Manoel Luciano Aviz Quadros*, Cristiana Maciel, Sandra Bastos & Iracilda Sampaio

Documentos relacionados
Rodrigues et al. Rev. Bras. Eng. Pesca 10(1): 17-30, 2017 Artigo

Manejo de Fêmeas Ovígeras e Coleta de Larvas de Macrobrachium amazonicum em Sistema de Recirculação

Influência do alimento inerte durante a fase de pré-cultivo de larvas do camarão pitu Macrobrachium carcinus (Linnaeus, 1758).

EDSON PEREIRA DOS SANTOS. UTILIZAÇÃO DE DIFERENTES DIETAS NA LARVICULTURA DO CAMARÃO PITU, Macrobrachium carcinus (Linnaeus, 1758)

Relação entre os grande grupos de artrópodes

E strutura populacional de Macrobrachium brasiliense (Crustacea,

Observa«;ao no Periodo de Incuba«;ao dos Ovos de Macrobrachium amazonicum (Heller, 1862) (Palaemonidae: Decapoda) sob Diferentes Niveis de Salinidade.

BIOLOGIA E PESCA DO CAMARÃO-CANELA, Macrobrachium acanthurus (CRUSTACEA, PALAEMONIDAE), NO ESTUÁRIO DO RIO JAPARATUBA, ESTADO DE SERGIPE

Munida pusilla Benedict, 1902

VIABILIDADE TÉCNICA E ECONÔMICA DA LARVICULTURA DO CAMARÃO-DA-AMAZÔNIA, MACROBRACHIUM AMAZONICUM, EM DIFERENTES TEMPERATURAS

Larvicultura de peces marinos em Brasil

MATAPI PET: UMA NOVA PROPOSTA PARA A EXPLORAÇÃO SUSTENTÁVEL DO CAMARÃO AMAZÔNICO Macrobrachium amazonicum (Heller, 1862)

/ x.2017v11n2p48

Efeitos da salinidade, luminosidade e alimentação na larvicultura do. camarão-da-amazônia, Macrobrachium amazonicum

ARTÊMIAS SALINAS. Ciclo de vida:

Universidade Federal do Amazonas Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação Programa de Pós-Graduação em Ciências Pesqueiras nos Trópicos PPG-CIPET

Galatheoidea Chirostylidae Uroptycbus uncifer (A. Milne Edwards, 1880)

LÍLIA FERREIRA SOUZA QUEIROZ

DESENVOLVIMENTO DE JUVENIS DE CAMARÃO MACROBRACHIUM ROSENBERGII UTILIZANDO DIFERENTES INCLUSÕES DE ALHO ALLIUM SATIVUM NA ALIMENTAÇÃO

Crustacea (L. crusta = concha)

EFEITO DA INTENSIFICAÇÃO NA LARVICULTURA DO CAMARÃO-DA-MALÁSIA Macrobrachium rosenbergii

DESEMPENHO DO CAMARÃO Macrobrachium amazonicum (HELLER, 1862) (CRUSTACEA: DECAPODA: PALAEMONIDAE), EM DIFERENTES DENSIDADES

CRUSTACEA. classes. Malacostraca. Maxillopoda. Branchiopoda. Cephalocarida. Remipedia. Baseado e modificado de Brusca et al.

Bolm. Zool., Univ. S. Paulo 6: , 1983

Diversidade de Crustáceos

Camarões de águas continentais (Crustacea, Caridea) da Bacia do Atlântico oriental paranaense, com chave de identificação tabular

Centro de Aqüicultura da Unesp, , Jaboticabal, São Paulo, Brasil. *Autor para correspondência.

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIODIVERSIDADE E BIOTECNOLOGIA PPG-BIONORTE UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ ARGEMIRO MIDONÊS BASTOS

ALIMENTAÇÃO DO CAMARÃO-DA-AMAZÔNIA Macrobrachium. amazonicum DURANTE A FASE LARVAL

UFRRJ INSTITUTO DE ZOOTECNIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ZOOTECNIA DISSERTAÇÃO

Importância da alimentação e do alimento no primeiro estágio larval de Ucides cordatus cordatus (Linnaeus, 1763) (Decapoda: Ocypodidae)

CLASSE MALACOSTRACA SUBCLASSE EUMALACOSTRACA SUPERORDEM EUCARIDA

Dutra et al. Rev. Bras. Eng. Pesca 9(1): 27-36, 2016 Artigo

O ESTUDO DO COMPORTAMENTO ANIMAL DE

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA AQUÁTICA E PESCA DANIELLE VIVEIROS CAVALCANTE

CRESCIMENTO DE Xiphopenaeus kroyeri (HELLER, 1862) (CRUSTÁCEA: NATANTIA: PENAEIDAE) DA REGIÃO DE MATINHOS, PARANÁ, BRASIL.

