O pessimismo sentimental em Marshal Sahlins

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Transcrição:

O pessimismo sentimental em Marshal Sahlins Luana Paula Peixoto Aglio 1 Resumo: Resenha do texto O Pessimismo Sentimental e a Experiência Etnográfica: porque a cultura não é um objeto em via de extinção (parte I e parte II), no qual Marshall Sahlins discute a crise atual da Antropologia, defendida por outros autores, e analisa as idéias de um possível desaparecimento do principal objeto de estudo dessa disciplina: a cultura. Marshall Shalins critica a posição daqueles que afirmam que a antropologia, assim como seu principal objeto, a cultura, estão em vias de extinção. Ele admite alguns equívocos da disciplina quanto à interpretação dada à cultura, principalmente pelas conseqüências de sua fascinação pelo positivismo, mas salienta que o conceito de cultura não pode ser abandonado sob pena de deixarmos de compreender o fenômeno único que ela nomeia e distingue: a organização da experiência e da ação humanas por meios simbólicos. Ele salienta dois principais tipos de críticas feitas ao conceito de cultura. O problema mais imediato seria a cultura como demarcação de diferenças, sendo por isso acusada de discriminatória. A segunda questão diz respeito à continuidade e sistematicidade das culturas estudadas pela antropologia, ou melhor, a afirmação de que o objeto da antropologia está em vias de extinção. A partir de alguns trechos do texto, poderemos observar a reflexão que o autor faz acerca dessas críticas a antropologia e ao conceito de cultura....o corolário dessa redução do conceito de cultura a uma política de discriminação é a tentação de derivar esse conceito de tal política, através de uma pseudo-história 1 Luana Paula Peixoto Aglio é discente do 5º período do Curso de Ciências Sociais da UFES. Atualmente participa do projeto de iniciação científica Os Meios de comunicação à distância e as identidades culturais entre o global e o local: um estudo de caso da TV Vitória, Espírito Santo, coordenado pelo Prof. Dr. Sérgio Ricardo Rodrigues Castilho do DCSO-UFES. 238

do tipo pecado original. Com efeito o pecado da cultura foi o orgulho, nada mais que o orgulho ocidental. [...] Em sua gênese e operação semântica, a noção de cultura carrega os estigmas do capitalismo, repetindo e manifestando os conflitos estruturais do sistema de classes que a produziu (Young, 1995: 53) (Sahlins, p. 44). A associação original da idéia antropológica de cultura com a reflexão sobre a diferença se opunha, portanto, à missão colonizadora que hoje se costuma atribuir ao conceito. Pois o fato é que, em si mesma, a diferença cultural não tem nenhum valor. [...] Deve-se dizer que nem todos os antropólogos têm a mesma opinião sobre a cultura (Sahlins, p. 45 e 48). O autor, a partir dessa última afirmação, começa a distinguir as diferenças entre as escolas Francesa e Inglesa (que não viam a cultura como principal objeto) e a escola Americana. Começa então a descrever o que ele chama de pessimismo sentimental, ao mostrar que a antropologia, desde suas origens, começa a estudar objetos (povos primitivos e sua cultura ) que estavam em vias de extinção, principalmente incorporando o conceito de que o processo de modernização levaria a uma aculturação dos povos estudados. Para ele, esse quadro de desalento quanto ao futuro da antropologia é discutível porque não consegue dar conta dos vários tipos de resistência cultural (Sahlins, p. 51). Estabelece então como tarefa atual da antropologia a indigenização da modernidade Trata-se aqui, ao contrário, de uma reflexão sobre a complexidade desses sofrimentos, sobretudo no caso daquelas sociedades que souberam extrair, de uma sorte madrasta, suas presentes condições de existência (Sahlins, p. 53). Por fim, enxerga esse processo de contato das diferentes culturas (a primitiva e a capitalista) como uma forma de "intensificação cultural", ou seja, as 239

