Coleção de Obras Raras e Especiais da Biblioteca Ministro Carvalho Júnior: relato de experiência

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Transcrição:

Coleção de Obras Raras e Especiais da Biblioteca Ministro Carvalho Júnior: relato de experiência Cristiane Ferreira de Souza Bibliotecária-chefe da Divisão de Tratamento de Acervo Bibliográfico da Biblioteca do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região. Especialista em Organização do Conhecimento para Recuperação da Informação (UNIRIO). MBA em Administração Judiciária (FGV). Membro da Subcoordenadoria de Padronização da Rede de Documentação e Informação da Justiça do Trabalho (REDIJT). RESUMO O objetivo deste trabalho é relatar a experiência da Biblioteca Ministro Carvalho Junior no estabelecimento de critérios para seleção de obras raras e especiais, e apresentar uma proposta de preservação, salvaguarda e difusão do patrimônio bibliográfico da Justiça do Trabalho. Ressalta que a preservação do acervo raro jurídico trabalhista é de suma importância para o estudo da evolução dos direitos sociais no Brasil e no mundo. 1 INTRODUÇÃO A Secretaria de Gestão do Conhecimento (SGC) do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região tem como objetivo estratégico a captura, a estruturação, a preservação e a disseminação do conhecimento, inclusive da memória da Justiça do Trabalho. A Coordenadoria de Gestão de Acervos Bibliográficos, subordinada à SGC, é a unidade responsável pela administração da Biblioteca do TRT/RJ, denominada Biblioteca Ministro Carvalho Junior. A biblioteca começou a ser organizada em 1962 e tem por finalidade disponibilizar informações referentes ao Direito do Trabalho e áreas correlatas, objetivando o atendimento das necessidades informacionais não só dos magistrados e servidores do TRT/RJ, como também dos demais usuários da Justiça do Trabalho. Em 2010, iniciou-se o Projeto Estratégico nº 26 Preservação da memória institucional, o qual incluía a restauração das obras raras, a elaboração de um catálogo e a digitalização de algumas obras desse acervo. A seleção foi feita levando-se em consideração a antiguidade da obra e seu valor histórico e literário para a construção do pensamento social brasileiro. O Conselho Superior da Justiça do Trabalho e o Tribunal Superior do Trabalho, através do Ato conjunto n 11/2011, institui o Programa Nacional de Resgate da Memória da Justiça do Trabalho. Este ato foi alterado pelo Ato conjunto 12/2017 e seu artigo primeiro passou a ter a seguinte redação: Art. 1 Instituir o Programa Nacional de Resgate da Memória da Justiça do Trabalho, com os seguintes objetivos: (...)