IV Simpósio de Ciências da UNESP Dracena. V Encontro de Zootecnia Unesp Dracena

Manejo alimentar de pós-larvas do camarão-da-amazônia, Macrobrachium amazonicum, em berçário I

23/11/2009 A LARVICULTURA E ALEVINAGEM DO BIJUPIRÁ

CRUSTACEA. classes. Carapaça (dobra do tegumento; origem cefálica) Abdômen com menos de 9 segmentos

PRODUÇÃO DE TILÁPIAS EM TANQUES-REDE EM POLICULTIVO COM CAMARÕES DA MALÁSIA LIVRES EM VIVEIRO ESCAVADO

PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia. Disponível em: <

Culture of Palaemon northropi shrimp from egg to maturation. MARco ANTONIO IGARASHI* ROBERTO KIYOSHI KOBAYASHI**

Filo Arthropoda Subfilo Crustacea

PRIMEIRO REGISTRO DE Amblyomma geayi (ACARI: IXODIDAE) EM PREGUIÇA (Bradypus variegatus) NO ESTADO DO ACRE, AMAZÔNIA OCIDENTAL RELATO DE CASO

Desempenho Larval do Camarão-d'Água-Doce (Macrobrachium rosenbergii De Man, 1879) Submetido a Diferentes Regimes Alimentares

CRIAÇÃO DE BIJUPIRÁ EM SISTEMA DE RECIRCULAÇÃO DE ÁGUA

INTRODUÇÃO. Carmen Rosa GARCÍA-DÁVILA 1, Fernando ALCANTÁRA Β. 2, Elvis

Documentos. ISSN Dezembro, Aspectos Gerais da Pesca e Comercialização do Camarão-da-Amazônia no Amapá

F. A. Moschetto. Moschetto, F. A. 1

SUMMARY INTRODUÇÃO DE MACROBACH/UMAMAZON/CUM (HELLER) EM

Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento

ALIMENTAÇÃO DE Rachycentron canadum NA BAÍA DE TODOS OS SANTOS

SISTEMA DE RECIRCULAÇÃO E ROTINA DE MANEJO PARA LARVICULTURA DE CAMARÕES DE ÁGUA DOCE Macrobrachium rosenbergii EM PEQUENA ESCALA

Paulo Juarez Rieger 1 Ana Lucia F. Santos 2

Filo Arthropoda Subfilo Crustacea

Raniere Garcez Costa Sousa, Alexandro Cezar Florentino, Jairo Ildefonso Guimarães Piñeyro

ESTRATÉGIA REPRODUTIVA E ALGUNS ASPECTOS DEMOGRÁFICOS DO CAMARÃO Palaemonetes carteri GORDON,1935 NA AMAZONIA CENTRAL, RIO NEGRO.

ASPECTOS BIOLÓGICOS DO CAMARÃO-ESPINHO Exhippolysmata oplophoroides (HOLTHUIS, 1948) (CRUSTACEA, CARIDEA, HIPPOLYTIDAE).

A influência do ciclo lunar na reprodução e tempo de incubação de ovos de Macrobrachium amazonicum (decapoda: palaemonidae)

Palavras-chave:ganho de peso, larvicultura, sistema de recirculação, sobrevivência, tilápia

EPIDEMIOLOGIA DO VÍRUS DA INFECÇÃO HIPODERMAL E NECROSE HEMATOPOIÉTICA (IHHNV) EM CAMARÕES CULTIVADOS NA REGIÃO NORTE CATARINENSE, BRASIL.

