Proceedings of the 48 th Annual Meeting of the Brazilian Ceramic Society 28 de junho a 1º de julho de 2004 Curitiba-PR

Documentos relacionados
Necessária onde a sinterização no estado sólido não é possível (Si 3

Estrutura de silicatos

CARACTERIZAÇÃO DE UMA ARGILA CONTAMINADA COM CALCÁRIO: ESTUDO DA POTENCIABILIDADE DE APLICAÇÃO EM MASSA DE CERÂMICA DE REVESTIMENTO.

Cerâmica 49 (2003) 6-10

Benefícios do Uso de Feldspato Sódico em Massa de Porcelanato Técnico

UTILIZAÇÃO DE VIDRO EM PÓ EM CERÂMICA VERMELHA. PARTE 2: INFLUÊNCIA DA GRANULOMETRIA RESUMO

FORMULAÇÃO DE MASSA CERÂMICA PARA FABRICAÇÃO DE TELHAS

DESENVOLVIMENTO DE NOVOS MATERIAIS CERÂMICOS A PARTIR DE RESÍDUOS DE LAPIDÁRIOS

A Expansão Térmica de Materiais Cerâmicos Parte III: Efeitos da Adição de Calcita

Estudo da Reutilização de Resíduos de Telha Cerâmica (Chamote) em Formulação de Massa para Blocos Cerâmicos

Caracterização dos Materiais Silto-Argilosos do Barreiro de Bustos

INFLUÊNCIA DO TEOR DE SÍLICA LIVRE NAS PROPRIEDADES DO AGREGADO SINTÉTICO A PARTIR A SINTERIZAÇÃO DA LAMA VERMELHA

INFLUÊNCIA DE ALGUNS ADITIVOS NA RESISTÊNCIA APÓS SECAGEM DE MISTURAS TAGUÁ DE JARINU, SP/LODO DE ETA

CARACTERIZAÇÃO DE ARGILAS UTILIZADAS PARA FABRICAÇÃO DE CERÂMICA ESTRUTURAL NA REGIÃO DE MONTE CARMELO, MG

Avaliação da Potencialidade de Uso do Resíduo Proveniente da Indústria de Beneficiamento do Caulim na Produção de Piso Cerâmico

FORMULAÇÃO E PROPRIEDADES DE QUEIMA DE MASSA PARA REVESTIMENTO POROSO

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO MORFOLÓGICO E TÉRMICO DE MINERIAS DO MUNICIPIO DE CAMPOS DOS GOYTACAZES *

Formulação de Massas Cerâmicas para Revestimento de Base Branca, Utilizando Matéria-prima do Estado Rio Grande do Norte.

Introdução. Palavras-Chave: Reaproveitamento. Resíduos. Potencial. Natureza. 1 Graduando Eng. Civil:

DESENVOLVIMENTO DE MICROESTRUTURAS Prof. Vera Lúcia Arantes SMM/EESC/USP

Avaliação de uma Metodologia para a Formulação de Massas para Produtos Cerâmicos Parte II

ESTUDOS PRELIMINARES DO EFEITO DA ADIÇÃO DA CASCA DE OVO EM MASSA DE PORCELANA

COMPORTAMENTO DE QUEIMA DE UMA ARGILA VERMELHA USADA EM CERÂMICA ESTRUTURAL

Matérias-primas naturais

5 Caracterizações Física, Química e Mineralógica.

Avaliação da reatividade do metacaulim reativo produzido a partir do resíduo do beneficiamento de caulim como aditivo na produção de argamassa

REJEITO DE CAULIM DE APL DE PEGMATITO DO RN/PB UMA FONTE PROMISSORA PARA CERÂMICA BRANCA

Palavras chave: argila, cerâmica, resíduo, homogeneização, sinterização.

