Avaliação de cultivares de alfaces comerciais quanto à resistência a Bremia lactucae

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Transcrição:

Avaliação de cultivares de alfaces comerciais quanto à resistência a Bremia lactucae Leila T Braz 1 ; Francine de S Galatti 1 ; Renata Castoldi 1. 1 UNESP-FCAV, Departamento de. Produção Vegetal, Rodovia Prof. Paulo Donato Castellane s/n, 14884-900 Jaboticabal-SP; leilatb@fcav.unesp.br, francinegalatti @hotmail.com, rcastoldi@gmail.com. RESUMO O míldio, ocasionado pelo fitopatógeno Bremia lactucae, é uma doença de distribuição mundial, sendo considerado um dos piores problemas da cultura da alface. A maneira mais eficaz na redução da taxa de progresso dessa doença é através do uso de cultivares com resistência horizontal. As empresas que comercializam sementes de alface identificam grande parte dessas como resistentes ao míldio, no entanto, pelo fato de serem desenvolvidas em diferentes países, nem sempre a resistência é verificada no Brasil. Diante do exposto, o objetivo do presente estudo foi avaliar dezesseis cultivares de alfaces comerciais quanto à resistência a Bremia lactucae, raças 1 a 9. O trabalho foi desenvolvido no Laboratório de Genética e Melhoramento de Hortaliças (UNESP- FCAV). Cerca de 40 sementes de dezesseis cultivares de alface comerciais, dos grupos: americana, crespa, lisa e mimosa, foram semeadas separadamente em caixas plásticas gerbox. Juntamente com as cultivares comerciais foi semeada a cultivar diferenciadora Green Tower (testemunha). Após a germinação das plântulas, estas foram inoculadas com uma mistura de água destilada + isolados coletados nos anos de 2008 a 2011, que continham esporângios de B. lactucae, raças 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9. Quinze dias depois de inoculadas, as plântulas foram avaliadas individualmente, verificando-se ou não a presença de lesões esporulantes e pontos necróticos. A avaliação demonstrou que apenas as cultivares Malice (tipo crespa) e Pira Roxa (tipo crespa) não apresentaram plântulas com lesões esporulantes, diante da inoculação das nove raças, sendo então classificadas como resistentes à todas as raças identificadas até o presente momento no Estado de São Paulo. Palavras-chave: Bremia lactucae, míldio, lesões esporulantes, pontos necróticos. ABSTRACT Evaluation of commercial lettuce cultivars for resistance to Bremia lactucae The mildew, caused by the pathogen Bremia lactucae, is a of worldwide distribution disease, and is considered one of the worst problems of the lettuce crop. The most effective way in reducing the progression rate of this disease is through the use of cultivars with horizontal resistant. Companies that sell lettuce seeds identified those as resistant to mildew, however, because they are developed in different countries, resistance is not always found in Brazil. Based on the above, the objective of this study was to evaluate sixteen commercial lettuce cultivars for resistance to Bremia lactucae, races 1-9. The study was conducted at the Laboratory of Genetics and Breeding Vegetable Crops (UNESP-FCAV). About 40 seeds of sixteen commercial lettuce cultivars, of the groups: american, crisp, smooth and mimosa, were sown separately in seedling boxes. Along with the commercial cultivars was sown the differential cultivar Green Tower (control). After seedlings germination, this were inoculated with a mixture of distilled water + isolates collected in the years 2008 to 201, containing sporanga of B. lactucae, races 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9. Fifteen days after inoculation, the seedlings Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 1872

