EXPERIMENTAÇÃO DO JORNALISMO POLÍTICO NA COBERTURA DA CÂMARA MUNICIPAL DE PONTA GROSSA PARA O PORTAL COMUNITÁRIO

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9. CONEX Apresentação Oral Resumo Expandido 1 ÁREA TEMÁTICA: (marque uma das opções) ( x ) COMUNICAÇÃO ( ) CULTURA ( ) DIREITOS HUMANOS E JUSTIÇA ( ) EDUCAÇÃO ( ) MEIO AMBIENTE ( ) SAÚDE ( ) TRABALHO ( ) TECNOLOGIA EXPERIMENTAÇÃO DO JORNALISMO POLÍTICO NA COBERTURA DA CÂMARA MUNICIPAL DE PONTA GROSSA PARA O PORTAL COMUNITÁRIO OLIVEIRA, Hebe Maria Gonçalves de RIVEROS, Mariel Salgado RESUMO Este artigo apresenta uma sistematização da experimentação do jornalismo político desenvolvida pelos estudantes do 2º ano de Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa a partir da cobertura jornalística da Câmara Municipal de Ponta Grossa produzida para o site Portal Comunitário (www.portalcomunitario.jor.br), projeto de extensão de comunicação comunitária do Curso de Jornalismo em parceria com entidades comunitárias, grupos culturais e movimentos sociais locais. PALAVRAS CHAVE Segmentação, Politico, Portal Comunitário.

9. CONEX Apresentação Oral Resumo Expandido 2 Introdução A cobertura jornalística contemporânea dos fatos/acontecimentos do poderes executivos e legislativos nas diferentes instâncias federal, estadual e municipal é denominada de jornalismo político. Os assuntos/temas da política são objetos do jornalismo desde a sua origem. Antes da tipografia, os fatos políticos eram temas inspiradores de trovadores e cancioneiros. (RIZZINI, 1997). Na era dos jornais, as notícias políticas eram dedicadas aos fatos do estrangeiro. (STEPHENS, 1993). Nas primeiras décadas de 1700, os jornais aceleram a busca por informações locais, com observações apanhadas nos cafés pelos coletores de notícias domésticas, pessoas que passaram a trabalhar para os jornais para as sessões chamadas de Notícias Domésticas, assim como os correspondentes que, então, atuavam nas províncias. Em 1770, os coletores de notícias passaram a ter acesso ao Parlamento, em Londres, mas ainda não era permitido fazer anotações na galeria onde o público se sentava. Obrigados a escrever os relatos sobre os longos debates no Parlamento somente através da memória, ainda assim os tinham publicados com destaque pelos jornais. A permissão aos jornalistas de tomarem notas nas galerias do Parlamento só ocorreu em 1783. (STEPHANS, 1993, p. 528). Assim, os jornalistas passaram a usar a estenografia no lugar da pura memória para escreverem seus relatos jornalísticos. A coleta de notícias de primeira mão ganhou importância em Londres, por volta de 1808, e os repórteres, que antes atuavam na coleta de notícias como uma espécie de bico, passaram a ser contratados pelos jornais por tempo integral. Além do Parlamento, os 'coletores de notícias domésticas' a descobriram também em outros espaços da vida pública, como cafés e tribunais. No resgate sobre as mudanças na cobertura dos pronunciamentos anuais do presidente dos Estados Unidos ao Congresso nos últimos dois séculos, Schudson (1999) destaca que a Constituição dos Estados Unidos determina que todo presidente deve fazer um pronunciamento anual ao Congresso no início de cada estação de inverno. O autor observa que, da implantação da medida inaugurada pelo primeiro presidente dos Estados Unidos (1789-1797), George Washington, às primeiras décadas de 1800, o pronunciamento do presidente era publicado na íntegra, sem ao menos um comentário sobre o conteúdo do discurso pelos jornais em suas colunas editorias. Além disso, os jornalistas não tinham acesso às sessões do Parlamento. Já na metade do século XIX, principalmente depois da Guerra Civil Americana (1861-1865), a imprensa passou a apresentar as discussões geradas a partir do pronunciamento do presidente e as notícias iniciadas com uma ampla descrição sobre o ambiente no Congresso característica que indicava a presença do repórter como 'espectador', conforme ilustra a notícia publicada pelo New York Times em 1852: Está um brilhante e lindo dia e as galerias da Casa estão cheias de damas e cavalheiros, tudo é alegria.... 