V desenvolver, preservar e disponibilizar coleções bibliográficas impressas e digitais, formadoras do patrimônio bibliográfico da Justiça do Trabalho. Já o Ato conjunto 37/2011 que instituiu o Comitê Gestor do Programa Nacional de Resgate da Memória da Justiça do Trabalho CGMNac-JT, com as alterações inseridas pelo Ato conjunto n 13/2017, incluiu como uma das competências do referido comitê o auxílio na formulação de políticas e planos estratégicos voltados ao resgate da memória da Justiça do Trabalho, pertinentes a acervos arquivísticos, bibliográficos e museográficos. Este mesmo ato indica a Coordenadoria de Documentação do TST para exercer assessoria técnica junto ao CGMNac-JT, quanto aos assuntos relativos aos acervos bibliográficos. Pretende-se com este trabalho relatar a experiência da Biblioteca Ministro Carvalho Junior no estabelecimento de critérios para seleção de obras raras e especiais, e apresentar uma proposta de preservação, salvaguarda e difusão do patrimônio bibliográfico da Justiça do Trabalho. 2 HISTÓRIA DO DIREITO DO TRABALHO E SUA JUSTIÇA ESPECIALIZADA O decreto-lei 1.237/1939 organizou a Justiça do Trabalho no Brasil, definindo sua estrutura através dos seguintes órgãos: a) As Juntas de Conciliação e Julgamento e os Juízes de Direito; b) Os Conselhos Regionais do Trabalho; c) O Conselho Nacional do Trabalho. A partir da publicação do decreto-lei nº 1.346/1939, que reorganizou o Conselho Nacional do Trabalho, deu-se início à instalação da Justiça do Trabalho em todo país através da abertura dos Conselhos Regionais do Trabalho. Em 1946, com a edição do decreto-lei nº 9.797/1946, a Justiça do Trabalho passou a pertencer, definitivamente, ao Poder Judiciário, com a seguinte estrutura: Tribunal Superior do Trabalho, Tribunais Regionais do Trabalho e Juntas de Conciliação e Julgamento ou os Juízos de Direito. Na história do direito do trabalho podemos definir alguns marcos cronológicos, desde 1802 quando surgem as primeiras leis ordinárias trabalhistas, destacando-se a lei inglesa que regulou o trabalho de menores, até 1943 quando foi aprovada a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT). 3 HISTÓRICO DA COLEÇÃO O acervo de obras raras e especiais pertencente à Biblioteca Ministro Carvalho Junior é composto de obras nacionais e estrangeiras de grande significado não só para o Direito do Trabalho, mas também para a Ciência do

Direito em geral. Essa coleção formouse ao longo de 50 anos de existência da biblioteca, por meio de doações de ilustres juristas. Este acervo é composto de 900 títulos, entre livros, periódicos e folhetos publicados entre 1825 e 1989. Dentre as obras mais importantes destacam-se Le Droit civil explique (1838) de Raymond-Théodore Troplong, Le contrat de Travail (1895) de Hubert-Valleroux, e Natureza jurídica do contrato individual do trabalho (1938) de Cesariano Junior. Dentre os periódicos podemos destacar a Boletim do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, de 1934-1954, a Revista do Trabalho 1933-1965, e a Justiça do Trabalho: prática das leis trabalhistas, a partir de 1947, dentre outros. A maior parte da coleção se concentra entre os anos 30, 40 e 50, justamente os anos mais relevantes para história da Justiça do Trabalho no Brasil. 4 CRITÉRIOS DE DEFINIÇÃO DE OBRAS RARAS E ESPECIAIS: BIBLIOTECAS JURÍDICAS Rodrigues (2006, p. 115) afirma que, na falta de uma política nacional de identificação e qualificação de acervos raros, cada instituição elabora seus próprios critérios baseados na experiência de outras bibliotecas, principalmente utilizando os critérios da Biblioteca Nacional. Segundo Ana Virgínia Pinheiro (1989 apud MENESES e SILVA, 2004, p. 4), para classificarmos um livro como raro devemos levar em conta as seguintes características: Limite histórico; Aspectos bibliológicos; Valor cultural; Característica do exemplar; Pesquisa bibliográfica. Rosana Chaves Abatti (2006, p.18) constata que, em bibliotecas jurídicas, o valor do mercado ou as dificuldades de localização de um dado exemplar não são por si só o principal argumento para determinação da qualidade de raridade de uma determinada obra, mas sim a importância histórica do livro e seu conteúdo. Ao pesquisarmos algumas destas instituições encontramos critérios variados; a biblioteca do Ministério da Justiça, por exemplo, adotou os seguintes critérios (ABATTI, 2006, p. 18): Obras de autores brasileiros e estrangeiros até 1860; Primeiras edições; Segundas edições até 1989; Edições de luxo; Edições com tiragem aproximada de 300 exemplares; Obras autografadas por autores renomados; Obras de personalidade de projeção política, científica, literária e religiosa; Teses; Obras abonadas de próprio punho ou reunidas em coletâneas.

