O ENSINO DE GEOGRAFIA E AS NOVAS POSSIBILIDADES PEDAGÓGICAS CONSTRUÍDAS A PARTIR DA UTILIZAÇÃO DE AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM



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Transcrição:

Resumo O ENSINO DE GEOGRAFIA E AS NOVAS POSSIBILIDADES PEDAGÓGICAS CONSTRUÍDAS A PARTIR DA UTILIZAÇÃO DE AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM Willian Marques Pauli 1 UFSC willian@geoensino.net Aprendizagem nas Diferentes Dimensões O presente artigo aborda um relato de experiência desenvolvida a partir do uso de um ambiente virtual de aprendizagem nas aulas de Geografia. Inicialmente, descreve uma concepção teórica de ensino que orientou as aulas de Geografia durante o ano letivo de 2011 durante a construção de um blog educativo. Em seguida, apresenta o formato dado ao blog, suas funcionalidades, recursos e suas características pedagógicas. Além disso, explica como tal experiência buscou tornar o blog um ambiente virtual de aprendizagem, capaz de se criar um importante espaço didático para as aulas de Geografia. Por fim, traz alguns resultados obtidos com tal experiência por meio da transcrição de comentários deixados por alguns estudantes que participaram das aulas de Geografia no blog. Palavras-chave: Ensino. Geografia. Ambiente virtual de aprendizagem. Introdução As tecnologias cada vez mais fazem parte da vida da população, e por isso, estão cada vez mais inseridas também na escola. É bastante perceptível a inserção dos estudantes nas novas tecnologias de comunicação como a internet. O presente artigo busca resultar socializar uma prática pedagógica desenvolvida com estudantes de sextas e sétimas séries da Rede Municipal de Ensino de Florianópolis durante o ano letivo de 2011, especificamente em nossas aulas de Geografia na Escola 1 Professor de Geografia da Rede Municipal de Ensino de Florianópolis. Formou-se como Bacharel em Geografia no ano de 2006 na Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), mesma instituição onde em 2009 concluiu o curso de Licenciatura Plena em Geografia. Em 2011, tornou-se mestre em educação na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Já trabalhou com a educação de crianças, jovens e adultos. Atualmente leciona geografia para estudantes dos anos finais do ensino fundamental, se dedica a pesquisa sobre o ensino de Geografia e participa do projeto 'Coleção Investigação e Reflexão' desenvolvido pela Editora Sophos para produção de livros didáticos de Geografia do Ensino Fundamental.

2 Básica Gentil Mathias da Silva e Escola Básica Maria Conceição Nunes, onde estamos construindo um ambiente virtual de aprendizagem, o blog intitulado de Geoensino (www.geoensino.net). Cientes que um blog ou qualquer ferramenta tecnológica pode ser concebido de diferentes formas. Apresentamos inicialmente um aparato teórico que vem orientando nossa prática pedagógica. Nesse momento do texto buscamos explicitar as concepções que desde o início deram sustentação teórica para a construção deste ambiente.. Num segundo momento, disserta-se sobre as funcionalidades existentes no blog, dando ênfase as suas características pedagógicas que deram ao blog na nossa avaliação status de ambiente virtual de aprendizagem. Neste instante que explicamos como se tentou criar um espaço de interação entre os estudantes, enfatizando a socialização dos conhecimentos por eles produzidos. Por fim, traz alguns trechos retirados de atividades desenvolvidas no blog, que buscam exemplificar como tal experiência vem sendo positiva na medida em que os estudantes conseguiram utilizar esse ambiente para aprender, refletir sobre os conhecimentos e sobre a realidade, produzindo e socializando conhecimento. Ensinar Geografia na atualidade A realidade vivida pelo professor de Geografia na sala de aula é fruto de um contexto histórico específico. Lecionar na atualidade permeia condições históricosociais inerentes a conjuntura. As crianças e jovens de hoje crescem inseridas num mundo pulsante de novas tecnologias, o que representa consequentemente novos instrumentos de aprendizagem. Os caminhos pedagógicos percorridos pelo estudante de hoje são diferentes dos trilhados anteriormente. As tecnologias surgem como um novo aparato instrumental na qual a criança e o jovem se apropriam e desenvolvem novos percursos pedagógicos de aprendizado. Eles criam suas estratégias para aprender e se comunicar com o mundo por meio da internet e da informática, pois hoje nossos alunos pensam e processam informação fundamentalmente diferente dos seus antecessores. E estas diferenças são mais profundas e vão muito mais longe do que a maioria dos educadores percebem. (PRENSKY, Marc, apud. CORACINI, pg. 3, 2009) Algumas gerações atrás, por exemplo, as fontes de informação e comunicação poderiam se restringir, para muitos estudantes, ao que o professor passava no quadro. O