1 [tradução nossa]. (SCHUDSON, 1999, p. 57). Já em 1870, as atenções dos repórteres se voltavam para as reações dos notáveis congressistas em relação ao pronunciamento do presidente. Décadas antes, o trabalho dos repórteres era apenas noticiar o que o presidente havia dito. No final dos anos 1870 e na década de 1880, os jornalistas passaram a entrevistar os congressistas. Mas, conforme descreve Schudson (1999, p. 58), raramente os congressistas tinham as entrevistas como uma oportunidade de publicidade. Ao contrário, se mostravam irritados com os questionamentos dos repórteres. No final do século XIX, as notícias eram ainda as curiosidades durante a abertura do Congresso, como se fosse algo novo. Depois dos anos 1900, o pronunciamento do presidente passou a ser o assunto do lead (técnica então adotada como primeiro parágrafo da notícia) e o presidente mostrado como um ator, tomando todas as atenções da imprensa antes mesmo de seu pronunciamento no Congresso. A partir de 1930, o presidente passou a falar não somente para o Congresso, mas para toda a nação e para o mundo o que era prontamente noticiado pela imprensa, que então já contava com a atuação do rádio. O autor (1999) aponta mudanças tanto na realidade política quanto realidade jornalística. O jornalista, não meramente o transmissor de documentos e mensagens, tornou-se o intérprete da notícia. Esta nova regra permite ao repórter escrever sobre o que ele escuta e vê e o que não é ouvido, visto, ou está intencionalmente omitido.[tradução nossa]. 2 (SCHUDSON, 1999, p. 62). No jornalismo contemporâneo, a cobertura jornalística da política implica ao repórter lidar diariamente com um material informativo em excesso (Lustosa, 1996), proveniente de políticos dos dois poderes, seus assessores, além de representantes de demais setores da sociedade civil. Deve- 1 Is is a bright e beautiful day, and the galleries of the House are crowed with ladies and gentlemen; all is gaiety. 2 The journalist, no longer merely the relayer of documentos and messagens, has become the interpreter of the news. This new roles allows the reporter to write about what he hears and sees, and what is unheard, unseen, or intentionally omitted as well.

9. CONEX Apresentação Oral Resumo Expandido 3 se levar em conta que, no Brasil, tem-se um calendário eleitoral fixo a cada dois anos (com alternância entre as instâncias federal/estadual e municipal), que preenche a agenda política não só durante o ano das eleições, mas o anterior, marcado pela conjuntura de arranjos políticos partidários. Assim, o desfio da cobertura jornalística requer do profissional compreender não somente os trâmites e regras do processo político eleitoral e das instituições políticas, mas também entender os jogos de interesses e as disputas imbricadas no campo da política. Objetivos Este artigo apresenta uma sistematização da experiência dos estudantes do segundo ano do Curso de Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa na cobertura política da Câmara Municipal de Ponta Grossa nos dois últimos anos, atividade integrada ao Portal Comunitário, projeto de extensão de comunicação comunitária do mesmo Curso desenvolvido em parceria com entidades comunitárias, grupos culturais e movimentos sociais locais. Com o objetivo de proporcionar aos estudantes a prática do jornalismo político, a atividade se concentra na produção de notícias que perpassam pelo Poder Legislativo municipal. Para tanto, requer do estudante o contato constante com os vereadores e seus assessores diretos, assessoria de imprensa, diretoria e presidência da Câmara Municipal. A orientação para esta cobertura é que é preciso sempre entender as regras do jogo para poder acompanhá-lo bem e ser capaz de narrá-lo e explicá-lo (MARTINS, 2005) para o leitor/receptor da notícia. Entre os objetivos, a experimentação visa também despertar o interesse dos estudantes pela cobertura jornalística da política, área que, conforme observado durante a docência no Jornalismo, desperta atenção a poucos. Metodologia A atividade desenvolvida nos dois últimos anos 3 manteve a média de duas notícias postadas por semana. O que é razoável, considerando a exigência da qualidade dos textos para publicação, orientada por diferentes aspectos, entre elas estão enumerados: 