Por sua vez, o Superior Tribunal de Justiça adotou os seguintes critérios (MENESES e SILVA, 2004, p. 9): As obras devem ser da área jurídica ou correlata; Todas as obras de direito publicadas no Brasil ou no exterior até o ano de 1910; Primeiras edições de livros jurídicos muito utilizados atualmente e de juristas famosos; Obras jurídicas famosas com dedicatórias do autor; Primeiro fascículo de periódicos jurídicos (nacionais ou estrangeiros) muito utilizados que já vêm sendo publicados há muitos anos; Livros de época da área jurídica com capas assinadas; Exemplares da área jurídica assinados / rubricados pelo autor, desde que de um jurista de renome; Obras da área jurídica que apareçam em fontes de informação como sendo raras. Já a Biblioteca da Faculdade de Direito da Universidade de Pelotas estabeleceu os seguintes critérios (BATISTA, 2012, p. 91-92): 1. Critérios relacionados ao limite histórico Primeiras edições de obras publicadas no Brasil ou no exterior até o final do século XIX (1899); Teses defendidas até o final do século XIX. 2. Critérios relacionados aos aspectos bibliológicos Edições de luxo; Edições de formato não convencional (pouco usuais); Livros artísticos com ilustrações originais. 3. Critérios relacionados ao valor cultural Edições clandestinas; Edições limitadas; Obras esgotadas; Edições personalizadas; Edições censuradas; Edições comemorativas; Obras apreendidas, recolhidas ou suspensas; Obras impressas em circunstâncias desfavoráveis (período de guerra, seca etc.); Edições de personalidades de projeção política, científica, literária e religiosa; Edições com tiragens reduzidas; Obras de autorias regionais; Produção do corpo docente da Universidade; Trabalhos monográficos elaborados por personalidades importantes; Edições de clássicos, em suas literaturas específicas; Obras pertencentes a bibliotecas de personagens ilustres.

4. Critérios relacionados à pesquisa bibliográfica Obras que apareçam em fontes de informação como sendo raras. 5. Critérios relacionados às características do exemplar Exemplares assinados pelo autor; Exemplares com anotações manuscritas, incluindo dedicatórias; Exemplares autografados por pessoas de reconhecida projeção. Dentre as fontes de referência para pesquisa de livros raros não se encontrou nenhuma especializada na área jurídica. A falta de tal instrumento foi sanada através de pesquisas em outras bibliotecas jurídicas com acervos de obras raras e especiais. Paralelamente à pesquisa na literatura, questionamos aos demais Tribunais Regionais do Trabalho e ao Tribunal Superior do Trabalho, se estes teriam em seus acervos obras raras, e, caso a resposta fosse afirmativa, como estas eram selecionadas e tratadas. Dos 24 TRTs apenas o da 4ª Região (Rio Grande do Sul) nos respondeu afirmativamente, ainda que posteriormente fosse identificada, através de catálogos on-line, coleção de obras raras no TRT da 2ª Região (São Paulo) e no TST. O Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região nos encaminhou os seguintes critérios de seleção de obras raras (FERREIRA, 2009): Livros e periódicos do Trabalho, anteriores à CLT; Livros e periódicos de Direito e Processo do Trabalho anteriores a 1960, em primeira edição; Livros assinados pelo autor; Edição original de livros esgotados; Edição fac-símile de obras esgotadas; Livros com dedicatórias significativas; Livros anteriores a 1960, incluídos em bibliotecas doadas; Autoria; Características físicas das obras. Após esta etapa foi definida uma política de identificação de obras raras utilizando os seguintes critérios: 1. Livros e folhetos Livros impressos até 1900; Edições especiais (papel de qualidade superior, encadernações requintadas, de luxo); Exemplares com anotações manuscritas de importância; Exemplares que, comprovadamente, pertenceram a personalidades importantes; Edições censuradas; Edições clandestinas (confeccionadas sem a devida autorização do autor ou editor, ou no caso de obras dos séculos XV a XVI, obras impressas sem a autorização legal); Edições esgotadas;