3 que falar de muitos dos estudantes da atualidade que estão inseridos e dominam plenamente o uso da internet, a dimensão que isso representa na apropriação de informações? A maioria dos atuais professores migraram de outras tecnologias como livros, quadro e giz para a informática, já seus estudantes já nasceram inseridos nessa nova realidade e desconhecem muitas vezes como era o mundo antes da internet. Segundo Ribeiro, adolescentes e principalmente crianças não conseguem compreender o mundo sem a utilização da comunicação em tempo real, configurando-se como Nativos Digitais. Em outras palavras, a tecnologia é totalmente incorporada no seu cotidiano, sendo utilizada como ferramenta útil nos estudos, na vida diária e como um poderoso espaço para o desenvolvimento das suas relações sociais, através da participação em comunidades virtuais. Dessa forma, a criança é um agente social que interpreta seu mundo e sua vida de forma particular, através de múltiplas interações estabelecidas pelas crianças entre si e com adultos (2010, pg. 17) Nesse sentido, é importante que o professor reflita sobre o objetivo de sua prática nesse novo contexto. Como ensinar é tão importante como o que ensinar. Nesse contexto, o quadro e o giz são suficientes para mobilizar o estudante para o aprendizado? Redundante ou não, as novas tecnologias inserem novamente o campo educacional nos velhos embates epistemológicos travados por grupos teóricos acerca dos objetivos da educação. Esse debate, na nossa prática educacional como professor e pesquisador, não se resume ao uso da internet como ferramenta de pesquisa, mas ao uso pedagógico que se dá a internet e a outras tecnologias para nossas aulas. Diferentes concepções pedagógicas atribuem a essas ferramentas distintas funções e atribuições. No cotidiano escolar que vivemos é perceptível o sentimento receoso demonstrado por colegas professores, que relutam a aceitar e perceber que essa conjuntura é inevitável, e mais, que é preciso pensar pedagogicamente como lidar com ela. A reprodução de uma prática de viés tradicional, centrada na figura do professor como proprietário, dominador e transmissor do conhecimento continua, em certa medida, ignorando a existência desse novo cenário. Por outro lado, nossa prática vem tentando percorrer um caminho diferente. Buscamos organizar nossas aulas a partir de uma concepção baseada na apropriação e produção de conhecimentos geográficos por parte dos estudantes. Nosso ponto de partida não está no que sabemos, mas no desafio que se apresenta ao professor de tentar conhecer o que os estudantes sabem, seus conhecimentos, muitas vezes apropriados do senso comum. Nosso ponto de chegada reside na tentativa, por meio de estratégias

4 pedagógicas metodológicas e dos saberes científicos, de condução do conhecimento do estudante para o senso crítico (SAVIANI,1997, pg. 19). Como afirmamos, tão importante quanto o que se está ensinando, é como ensinar, como conduzir nosso estudante ao senso crítico. Dessa forma, o conhecimento não é um fim em si mesmo, mas um aliado. Assim como a internet e as novas tecnologias, que não podem ser utilizadas em nossas aulas de qualquer jeito, sem planejamento. Elas precisam estar a serviço dos nossos objetivos. Para Saviani, [...] o problema da transformação do saber elaborado em saber escolar. Essa transformação é o processo através do qual selecionam-se, do conjunto do saber sistematizado, os elementos relevantes para o crescimento intelectual dos alunos e organizam-se esses elementos numa forma, numa sequência tal que possibilite sua assimilação. Assim, a questão central da pedagogia [ensino de Geografia] é o problema das formas dos processos, dos métodos; certamente, não considerados em si mesmos, pois as formas só fazem sentido na medida em que viabilizam o domínio de determinados conteúdos. (1997, pg. 88, grifos do autor) Por isso que em diversas situações o ensino de Geografia marcado pela memorização de informações não contempla o dialogo com a atual conjuntura. Na nossa avaliação, tal concepção pedagógica atribuída a Geografia escolar pode contribuir para a indisciplina e em muitos casos ainda com a evasão, pois tem dificuldade em estimular o estudante. Para ter acesso à informação, muitos de nossos estudantes não precisam mais do professor, basta acessar um sítio de busca na internet. Nesse contexto que observamos as novas tecnologias no centro do debate sobre os objetivos da educação. O que queremos ensinar? Como ensinar? Esses são questionamentos cruciais para nossa prática. Para Saviani [...] a questão central da Pedagogia [ensino de Geografia] é a questão dos métodos, dos processos...o professor está mais interessado em fazer progredir o aluno. O professor vê o conhecimento como um meio para o crescimento do aluno; enquanto para o cientista o conhecimento é um fim, trata-se de descobrir novos conhecimentos na sua área de formação, Nesse sentido, [...]o melhor geógrafo não será necessariamente o melhor professor de Geografia [...] E por que? Porque para ensinar é fundamental que se coloque inicialmente a seguinte pergunta: para que serve ensinar uma disciplina como Geografia, história ou português aos alunos concretos com os quais se vai trabalhar? Em que essas disciplinas são relevantes para o progresso, para o avanço e para o desenvolvimento desses alunos? (1997, pg. 88, grifos do autor) Nesse sentido, nossa prática pedagógica tem se comprometido em construir instrumentos metodológicos que possibilitem nosso estudante, inserido no tempo das novas tecnologias, a se apoderar dos conhecimentos científicos, utilizá-los, construir o senso crítico e a refletir sobre sua realidade. Temos evitado cobrar do nosso estudante memorizações de informações, buscamos estimular, por meio da Geografia, que ele