were individually evaluated, by checking presence or not of sporulating lesions and necrotic spots. The evaluation showed that only the 'Malice' (type crisp) and 'Pira Roxa' (type crisp) cultivars no showed sporulating lesions, before inoculation of the nine races, and then classified as resistant to all races identified so far in the São Paulo State. Keywords: Bremia lactucae, downy mildew, sporulating injuries, necrotic spots. INTRODUÇÃO O míldio, ocasionado pelo fitopatógeno Bremia lactucae, é uma doença de distribuição mundial e é tido como um dos piores problemas da cultura da alface, tanto em casa de vegetação como em campo (Zambolim et al., 2000). A doença é particularmente importante em condições ambientais de alta umidade e temperatura amena a baixa, provocando graves prejuízos econômicos aos produtores (Lebeda et al., 2001). Pelo fato do ciclo de infecção da doença ser policíclico, a redução do inóculo inicial tem efeito limitado no desenvolvimento máximo da doença, uma vez que a progressão geométrica de multiplicação de novas infecções resulta em rápido aumento da doença em sua fase crítica (Vale et al., 2004). Teoricamente a taxa de progresso de epidemias pode ser reduzida pelo manejo do turno de irrigação, de forma a não prolongar a duração do molhamento foliar; pela frequência da aplicação de fungicidas; e pelo uso de cultivares com resistência horizontal, com maiores períodos de latência, menores taxas de crescimento de lesões e menor produção de esporos por lesões (Mesquita, 2008). Braz et al. (2007) verificaram em estudos realizados nos anos de 2003 e 2004 no Estado de São Paulo, a ocorrência predominante da raça SPBl:01. Em levantamentos nos anos de 2006 a 2011, oito novas raças foram constatadas: SPBl:02, SPBl:03, SPBl:04, SPBl:05, SPBl:06, SPBl:07, SPBl:08 e SPBl:09 (Souza et al., 2011; Castoldi, 2011; Galatti, 2012 1 ). Portanto, atualmente, no Estado de São Paulo, já foram identificadas nove raças de B. lactucae. No Brasil as empresas que comercializam sementes de alface identificam certas cultivares como resistentes ao míldio, no entanto, a maioria dessas sementes são desenvolvidas em outros países, com condições edafoclimáticas muito distintas das regiões brasileiras. Isso ocasiona insegurança aos produtores, pois compram tais 1 GALATTI (Avenida General Osório, 1115. Bairro Sorocabano, CEP: 14871-070, Jaboticabal/SP - Brasil). Comunicação pessoal, 2012. Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 1873

sementes com a garantia de que não terão problemas futuros com a doença, porém nem sempre isso acontece. Lebeda et al. (2003) verificaram que a expressão genética em uma população de patógeno hospedeiro pode ser baseada na diferença geográfica, talvez vinda de importantes informações de estrutura de virulência ou resistência de suas determinadas distribuições de tempo e espaço. Diante do exposto, o objetivo do presente estudo foi avaliar dezesseis cultivares de alfaces comerciais quanto à resistência a Bremia lactucae, raças 1 a 9. MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi desenvolvido no Laboratório de Genética e Melhoramento de Hortaliças, pertencente ao Departamento de Produção Vegetal da UNESP-FCAV, Câmpus de Jaboticabal-SP. Cerca de 40 sementes de dezesseis cultivares de alface comerciais, dos grupos: americana (Lucy Brown, Mauren, Rafaela e Tainá), crespa (Malice, Hortência, Isabela, Pira Roxa, Solaris, Vanda, Veneranda, Vera e Verônica), lisa (Elisa e Stella) e mimosa (Salad Bowl), foram semeadas separadamente em caixas plásticas gerbox (11 x 11 x 3,5 cm), forradas com papel germitex umedecido. Juntamente com as cultivares comerciais foi semeada a cultivar diferenciadora Green Tower, que serviu como testemunha, para identificar quando deveriam ser realizadas as avaliações nas cultivares comerciais. Estas foram mantidas por 15 dias em câmara de incubação tipo BOD (Biochemical Oxygen Demand) na temperatura de 13ºC e fotoperíodo de 12 h. Transcorrido esse período, realizou-se a inoculação nas cultivares comerciais e na cultivar diferenciadora Green Tower (DM-0). Cada cultivar foi inoculada com uma mistura de água destilada + isolados coletados nos anos de 2008 a 2011 (mantidos em freezer à -21 C), que continham esporângios de B. lactucae das raças SPBl:01, SPBl:02, SPBl:03, SPBl:04, SPBl:05, SPBl:06, SPBl:07, SPBl:08 e SPBl:09. A inoculação foi realizada de acordo com a técnica de Ilott et al. (1987). Após a inoculação, as caixas foram recolocadas em câmara de incubação tipo BOD com temperatura de 13 C, sendo que durante as seis primeiras horas, foram deixadas em câmara escura e, após esse tempo, o fotoperíodo foi ajustado para 12 horas. Quando houve o aparecimento da primeira esporulação na cultivar suscetível Green Tower, que Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 1874