Efeito do Processo de Calcinação na Atividade Pozolânica da Argila Calcinada

O CONHECIMENTO DAS MATÉRIAS-PRIMAS COMO DIFERENCIAL DE QUALIDADE NAS CERÂMICAS OTACÍLIO OZIEL DE CARVALHO

Caracterização de matérias-primas cerâmicas

FONTE DE PLASTICIDADE E FUNDÊNCIA CONTROLADA PARA PORCELANATO OBTIDO POR MOAGEM VIA ÚMIDA

AVALIAÇÃO DA ADIÇÃO DO PÓ DE RESÍDUO DE MANGANÊS EM MATRIZ CERÂMICA PARA REVESTIMENTO

CORRELAÇÃO ENTRE MEDIDAS DE RESISTÊNCIA MECÂNICA DE CORPOS DE PROVA DE ARGILA CONFORMADOS MANUALMENTE E POR PRENSAGEM UNIAXIAL

ARGILA VERDE-CLARO, EFEITO DA TEMPERATURA NA ESTRUTURA: CARACTERIZAÇÃO POR DRX

REJEITO DE CAULIM DE APL DE PEGMATITO DO RN/PB UMA FONTE PROMISSORA PARA CERÂMICA BRANCA. Lídia D. A. de Sousa

1. Introdução. 2. Materiais e Método. Daniela L. Villanova a *, Carlos P. Bergmann a

COMPORTAMENTO CERÂMICO DE MATÉRIAS-PRIMAS CAULINÍTICAS EM FUNÇÃO DA QUEIMA

CARACTERIZAÇÃO E AVALIAÇÃO DAS PROPRIEDADES CERÂMICAS DE ARGILA UTILIZADA EM CERÂMICA ESTRUTURAL

Sinterização 31/8/16

Engenharia e Ciência dos Materiais II. Prof. Vera Lúcia Arantes

Anais do 50º Congresso Brasileiro de Cerâmica

CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL DE ESCÓRIA GRANULADA DE ACIARIA PARA FABRICAÇÃO DE PEÇAS DE CERÂMICA VERMELHA*

EFEITO DA ADIÇÃO DE VIDRO SOBRE PROPRIEDADES DE QUEIMA DE UMA ARGILA VERMELHA

Materiais Cerâmicos Formulação. Conceitos Gerais

Formando Cerâmicas Tradicionais Queima. Prof. Ubirajara Pereira Rodrigues Filho

Moagem Fina à Seco e Granulação vs. Moagem à Umido e Atomização na Preparação de Massas de Base Vermelha para Monoqueima Rápida de Pisos Vidrados

20º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 04 a 08 de Novembro de 2012, Joinville, SC, Brasil

Avaliação da influência de diferentes tratamentos térmicos sobre as transformações de fases esmectitas

PREPARAÇÃO DE MULITA A PARTIR DE MATÉRIAS-PRIMAS NATURAIS. Departamento de Engenharia de Materiais, UFPB, , João Pessoa, Brasil

DILATOMETRIA DE ARGILAS DO MUNICÍPIO DE RIO VERDE DE MATO GROSSO/MS

INFLUÊNCIA DA PRESSÃO DE COMPACTAÇÃO SOBRE AS PROPRIEDADES DE MASSA DE REVESTIMENTO CERÂMICO POROSO

21º CBECIMAT - Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 09 a 13 de Novembro de 2014, Cuiabá, MT, Brasil

OBTENÇÃO DE PLACAS CERÂMICAS PELOS PROCESSOS DE PRENSAGEM E LAMINAÇÃO UTILIZANDO RESÍDUO DE GRANITO RESUMO

peneira abertura Peneiramento Pó A Pó B # μm Intervalos % % #

OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE RESÍDUO DA CERÂMICA VERMELHA SUBMETIDAS A DIFERENTES CONDIÇÕES DE QUEIMA

Efeito da Adição de Calcita Oriunda de Jazida de Argila em Massa de Cerâmica de Revestimento

Reaproveitamento do Resíduo Sólido do Processo de Fabricação de Louça Sanitária no Desenvolvimento de Massa Cerâmica

