PARÂMETROS DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS DECORRENTES DO ABANDONO AFETIVO

Documentos relacionados
PROF. JOSEVAL MARTINS VIANA RESPONSABILIDE CIVIL DOS ENFERMEIROS

PATRIMONIALIZAÇÃO DO AFETO

PROJETO DE LEI DO SENADO nº., de O CONGRESSO NACIONAL decreta:

AULA DE APRESENTAÇÃO DO CURSO E INÍCIO DA AULA 01

Gerenciamento de Riscos - Video Aula 3. Gestão de Riscos Acidentais Responsabilidade Civil. Luiz Macoto Sakamoto

O INCAPAZ COMO SUJEITO DE DIREITO AO DANO MORAL EM FACE DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE

PROF. JOSEVAL MARTINS VIANA AULA N. 07

Nº COMARCA DE SÃO SEPÉ

PROF. JOSEVAL MARTINS VIANA RESPONSABILIDADE CIVIL MÉDICO- HOSPITALAR E O CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

Responsabilidade Civil Ambiental. Fernando Nabais da Furriela Advogado

ASPECTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS AMBIENTAIS 1

Responsabilidade Civil e Criminal de Envolvidos nos Projetos, Execuções e Manutenções das Instalações de Detecção, Prevenção e Combate a Incêndio

DIREITO E JORNALISMO RESPONSABILIDADE CIVIL

RESPONSABILIDADE CIVIL DO EMPREGADOR NO ACIDENTE DE TRABALHO. LANA REZENDE DOS SANTOS FACULDADE ALFREDO NASSER

RESPONSABILIDADE CIVIL NO DIREITO AMBIENTAL

DIREITO DO TRABALHO. Remuneração e Salário. Dano moral e indenização. Parte I. Prof. Cláudio Freitas

RESPONSABILIDADE DO EMPREGADOR NOS ACIDENTES E DOENÇAS DO TRABALHO

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO IMOBILIÁRIO.

PROF. JOSEVAL MARTINS VIANA DANO MORAL E O ERRO MÉDICO

Com a Constituição Federal de 1988, houve uma mudança na natureza da responsabilidade do empregador em casos de acidente de trabalho.

Seus Direitos Relacionados A Danos Morais E Materiais

ARGUMENTOS DAS DECISÕES JUDICIAIS EM FACE DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO POR OMISSÃO 1

PROF. JOSEVAL MARTINS VIANA. Aula n. 79. Pós-Graduação em Direito Médico e da Saúde Tema: SANGUE CONTAMINADO - RESPONSABILIDADE CIVIL

DA RESPONSABILIDADE CIVIL E PENAL DE ESCOTISTAS E DIRIGENTES INSTITUCIONAIS

RESPONSABILIDADE CIVIL DO ENFERMEIRO NA GESTÃO ASSISTENCIAL

RESPONSABILIDADE CIVIL NOS CASOS DE DANOS CAUSADOS POR AGROTÓXICOS.

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PROCESSUAL CIVIL.

O QUE É O DEVER DE REPARAR O DANO. RESPONSABILIDADE CIVIL? A RESPONSABILIDADE CIVIL NADA MAIS É SENÃO:

PROF. JOSEVAL MARTINS VIANA O PLANO REDACIONAL DO TEXTO JURÍDICO

Instituto das Perdas e Danos

PARECER Nº, DE RELATOR: Senador VALDIR RAUPP I RELATÓRIO

RESUMO EXPANDIDO REPARAÇÃO CIVIL NO DIREITO DE FAMÍLIA: O ABANDONO AFETIVO OLIVEIRA, Leandro da Silva 1 ; SILVA JÚNIOR, Ademos Alves da 2

Fontes das Obrigações: Contratos Especiais, Atos Unilaterais, Responsabilidade Civil e outras Fontes (DCV0311)

Responsabilidade civil do empreiteiro e do projetista. Mario Rui Feliciani

Responsabilidade civil do empreiteiro e do projetista

II - RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL SUBJETIVA. Nexo causal

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO IMOBILIÁRIO.