normalmente variou de 12 a 15 dias, as cultivares comerciais foram avaliadas individualmente, verificando-se a presença ou não de lesões esporulantes e pontos necróticos. A avaliação foi em porcentagem, sendo que: quando menos de 5% das plântulas apresentaram lesões esporulantes e/ou pontos necróticos, foram consideradas resistentes à raça nela inoculada, já quando mais de 5% das plântulas apresentaram lesões esporulantes e/ou pontos necróticos foram consideradas suscetíveis. RESULTADOS E DISCUSSÃO Nas Tabelas 1 e 2 são apresentadas as porcentagens de plântulas, das dezesseis cultivares comerciais de alface avaliadas, com lesões esporulantes e pontos necróticos, a cada uma das nove raças de Bremia lactucae. Dentre os resultados, nota-se que apenas as cultivares Malice e Pira Roxa (ambas do tipo crespa) obtiveram 0% de plântulas esporuladas (Tabela 1) e 0% de plantas necrosadas (Tabela 2) para todas as raças, classificando-se como resistentes às raças SPBl:01, SPBl:02, SPBl:03, SPBl:04, SPBl:05, SPBl:06, SPBl:07, SPBl:08 e SPBl:09. Apesar da cultivar Vanda não apresentar necrose em plântulas, pode-se considerá-la como suscetível à todas as raças de Bremia lactucae encontradas até o presente momento no Estado de São Paulo, pois mais de 5% das plântulas apresentaram lesões esporulantes. A cultivar Stella (tipo lisa) é resistente à todas as raças, com exceção da SPBl:04 em que apresentou 100% de lesões esporulantes. As demais cultivares foram consideradas suscetíveis à todas as raças, com exceção de Rafaela (tipo americana) e Verônica (tipo crespa), que se apresentaram resistentes, respectivamente, às raças SBPl:01 e SPBl:04; e SPBl:04 e SPBl:09. Segundo Araújo (2010) as plântulas não esporuladas presentes nos genótipos suscetíveis podem ser consideradas escapes, em decorrência do protocolo descrito por Ilott et al. (1987). Pissardi et al. (2006), avaliando diferentes cultivares de alface quanto a resistência as raças de B. lactucae provenientes de campos de produção de alface do Estado de São Paulo, observaram escape de até 15% nas cultivares consideradas suscetíveis, isso pode também explicar os baixos valores de necrose. Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 1875

Os dados permitiram identificar que de todas as cultivares comerciais avaliadas apenas duas (Malice e Pira Roxa) mostraram-se resistentes à Bremia lactucae, raças 1 a 9, podendo estas serem utilizadas, nas regiões produtoras de alface, bem como, fontes de resistência, em programas de melhoramento genético. AGRADECIMENTOS À FAPESP (Fundação de Amparo e Pesquisa do Estado de São Paulo), pelo Auxílio Financeiro à Pesquisa Regular, processo n 2011/07194-0. REFERÊNCIAS ARAÚJO JC. 2010. Resistência de genótipos de alface ao míldio. Lavras: UFLA. 76 p (Dissertação doutorado). BRAZ LT; DALPIAN T; PISSARDI MA. 2007. Identification of races of Bremia lactucae in São Paulo, Brazil. Acta Horticulturae 760: 317-321. CASTOLDI R. 2011. Ocorrência de raças de Bremia lactucae no estado de São Paulo no triênio 2008-2010, e desenvolvimento de linhagens de alface crespa resistentes. Jaboticabal: UNESP-FCAV. 56 p (Tese de doutorado). ILOTT TW; DURGAN ME, MICHELMORE RW. 1987. Genetics of virulence in California populations of Bremia lactucae (Lettuce Downy Mildew). Phytopathology 77: 1381-1386. LEBEDA A; PINK DAC; MIESLEROVA B. 2001. Host-parasite specificity and defense variability in the Lactuca spp. Bremia lactucae pathosystem. Journal Plant Pathology 83: 25 35. LEBEDA A; ZINKERNAGEL V. 2003. Evolution and distribuition of virulence in the German population of Bremia lactucae. Journal of Plant Pathology 52: 41-51. MESQUITA PG. 2008. Biologia, epidemiologia e controle do míldio (Bremia lactucae) da alface (Lactuca sativa) em viveiro. Brasília: Universidade de Brasília. 145 f. (Dissertação de Mestrado em Fitopatologia). PISSARDI MA; DALPIAN T; BRAZ LT. 2006. Caracterização de cultivares de alface quanto à resistência à Bremia lactucae. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE OLERICULTURA, 46. Anais... Goiânia: SOB. p. 1168-1170. SOUZA JO; DALPIAN T; BRAZ LT; CAMARGO M. 2011. Novas raças de Bremia lactucae, agente causador do míldio da alface, identificadas no estado de São Paulo. Horticultura Brasileira 29: 282-286. Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 1876