APROVEITAMENTO DO REJEITO DE PEGMATITO PARA INDÚSTRIA CERÂMICA

PRODUÇÃO DE ZEÓLITAS A PARTIR DE CAULIM EM SISTEMA AGITADO COM AQUECIMENTO A VAPOR EM ESCALA SEMI-PILOTO

Sinterização 23/8/17

OBTENÇÃO DE VITRO-CERÂMICOS DE CORDIERITA ATRAVÉS DA SINTERIZAÇÃO E CRISTALIZAÇÃO DE PÓS DE VIDRO

SUSTENTABILIDADE COM LODO DE ESGOTO

ARGAMASSAS E CONCRETOS ADIÇÕES

Matérias-primas. Classificação geral: Cerâmicas Vidros Vitro-cerâmicos

CARACTERIZAÇÃO DE ARGILA PARA UTILIZAÇÃO EM CERÂMICA VERMELHA ESTRUTURAL*

(Effect of firing cycle on the technological properties of a red wall tile paste)

ENSAIOS TECNOLÓGICOS DE ARGILAS DA REGIÃO DE PRUDENTÓPOLIS-PR. Resumo: Introdução

Física dos Materiais FMT0502 ( )

Influência do Teor de Calcário no Comportamento Físico, Mecânico e Microestrutural de Cerâmicas Estruturais

ESTUDO COMPARATIVO DE MASSAS CERÂMICAS PARA TELHAS PARTE 2: PROPRIEDADES TECNOLÓGICAS

Argilas e processamento de massa cerâmica

FUNDAMENTOS DE CIÊNCIA DOS MATERIAIS LISTA DE EXERCÍCIOS CRISTAIS

Uso de Areia de Fundição como Matéria-prima para a Produção de Cerâmicas Brancas Triaxiais

ENGOBE PARA TELHAS CERÂMICAS

ESTUDO DA INCORPORAÇÃO DE VIDRO DE EMBALAGEM NA FABRICAÇÃO DE CERÂMICA VERMELHA

SÍNTESE DE PIGMENTO CERÂMICO DE ÓXIDO DE FERRO E SÍLICA AMORFA

Introdução Santa Gertrudes SP, Fone/fax (019) ,

ESTUDO DE MASSAS CERÂMICAS PARA REVESTIMENTO POROSO PREPARADAS COM MATÉRIAS-PRIMAS DO NORTE FLUMINENSE

ESTUDO DAS PROPRIEDADES FÍSICAS E QUÍMICAS DE BLOCOS DE CERÂMICAS DO ESTADO DE GOIÁS. Raphael Silva Aranha** e Adolfo Franco Júnior*

AVALIAÇÃO DE PARÂMETROS FÍSICOS E QUÍMICOS PARA A PRODUÇÃO DE ARGAMASSAS UTILIZANDO CINZA VOLANTE E RESÍDUO DA CONSTRUÇÃO CIVIL

DESENVOLVIMENTO DE NOVOS MATERIAIS CERÂMICOS A PARTIR DE RESÍDUO DE SERPENTINITO E ARGILA VERMELHA. P. Presotto¹, V. Mymrine²

ANÁLISE PRELIMINAR EM UMA MASSA ARGILOSA VISANDO A PRODUÇÃO DE BLOCOS CERÂMICOS: PROPRIEDADES FÍSICO-MECÂNICAS

ESTUDO DO EFEITO POZOLÂNICO DA CINZA VOLANTE NA PRODUÇÃO DE ARGAMASSAS MISTAS: CAL HIDRATADA, REJEITO DE CONSTRUÇÃO CIVIL E CIMENTO PORTLAND

EFEITO DA VARIAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE PRENSAGEM NA COR E PROPRIEDADES TECNOLÓGICAS DE PEÇAS CERÂMICAS SEM RECOBRIMENTO

CARACTERIZAÇÃO DE PÓ DE BALÃO PARA APLICAÇÃO EM MASSA CERÂMICA PARA FABRICAÇÃO DE BLOCOS DE VEDAÇÃO*

ESTUDO COMPARATIVO DE METODOLOGIAS PARA DETERMINAÇÃO DA DISTRIBUIÇÃO GRANULOMÉTRICA DE ARGILAS

AVALIAÇÃO DA POROSIDADE APARENTE E ABSORÇÃO DE ÁGUA DA MASSA CERÂMICA PARA PORCELANATO EM FUNÇÃO DA INCORPORAÇÃO DE RESÍDUO DE CAULIM.