CRIAÇÃO DE CAMARÕES DE ÁGUA DOCE. Wagner Cotroni Valenti

JEFERSON KEITI NAGATA

AVALIAÇÃO EM LABORATÓRIO DA PREDAÇÃO DE Macrobrachium brasiliense (HELLER, 1862) (CRUSTACEA, DECAPODA, PALAEMONIDAE) SOBRE LARVAS DE DIPTERA RESUMO

odutivos os do camarão de água doce Macrobr (Crustacea, aneiro,

UTILIZAÇÃO DE Brachionus plicatilis (Müller, 1786) NA ALIMENTAÇÃO DE LARVAS DO CAMARÃO MARINHO Litopenaeus vannamei (BOONE, 1931)

Qualidade da Água para a Aquicultura

EFEITO DA DENSIDADE DE CULTIVO NO DESEMPENHO DE PEIXES BETTA (BETTA SPLENDENS)

Crustáceos (crusta= crosta ou pele grossa)

INTRODUÇÃO Entre as espécies brasileiras de Diogenidae, somente quatro, que também ocorrem em outros países, tem o desenvolvimento pós-embrio*

Macrobrachium amazonicum (Heller, 1862) (Palaemonidae: Decapoda)

FECUNDIDADE EM Callinectes danae SMITH (DECAPODA, PORTUNIDAE) DA LAGOA DA CONCEIÇÃO, FLORIANÓPOLIS, SANTA CATARINA, BRASIL.

U F R R J INSTITUTO DE ZOOTECNIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ZOOTECNIA

Morfotipos em fêmeas de Macrobrachium rosenbergii (De Man, 1879) de áreas alagadas do litoral amazônico brasileiro

A TÓ IO IO GOUVEIA AQUACULTURA

Protocolo experimental

Oi pessoal dos 8 os anos, estão com saudade das atividades escolares? Pois bem, precisamos dar seqüência aos estudos e, na volta às aulas, no dia 17,

16) Piaractus mesopotamicus (Holmberg, 1887)

CHAVE ILUSTRADA PARA IDENTIFICAÇÃO DOS CAMARÕES DENDROBRANCHIATA DO LITORAL NORTE DO ESTADO DE SÃO PAULO, BRASIL.

Crescimento relativo do camarão canela

ENGORDA DE LAMBARIS, DO RABO VERMELHO E AMARELO, EM DOIS DIFERENTES SISTEMAS DE CULTIVO 1

Relações Biométricas e Rendimento da Carne e Resíduos em Camarão-da-Amazônia da Foz do Rio Amazonas, Estado do Amapá

NOTA (SHORT COMMUNICATION)

48) Pseudoplatystoma corruscans (Agassiz, 1829)

55) Hoplosternum littorale (Hancock, 1828)

Roteiro Aula Prática Biologia dos Crustáceos. Prof.Dr. Alvaro Luiz Diogo Reigada

CHAVE PARA A IDENTIFICAÇÃO PRÁTICA DE ESPÉCIES DE HELICOTYLENCHUS OCORRENTES NO BRASIL

Substituição de Artemia sp. pelo Rotífero Brachionus plicatilis na Larvicultura do Camarão-d'Água-Doce (Macrobrachium rosenbergii De Man, 1879) 1

Livro Vermelho dos Crustáceos do Brasil: Avaliação ISBN SBC. Introdução

PRIMEIRO CULTIVO DO Astyanax Bimaculatus EM SISTEMA DE BIOFLOCOS

OS PALAEMONIDAE DE ÁGUAS CONTINENTAIS DO BRASIL MERIDIONAL (CRUSTACEA, DECAPODA)

Densidade de estocagem de alevinos no cultivo de lambaris

19) Leporinus friderici (Bloch, 1794)

23) Schizodon fasciatus Spix & Agassiz, 1829

Departamento de Zoologia, Instituto de Biociências, Universidade Estadual Paulista. Caixa Postal 199, Rio Claro, São Paulo, Brasil.