sociedades tendem a se ajustar às novas condições através das estruturas já existentes e assim, ao invés de perder o aspecto cultural, o modificam de forma a torná-lo mais intenso. E conclui: Tudo que se pode hoje concluir a respeito disso é que não conhecemos a priori, e evidentemente não devemos subestimar, o poder que os povos indígenas têm de integrar culturalmente as forças irresistíveis do Sistema Mundial (Sahlins, p. 64). Podemos perceber a defesa da cultura como objeto da antropologia e a visão de transformação de suas formas a partir do contato entre as diferentes concepções de mundo. Não podemos deixar de notar que o autor, diferente dos chamados pessimistas não enxerga o capitalismo como o bicho papão que irá acabar com a cultura dos povos. Enxerga a influência capitalista como um novo fator que agirá na transformação das culturas que sempre estão nesse processo de renovação e reestruturação. De certa maneira refuta a idéia de um sistema mundial burguês que domina os outros povos através da imposição de sua superioridade cultural e econômica. Afirma que as culturas e os povos considerados como menores não são passivos no intercâmbio da cultura global, mas, são sociedades e povos resistentes no interior desse processo, mostrando a recriação das formas de vida local através do encontro com as culturas capitalistas. Daí a fragilidade da idéia de dominação do sistema mundial burguês, pois o mesmo não apreende as mudanças culturais que estão ocorrendo e acaba por acreditar no desaparecimento de culturas que na realidade estão em processo de transformação. 240

Dentro dessa perspectiva, trabalha principalmente com as noções de cultura translocal e antropologia das culturas nas culturas dos autores Hau ofa e de Turner, respectivamente. A concepção de Hau ofa de cultura translocal traz a idéia de que as pessoas que migram de suas aldeias para os grandes centros urbanos, ficam ligadas à sua origem e continuam com o sentimento de pertencimento à terra natal, enquanto buscam o reconhecimento de sua cultura, ao invés de esquecê-la e serem absorvidos pela cultura capitalista com a qual começam a interagir. Logo, a cultura não está restrita ao local da aldeia e sim ultrapassa seus limites, ampliando sua rede de trocas a partir do momento que os membros que estão em outra localidade interagem com sua terra natal, favorecendo inclusive os que lá ficaram com o fluxo de bens materiais que irá se expandir. Turner fala sobre o processo recente de apropriação do termo cultura nas diversas comunidades e de um crescente renascimento das tradições das tribos, principalmente pelos mais jovens. A partir dessa nova perspectiva, as pessoas tendem a se apropriarem das culturas que acreditam fazer parte, e a participar de uma busca pela libertação das imposições impostas por outras culturas (principalmente capitalistas) e pela restauração de uma historicidade de suas tradições. Não se trata de uma volta pura e simples às origens, mas de resgatar as bases culturais e ao mesmo tempo manter e expandir o acesso ás inovações tecnológicas, ou seja, os benefícios obtidos através dos bens materiais do sistema econômico mundial. Podemos comparar a visão de Sahlins com outro autor contemporâneo, Roberto Cardoso de Oliveira, que fala acerca de uma suposta crise de paradigmas vivida pela antropologia e refuta essa idéia, argumentando que é possível a utilização de diversos paradigmas, não existindo portando um embate entre diferentes teorias. Sua relação com Sahlins se estabelece no 241

sentido de que ambos defendem a pertinência e atualidade da antropologia, recusando a idéia de ameaça à disciplina, visto que para Roberto Cardoso não existe crise para justificar o fim da antropologia e para Sahlins a ansiedade sobre o fim iminente da variedade cultural humana (considerado o objeto principal da antropologia) é injustificada. Podemos concluir que, para Sahlins, a globalização e o capitalismo (ao contrário da idéia de muitos teóricos) não estão destruindo e homogeneizando as culturas e sim gerando uma grande diversidade de novas formas culturais. Ao invés de uma cultura superior (no caso a capitalista) está destruindo os aspectos das culturas e transformando tudo em uma massa uniforme, as culturas locais (consideradas por muitos primitivas) resistem à esse processo de aculturação se transformando e se apropriando das novas perspectivas que são apresentadas à elas. Referência SAHLINS, Marshal. O pessimismo sentimental e a experiência etnográfica: porque a cultura não é um objeto em via de extinção. In: Mana - Estudos de Antropologia Social do Museu Nacional. Rio de Janeiro, v. 3, n. 1 e 2, UFRJ, 1997. 242