PARECER Nº, DE RELATOR: Senador PAULO PAIM I RELATÓRIO

Responsabilidade Civil. Paula Ferraz 2017

Profa. Dra. Maria Hemília Fonseca A MODERNA EXECUÇÃO: PENHORA ON LINE

RESPONSABILIDADE CIVIL NO DANO ESTÉTICO DECORRENTE DO ERRO MÉDICO

PUBLICIDADE ENGANOSA E ABUSIVA

PROF. JOSEVAL MARTINS VIANA RESPONSABILIDADE CIVIL DO CIRURGIÃO PLÁSTICO

é a obrigação que ele tem de reparar os danos causados a terceiros em face de comportamento imputável aos seus agentes. chama-se também de

TÍTULO: PRIVAÇÃO DO BEM-ESTAR PRODUZIDA PELO DANO MORAL: A QUESTÃO DA RESPONSABILIDADE CIVIL FRENTE À FAMÍLIA E DO ABANDONO AFETIVO DE FILHO.

DANOS MORAIS POR ABANDONO AFETIVO: UMA ANÁLISE À LUZ DOS PRINCÍPIOS DE DIREITO DE FAMÍLIA

Curso de Direito nas Ciências Econômicas. Profa. Silvia Mara Novaes Sousa Bertani

Um grave atentado, diz Janot sobre pacto de... Número de processos se multiplicou 80 vezes em 27 anos, diz...

RESPONSABILIDADE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

RESPONSABILIDADE CIVIL DO EMPREGADOR NOS ACIDENTES DE TRABALHO

RC Profissional Objetivo do Seguro

A RESPONSABILIDADE CIVIL DOS GENITORES PELO ABANDONO AFETIVO DOS FILHOS MENORES

Direito ao Risco e Responsabilidades

16/9/2010. UNESP Biologia Marinha Gerenciamento Costeiro LEGISLAÇÃO AMBIENTAL

RESPONSABILIDADE CIVIL: EVOLUÇÃO, ESPÉCIE E EFEITOS

Responsabilidade Civil dos Hospitais e Clínicas

RESUMO RESPONSABILIDADE CIVIL

DIREITO ADMINISTRATIVO Responsabilidade Civil do Estado. Prof. Luís Gustavo. Fanpage: Luís Gustavo Bezerra de Menezes

Pós Graduação em Direito de Família e Sucessões. Prof. Joseval Martins Viana. Aula dia 28/11/2018. Poder Familiar.

DIREITO DO TRABALHO. Remuneração e Salário. Dano moral e indenização. Parte II. Prof. Cláudio Freitas

ESOCIAL ASPECTOS E FUNDAMENTOS ROQUE DE CAMARGO JÚNIOR AUDITOR-FISCAL DO TRABALHO

Unidade I. Instituições de Direito Público e Privado. Profª. Joseane Cauduro

RESPONSABILIDADE PROFISSIONAL

RESPONSABILIDADE CIVIL NA SAÚDE DOS HOSPITAIS E CLÍNICAS

O desastre ambiental de Mariana: análise sob a ótica do Direito Ambiental Brasileiro. Marcelo Leoni Schmid

Direitos Reais. Posse: direito de retenção; responsabilidade pelos danos causados à coisa;

RESPONSABILIDADE CIVIL NO DIREITO DO TRABALHO

FUNDAMENTAÇÃO DE RECURSO DIREITO ADMINISTRATIVO PROVA TIPO 4 - AZUL

INDEFERIMENTO DO BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO SUJEITO A PERÍCIA MÉDICA COMO ATO DE VIOLAÇÃO AOS DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS

DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Nova NR-10 - Segurança em Instalações e Serviços em Eletricidade. Eng. João Cunha

Acidente de Trabalho

PROF. JOSEVAL MARTINS VIANA CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL

PROF. JOSEVAL MARTINS VIANA. Curso de Pós-Graduação em Direito Médico e da Saúde - Módulo I - Responsabilidade Civil na Saúde

04/02/2019. Denis Domingues Hermida CONFLITO DE INTERESSES QUALIFICADO POR UMA PRETENSÃO RESISTIDA

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO 22ª CÂMARA DE DIREITO PRIVADO

PROF. JOSEVAL MARTINS VIANA RESPONSABILIDADE CIVIL DOS DENTISTAS

ENCONTRO 04. Ocorrência de ato ilícito. Que este ato tenha causado dano à alguém

José Clóvis de Menezes Filho (1); Ayranne Garcia da Silva (2); Márcia Cavalcante de Araújo (3).