ESTRUTURA POPULACIONAL DE Macrobrachium potiuna (MÜLLER, 1880) (Decapoda Caridea Palaemonidae) DOS RIOS PEREQUE FEVEREIRO, ESTADO DO PARANÁ

EFEITO DA DUREZA DA ÁGUA NA DENSIDADE INICIAL DE CULTIVO E NA PRODUÇÃO DE OVOS DE RESISTÊNCIA DE DAPHNIA MAGNA

Transcrição:

REPRODUÇÃO DO CAMARÃO CANELA - MACROBRACHIUM ACANTHURUS EM CONDIÇÕES CONTROLADAS DE LABORATÓRIO E MONTAGEM DE UM ATLAS PARA IDENTIFICAÇÃO DE ESTÁGIOS LARVAIS Manoel Luciano Aviz Quadros*, Cristiana Maciel, Sandra Bastos & Iracilda Sampaio Laboratório de Aquicultura, Universidade Federal do Pará, Campus Universitário de Bragança. CEP: 68600-000 Cidade: Bragança-PA Fone/FAX: (91) 425 1209. *Bolsa: PIBIC/CNPq E-mail: cmaciel@ufpa.br/sbastos@ufpa.br/iracilda@ufpa.br RESUMO Macrobrachium acanthurus é um camarão de água doce com relevante interesse comercial devido ao porte, boa aceitação no mercado consumidor, fácil manutenção e reprodução em cativeiro, rara incidência de doenças e altas taxas de fecundidade e fertilidade. O desenvolvimento larval dessa espécie compreende 10 estágios segundo Choudhury (1970) que ilustrou as principais estruturas morfológicas de cada estágio. Dobkin (1971) complementou este trabalho com ilustrações em vista dorsal e lateral até o estágio IV. A larvicultura M. acanthurus foi realizada em sistema fechado dinâmico em tanques com capacidade de 70 litros, salinidade 16 e densidade de 100 larvas/litro. As larvas foram monitoradas diariamente para identificação dos estágios e avaliação das condições gerais. O desenvolvimento completo foi obtido a partir do 39º dia de cultivo e para descrição dos estágios larvais os exemplares foram fixados em solução de formalina e as exúvias conservadas em álcool glicerinado para confecção dos desenhos. Até o estágio V as metamorfoses foram regulares com cada muda correspondendo a um novo estágio. A partir do estágio VI a ocorrência de mudas não evidenciava obrigatoriamente o surgimento de um novo estágio. Diferenças no número e formato dos dentes do rostro nos estágios VII a IX foram identificadas em relação à descrição de Choudhury (1970). A confecção de um atlas associado a chave de identificação constitui uma importante ferramenta para a rotina da larvicultura, uma vez que permite a identificação dos estágios larvais baseados em suas características morfológicas. PALAVRAS CHAVES Macrobrachium acanthurus, camarão canela, larvicultura ABSTRACT Macrobrachium acanthurus is a freshwater prawn with important commercial interest due to size, good acceptance in the consumer market, easy maintenance and reproduction in captivity, rare incidence of diseases and high rates of fecundity and fertility. The larval development of this species is composed of 10 stages according to Choudhury (1970) that illustrate the main morphologic structures of each stages. Dobkin (1971) complemented this 1

