PARÂMETROS DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS DECORRENTES DO ABANDONO AFETIVO GT III Efetividade do Sistema de Proteção às Crianças e aos Adolescentes na América Latina. Tamires Cristina Feijó de Freitas 1 Neusane Santos Ribeiro Freire 2 RESUMO A indenização por abandono afetivo ganhou grande repercussão depois do reconhecimento pelo Superior Tribunal de Justiça em 2012 que concedeu o direito à indenização à filha proveniente do abandono afetivo pelo pai, reconhecendo o afeto como valor jurídico (24 de Abril de 2012 o Recurso Especial de nº. 1.159.242 - SP (2009 0193701-9), trazendo, assim, inovações ao ordenamento jurídico brasileiro. Tendo em vista a grande repercussão, doutrinadores e juízes vêm debatendo sobre o cabimento da indenização por danos morais decorrentes de abandono afetivo. Portanto, o presente trabalho busca demonstrar decisões judiciais; princípios aplicáveis ao Direito de Família; a responsabilidade dos pais perante seus filhos; um projeto de lei do Senador Marcelo Crivella. À vista disso, foram utilizados os referenciais teóricos encontrados em livros, leis, normas, obtenção de dados secundários no banco de dados do Tribunal de Justiça e Superior Tribunal de Justiça. Ao decorrer das pesquisas, pode perceber que a ausência de afeto traz danos para o desenvolvimento do ser humano, sendo por isso possível a reparação desses danos através do judiciário. Porém, o que vem se entendendo por muitos juízes e doutrinadores é que para configurar a indenização tem que ser comprovado à existência do dano causado, existir violação do dever jurídico e a culpa, sendo assim, não há responsabilidade civil dos pais se houver ausência de um desses requisitos. Pode ocasionar, ainda, com o descumprimento do dever de convivência familiar, a perda do poder familiar de acordo com o art. 1638 do Código Civil. Sendo 1 Discente do curso de Direito do Centro Universitário de Barra Mansa. 2 Docente do Curso de Direito do Centro Universitário de Barra Mansa. Orientadora da pesquisa. 1
também constatado que a falta de afeto interfere nas relações familiares tornando o filho abandonado afetivamente uma pessoa desiludida, cheia de sentimentos negativos e tristes, podendo até levá-lo à criminalidade. Palavras chave: Abandono. Afeto. Família. Responsabilidade. 1. INTRODUÇÃO A responsabilidade civil pelo abandono afetivo deve se pautar, primeiramente, sobre os princípios da paternidade responsável e da afetividade, conforme previsto no art. 229 da CF (os pais têm o dever de assistir, criar e educar seus filhos menores). Como prevê o art. 186 do Código Civil aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito, portanto, fica obrigado a reparar o dano conforme o art. 927 do Código Civil aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. O art. 227 a CRFB/88 demonstra, claramente, os deveres que a Família, sociedade e Estado têm perante a criança, ao adolescente e ao jovem, sendo assim, garantir a convivência familiar significa respeitar o direito da personalidade e garantir a dignidade do filho, na medida em que depende dos genitores não só materialmente, mas, também, necessita de cuidado, carinho e amor. 2. DISCUSSÃO Após decisão da Relatora Ministra Nancy Andrighi em 2012, a Ação de Indenização por Abandono Afetivo ganhou grande repercussão. As jurisprudências demonstram posições divergentes, como por exemplo, temos aquelas que afirmam que para haver a responsabilidade em indenizar é necessário ser comprovado à existência de três requisitos essenciais, tais como: a existência de uma conduta culposa ou dolosa, dano e nexo de causalidade. Outras 2
afirmam que o abandono moral e material acarreta a perda do Poder Familiar. Outras, ainda, afirmam que existe um prazo para interpor essa ação de indenização, que é de 3 (três) anos a contar da maioridade, pois, segundo o entendimento do mesmo, por ser de caráter econômico essa ação prescreve. O Doutrinador Paulo Lôbo (2009, p. 287 e 288) entende ser possível à responsabilidade civil em decorrência do abandono afetivo, pois para ele existem princípios relevantes que devem ser observados e que admitem tal indenização. Porém, para Cavalieri (2010, p. 18), para haver responsabilidade em indenizar tem que existir três elementos (culpa, violação do dever jurídico e dano causado) que são claramente identificados no art. 186 do Código Civil como pressupostos da responsabilidade civil. Já Carlos Roberto Gonçalves (2012, p. 421 e 422) entende que o simples desamor e a falta de afeto não justificam o pedido de indenização por danos morais, essa indenização só cabe em casos especiais comprovados. Figura 1. Fonte: http://cleofas.com.br/familia-instituicao-de-vida 3. DANOS CAUSADOS EM CRIANÇAS ABANDONADAS Uma reportagem do Jornal O GLOBO (terça-feira 27.1.2015, p. 23) relatou um estudo feito pela Universidade de Harvard onde afirma a existência, além dos 3
traumas psicológicos, de danos cerebrais graves provocados em crianças abandonadas. Esse estudo do Hospital de Crianças de Boston, da Universidade de Harvard, acompanha, desde o ano 2000, crianças negligenciadas que vivem em abrigos da Romênia. Muitas dessas crianças apresentam problemas de desenvolvimento cerebral, segundo as análises. Tais problemas cerebrais levam à redução da capacidade linguística e mental. Como se pode ver na reportagem abaixo: Figura 2. Fonte: Reportagem do Jornal O GLOBO (terça-feira 27.1.2015, p. 23) 4. PROJETO DE LEI O Senador Marcelo Crivella apresentou um projeto de lei, em 2007, com a finalidade de modificar o ECA para caracterizar o abandono moral dos filhos como ilícito civil e penal. No artigo 3º do projeto, é ressaltado que o Estatuto da Criança e do Adolescente passa a vigorar acrescido do artigo 232-A, prevendo pena de detenção de um a seis meses para quem deixar, sem justa causa, de prestar assistência moral ao filho menor de 18 anos, prejudicando-lhe o desenvolvimento psicológico e social. Segundo o Senador, na justificação do projeto, a Lei não tem o poder de alterar a consciência dos pais, mas pode prevenir e solucionar os casos intoleráveis de negligência para com os filhos. 4
5. CONCLUSÃO Os pais devem ser presentes na vida dos seus filhos para que cresçam, desenvolvam-se e sejam um exemplo de companheirismo e cidadãos que respeitam a dignidade alheia, pois a falta de afeto, carinho e amor, configura como o descumprimento do dever de cuidado, e traz prejuízos psicológicos e morais para um ser humano e até mesmo desequilibra a sociedade, razão pela qual os Tribunais vêm demonstrando a possibilidade de reparação pecuniária em caso de abandono afetivo. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS BRASIL. Constituição da República Federativa. 1988. In: Vade Mecum Saraiva. 9. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2013. BRASIL. Código Civil. Lei n 10406, de 10 de janeiro de 2002. In: Vade Mecum Saraiva. 9. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2013. CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2010. LÔBO, Paulo. Famílias. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. VI, Direito de Família. - 20ª ed. - Rio de Janeiro: Forense, 2012. 5