PROF. JOSEVAL MARTINS VIANA RESPONSABILIDADE CIVIL DO CIRURGIÃO PLÁSTICO

DIREITO ADMINISTRATIVO IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

Definições preliminares. Violência em meio escolar situa fenômenos distintos: - violência contra a escola - violência da escola - violência na escola

Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Conduta voluntária. Ilicitude. Culpa. Dano. Nexo causal

Responsabilidade civil do Estado

Polícia Civil Direito Administrativo Improbidade Administrativa Clóvis Feitosa

SIPAT MOSTEIRO DE SÃO BENTO. PAULO FARROCO 04/05/2009

PROF. JOSEVAL MARTINS VIANA PUBLICIDADE ENGANOSA. Pós-Graduação em Direito do Consumidor - Módulo: Introdução ao Código de Defesa do Consumidor

PLANO DE ENSINO EMENTA

ABANDONO AFETIVO: (IM)POSSIBILIDADE DE INDENIZAÇÃO POR PARTE DA VÍTIMA Lucas Eidt 1 Júlia Bagatini 2

BuscaLegis.ccj.ufsc.br

DO SENTIDO DA EXPRESSÃO CULPA NO ART 929 DO CC 1

DIREITO DO CONSUMIDOR

RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO: OMISSÃO NA CONSERVAÇÃO DAS RODOVIAS SOB SUA RESPONSABILIDADE 1

Diante da constante preocupação mediante os riscos e agravos gerados no processamento de

PROF. JOSEVAL MARTINS VIANA DANO MORAL NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

Transcrição:

PARÂMETROS DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS DECORRENTES DO ABANDONO AFETIVO GT III Efetividade do Sistema de Proteção às Crianças e aos Adolescentes na América Latina. Tamires Cristina Feijó de Freitas 1 Neusane Santos Ribeiro Freire 2 RESUMO A indenização por abandono afetivo ganhou grande repercussão depois do reconhecimento pelo Superior Tribunal de Justiça em 2012 que concedeu o direito à indenização à filha proveniente do abandono afetivo pelo pai, reconhecendo o afeto como valor jurídico (24 de Abril de 2012 o Recurso Especial de nº. 1.159.242 - SP (2009 0193701-9), trazendo, assim, inovações ao ordenamento jurídico brasileiro. Tendo em vista a grande repercussão, doutrinadores e juízes vêm debatendo sobre o cabimento da indenização por danos morais decorrentes de abandono afetivo. Portanto, o presente trabalho busca demonstrar decisões judiciais; princípios aplicáveis ao Direito de Família; a responsabilidade dos pais perante seus filhos; um projeto de lei do Senador Marcelo Crivella. À vista disso, foram utilizados os referenciais teóricos encontrados em livros, leis, normas, obtenção de dados secundários no banco de dados do Tribunal de Justiça e Superior Tribunal de Justiça. Ao decorrer das pesquisas, pode perceber que a ausência de afeto traz danos para o desenvolvimento do ser humano, sendo por isso possível a reparação desses danos através do judiciário. Porém, o que vem se entendendo por muitos juízes e doutrinadores é que para configurar a indenização tem que ser comprovado à existência do dano causado, existir violação do dever jurídico e a culpa, sendo assim, não há responsabilidade civil dos pais se houver ausência de um desses requisitos. Pode ocasionar, ainda, com o descumprimento do dever de convivência familiar, a perda do poder familiar de acordo com o art. 1638 do Código Civil. Sendo 1 Discente do curso de Direito do Centro Universitário de Barra Mansa. 2 Docente do Curso de Direito do Centro Universitário de Barra Mansa. Orientadora da pesquisa. 1

também constatado que a falta de afeto interfere nas relações familiares tornando o filho abandonado afetivamente uma pessoa desiludida, cheia de sentimentos negativos e tristes, podendo até levá-lo à criminalidade. Palavras chave: Abandono. Afeto. Família. Responsabilidade. 1. INTRODUÇÃO A responsabilidade civil pelo abandono afetivo deve se pautar, primeiramente, sobre os princípios da paternidade responsável e da afetividade, conforme previsto no art. 229 da CF (os pais têm o dever de assistir, criar e educar seus filhos menores). Como prevê o art. 186 do Código Civil aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito, portanto, fica obrigado a reparar o dano conforme o art. 927 do Código Civil aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. O art. 227 a CRFB/88 demonstra, claramente, os deveres que a Família, sociedade e Estado têm perante a criança, ao adolescente e ao jovem, sendo assim, garantir a convivência familiar significa respeitar o direito da personalidade e garantir a dignidade do filho, na medida em que depende dos genitores não só materialmente, mas, também, necessita de cuidado, carinho e amor. 2. DISCUSSÃO Após decisão da Relatora Ministra Nancy Andrighi em 2012, a Ação de Indenização por Abandono Afetivo ganhou grande repercussão. As jurisprudências demonstram posições divergentes, como por exemplo, temos aquelas que afirmam que para haver a responsabilidade em indenizar é necessário ser comprovado à existência de três requisitos essenciais, tais como: a existência de uma conduta culposa ou dolosa, dano e nexo de causalidade. Outras 2