5 consiga se posicionar e questionar o mundo que vive. A partir desses pressupostos e questionamentos, iniciamos a construção de um ambiente virtual de aprendizagem, um blog educacional, que tenta inserir nossas aulas de Geografia num ambiente mais próximo do mundo em que os estudantes vivem. O blog Geoensino como ambiente virtual de aprendizagem: uma proposta pedagógica construída para as aulas de Geografia A concepção equivocada de que internet é local apenas para se pesquisar informações prontas contribui, na nossa avaliação, para a formação de uma cultura escolar de cópia de textos, que chamamos de cultura do Ctrl C e Ctrl V. É muito comum, por exemplo, a utilização da internet e outras tecnologias educacionais para a realização de pesquisas e trabalhos. É importante ressaltar que na maioria das vezes nossos estudantes copiam um texto da internet sem lê-los completamente, muitas vezes se restringindo a ler o título do texto. Isso representa uma reprodução, consciente ou não, de uma concepção tradicional da Geografia escolar, na qual o conhecimento está pronto, e o estudante deve absorvê-lo, memorizando-o. Essa cultura não está apenas enraizada no estudante, mas também no professor que é o responsável por organizar e conduzir o processo de aprendizado do estudante. Romper com essa lógica não é uma tarefa fácil. Propor ao estudante que ele não copie, que ele leia, reflita e se posicione diante do tema estudado na sala informatizada da escola pode ser uma tarefa árdua. Nesse sentido, buscando a ruptura, o blog Geoensino não solicita ao estudante que ele traga e copie textos de outros sites nem que ele produza uma definição sobre os conceitos estudados. Ele apresenta um conteúdo por meio de textos, imagens e mapas, e ao final questiona o estudante sobre esse assunto. O estudante, por sua vez, precisa indispensavelmente deixar um comentário no blog com sua avaliação sobre o assunto. Sendo assim, o uso da internet, do blog e a solicitação de publicação de um comentário vem se estruturando como nossa estratégia pedagógica para mobilizar o estudante nesse novo contexto das tecnologias educacionais. Estamos assim, buscando organizar uma nova prática pedagógica que contribua para o aprendizado do estudante nessa nova realidade trazida para a escola pelas gerações de estudantes agora inseridos no meio digital. Por isso nosso sentimento de que muito ainda está por ser construído. E a construção do blog Geoensino vem se