work with illustrations of dorsal and lateral views up to stages IV. The hatchery of M. acanthurus was accomplished in dynamic closed system in tanks with capacity of 70 liters, salinity 16 and density of 100 larvae/liter. The larvae were monitored daily for identification of the stages and evaluation of the general conditions. Complete development was obtained by the 39th day of cultivation. The samples were fixed in formol diluted to 10 % and the exuvias were conserved in alcohol with glycerine to make the drawings for the description of the larval stages. Until stage V the metamorphoses were regular with each moult corresponding to a new stage. From the stage VI the moult occurrence didn't evidence the appearance of a new obligatorily apprenticeship. Differences in the number and format of the teeth and of the rostrom in the apprenticeships VII to IX were identified in relation to the description of Choudhury (1970). The making of an atlas associated with an identification key constitutes an important tool for the routine of the hatchery, once it allows the identification of the larval apprenticeships based on its morphologic characteristics. INTRODUÇÃO O camarão de água doce da espécie Macrobrachium acanthurus possui uma distribuição geográfica restrita às Antilhas e porção atlântica do continente americano, ocorrendo desde a Carolina do Norte (USA) ao sul do Brasil (Holthuis, 1952). Em várias regiões esse camarão é bastante explorado artesanalmente pelas populações ribeirinhas e constitui um recurso pesqueiro economicamente relevante. Apresenta grande porte, altas taxas de fertilidade e fecundidade, fácil manutenção e reprodução em cativeiro, por isso é considerado potencialmente viável para o cultivo em escala comercial (Choudhury, 1970; New, 1995). Estudos referentes à biologia reprodutiva dessa espécie foram realizados no estuário do rio Caeté, Bragança-PA, observando-se uma variação na abundância de acordo com as oscilações da salinidade (Quadros, 2002a). M. acanthurus apresenta reprodução durante o período chuvoso em diferentes regiões do Brasil. No estuário do Rio Caeté, Pará a reprodução ocorre entre os meses de janeiro a junho (Quadros, 2002a) e no Rio Ribeira do Iguape, São Paulo nos meses de dezembro e janeiro (Valenti, 1986). Além de estudos sobre a biologia reprodutiva, há necessidade do desenvolvimento de uma técnica de larvicultura apropriada para M. acanthurus, uma vez que o cultivo nessa fase apresenta várias dificuldades, não tendo sido estabelecido até o momento uma metodologia que alcance altas taxas de sobrevivência (Kutty et al, 2000). Dobkin (1974) apud Kutty et al. (2000) utilizou salinidades de 16 a 18 em tanques com densidade de 5 a 20 larvas/l. O surgimento de pós larvas foi relatado entre o 28º e o 38º dia de cultivo e sobrevivência entre 10 e 20%. A primeira descrição dos estágios larvais, para esta espécie, foi realizada por Choudhury (1970) que registrou a existência de 10 estágios, ilustrando as principais estruturas morfológicas de cada estágio. Dobkin (1971) complementou o trabalho citado anteriormente com ilustrações em vista dorsal e lateral dos quatro primeiros estágios. Guest (1979), descreveu os estágios larvais de M. amazonicum, enfatizando as mudanças do telson e urópodos a cada metamorfose. Magalhães (1985), ilustrou as principais estruturas indicativas de mudança de estágio larval para M. amazonicum da Amazônia Central, com o registro da ocorrência de 11 estágios. Quadros, (2002b) acrescentou às ilustrações de Magalhães (1985), fotografias referentes a cada estágio larval, valorizando as principais estruturas indicativas de mudança a cada metamorfose. A elaboração de uma chave de identificação com ilustrações que auxiliem na diferenciação de cada estágio durante o desenvolvimento larval de M. acanthurus constitui 2

uma ferramenta fundamental para a rotina da larvicultura, além de possibilitar a análise do desempenho do cultivo em sistema fechado dinâmico. MATERIAIS E MÉTODOS Para a obtenção das larvas foram coletadas fêmeas ovígeras, com covos tradicionais (matapis), no furo do Taici, estreito braço de rio que comunica os rios Taperaçu e Caeté, município de Bragança-PA. As fêmeas ovígeras foram desinfetadas em solução de formol a 25 ppm e mantidas em caixas de eclosão (70 litros) com oxigenação constante e água na mesma salinidade (16) e temperatura (entre 28 e 30 C) utilizadas na larvicultura. Após a eclosão, as larvas foram sifonadas por gravidade para um recipiente graduado, com leve aeração para a homogeneização, e concentradas em um volume conhecido. O número de larvas foi estimado a partir da média de 20 unidades de amostra, com reposição, utilizando uma pipeta de 5mL de ponta cortada (Valenti, 1998). A larvicultura foi desenvolvida em sistema fechado dinâmico em uma densidade de 100 larvas/l. Nesse sistema, ocorre a recirculação da água de cultivo por um filtro biológico que propicia um processo contínuo de nitrificação garantindo baixos níveis de amônia no decorrer do cultivo, assim como a eliminação de outros detritos decorrentes do metabolismo geral das larvas e dos náuplios de Artemia utilizados na alimentação (Valenti, 1998; Valenti & Daniels, 2000). A partir do V estágio larval foi ofertado alimento inerte (Valenti, 1998). As larvas foram observadas diariamente com o auxílio de um microscópio óptico para a determinação do estágio de desenvolvimento e avaliação de condições gerais. Os exemplares separados para confecção das ilustrações foram fixados em formol 10% durante 24 horas, em seguida foi utilizado uma solução de Hidróxido de Potássio (KOH) a 10% durante 2 horas para obtenção das exúvias que foram conservadas em uma solução de álcool glicerinado (50% de álcool 70 e 50% de glicerina). As ilustrações foram confeccionados em vista dorsal e lateral, enfatizando as principais características que identificam os respectivos estágios de desenvolvimento larval. RESULTADOS E DISCUSSÃO O tanque de cultivo foi povoado com aproximadamente 5600 larvas, onde os seguintes parâmetros foram registrados: salinidade 16; ph entre 7,8 e 8,1; temperatura entre 28 e 30 C; concentração de nitrito entre 0,25 e 0,50 ppm e amônia praticamente nula. As primeiras pós larvas foram observadas no 39 dia do experimento, Choudhury (1970) relata a ocorrência de pós-larvas a partir do 32º dia de cultivo. Durante toda a larvicultura, as larvas apresentaram aspecto saudável e houve regularidade na metamorfose. Os desenhos foram confeccionados em vista dorsal e lateral considerando-se os 10 estágios descritos por Choudhury (1970) e ilustrados por Dobkin (1971) até o IV estágio (Figuras 1 a 10). A tabela 1 apresenta a descrição das principais estruturas morfológicas características de cada estágio. A metamorfose foi regular até o estágio V, onde cada muda correspondeu ao surgimento de uma nova característica. A partir do VI estágio as metamorfoses foram irregulares, com a ocorrência de muda, sem necessariamente o surgimento de uma nova estrutura, não caracterizando um novo estágio larval. Choudhury (1970) registrou a presença de dentes na margem superior do rostro das larvas nos estágio VII (um dente), VIII (três dentes) e IX (4 a 5 3

