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Transcrição:

COMARCA DE JAGUARI VARA JUDICIAL Rua Júlio de Castilhos, 2307, Bloco A Processo nº: 107/2.10.0000847-0 (CNJ:.0008472-52.2010.8.21.0107) Natureza: Crimes contra a Administração da Justiça Autor: Justiça Pública Réu: Jorge Ferret Fagundes Juiz Prolator: Juíza de Direito - Dra. Ana Paula Nichel Santos Data: 17/06/2013 Vistos etc. O Ministério Público ofereceu denúncia contra JORGE FERRET FAGUNDES, brasileiro, solteiro, advogado, com 49 anos de idade á época do fato, nascido em 26/03/1962, filho de Cezalpino Neu Fagundes e de Antônia Erena Ferret Fagundes, residente na Rua Assis Brasil, nº 270, em Jaguari/RS, dando-o como incurso nas sanções do artigo 339, caput, do Código Penal, pela prática do seguinte fato delituoso: No dia 14 de junho de 2010, no 5º Regimento de Polícia Montada, Comando Regional de Polícia Ostensiva Central da Brigada Militar, e, posteriormente, na Vara Judicial de Jaguari, o denunciado JORGE FERRET FAGUNDES deu causa à instauração de investigação policial militar e consequente processo judicial contra ALVARINO ROBERTO DO AMARANTE, acusando-o de ter praticado o delito de abuso de autoridade, por ocasião do atendimento de uma ocorrência, consistente em gritar e proferir contra o denunciado os seguintes dizeres: O que tu tá pensando, só porque tu é advogado, tu pensa que é o quê, sai daqui que nós vamos tomar as providências necessárias. Para perpetrar o delito, o denunciado representou criminalmente contra a vítima (fls. 16/19), com a intenção de prejudicá-la perante os órgãos da administração da justiça, acusando-a dos fatos supracitados, embora sempre soubesse que ela era inocente e que não abusara de sua farda militar de nenhuma forma, sequer mediante palavras ou gestos 1

legal, folhas 125/138. desrespeitosos/intimidatórios. De se acentuar que, nos autos do processo judicial instaurado por força da representação do denunciado (proc. n. 107/21000004598), a vítima foi absolvida com base no artigo 386, incido I do CPP (estar provada a inexistência do fato), já com trânsito em julgado concretizado. A denúncia foi recebida no dia 17 de junho de 2011, fl. 121. O réu foi citado, fl. 124verso, respondendo à acusação no prazo Após manifestação Ministerial, fl. 226, o pedido de absolvição sumária foi indeferido, folhas 227/228, e durante a instrução processual foi ouvida a vítima, nove testemunhas e, ao final, interrogado o réu. Foram atualizados os antecedentes criminais do réu, fl. 299. O debate foi substituído por memoriais e o Ministério Público, por sua vez, requereu a procedência da ação penal com consequente condenação do acusado, nos termos da denúncia, fls.300/304. A defesa do acusado sustentou inicialmente que o fato narrado na denúncia não configura o crime de denunciação caluniosa, pois este pressupõe a imputação de fato definido como crime, sabedor de sua inocência. Alega a defesa que o fato cuja prática o réu acusou o policial militar Alvarino não é penalmente típico, pois as palavras atribuídas ao policial no documento de fls. 19/22, mesmo que qualificado como abuso de autoridade pelo acusado, não caracteriza o delito previsto na Lei 4.898/65. Assim, ter o policial mandado o réu sair do local e deixar que os Policiais tomassem as providências legais não caracteriza nenhum abuso de autoridade, o que no máximo caracterizariam falta de educação e urbanidade do policial, resultando que o réu não imputou ao policial militar a prática de nenhum crime, o que impede a condenação. Outrossim, alegou que o réu tenha a perfeita ciência da falsidade desse fato, ao passo que o fato narrado pelo réu não era falso. Destaca que não há discrepância grave entre as versões do réu e da vítima, mas apenas divergência subjetiva, eis que o réu se sentiu humilhado ao ouvir a frase e isso basta para retirar do fato a ciência da inocência que é exigida pelo artigo 339, do Código Penal. Ao final alegou que o fato de ter havido um processo criminal contra a vítima por erro técnico do comunicante e depois do Promotor de Justiça, não conduz à existência do delito de denunciação caluniosa, porque o fato narrado na comunicação escrita não caracterizava crime algum. Postulou pela improcedência da denúncia e absolvição do 2