Matérias-primas usadas no processamento de materiais cerâmicos

PROCESSAMENTO DE LIGAS À BASE FERRO POR MOAGEM DE ALTA ENERGIA

2. Diagramas de fases de materiais cerâmicos

Adição de Metais Tóxicos a Massas Cerâmicas e Avaliação de sua Estabilidade Frente a Agente Lixiviante. Parte 1: Avaliação das Características Físicas

CARACTERIZAÇÃO DO SOLO DO MUNICÍPIO DE SANTA MARIA MADALENA

A Influência da Variação da Moagem dos Carbonatos e Tratamento Térmico no Material, nas Características Físicas do Produto Acabado

ESTUDO DAS PROPRIEDADES DE ARGAMASSAS DE CAL E POZOLANA: INFLUÊNCIA DO TIPO DE METACAULIM

ESTUDO DE FORMULAÇÕES PARA APLICAÇÃO EM PLACAS CERÂMICAS

Uso da Técnica de Dilatometria no Estudo do Efeito da Adição de Resíduo de Caulim na Massa de Porcelanato

QUANTIFICAÇÃO DE FASES EM COMPOSIÇÕES REFORMULADAS DE GRÊS PORCELANATO

Aula 02 (Revisão): Ligação Química e Estruturas Cristalinas

Transcrição:

1 ESTUDO POR DIFRAÇÃO DE RAIOS - X DAS FASES CRISTALINAS FORMADAS DURANTE O AQUECIMENTO ATÉ 1250ºC DOS ARGILOMINERAIS COMPONENTES DE TAGUÁS DA REGIÃO DE JARINÚ, JUNDIAÍ, SP. S. Cosin*, A.C. Vieira Coelho ***, H. de Souza Santos **, P. de Souza Santos *** * Consultora; Jundiaí, São Paulo, E-mail - s.cosin@zaz.com.br **Laboratório de Microscopia Eletrônica Departamento de Física Geral Instituto de Física da USP Caixa Postal 66.318; CEP: 05315-970 São Paulo, SP. *** Laboratório de Matérias-Primas Particuladas e Sólidos Não-Metálicos LMPsol Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais; Escola Politécnica da USP; Caixa Postal 61.548; São Paulo, SP. RESUMO O objetivo do presente trabalho é apresentar a caracterização por DRX das fases cristalinas formadas durante o aquecimento entre 300C e 1250ºC de uma mistura industrial das cinco camadas do taguá de Jarinu com o taguá Samarone utilizadas como matéria-prima para a fabricação de pisos cerâmicos e outros produtos de Cerâmica Vermelha. Os argilominerais componentes da mistura sofrem transformações térmicas independentes entre si até cerca de 800ºC. A partir de 900ºC, essas fases interagem entre si formando novas fases cristalinas contribuindo à fase vítrea. No intervalo 800ºC/900ºC ocorrem mudanças estruturais muito grandes com formação de teor significativo de fase vítrea. Após queima a 1000ºC, as seguintes fases cristalinas foram observadas: mulita 3:2; clinoenstatita e quartzo. Após queima a 1100ºC: mulita 3:2; forsterita; quartzo e hematita. Após 1200ºC/1250ºC: mulita, forsterita, espinélio ferrífero, quartzo e hematita. Queimando até 1250ºC, não foi observada a formação de cristobalita, apesar da presença de ferro-iii. Palavras chave: Taguás; fases cristalinas; queima de taguás; Cerâmica Vermelha