Trabalhos monográficos originais elaborados por personalidades importantes; Primeiras edições de livros jurídicos muito utilizados atualmente e de juristas famosos; Obras de personalidades de projeção política, científica, literária e religiosa; Obras apreendidas, suspensas ou recolhidas; Obras repudiadas pelo autor; Obras ilustradas por artistas de renome ou pelos próprios autores; Fac-similares; Obras autografadas pelos autores (desde que comprovada sua relevância para a área); Com dedicatórias e/ou autógrafos importantes; Com marcas de propriedades: assinaturas, nomes, iniciais, exlibris, carimbos, brasões, etc.; As que contenham alguma particularidade ou característica própria que as distingam das demais; Os assuntos tratados à luz da época em que foram pensados e escritos; Obras científicas que datam do período inicial de ascensão daquela ciência; Obras impressas em circunstâncias pouco convenientes a esta arte, tais como guerra, seca, fome; Obras desaparecidas, face às contingências do tempo e da sorte; Pertencentes a bibliotecas de personagens importantes/célebres; Obras da área jurídica que apareçam em fontes de informação como sendo raras. Livros anteriores à CLT (1943). 2. Periódicos Periódicos de direito do trabalho anteriores à CLT (1943); Periódicos nacionais e estrangeiros até 1900; Primeiro fascículo de periódicos jurídicos (nacionais ou estrangeiros) muito utilizados que já vêm sendo publicados há muitos anos. A partir deste momento começamos a selecionar as obras depositadas em nosso acervo. Paralelamente fizemos pesquisas na Rede Virtual de Bibliotecas do Congresso Nacional, principalmente no catálogo on-line da biblioteca do Tribunal Superior do Trabalho. Nem todas as obras selecionadas são propriamente raras, algumas se enquadram na qualidade de especiais, embora não tenhamos identificado na literatura a definição de obras especiais. Em contrapartida encontramos em diversos catálogos de bibliotecas jurídicas obras classificadas como especiais/valiosas, sem uma política clara para tal classificação. Concluímos que as referidas obras foram selecionadas devido a sua importância histórica para a ciência jurídica.

Apesar de estabelecermos uma lista de critérios extensa, a maior parte de nosso acervo raro/especial foi selecionada utilizando os seguintes critérios: obras impressas até 1900; primeiras edições; fac-similares; com marcas de propriedades; obras anteriores à CLT e, principalmente, obras que apareçam em fontes de informação jurídica como sendo raras. Enfatizamos este último critério, pois foi o mais utilizado, uma vez que os demais, em sua grande maioria, são subjetivos, uma vez que não basta uma obra ter apenas um destes critérios para se tornar rara ou especial. Não encontramos na literatura corrente o número de critérios ideal para que possamos identificar uma obra como sendo rara. Então optamos, em grande parte, por selecionar em nosso acervo obras raras/especiais aquelas que porventura já tenham sido identificadas como tal em outras bibliotecas jurídicas. Foram selecionadas também todas as obras oriundas da biblioteca do extinto Conselho Regional do Trabalho da 1ª Região, órgão do qual se originou o Tribunal do Trabalho da 1ª Região. Estas obras foram selecionadas com o intuito de se estabelecer um estudo arqueológico bibliográfico, isto é, a preservação do acervo do referido órgão, ainda que numa pequena amostra, refletindo os interesses doutrinários à época. Esses critérios pré-estabelecidos servirão de base para um projeto de preservação da memória bibliográfica trabalhista, apresentado no último Encontro de Bibliotecários da Justiça do Trabalho (EBJUT). 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalho buscou relatar a experiência da Biblioteca Ministro Carvalho Junior (TRT/RJ) na definição de critérios para identificar as obras raras e especiais dentro de seu acervo. A definição de critérios de raridade em bibliotecas especializadas carece de estudos mais aprofundados. No decorrer deste processo em nosso acervo, sentimos esta dificuldade. Ao mesmo tempo em que ansiamos por definições mais objetivas, estamos conscientes da subjetividade da seleção de obras raras, uma vez que é dependente do campo do conhecimento e da história da instituição a qual o acervo pertença. Porém a troca de informações entre bibliotecas jurídicas, guardiães de acervos raros, é de extrema importância para a definição de critérios basilares. A preservação do acervo raro jurídico trabalhista é de suma importância para o estudo da evolução dos direitos sociais no Brasil e no mundo. E cada acervo deve ter sua própria política, levando em conta a história e a evolução da instituição a qual pertence, bem como evolução da ciência a que suas obras se referem.

