividade, na medida em que o constrangimento ilegal emana de uma única decisão judicial, que afetou de forma coletiva e indivisível as liberdades e especialmente a garantia da inviolabilidade domiciliar de milhares de cidadãos e cidadãs que residem nos territórios da Favela do Jacarezinho e adjacências (fls. 7/8). Requer a suspensão da decisão monocrática prolatada pela autoridade coatora até o trânsito em julgado do habeas corpus impetrado na origem, restabelecendo-se a liminar concedida pelo juízo do 2 o grau de jurisdição plantonista, para suspender a medida de busca e apreensão domiciliar coletiva e indiscriminada dos residentes nas localidades pertencentes às comunidades do JACAREZINHO (nas localidades conhecidas como Vasco, Azul, Fundão, Esperança, Cruzeiro, Praça XV, Estuba, Concordia, Pontilhão, Abóbora), BANDEIRA 02 e CONJUNTO HABITACIONAL MORAR CARIOCA (no bairro de Triagem) - fl. 16. É o relatório. Na espécie, seria aplicável o enunciado da Súmula n. 691 do STF, observado também por esta Corte, segundo o qual não cabe habeas corpus contra indeferimento de pedido liminar em outro writ. Documento: 76534087 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 20/09/2017 Página 2 de 5

Esse posicionamento pode ser afastado apenas em situações excepcionais, se evidenciada dos autos a configuração de flagrante ilegalidade ou abuso de poder, o que, em princípio, parece ser o caso em análise. De início, ressalto que o entendimento jurisprudencial consolidado nesta Corte é no sentido de considerar inadmissível a impetração de writ coletivo sem a indicação dos nomes e da situação particular de cada paciente. (RHC n. 51.295/BA, Ministro Jorge Mussi, Quinta Turma, DJe 20/5/2016, o AgRg no RHC n. 41.627/SP, Ministro Gurgel de Faria, Quinta Turma, DJe 25/8/2015; o AgRg no HC n. 303.061/RS, Ministra Maria Thereza de Assis Moura, Sexta Turma, DJe 10/11/2014 eo AgRg no HC 384.871/SC, Ministro Jorge Mussi, Quinta Turma, Dje 09/08/2017. Ocorre que, no caso destes autos, não há como aqui exigir a identificação dos pacientes se a própria decisão contestada também não identifica quem será revistado, sendo questionada justamente a generalidade da ordem de busca e apreensão. Esta particularidade, portanto, autoriza que a impetração também não individualize os pacientes. E superada a questão do conhecimento, vejo plausível o pedido de liminar. Com efeito, como observado na decisão do eminente Desembargador João Batista Damasceno, que deferiu a liminar na origem, em regime de plantão, o padrão genérico e padronizado com que se fundamentam decisões de busca e apreensão em ambiente domiciliar em favelas e bairros da periferia - sem suficiente lastro probatório e razões que as amparam - expressam grave violação ao direito dos moradores da periferia. A busca e apreensão domiciliar somente estará amparada no ordenamento jurídico se suficientemente descrito endereço ou moradia no qual deve ser cumprido em relação a cada uma das pessoas que será sacrificada em suas garantias. E, ainda que não se possa qualificá-la adequadamente é necessário que os sinais que a individualize sejam explicitados (fl. 160). Documento: 76534087 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 20/09/2017 Página 3 de 5

Da mesma decisão, extraio mais os seguintes trechos (fls.160): No presente caso, temos um mandado judicial genérico, expedido com eficácia territorial ampla, geograficamente impreciso, que não se preocupa em determinar o fato concreto a ser apurado. Pelo seu alto grau de dano a valores constitucionais, é absolutamente inadmitido o mandado genérico para tantas comunidades quanto são descritas na decisão recorrida. Faz-se imprescindível que a decisão e o mandado determinem qual a correlação dos indícios probatórios que se pretendem obter com a invasão de cada um dos domicílios a serem buscados. E, isto, não ocorreu. Assim, entendo presente o fumus boni iuris, em razão da ausência de individualização das medidas de apreensão a serem cumpridas, o que contraria diversos dispositivos legais, dentre eles os arts. 242, 244, 245, 248 e 249 do CPP, além do art. 5º, XI, da Constituição Federal: a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judiciar. Na minha concepção, também caracterizado o periculum in mora, diante da possibilidade concreta e iminente de ofensa ao direito fundamental à inviolabilidade do domicílio. Ante o exposto, defiro a liminar para suspender os efeitos da decisão ora impugnada, restabelecendo a liminar deferida pelo eminente Desembargador João Batista Damasceno em 25/08/2017 (fls. 147/162). Comuniquem-se e solicitem-se informações ao Juízo de primeiro grau e ao Tribunal de origem, esclarecendo-se que o deferimento da presente liminar não torna prejudicado o writ originário. Documento: 76534087 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 20/09/2017 Página 4 de 5

Publique-se. Brasília, 18 de setembro de 2017. Ministro Sebastião Reis Júnior Relator Documento: 76534087 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 20/09/2017 Página 5 de 5