2 INTRODUÇÃO Corpos cerâmicos utilizados na fabricação de produtos da Cerâmica Tradicional freqüentemente contém uma ou mais argilas; é o que ocorre, por exemplo, em Cerâmica Branca ou em Cerâmica Vermelha. Embora haja argilas, como o caulim, constituídas apenas por um argilomineral, existem muitas argilas usadas em Cerâmica Vermelha que são misturas de diferentes argilominerais: os casos das 5 camadas do taguá de Jarinu e o taguá Samarone são exemplos desse tipo de argilas. Nesse caso geralmente a argila é constituída por uma mistura íntima de cristais individuais dos diversos argilominerais com os minerais acessórios. Durante a queima de produtos de Cerâmica Vermelha até a temperatura do patamar de queima característico de cada tipo de produto ou de peça, os cristais individuais de cada argilomineral e de cada mineral acessório sofrem, cada um de persi, transformações físicas e químicas em função da temperatura crescente. Contudo, dependendo dos argilominerais e dos minerais acessórios, a partir de temperaturas da ordem de 600ºC, alguns dos produtos dessas transformações podem começar a reagir quimicamente com os outros componentes presentes, formando novas fases, cristalinas, amorfas ou não-cristalinas e vítreas, até a temperatura do patamar de queima. O objetivo do presente trabalho é o de apresentar a caracterização por DRX das fases cristalinas formadas durante o aquecimento até 1250ºC de uma mistura industrial das cinco camadas do taguá de Jarinu com o taguá Samarone estudadas e utilizada como matéria prima para a fabricação de pisos cerâmicos e outros produtos de Cerâmica Vermelha. MATERIAIS E MÉTODOS AMOSTRA: Neste estudo foi utilizada uma alíquota de uma mistura industrial usada como matéria prima para a produção de pisos cerâmicos. A mistura continha, em base seca à temperatura ambiente, de cada uma, 6 toneladas das camadas Rosa, 1ª e 4ª; 18 toneladas cada uma das 2ª e 3ª camadas e do taguá Samarone. Às 54 toneladas da mistura foi adicionado 0,5% de talco de Ponta Grossa, PR. À mistura foi homogeneizada, britada e moída em moinhos de bolas para sua utilização na produção

3 industrial. Alíquota de 2 quilos foi retirada, moída a seco e totalmente passada em peneira ABNT n.º 100 para os ensaios de queima. A composição química elementar, expressa em percentual de óxidos, apresenta oito óxidos, sendo as maiores proporções de SiO 2, Al 2 O 3, Fe 2 O 3 e K 2 O, e as menores CaO, MgO, TiO 2 e Na 2 O. Obviamente, esse numero é muito grande para ser comparado com os dados tabelados de equilíbrio de fases cerâmicas. QUEIMA : A mistura moída e peneirada, tendo a umidade de 6,0% foi conformada em corpos de prova de 5,0 x 2,0 x 0,4 a 0,5 cm³, sobre pressão estática de 200 kgf/cm 2 (20MPa). Após secagem a 110ºC, foram queimados em temperaturas crescentes, em atmosfera oxidante, em forno elétrico de laboratório, com resfriamento natural; o tempo de queima (tempo de residência) no patamar de queima foi de 4 horas. O corpo de prova foi moído em almofariz de ágata até passar totalmente em peneira ABNT n.º 100; o pó foi guardado em recipiente de polietileno para caracterização por difração de raios X. A mistura original e amostras queimadas entre 300ºC e 1250ºC foram examinadas em um equipamento Philips modelo X-Ray Diffractometer X Pert MPD, operando com radiação K- alfa do cobre, entre 1º (2 θ) e 90º (2 θ). A caracterização das fases cristalinas foi feita pelo programa PDF WIN do equipamento, considerando os elementos Si, Al, Fe, Mg, Ca, K, Na. RESULTADOS E DISCUSSÃO FASES CRISTALINAS FORMADAS NA QUEIMA DAS MISTURAS DAS CAMADAS DO TAGUÁ DE JARINU E DO TAGUÁ SAMARONE 100ºC E 200ºC : Nessas duas temperaturas existe apenas transformação física de secagem devida à vaporização da água de umidade e intercalada na ilita e na nontronita; não há alteração nas curvas de DRX que indiquem mudança de estruturas cristalinas. 300ºC : Observa-se que a reflexão basal de 14,5 Å da nontronita desaparece; esse fato é devido à contração das camadas basais para cerca de 9,5 Å, o que faz essa reflexão se incorporar à reflexão basal da ilita. Assim, após queima a essa temperatura