réu nos termos do artigo 386, inciso III, do Código de Processo Penal, fls. 306/319. Relatei. Decido. O feito tramitou regularmente, sendo observadas todas as garantias constitucionais asseguradas ao réu. Em que pese as razões postas pela defesa em memorias, tenho que a existência do delito está comprovada em especial pelo documento de fls. 19/22 e sentença de fls. 119, bem como pela prova testemunhal coligida. Diante da narrativa da denúncia é importante destacar os termos do artigo 339, do Código Penal: Art. 339. Dar causa à instauração de investigação policial, de processo judicial, instauração de investigação administrativa, inquérito civil ou ação de improbidade contra alguém, imputando-lhe crime de que o sabe inocente: Considerando o fato narrado e o tipo penal indicado, o deslinde do feito passa unicamente por se verificar se o escrito pelo réu fls. 19/22 se adapta à conduta típica ou não. Consigno que é incontroverso ter sido o réu autor do documento, ao mesmo tempo que é incontroverso não ter ocorrido abuso de autoridade, pois a sentença absolutória que reconheceu a inexistência do fato transitou em julgado. Desta forma, tenho por necessária a transcrição de alguns trechos do documento enviado pelo acusado ao Comandante da Brigada Militar do 5º RPMon: (...) Passaram-se mais de sessenta minutos quando a viatura da Brigada Militar chegou em frente da minha residência e vieram me perguntar o que havia acontecido, relatei os fatos e então fomos até o bar da frente da rodoviária, juntamente com os policiais, quando indiquei quem estava me insultando, e para minha surpresa o agente da Brigada Militar, somente o Roberto Amarante, pois o Sr. José B. G. Delevati, teve uma atitude exemplar digna de um militar, diferentemente o Sr. 3

Roberto Amarante (Gringo) passou a proferir palavras em voz alta, para chamar a atenção das pessoas que estavam em frente e dentro do bar do Cid, e dizer: O que tu tá pensando, só porque tu é Advogado, tu pensa que é o quê, sai daqui que nós vamos tomar as providências necessárias. Um desrespeito ao artigo 7º, inciso X, da Lei 8.906/94. ( ) Vamos levar em consideração que a Lei 9.099/95, considere de menor potencial ofensivo, e não foi feito nenhum registro de testemunhas, embora eu tivesse pedido, devido ao procedimento da lei, eu não posso deixar de dizer que o fato de terem colocado no Boletim de Ocorrência como se eu fosse o réu, é evidente que além da sindicância que deve ser feita, inclusive eu aproveito a oportunidade para que seja feita a degravação ou se não for possível a gravação das ligações feitas em torno das 23h do dia 29/05/2010, mesmo que eu vá solicitar ao Ministério Público que o faça, e também com o escopo de pleitear no Poder Judiciário indenização por danos morais, é claro respeitado o artigo 30, inciso I da Lei 8.906/94, e consequentemente ao rigor do artigo 37, 6º da Constituição Federal, sem prejuízo ao Processo Administrativo Disciplinar (PAD). Diante do exposto, requer a este ilustre Comandante que tome as medidas administrativas cabíveis e necessárias contra o agente da Brigada Militar, Sr. Roberto Amarante (Gringo), para que o mesmo pense porque está com uma arma na cintura e uma farda da gloriosa Brigada Militar, se prevaleça e pense que está acima da lei, até mesmo para que a imagem da gloriosa Brigada Militar não fique denegrida ( ). Pelo respeito que eu tenho pela instituição Brigada Militar, Senhor Comandante e como funcionário de escola pública, advogado e cidadão, venho por intermédio desde instrumento desabafar e pedir a tua ajuda para banir da instituição funcionários públicos que não tem o menor respeito por um cidadão, um professor e também menosprezar os Advogados ( ). (.) vou comunicar e deixar arquivado este fato ao ilustre (a) 4

representante do órgão do Ministério Público e com o mesmo conteúdo em cópia similar, enviar ao Comandante Estadual da Brigada Militar e a Secretaria de Segurança Pública, bem como para a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) seccional de Santiago-RS, não tendo mais nada a relatar desde já lhe agradeço pela atenção e consideração. Tudo isto, pelo fim do abuso de autoridade policial. (grifei) Lendo e relendo os termos do documento acima, concluo que o réu, Advogado, tinha plena consciência de sua conduta e, sim, fez denúncia de que o Policial Militar Alvarino Roberto Ivo do Amarante agiu com abuso de autoridade, mesmo sendo sabedor que o mesmo era inocente. Mesmo que se trate de uma questão de interpretação dos fatos, considerando a subjetividade de cada um, não há que se ignorar a sentença absolutória quanto ao Policial por inexistência do fato imputado a ele pelo réu. Ainda, o dolo do agente restou evidenciado na medida em que além do Comandante da Brigada Militar, também encaminhou o documento acima indicado ao Comandante Estadual da Brigada Militar, à Secretaria de Segurança Pública, Ordem dos Advogados do Brasil - seccional de Santiago-RS, bem como ao Ministério Público, que determinou o oferecimento de denúncia no processo nº 107/2.10.0000459-8. Destaco que a defesa fl. 317, diz: (...) É certo que, tendo bebido, estando nervoso e se julgando ameaçado, o réu exigiu a prisão do oponente, ao passo que também é certo que o policial, conquanto não pretendesse humilhar o réu, deve tê-lo mandado se acalmar, afirmando que o fato de ser advogado não tinha nenhuma importância (...). (grifei) Ou seja, a própria defesa confirma que o réu tinha bebido, estava nervoso em função da ocorrência envolvendo um terceiro, o que determinou que o Policial determinasse que se acalmasse, mas sem nenhum abuso de sua autoridade, o que caracteriza a ilicitude da conduta do acusado, nos termos do artigo 339, do Código Penal. Por fim, alega a defesa que o fato cuja prática o réu acusou o policial militar Alvarino não é penalmente típico, pois as palavras atribuídas ao policial no documento de fls. 19/22, mesmo que qualificado como abuso de autoridade pelo 5