dentes). Essas características não foram observadas nas larvas utilizadas neste estudo. Os demais estágios descritos por este autor são comuns. O desenvolvimento larval descrito para M. acanthurus proveniente do estuário do rio Caeté, Bragança-PA, apresenta poucas diferenças em relação a trabalhos realizados com outras populações da mesma espécie. O Sistema Fechado Dinâmico ofereceu resultados satisfatórios, possibilitando a conclusão do desenvolvimento larval e a montagem do Atlas. Não foi possível analisar a sobrevivência das larvas devido a retirada de parte dos exemplares do tanque de cultivo para confecção dos desenhos. 4

Figura 1 Zoea I: Olhos sésseis, carapaça lisa sem espinhos, rostro reto sem dentes, sexto somito contínuo com o telso. Escala = 1mm Figura 2 Zoea II: Carapaça com um espinho supra-orbital situado dorso-lateralmente e espinho pterigostomial no canto antero-ventral, rostro reto sem dentes. Escala = 1mm 5

Figura 3 Zoea III: Rostro com um dente dorsal, abdome com o sexto somito separado do telso e apenas o exopodito do urópodo está presente (endopodito ainda rudimentar). Escala = 1mm Figura 4 Zoea IV: Rostro com dois espinhos epigástricos na base do rostro, carapaça com o espinho antenal presente situado imediatamente acima do espinho pterigostomial, telso ainda em forma de leque e urópodo com exopodito e endopodito presentes. Escala = 1mm 6

Figura 5 Zoea V: Telso mais alongado com formato aproximadamente retangular, urópodo com exopodito e endopodito com maior número de cerdas plumosas. Escala = 1mm Figura 6 Zoea VI: Na parte ventral do abdome surgem pequenos brotos que constituem os pleópodos. Escala = 1mm 7

Figura 7 Zoea VII: Os pleópodos apresentam-se mais bem desenvolvidos com exopodito e endopodito ainda rudimentar sem cerdas. Escala = 1mm Figura 8 Zoea VIII: Pleópodos bem mais desenvolvidos com exopodito e endopodito bem evidentes e presença de cerdas plumosas no exopodito. Escala = 1mm 8

FIGURA 1 Figura 9 Zoea IX: Exopodito e endopodito dos pleópodos com cerdas plumosas e presença do apêndice interno em todos exceto no primeiro pleópodo. Escala = 1mm Figura 10 Zoea X: Desaparecimento do espinho no bordo látero-posterior do quinto somito no abdome, rostro com 6 a 7 dentes dorsais. Escala = 1mm 9