6 concretizando numa interessante experiência pedagógica nas nossas aulas de Geografia. A efetivação do blog não se resumiu a se tornar uma fonte de informações. Seu propósito é a de que o estudante participe de sua construção, que o blog seja um ambiente para que ele aprenda, produza conhecimento e possa divulgá-lo. O Geoensino é organizado em algumas sessões, possuindo uma página para cada tema como mapas, imagens, vídeos, jogos educativos entre outros. Esses espaços atuam como áreas fixas, onde se armazenam diferentes fontes de pesquisa. Cabe destacar que o estudante pode contribuir na construção desse espaço, enviando vídeos ou mapas que tenham relação com os temas estudados e que gostaria de publicar no blog. Outras partes do blog que despertaram o interesse dos alunos foram as páginas intituladas de Na escola e Alunos, locais onde se divulgam fotos das turmas, de trabalhos realizados, saídas de estudos e outras atividades escolares. Esses espaços buscam dar visibilidade ao estudante no blog e despertar o sentimento de pertencimento aquele local. Figura 1 - Visão geral do blog Geoensino registrada no dia 8 de dezembro de 2011. Porém, a área destinada à publicação de textos é a parte do blog responsável em efetivar do Geoensino como ambiente virtual de aprendizagem e por buscar superar sua face apenas de fonte de pesquisa e socialização. Neste local, textos explicativos relacionados aos conteúdos abordados na sala de aula são postados acompanhados de imagens, mapas e questionamentos. Dessa forma, toda publicação está relacionada ao

7 assunto que se estuda naquele momento, e cabe ao estudante contribuir com o debate publicando um comentário ao texto, respondendo aos questionamentos postos. Cabe destacar que tais questionamentos não solicitam uma definição de um conceito, como por exemplo: o que é um problema urbano? Isso representaria a reprodução de uma concepção pedagógica tradicional da Geografia. Quando abordamos a temática dos problemas urbanos com turmas de sextas séries, as indagações postas no blog foram na direção de questionar o estudante sobre quais problemas urbanos ele e sua família já tinham vivenciado, quais que mais o incomodavam, por que eles existiam e o que ele faria para acabar com tais problemas. A partir dessa perspectiva, tentamos estimular a reflexão sobre a realidade vivida pelos estudantes. No caso do conteúdo problemas urbanos, o centro do debate estava na realidade, e nosso objetivo era despertar a criticidade sobre tal realidade. Para exemplificar isso, quando questionamos os estudantes se eles consideravam que a melhora do transporte coletivo seria o caminho para resolver os congestionamentos na cidade e o que seria preciso melhorar no transporte coletivo, recebemos respostas como o da aluna A: Não, pois nós achamos que para melhorar o congestionamento teria que ter poucas pessoas na cidade de Florianópolis. Caso ao contrário, que os transportes sejam maiores para caber mais pessoas ou ampliar os horários para que tenha mais transportes, que não fiquem lotados, e que evitem o congestionamento nas cidades. Ainda sobre a temática dos problemas urbanos abordados nas turmas de sextas séries, após uma saída de estudos, solicitamos a elaboração de um breve relatório, na qual o estudante deveria publica no blog os problemas urbanos observados por ele, e o que considerava ser necessária fazer para acabar com tais problemas. Transcrevemos a seguir alguns desses textos: Aluna B: Fomos ao Parque de Coqueiros onde vimos vários problemas urbanos, entre eles: poluição das águas, congestionamentos e desigualdades sociais. Tem algumas formas de resolver esses problemas entre elas: -Poluição das águas: Para resolver esse problema acho que deveriam fazer tratamento de esgoto, iria diminuir bastante a poluição nas águas e também poderiam colocar propaganda ou outra coisa que tocasse as pessoas para parar de jogar lixo nos mares, porque além de poluir os mares prejudica a saúde dos seres vivos. - Congestionamentos: Acho que se construisem mais ruas mais ruas ou um meio de transporte que não polui o meio ambiente e que não de congestionamentos.