4 apenas as reflexões da caulinita, ilita, talco, quartzo, goetita e hematita são caracterizadas. A mesma observação se repete após queima a 400ºC. 500ºC : Nessa temperatura, não mais se observa as reflexões da caulinita na curva de DRX; formou-se metacaulinita não caracterizável em uma curva de DRX de um pó. As reflexões da goetita desapareceram e apareceram apenas as reflexões da hematita, parte dela proveniente da desidroxilação; essa goetita decompõe-se acima da temperatura usual apresentadas na estrutura. Portanto, após queima a 500ºC, as fases existentes são metacaulinita; ilita; nontronita; talco; quartzo e hematita. Após 600ºC; 700ºC e 800ºC, não se observa alterações nas curvas de DRX; muito embora acima de 600ºC tenha havido a desidroxilação da nontronita e da ilita. Após queima a 900ºC, alterações importantes aparecem na curva de DRX: enquanto as reflexões do quartzo e do talco permanecem, desaparecem a reflexão basal da ilita e as da hematita, e apareceram as reflexões dos silicatos cristalinos em silimanita (Al 2 O 3. SiO 2 ) e forsterita ou olivina (2MgO.SiO 2 ); além disso desenvolveu-se uma banda intensa na faixa de 20º (2θ) e 40º (2θ) característica de material amorfo ou não cristalino. Esses fatos podem ser interpretados como, na faixa de 800ºC 900ºC, a metacaulinita e os anidridos da nontronita e da ilita se decompuseram, ambos formando silicatos cristalinos e gerando uma fase vítrea com os cátions trocáveis da nontronita e outros cátions formadores de vidro que estavam disponíveis no sistema. Grim e Bradley assinalaram as excelentes propriedades como solventes de óxidos metálicos, especialmente ferro, desses vidros liqüefeitos a partir de 900ºC. Segundo esses autores, toda a sílica livre, mesmo na forma de quartzo, em presença desse vidro cristaliza em cristobalita: entretanto, não foi observada a reflexão 4,04Å característica de cristobalita. Portanto, após a queima a 900ºC, as fases cristalinas caracterizadas por DRX são: silimanita, forsterita e quartzo e uma fase vítrea contendo Si; O; Al; Fe; Mg; Ca; K e Na. Curiosamente, a curva de DRX da mistura após queima a 1000ºC apresenta componentes cristalinos diferentes daqueles de 900ºC: apenas as reflexões do quartzo permaneceram; a reflexão basal do talco desapareceu e apareceram as de clinoenstatita; silimanita e forsterita desapareceram e apareceram as reflexões de mulita 3:2; a intensidade relativa da fase vítrea aumentou, isto é, o teor da fase vítrea

5 aumentou na mistura queimada a 1000ºC. É interessante assinalar as diferenças entre as estruturas da mistura queimada a 800ºC, 900ºC e 1000ºC, porque um grande número de produtos de Cerâmica Vermelha são queimados nessa faixa de temperatura. A mistura queimada a 1100ºC, apresenta intensa banda da fase vítrea e os constituintes cristalinos são: mulita, de novo forsterita, quartzo e hematita, cristalizados provavelmente da fase vítrea. Após queima a 1150ºC, temperatura usual de queima de pisos cerâmicos tendo taguás como matérias primas, as mesmas fases que a 1100ºC são caracterizadas na curva de DRX. Após queima a 1200ºC, mulita, forsterita, quartzo e hematita são caracterizados, bem como uma maior região de fase vítrea; nova fase cristalina é caracterizada: espinélio ferrífero [Mg 2 (Al,Fe)O 4 ], cristalizado provavelmente da fase vítrea. É interessante assinalar que Grim e Bradley observaram a cristalização desse espinélio ferrífero a partir de 850ºC na decomposição térmica de anidridos de esmectitas ricas em ferro como a nontronita: somente a 1200ºC é que foi observada a formação desse espinélio na mistura de taguás contendo nontronita e teores da ordem de 10% de Fe 2 O3. Após queima a 1250ºC há superqueima da mistura ; as fases cristalinas continuam as mesmas; até essa temperatura não foi caracterizada a formação de cristobalita. VARIAÇÃO DOS CARACTERÍSTICOS CERÂMICOS ENTRE 800ºC E 900ºC Como foi observado, entre 800ºC e 900ºC é formado um teor significativo de fase vítrea, líquida e viscosa nessa faixa e que se solidifica no resfriamento até a temperatura ambiente. Essa fase vítrea sólida forma uma matriz contínua, porém porosa, que aumenta significativamente os característicos cerâmicos dos corpos de prova após queima. A Figura 1 mostra a curva de dilatação térmica do corpo de prova da mistura, onde pode ser observada a contração volumétrica que ocorre no intervalo 800ºC-900ºC devido à coalescência das gotas líquidas da fase vítrea. Em conseqüência, a retração linear após queima, que é de 0,25% a 800ºC, passa a 1,25% a 900ºC; a densidade aparente passa de 1,89 g/cm 3 a 800ºC para 1,98 g/cm 3 a 900ºC. Mais significativa ainda é o aumento da Tensão de Ruptura à Flexão: passa de 1,2 MPa