afirmam que o abandono moral e material acarreta a perda do Poder Familiar. Outras, ainda, afirmam que existe um prazo para interpor essa ação de indenização, que é de 3 (três) anos a contar da maioridade, pois, segundo o entendimento do mesmo, por ser de caráter econômico essa ação prescreve. O Doutrinador Paulo Lôbo (2009, p. 287 e 288) entende ser possível à responsabilidade civil em decorrência do abandono afetivo, pois para ele existem princípios relevantes que devem ser observados e que admitem tal indenização. Porém, para Cavalieri (2010, p. 18), para haver responsabilidade em indenizar tem que existir três elementos (culpa, violação do dever jurídico e dano causado) que são claramente identificados no art. 186 do Código Civil como pressupostos da responsabilidade civil. Já Carlos Roberto Gonçalves (2012, p. 421 e 422) entende que o simples desamor e a falta de afeto não justificam o pedido de indenização por danos morais, essa indenização só cabe em casos especiais comprovados. Figura 1. Fonte: http://cleofas.com.br/familia-instituicao-de-vida 3. DANOS CAUSADOS EM CRIANÇAS ABANDONADAS Uma reportagem do Jornal O GLOBO (terça-feira 27.1.2015, p. 23) relatou um estudo feito pela Universidade de Harvard onde afirma a existência, além dos 3

traumas psicológicos, de danos cerebrais graves provocados em crianças abandonadas. Esse estudo do Hospital de Crianças de Boston, da Universidade de Harvard, acompanha, desde o ano 2000, crianças negligenciadas que vivem em abrigos da Romênia. Muitas dessas crianças apresentam problemas de desenvolvimento cerebral, segundo as análises. Tais problemas cerebrais levam à redução da capacidade linguística e mental. Como se pode ver na reportagem abaixo: Figura 2. Fonte: Reportagem do Jornal O GLOBO (terça-feira 27.1.2015, p. 23) 4. PROJETO DE LEI O Senador Marcelo Crivella apresentou um projeto de lei, em 2007, com a finalidade de modificar o ECA para caracterizar o abandono moral dos filhos como ilícito civil e penal. No artigo 3º do projeto, é ressaltado que o Estatuto da Criança e do Adolescente passa a vigorar acrescido do artigo 232-A, prevendo pena de detenção de um a seis meses para quem deixar, sem justa causa, de prestar assistência moral ao filho menor de 18 anos, prejudicando-lhe o desenvolvimento psicológico e social. Segundo o Senador, na justificação do projeto, a Lei não tem o poder de alterar a consciência dos pais, mas pode prevenir e solucionar os casos intoleráveis de negligência para com os filhos. 4

5. CONCLUSÃO Os pais devem ser presentes na vida dos seus filhos para que cresçam, desenvolvam-se e sejam um exemplo de companheirismo e cidadãos que respeitam a dignidade alheia, pois a falta de afeto, carinho e amor, configura como o descumprimento do dever de cuidado, e traz prejuízos psicológicos e morais para um ser humano e até mesmo desequilibra a sociedade, razão pela qual os Tribunais vêm demonstrando a possibilidade de reparação pecuniária em caso de abandono afetivo. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS BRASIL. Constituição da República Federativa. 1988. In: Vade Mecum Saraiva. 9. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2013. BRASIL. Código Civil. Lei n 10406, de 10 de janeiro de 2002. In: Vade Mecum Saraiva. 9. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2013. CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2010. LÔBO, Paulo. Famílias. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. VI, Direito de Família. - 20ª ed. - Rio de Janeiro: Forense, 2012. 5