8 - Desigualdades sociais: Acho que deveriam fazer o máximo para poder comunicar as pessoas sobre o bolsa família, pois tem muitas pessoas que nem sabe o que é, no quanto isso pode ajudar e acho que se todos saber o que é, não existiria esse problema de desigualdade social. Aluna C: Estivemos, na praia coqueiros. Observamos vários problemas como, poluições nas águas, lixos por todos os lados na praia, várias casas destruídas em uma comunidade. Para resolver estes problemas, agente teria que fazer um protesto para que as pessoas que cuidam da nossa cidade, vissem o quanto ela está destruída, e que não é só aquela parte e que várias outras partes também; As pessoas tem que ver o quanto é bom e como vai ser legal poder ver a nossa cidade limpa e sem erros, puluições, destuições, e várias coisas. Agente tem que observar o que estamos fazendo, e cada coisa que estamos fazendo para acabar com tudo de bom que temos. Seria muito bom se todos pudessem olhar para o lado, e poder corrigir o seu erro, para fazer de uma Florianópolis uma cidade melhor!! Aluna D: Eu tambem observei que no centro tem muitas moradias em risco,pois as casas ficam no morro e podem correr o risco de cair a qualquer momento(e o pior,os ascidentes com as pessoas do morro).isso acontece normalmente com chuva ou ventos fortes;mas para acabar com isso a prefeitura..deveria construir mais casas para os necessitados(afinal se eles constroem fabricas que prejudicam a natureza,tambem podem construir casas aos pobres). Nesse sentido, os comentários postados pelos estudantes expressam uma interpretação sobre as situações apontadas. Em nenhum momento foi cobrado uma definição do que era tal problema urbano. Esse talvez seja na nossa avaliação, um equívoco da Geografia escolar, cobrar de alunos que estão num estágio inicial de alfabetização que elabore definições científicas abstratas para sua idade. Não é por acaso que a cultura do Ctrl C e Ctrl V se reproduz facilmente nas atividades escolares. A cópia pode ser um sinal de que o estudante não entendeu e não conseguiu realizar tal tarefa. Nessa direção, as atividades que desenvolvemos no Geoensino, como as que exemplificamos, demonstram que os estudantes podem se apropriar dos conhecimentos e da temática abordada, refletindo sobre a realidade, sem que com isso seja necessário escrever uma frase explicando o que seria um problema urbano.

9 O blog como ambiente virtual de aprendizagem contribuiu decisivamente para isso. Está sendo sem dúvida, uma experiência pedagógica positiva na medida em que ofereceu ao estudante um ambiente familiar e mais prazeroso para estudar. Muitos estudantes passaram a participar ativamente das aulas de Geografia a partir do momento em que nossas aulas começaram a utilizar o Geoensino como recurso pedagógico. Isso não significa que as dificuldades e contradições existentes na escola tenham sido totalmente superadas, mas que o uso de tecnologias educacionais contribuiu para avançarmos e construirmos estratégias pedagógicas de sucesso. Considerações Finais A construção de um ambiente virtual de aprendizagem provocou uma mudança marcante em nossas aulas de Geografia. O blog Geoensino vem se legitimando como uma importante ferramenta pedagógica, mobilizando os estudantes para os processos de aprendizagem, contribuindo na interlocução com o novo mundo vivenciado por eles, criando um novo espaço de produção do conhecimento para as aulas de Geografia. Tal experiência nos fez repensar os rumos da nossa prática pedagógica, nos fazendo perceber que a construção de novas estratégias e instrumentos para o ensino são indispensáveis e inevitáveis nesse novo momento histórico. O uso da internet se tornou uma nova forma de conduzir as nossas aulas de geografia, proporcionando a socialização e produção dos conhecimentos, instrumentalizando a avaliação e o diagnóstico sobre a aprendizagem do estudante. Em 2012, continuaremos investindo esforços nessa experiência, reavaliando seus resultados, construindo se necessário novas estratégias e funcionalidades a fim de manter sua significação entre nossos estudantes. Referências Bibliográficas CORACINI, Eva Graciela Reyes. Novos tempos, novos desafios. O professor do século XXI. In: Congreso Internacional para la Investigación y el Desarrollo Educativo, 2009, Veracruz, México. Anais do Congreso Internacional para la Investigación y el Desarrollo Educativo. Ciudad de México, México, 2009. p. 1-13. Disponível em http://www.colposgrado.edu.mx/reyes.pdf Acesso em 3 de maio de 2011.

10 SAVIANI, Dermeval. A nova lei da educação: trajetória, limites e perspectivas. Campinas: Autores Associados, 1998. SAVIANI, Dermeval. Pedagogia Histórico-crítica: primeiras aproximações. Campinas, SP:Autores Associados, 1997. PAULI, Willian Marques. Problemas Urbanos (Comentários publicados). Disponível em http://www.geoensino.net/2011/08/problemas-urbanos_29.html. Acesso em 15 de dezembro de 2011.. Saída de Estudos turmas 61 e 62 - Problemas Urbanos de Florianópolis (Comentários Publicados). Disponível em http://www.geoensino.net/2011/10/saida-de-estudos-turmas-61-e-62.html Acesso em 16 de dezembro de 2011. RIBEIRO, Ana Carolina Ribeiro.O computador como uma ferramenta para auxiliar na aprendizagem: a visão de alunos e professores. Monografia de Graduação. Porto Alegre: UFRGS, 2010. Disponível em: http://www.nuted.ufrgs.br/wordpress/wpcontent/uploads/2011/04/tcc-ana-carolina.pdf Acesso em 10 de junho de 2011.