6 a 800ºC para 17,2 MPa a 900ºC. Essa fase vítrea passa a funcionar como um ligante cerâmico de cor vermelha Figura 1 Curva de dilatação térmica da mistura de taguás CONCLUSÕES A caracterização por meio da difração de raios X das fases cristalinas formadas na queima entre 300ºC e 1250ºC de mistura das camadas do Taguá de Jarinú e do Taguá Samarone, Jundiaí, Est. de São Paulo, permite as seguintes conclusões: (a) Os argilominerais componentes da mistura sofrem transformações térmicas independentes entre si até cerca de 800ºC. (b) A partir de 900ºC, as fases cristalinas e não cristalinas, sólidas ou líquidas, formadas pela transformação dos argilominerais interagem entre si formando novas fases cristalinas contribuindo à fase vítrea. (c) No intervalo 800ºC/900ºC ocorrem mudanças estruturais muito grandes que já levam à formação de um teor significativo de fase vítrea; essa fase vítrea, ao provocar a contração volumétrica do sistema ao se formar na forma líquida preenche vazios e começa a fechar poros abertos e fechados, de outro lado, ao

7 se solidificar na volta à temperatura ambiente, aumenta significativamente a resistência mecânica do material queimado. (d) A fase vítrea, não cristalina, dissolve muito ferro III do sistema, aumentando a fluorescência da base da curva de DRX; assim essa elevação da curva, de forma comparativa, pode ser usada como índice do teor de fase vítrea. (e) Após queima a 1000ºC, as seguintes fases cristalinas foram observadas: mulita 3:2; clinoenstatita e quartzo. Há também uma fase vítrea não-cristalina que incorporou as fases não-cristalinas formadas a 800ºC e 900ºC. (f) Após queima a 1100ºC, as seguintes fases cristalinas foram observadas: mulita 3:2; forsterita; quartzo e hematita. (g) Após queima a 1200ºC/1250ºC, as seguintes fases cristalinas foram caracterizadas por DRX: mulita, forsterita, espinélio ferrífero, quartzo e hematita. (h) Queimando até 1250ºC, não foi observada a formação de cristobalita, apesar da presença de ferro-iii. Agradecimentos: Esta pesquisa é parte do Projeto Temático FAPESP 1995/0544-0 STUDY BY X-RAY DIFFRACTION OF THE CRYSTALLINE PHASES FORMED DURING THE HEATING UNTIL 1250ºC OF THE COMPONENT ARGILOMINERAlS FROM TAGUÁS OF THE JARINÚ REGION, JUNDIAÍ, SP:. ABSTRACT The objective of the present work is to present the characterization byr DRX of the crystalline phases formed during the heating between 300C and 1250ºC of an industrial mixture of the five layers of taguá of Jarinu with taguá Samarone used as raw materials for the manufacture of ceramic tiles and other Red Ceramics products. The component argilominerals of the mixture suffer independent thermal transformations clay minerals between themselves until around 800ºC. From 900ºC, these phases interact between themselves forming new crystalline phases contributing to the glass phase. In the interval 800ºC/900ºC, great structural changes occur with significant

8 formation of glass phase. After firing at 1000ºC, the following crystalline phases were observed: 3:2 mullite; clinoenstatite and quartz. After firing at 1100ºC: 3:2 mullite; forsterite; quartz and hematite. After 1200ºC/1250ºC: mullite, forsterite, iron spinel, quartz and hematite. Firing up to 1250ºC, the formation of cristobalite was not observed in, despite of iron-iii presence. Key-words: Taguás; crystalline phases; firing of taguás; red ceramics