1) abordagem diferenciada de assuntos já retratados pela imprensa local; 2) pluralidade de fontes (o que implica entrevistar o maior número de vereadores e demais representantes políticos e sociedade civil); 3) veracidade, assim como verificabilidade e clareza, das informações coletadas; e 4) envolvimento e interesse dos estudantes na prática de cobertura política. Para a atividade jornalística, são designados três a quatro estudantes para escolha de pautas e produção da notícia, com entrega quinzenal dos textos, período que possibilita maior dedicação do estudante para apuração jornalística, considerando que o mesmo possui demais atividades curriculares próprias do Curso. Cada grupo fica responsável pela cobertura da Câmara Municipal no período de um mês. A permanência de um estudante nesta atividade após esse período depende da opção individual, considerando escolhas pessoais e afinidades com a área de cobertura. Resultados Dos aspectos enumerados acima, passa-se então à descrição de seguintes resultados: 1) Abordagem diferenciada: As abordagens diferenciadas são orientadas ainda no momento das escolhas das pautas pelos próprios estudantes. A orientação perpassa pela observação dos assuntos publicados pela imprensa, o acompanhamento da Ordem do Dia da Câmara Municipal, escutas dos repórteres de informações durante as sessões em Plenário ou nos bastidores do Legislativo, seja em conversas com parlamentares, assessores diretos dos vereadores, assessoria de imprensa da Casa ou representantes de entidades da sociedade civil. Para abordagens diferenciadas, há sempre o esforço por parte dos estudantes, pois para todo principiante na cobertura política requer primeiro entrar no mundo dos fatos políticos, o que exige tempo e persistência. Nessa atividade de cobertura da política local, o diferencial tem sido partir do factual para abordagens mais amplas, visto que, devido a rotina dos estudantes para demais atividades curriculares do Curso, há sempre o impedimento do acompanhamento imediato dos fatos. 2) Pluralidade de fontes: A política é marcada por disputas e jogos de interesses por diferentes atores sociais. No Legislativo, é preciso entender as diversas forças políticas representadas pelos parlamentares, considerando suas posições partidárias atuais e anteriores. Conhecer o background dos políticos é um passo importante para o iniciante na cobertura política distinguir o quanto as declarações colhidas são, de fato, 3 Em 2009, apenas durante o primeiro semestre, devido o afastamento da professora/orientadora da atividade por motivos de licença no segundo semestre do mesmo ano letivo.

9. CONEX Apresentação Oral Resumo Expandido 4 interesse público ou interesse pessoal de determinado vereador (no caso do Legislativo Municipal). Na luta política, os atores sempre tentam apresentar os fatos pelo ângulo que lhes é favorável e se esforçam para tirar o foco dos aspectos que lhes são mais desconfortáveis (MARTINS, 2005). Nesse sentido, o cuidado para não dar destaque sempre às mesmas fontes, mas entrevistar o maior número possível. Nem todos parlamentares têm a mesma visibilidade na imprensa. Há sempre os chamados eleitos e é bom evitar repetir o erro. Para isto, a orientação tem sido colher a opinião dos vereadores para o assunto abordado, observando sua representação na Câmara. 3) Veracidade da informação: A veracidade da informação pressupõe o cuidado na coleta das informações, o que requer por parte do estudante de Jornalismo entender o assunto em questão. Como o jornalista, muitas vezes, não tem um ponto de partida seguro para a apuração, a primeira providência é reunir grande massa de informações que lhe permita aproximar-se dos fatos. O segundo passo é fazer a triagem do material bruto, retendo os pontos consistentes, destacando as invenções e plantações e identificando as questões ainda obscuras e confusas. (MARTINS, 2005, p.49). O esforço do estudante para esta atividade tem resultado na própria na produção dos textos. No momento da edição pelo professor/orientador na presença do estudante, observa-se a clareza das informações prestadas, a fidelidade na reprodução das declarações das fontes, a contextualização dos fatos apresentados, visando sempre uma apuração em profundidade. 