REFERÊNCIAS ABATTI, Rosana Chaves. Obras raras em bibliotecas jurídicas. 2006. Trabalho de conclusão de curso (Especialização em Gestão de Bibliotecas) - Centro de Ciência da Educação, Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis. Disponível em: http://tjsc25.tj.sc.gov.br/academia/arquivos/ obras_raras_rosana_chaves_abatti.pdf. Acesso em 12 jul. 2012. BATISTA, Aline Herbstrith. Conceitos e critérios para qualificação de obras raras da biblioteca de Direito da Universidade Federal de Pelotas. 2012. Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural. Universidade Federal de Pelotas, Pelotas. Disponível em: <http://www.ufpel.edu.br/ich/ppgmp/v03-01/wpcontent/uploads/2012/05/ BATISTA._Aline._ dissertacao_2012.pdf>. Acesso em: 13 jul. 2012. BIBLIOTECA NACIONAL (Brasil). Critérios de raridade empregados para a qualificação de obras raras. Disponível em: <http://www.bn.br/planor/ documentos.html>. Acesso em: 18 jul. 2012. PASSOS, Edilenice; BARROS, Lucivaldo Vasconcelos. Fontes de informação para pesquisa em direito. Brasília: Briquet de Lemos, 2009. RODRIGUES, Márcia Carvalho. Como definir e identificar obras raras? Critérios adotados pela Biblioteca Central da Universidade de Caxias do Sul. Ciência da Informação, Brasília, v. 35, n. 1, p. 115-121, jan./abr. 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ci/v35n1/v35n1a12.p df>. Acesso em: 13 jul. 2012 SANT ANA, Rizio Bruno. Critérios para definição de obras raras. Revista Online Bibl, Prof. Joel Martins, Campinas, v. 2, n. 3, p. 1-18, jun. 2001. Disponível em: <https://www.fe.unicamp.br/revistas/ged/etd/arti cle/view/1886>. Acesso em: 13 jul. 2012.. Critérios de raridade para periódicos brasileiros. Disponível em: <http://www.bn.br/planor/documentos.html>. Acesso em: 18 jul. 2012. BRASIL. Decreto-lei nº 1237, de 2 de maio de 1939. Organiza a Justiça do Trabalho. Disponível em: http://www6.senado.gov.br/legislacao/listatextointe gral.action?id=3545&norma=8115. Acesso em: 12 jul. 2012. BRASIL. Decreto-lei nº 1346, de 15 de junho de 1939. Reorganiza o Conselho Nacional do Trabalho. Disponível em: http://www6.senado.gov.br /legislacao/listatextointegral.action?id=4780&norm a=11080. Acesso em: 12 jul. 2012. FERREIRA, Regina Otília Maciel de Marco. Coleção de obras raras [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por cristiane.souza@trtrio.gov.br em 9 dez. 2009. MENESES, Raquel da Veiga Araújo de; SILVA, Leila Aparecida Arantes. A coleção de obras raras da Biblioteca Ministro Oscar Saraiva do Superior Tribunal de Justiça. BDJur, Brasília, DF, 22 jun. 2004. Disponível em: <http://bdjur.stj.jus.br/dspace/handle/2011/3237 8>. Acesso em: 12 jul. 2012. Recebido em 30 de. Nota: Este artigo foi texto-base em uma das palestras promovidas pelo GDCEJ.