Tabela 1 Resumo esquemático das principais estruturas indicativas de mudança de estágio de Macrobrachium acanthurus. Estágios Zoea I Zoea II Zoea III Zoea IV Zoea V Zoea VI Zoea VII Zoea VIII Zoea IX Zoea X estrutura Olhos sésseis, carapaça lisa sem espinhos, rostro reto sem dentes, sexto somito contínuo com o telso. Carapaça com um espinho supra-orbital situado dorso-lateralmente e espinho pterigostomial no canto antero-ventral, rostro reto sem dentes, abdome com um espinho no bordo látero-posterior do quinto somito e uma pequena chanfradura no quarto somito. Rostro com um dente dorsal, abdome com o sexto somito separado do telso e apenas o exopodito do urópodo está presente (endopodito ainda rudimentar). Rostro com dois dentes dorsais, carapaça com o espinho antenal presente situado imediatamente acima do espinho pterigostomial, telso ainda em forma de leque e urópodo com exopodito e endopodito presentes. Telso mais alongado com formato aproximadamente retangular, urópodo com exopodito e endopodito com maior número de cerdas plumosas. Na parte ventral do abdome surgem pequenos brotos que constituem os pleópodos. Os pleópodos apresentam-se mais bem desenvolvidos com exopodito e endopodito ainda rudimentar sem cerdas plumosas. Pleópodos bem mais desenvolvidos com exopodito e endopodito bem evidentes e presença de cerdas plumosas no exopodito. Exopodito e endopodito dos pleópodos com cerdas plumosas e presença do apêndice interno em todos exceto no primeiro pleópodo. Desaparecimento do espinho no bordo látero-posterior do quinto somito no abdome, rostro com 6 a 7 dentes dorsais. AGRADECIMENTOS Projeto Institutos do Milênio MCT/CNPq, SECTAM/FUNTEC. Manoel Luciano Quadros é bolsista PIBIC/CNPq desde 2002. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CHOUDHURY, P. C. Complete larval development of the Palaemonidae shrimp Macrobrachium acanthurus (WIEGMANN, 1836) reared in the laboratory Crustaceana 18 (2): 113 132, 1970 DOBKIN, S. A Contribution to knowledge of the larval development of Macrobrachium acanthurus (WIEGMANN, 1836) (Decapoda, Palaemonidae). Crustaceana 21: 294 297, 1971. GUEST, W. C. Laboratory life history of the Palaemonid shrimp Macrobrachium 10

amazonicum (Heller) (Decapoda: Palaemonidae). Crustaceana.37 (2): 141-151. 1979. HOLTHUIS, L. B. A general revision of the Palaemonidae (Crustacea, Decapoda, Natantia) of the Americas. II. The Subfamily Palaemonidae. Occ. Pap. Allan Hancock Fdn., Los Angeles 12: 1-396, 1952 KUTTY, M. N.; HERMAN, F. and MENN, H. L. Culture of Other Prawn Species. In: NEW, M. B. & VALENTI, W. C. (ed.) Freshwater Prawn Farming: The Farming of Macrobrachium rosenbergii. Londres, Blackwells. p. 393-410. 2000 MAGALHÃES, C. Desenvolvimento larval obtido em laboratório de palaemonídeos da região Amazônica. I Macrobrachium amazonicum (HELLER, 1862) (Crustacea, Decapoda). Amazoniana, IX 2, 247 274, 1985. NEW, M. B. Status of freshwater farming a review. Aquaculture research 26: 1-54. 1995. QUADROS, M. Estudo da biologia reprodutiva do camarão canela Macrobrachium acanthurus (Crustacea, Decapoda, Palaemonidae) no estuário do Rio Caeté, Bragança- PA. ECOLAB, Belém, 2002a QUADROS, M. Banco de imagens como ferramenta de identificação de estágios larvais de Macrobrachium amazonicum (Crustacea, Decapoda). 24 Congresso Brasileiro de Zoologia, 2002, Itajaí-SC. 2002b. VALENTI, W. C. &. DANIELS, W. H.. Recirculation hatchery systems and management. In: NEW, M. B. & VALENTI, W. C. (ed.) Freshwater Prawn Farming: The Farming of Macrobrachium rosenbergii. Londres, Blackwells. p. 393-410. 2000 VALENTI, W. C. Carcinocultura de Água Doce: Tecnologia para Produção de Camarões. Brasília 383 p. 1998. VALENTI, W. C.; MELLO, j. T. C. & LOBÃO, V. L. Dinâmica da reprodução de Macrobrachium acanthurus (Wiegmann, 1836) e Macrobrachium carcinus (Linnaeus, 1758) do rio Ribeira do Iguape (Crustácea, Decapoda, Palaemonidae). Ciência e Cultura 38:349-55.1986. 11