VALE FXR; JESUS Jr WC; LIBERATO JR; SOUZA CA. 2004. Natureza das epidemias. In: VALE FXR; JESUS Jr WC; ZAMBOLIM L. Epidemiologia aplicada ao manejo de doenças de plantas. Belo Horizonte: Editora Perfil. p. 21-46. ZAMBOLIM L; VALE FXR; COSTA H. 2000. Controle de doenças de plantashortaliças. v. 1. Viçosa: UFV. 444 p. Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 1877

Tabela 1. Porcentagem de plântulas de cultivares comerciais com lesões esporulantes à nove raças de Bremia lactucae (Percentage of seedlings of commercial cultivars with sporulating injuries to nine races of Bremia lactucae). Jaboticabal-SP, UNESP-FCAV, 2012. Tipos Americana Crespa Lisa Cultivares SPBl:01 Raças SPBl:02 SPBl:03 SPBL:04 SPBl:05 SPBl:06 SPBl:07 SPBl:08 SPBl:09 Lucy Brown 72,5% 8,8% 90,0% 31,3% 75,0% 50,0% 73,8% 20,0% 70,0% Mauren 93,8% 50,0% 88,8% 80,0% 100,0% 91,3% 98,8% 96,3% 18,8% Rafaela 0,0% 25,0% 5,0% 0,0% 3,9% 95,0% 92,5% 42,5% 56,3% Tainá 85,0% 100,0% 100,0% 90,0% 10,0% 88,8% 51,3% 100,0% 47,5% Malice 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% Hortência 100,0% 12,5% 100,0% 100,0% 100,0% 97,5% 100,0% 94,4% 26,3% Isabela 93,8% 100,0% 100,0% 87,0% 100,0% 7,5% 100,0% 96,1% 40,0% Pira Roxa 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% Solaris 100,0% 93,8% 10,0% 98,7% 83,8% 100,0% 100,0% 96,3% 98,8% Vanda 100,0% 93,8% 10,0% 91,8% 95,7% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% Venerada 100,0% 92,5% 100,0% 0,0% 100,0% 80,0% 100,0% 98,8% 97,5% Vera 100,0% 98,7% 100,0% 100,0% 98,8% 100,0% 98,6% 100,0% 100,0% Verônica 100,0% 75,0% 100,0% 0,0% 100,0% 100,0% 100,0% 97,5% 0,0% Elisa 86,3% 100,0% 90,0% 96,3% 100,0% 72,5% 100,0% 100,0% 100,0% Stella 0,0% 0,0% 0,0% 100,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% Mimosa Salad Bowl 100,0% 100,0% 100,0% 27,5% 68,8% 100,0% 88,8% 88,8% 88,8% Tabela 2. Porcentagem de plântulas de cultivares comerciais com pontos necróticos à nove raças de Bremia lactucae (Percentage of seedlings of commercial cultivars with necrotic spots to nine races of Bremia lactucae). Jaboticabal-SP, UNESP-FCAV, 2012. Tipos Americana Crespa Lisa Cultivares Raças SPBl:01 SPBl:02 SPBl:03 SPBL:04 SPBl:05 SPBl:06 SPBl:07 SPBl:08 SPBl:09 Lucy Brown 5,0% 21,3% 0,0% 11,3% 7,5% 0,0% 17,5% 0,0% 12,5% Mauren 85,0% 0,0% 0,0% 45,0% 0,0% 0,0% 0,0% 91,3% 0,0% Rafaela 0,0% 1,3% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% Tainá 20,0% 5,0% 51,3% 13,8% 0,0% 5,0% 10,0% 95,0% 0,0% Malice 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% Hortência 0,0% 0,0% 6,3% 47,5% 0,0% 77,5% 0,0% 5,0% 8,8% Isabela 16,3% 1,3% 0,0% 13,0% 0,0% 28,8% 0,0% 5,3% 0,0% Pira Roxa 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% Solaris 0,0% 7,5% 5,0% 23,0% 2,5% 12,5% 22,5% 51,3% 0,0% Vanda 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% Venerada 0,0% 0,0% 0,0% 33,9% 0,0% 0,0% 0,0% 23,8% 0,0% Vera 11,5% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 4,0% 0,0% 0,0% 0,0% Verônica 0,0% 5,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% Elisa 22,5% 3,8% 43,8% 0,0% 22,5% 4,0% 0,0% 0,0% 0,0% Stella 0,0% 0,0% 0,0% 50,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% Mimosa Salad Bowl 8,8% 55,0% 6,3% 18,8% 0,0% 55,7% 16,3% 0,0% 5,0% Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 1878