ASPECTOS HISTÓRICOS RESGATE DA HISTÓRIA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO BRASIL Maria Izabel Rocha Simão e Silva Capacitação de Candidatos ao Conselho Tutelar Barbacena, julho/2010
Objetivos: 1- Entendimento das legislações: -Primeiras leis sobre a infância; - Doutrina da situação irregular; - Doutrina da proteção integral. 2- A infância no Brasil do Brasil Colônia ao século XXI:
Objetivos: -Brasil Colônia: criança livre e criança escrava; -Criança na República Código de Menores; - Contexto brasileiro de 1964 a 1988; - Constituição de 1988; - ECA
Questões: 1- Por que é importante o entendimento da história para avaliação do momento atual; 2- Por que estamos aqui; 3- Estamos empenhados na luta pela defesa dos direitos de nossas crianças e adolescentes; 4- Qual o nosso conceito de família; 5- Qual o papel das políticas sociais.
Criança como problema social da década de 1870 aos anos 20 Abolição da escravatura (Lei do Ventre Livre) Famílias dos setores populares: associadas à ignorância/pobreza/descuido/vício/abandono /licenciosidade. Homens públicos e filantropos: fundação de escolas públicas, asilos, creches, escolas industriais e agrícolas profissionalizantes e criação de legislação especial para os menores.
Práticas Jurídico policiais tratamento especial: estabelecimento de Casas de Correção, Educandários e Reformatórios para os chamados menores abandonados e delinquentes. Proclamação da República 1889: problemática da infância - novas dimensões médicos e juristas papéis de maior importância. Pauta repressiva 1893: dispositivo legal mandava recolher das ruas da capital os vadios, vagabundos e capoeiras, de qualquer sexo e idade.
Década de 1920-1921: criado na cidade do Rio de Janeiro o Serviço de Assistência e Proteção à Infância abandonada e delinquente 1922: Primeiro Congresso Brasileiro sobre a infância: discussão de problemas relativos à assistência, proteção, educação e saúde, além da ação do Estado. 1923: Fundação do Juizado de Menores no RJ: nova era na relação entre o Estado Brasileiro e a assistência aos menores (especificidade jurídica)
Década de 1920 1927: Código de Menores - Marco para a sistematização de uma política voltada para a infância e sua regulamentação: organizar formas de trabalho, educação, prevenção e recuperação dos criminosos e delinquentes. - Formas de atendimento: baseadas na internação de crianças em instituições, distantes do convívio social e a posição do Juiz de menores como autoridade máxima.
Década de 1940 - Promulgação do novo Código Penal reivindicações em prol de reformulações nas políticas públicas voltadas para os menores. - Atualização do Código de Menores caráter mais social (preventivo, assistencial e regenerador) do que punitivo debates e projetos de reforma. - Criação do SAM (1941): organização do atendimento, realização de estudos sobre menores e racionalização das formas de tratamento. Atuava em todo o território nacional.
Infância pós 1964 - Golpe de 1964: interrompeu debates ocorridos nas décadas de 40 e 50 projetos de reformulação do Código de Menores e estabelecimento de um sistema mais adequado de atendimento às crianças e jovens. - Dezembro/1964: criação da FNBEM: uniformização e centralização da política de bem estar do menor
- Estados: FEBEMs triagem, recolhimento e internação dos menores. - Compostos de múltiplos especialistas: médicos, assistentes sociais, psicólogos, psiquiatras, pedagogos, juristas, dentre outros. - 1975: Plano de Integração do Menor na Família e na Comunidade prática: política de internamento dos menores indesejáveis, sob o manto da segurança da sociedade e da segurança nacional.
Do Código de Menores ao ECA: entre o abandono, a institucionalização e as contrariedades da legislação. Código de Menores: 1927. Reformulado em 1979. Baseado na doutrina da situação irregular. Juiz de Menores: poderes para aplicação de medidas que iam da advertência até a institucionalização.
Atendimento: centrado na institucionalização da infância pobre. Grandes instituições: mistura de infratores e abandonados privação da liberdade autor de infração penal e vítimas. Crianças e adolescentes pobres: objeto de arbitrária intervenção judicial. Situação Irregular: culpa crianças e adolescentes e desresponsabiliza o Estado. (Costa, 1993)
Década de 1980 - Início da democratização no Brasil - Organização popular - Movimentos organizados MNMMR - Constituição de 1988
Artigo 227 CF/988 É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los los à salvo de toda a forma de negligência, exploração, violência, crueldade e opressão.
ECA Doutrina da Proteção Integral Crianças e adolescentes: sujeitos de direitos pessoas em desenvolvimento. Caráter universalista Proteção especial para situações de risco pessoal e social responsabilidade Família, Estado e Sociedade. Convivência familiar: contraponto ao antigo Código.
Doutrina da Situação Irregular x Doutrina da Proteção Integral - Menores em situação irregular, carentes, alvos de medidas. - Vigiar e punir. - Controle social da pobreza. - Natureza jurídica - Centralização do poder no Estado e das ações no âmbito federal - Estigmatização do pobre. - Todas as crianças e adolescentes sujeitos de direitos prioridade absoluta. - Proteger integralmente. - Desenvolvimento social. - Natureza jurídico- social. - Descentralização político- administrativa e paridade governo/sociedade civil. - Integração.
ECA: novos princípios de atendimento às crianças e adolescentes. Conselhos de Direitos e Conselho Tutelar. SUAS: família como foco da atenção e território como base de organização.
Um país que não respeita suas crianças não respeita a si mesmo. Uma nação que não se respeita não é capaz de desenvolver o auto conceito, a auto estima e a auto confiança, necessários para enfrentar e vencer os imensos desafios que hoje nosso povo tem pela frente. O Estatuto da Criança e do Adolescente poderia alavancar mudanças profundas nas maneiras de agir e interagir do Estado e da Sociedade. É fundamental, contudo, que o tomemos a sério. (Antonio Carlos Gomes da Costa)