acusado, não caracteriza o delito previsto na Lei 4.898/65. Assim, ter o policial mandado o réu sair do local e deixar que os Policiais tomassem as providências legais não caracteriza nenhum abuso de autoridade, o que no máximo caracterizariam falta de educação e urbanidade do policial, resultando que o réu não imputou ao policial militar a prática de nenhum crime, o que impede a condenação. Em que pese as razões da defesa, tenho que não lhe assiste razão. A leitura do documento escrito pelo réu, com clareza solar, demonstra que ele imputou ao Policial a prática de crime de abuso de autoridade, e é óbvio que o Policial não cometeu o crime de abuso de autoridade, porque senão não estaria o réu sendo processado por denunciação caluniosa. Se o réu cometeu erro de interpretação sobre os fatos ocorridos e sentiu-se humilhado pela conduta do Policial, esta é uma questão pessoal e individual dele, eis que restou comprovado ter inexistido o noticiado abuso de autoridade. Ressalto que o artigo 339, do Código Penal busca proteger o interesse da Justiça diante de uma atuação anormal de pessoa que realiza falsas imputações à pessoa que sabe ser inocente, dando causa à instauração de investigação policial, de processo judicial, instauração de investigação administrativa, inquérito civil ou ação de improbidade administrativa. No presente caso restaram comprovados os elementos objetivo e subjetivo para a caracterização da denunciação caluniosa. Especificamente quanto ao requisito subjetivo, o dolo do agente, ou seja, sua vontade livre e consciente, ficou suficientemente demonstrada, pois o réu, advogado, tinha pela consciência de sua conduta. Assim, por não existir nenhuma causa que exclua o crime ou isente o réu de pena, deve ele ser condenado pela prática de denunciação caluniosa. Diante do exposto, JULGO PROCEDENTE a denúncia para CONDENAR JORGE FERRET FAGUNDES, já qualificado, como incurso nas sanções do artigo 339, caput, do Código Penal, nas penas que passo a fixar. Dosimetria da pena. Considerando o que dispõe o artigo 59, do Código Penal, observo que o grau de reprovabilidade social é o comum para esta espécie de delito, sendo 6

exigível do réu conduta diversa, pois tinha consciência da ilicitude, o que denota culpabilidade mediana. O réu não possui antecedentes criminais. Testemunhas abonam sua conduta social. Não há elementos para análise de sua personalidade. A motivação diz com seu sentimento pessoal de não ter o Policial Militar agido conforme a sua indicação. Não há especiais circunstâncias ou consequências a serem consideradas. Não há elementos que indiquem ter a vítima indireta colaborado para a ocorrência do delito. Fixo a pena-base em 02 (dois) ANOS DE RECLUSÃO e DEZ (10) DIAS-MULTA, fixada em 1/30 do salário mínimo, o dia multa, que torno definitiva em vista da ausência de outras causas modificadoras a serem consideradas. O regime inicial de cumprimento da pena é o aberto, ante a regra do art. 33, 2º, alínea c, do CP, uma vez que a pena é inferior a quatro anos e o condenado não é reincidente. Considerando os termos do artigo 44, do Código Penal, entendo cabível e adequada a substituição da pena privativa de liberdade por pena restritiva de direitos. A pena aplicada possibilita tal substituição, o crime não foi cometido com violência ou grave ameaça à pessoa, e as circunstâncias judiciais denotam que a medida é socialmente recomendável. Assim, substituo a pena privativa de liberdade por pena restritiva de direitos, na forma fixada no 2º, do artigo 44 do Código Penal, consistente em prestação de serviços à comunidade, em entidade a ser fixada por este Juízo, na forma do art. 46, 3º, do Código Penal, e prestação pecuniária, no valor equivalente a um salário mínimo em benefício de entidade beneficente desta Comarca, através de depósito bancário na CONTA CORRENTE Nº 0302372503, AGÊNCIA 0240, DO BANRISUL, nos termos do art. 45, 1º, do Código Penal. Não vislumbro elementos concretos e objetivos que determinem a necessidade da segregação do réu antes do trânsito em julgado da decisão, ademais porque substituída a pena privativa de liberdade por pena restritiva de direitos. Diante disso, poderá apelar em liberdade. 7

Custas pelo réu. Após o trânsito em julgado: a) inscrever o nome do réu no rol dos culpados. b) Proceder às anotações e comunicações cabíveis, inclusive ao Tribunal Regional Eleitoral, ressalvado o disposto no ofício circular nº 624/09 CGJ. c) Formar o PEC. d) Após, arquivar. Publique-se. Registre-se. Intimem-se. Jaguari, 17 de junho de 2013. Ana Paula Nichel Santos Juíza de Direito 8