4) Envolvimento e interesse do estudante pelo jornalismo político: Nem sempre a cobertura política desperta interesse a todos estudantes de Jornalismo. Mas a boa cobertura política requer sempre o interesse e envolvimento por todo aquele que se propõe a fazê-la. Questão sine qua non. Quem cobre política tem de gostar de política. Não basta saber que ela é importante para o país e mexe com a vida das pessoas, inclusive daquelas que acham que política é um nojo. O repórter precisa ter prazer em cobrir a área, ler sobre o assunto e se interessar pelo estilo e pela personalidade dos (...) políticos. (MARTINS, 2005, p.65). Assim, o desenvolvimento da atividade prescinde sempre de uma liberdade aos estudantes para escolha pela cobertura política. Nestes dois anos da experiência, têm-se observado o interesse de pelo menos de 50% a 60% das turmas para acompanhamento do Legislativo local. Na formação dos grupos para escolha de pautas, mantém-se sempre aberto o espaço para quem, primeiro, se habilita à produção para Notícias da Câmara, como é denominada a seção disponível no Portal Comunitário. As pautas partem, primeiro, das sugestões dos estudantes e, na avaliação pelo professor, são verificadas possibilidades de abordagens, aprofundamento dos assuntos e seleção de fontes. Sobre interesse e envolvimento dos estudantes na atividade, levantamento realizado entre 30 participantes da cobertura política do Executivo Municipal mostra que 76,7% (23 ao todo) consideraram a proposta ótima e boa, contra 23,3% (sete no total) que a avaliaram como regular, assim como nenhum (0,0%) disse ser ruim. Sobre a relevância da proposta para o aprendizado profissional, 96,7% (29 no total) dos entrevistados a consideraram importante e indispensável, contra 3,3% (um ao todo) dispensável. Das respostas dos participantes entrevistas sobre a relevância da atividade de cobertura política da Câmara Municipal, foram colhidas opiniões comuns, como descritas a seguir: Permite o contato com a questão política de forma mais próxima (aluno A) Além de ser um meio de integrar os estudantes ao campo político, mantém um espaço voltado, exclusivamente, para a política (aluno B) É um dos primeiros contatos com o jornalismo especializado e dá o gostinho aos novos jornalistas se sentirem próximos do poder público (aluno C) Possibilita experiência e conhecimento na área política (aluno D) Incentiva os alunos conhecerem melhor a situação política da cidade (aluno E) Conclusões A experiência docente com a atividade de cobertura jornalística política tem reforçado a sua importância tanto como prática de ensino, quanto de extensão. No primeiro aspecto, incentiva os estudantes para os desafios dos meandros da cobertura da política, seja como descoberta do campo ou como aprimoramento de algo que gosta de fazer. No segundo aspecto, a publicação da produção jornalística ainda por estudantes em formação profissional vem sempre somar aos canais de comunicação locais já disponíveis, mas sem as amarras dos interesses de mercado presentes nas rotinas jornalísticas, o que permite sempre ao estudante a liberdade para alçar longos vôos para

9. CONEX Apresentação Oral Resumo Expandido 5 experimentação na/da cobertura política. O que, de fato, se espera em atividades laboratoriais durante o processo de aprendizagem e formação profissional. Referencias CHALABY, Jean. O jornalismo como invenção anglo-americana. Comparação entre o desenvolvimento do jornalismo francês e anglo-americano (1830-1920). 2003. Disponível em www.cimj.org/docs/n3-03-jean-chalaby.pdf. Acesso em 4 out 2008. LUSTOSA, Elcias. O texto da notícia. Brasília: UnB, 1996. RIZZINI, Carlos. O jornalismo antes da tipografia. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1997. MARTINS, Franklin. Jornalismo político. São Paulo: Contexto, 2005. SCHUDSON, Michael. When? Deadlines, datelines, and history. In: MANOFF, Robert Karl and SCHUDSON, Michael. The power of news. 3. ed. Cambridge/MA, USA: Harvard University Press, 1999. STEPHENS, Mitchell. História das comunicações. Dos tantãs aos satélites. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1993.