CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE CURSO DE SERVIÇO SOCIAL LYGIA NEGREIROS BARBOSA



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Transcrição:

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE CURSO DE SERVIÇO SOCIAL LYGIA NEGREIROS BARBOSA E AGORA GRÁVIDA? PERCEPÇÕES FAMILIARES SOBRE GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA: UMA ANÁLISE REALIZADA COM FAMILIARES DE ADOLESCENTES GRÁVIDAS DO DISTRITO DE MISSI - IRAUÇUBA/CE. FORTALEZA-CE 2013

LYGIA NEGREIROS BARBOSA E AGORA GRÁVIDA? PERCEPÇÕES FAMILIARES SOBRE GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA: UMA ANÁLISE REALIZADA COM FAMILIARES DE ADOLESCENTES GRÁVIDAS DO DISTRITO DE MISSI - IRAUÇUBA/CE. Monografia apresentada ao curso de graduação em Serviço Social do Centro de Ensino Superior do Ceará, outorgado pela Faculdade Cearense - FAC como requisito parcial para a obtenção de grau de Bacharel em Serviço Social. Orientadora: Assistente Social e Ms. Daniele Ribeiro Alves FORTALEZA-CE 2013

B228a Barbosa, Lygia Negreiros E agora grávida? Percepções familiares sobre gravidez na adolescência: uma análise realizada com familiares de adolescente grávidas do Distrito de Missi Irauçuba/CE / Lygia Negreiros Barbosa. Fortaleza - 2013 96f. Orientador: Prof.ª Ms. Daniele Ribeiro Alves. Trabalho de Conclusão de curso (graduação) Faculdade Cearense, Curso de Serviço Social, 2013. 1. Gravidez na adolescência. 2. Família. 3. Gênero. I. Alves, Daniele Ribeiro. II. Título CDU 364 Bibliotecário Marksuel Mariz de Lima CRB-3/1274

LYGIA NEGREIROS BARBOSA E AGORA GRÁVIDA? PERCEPÇÕES FAMILIARES SOBRE GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA: UMA ANÁLISE REALIZADA COM FAMILIARES DE ADOLESCENTES GRÁVIDAS DO DISTRITO DE MISSI - IRAUÇUBA/CE. Monografia apresentada ao curso de graduação em Serviço Social do Centro de Ensino Superior do Ceará, outorgado pela Faculdade Cearense - FAC como requisito parcial para a obtenção de grau de Bacharel em Serviço Social. Data da aprovação: / / BANCA EXAMINADORA Assistente social e Ms. Daniele Ribeiro Alves (Orientadora) Profª. Ms. Rúbia Cristina Martins Gonçalves Assistente Social e Ms. Clara Maria Holanda Silveira

A Deus por iluminar minha jornada, sem ele não conseguiria chegar até aqui. A toda minha família, em especial aos meus pais, pela compreensão, apoio e contribuição. Ao meu namorado e amigos. À minha prima, Brena, que mesmo no momento mais difícil de sua vida, me incentivou para realização dos meus ideais, me encorajando e dando força. DEDICO

AGRADECIMENTOS Hoje, vivo uma realidade que parece um sonho, pois achava que não teria forças para chegar até aqui diante de tantos obstáculos e dificuldades, mas, para isso, foi necessário muito esforço, determinação, paciência e flexibilidade. Porém, nada disso conseguiria sozinha, agradeço imensamente a todos que, de alguma forma, colaboraram para que este sonho pudesse ser concretizado. Primeiramente, agradeço a Deus, por iluminar minha jornada nesse mundo, sem ele nada sou, seria impossível caminhar. Em todos os momentos da minha vida, é ele que está presente para me encorajar e me sustentar. A ele, todo o meu louvor, adoração e gratidão por ter me permitido chegar até aqui. Obrigada meu Deus! A minha família, por sempre acreditar em mim e por se alegrar com as minhas conquistas; vocês são minha base. Em especial, agradeço aos meus pais, Francisco Barbosa e Maria de Fátima, exemplos de força, perseverança e garra, tudo que sou devo a vocês. Serei eternamente grata pelos ensinamentos, apoio, por todo amor que dedicam a mim, obrigada por compreenderem a minha ausência durante esse período e por terem proporcionado esse momento de aprendizado. Sem vocês nada disso seria possível. À minha irmã, Yohana Negreiros, que, com sua inocência de criança, conseguia me acalmar e me alegrar com seus sorrisos, beijinhos e abraços. Mesmo com a minha ausência por conta da agitada vida de acadêmica, ela não deixou de me amar e me dar forças para seguir em frente. Minha princesa, muito obrigada. À minha tia, Erlene Negreiros, e ao seu esposo, Julio Pinto, que me acolheram como uma filha em sua residência durante essa caminhada acadêmica em Fortaleza. Aqui, ganhei uma nova família que amo e vou ser grata eternamente, também ganhei novos irmãos, Natalia Almeida, Higor Almeida e Júlio Manoel, pessoas que gosto e quero bem. Todos me deram carinho e apoio durante essa trajetória e sempre estiveram

dispostos a me ajudar. Em especial, agradeço ao meu pequeno e lindo Júlio Manoel pelo seu carinho de criança, sorrisos e beijinhos, que me traziam mais leveza nos momentos de cansaço. Com esse jeitinho sapeca, ele ganhou meu coração. Agradeço imensamente por tudo que fizeram por mim, amo vocês verdadeiramente. A minha prima, irmã e melhor amiga, Brena Barbosa, que, mesmo no momento mais difícil e doloroso de sua vida, me deu apoio e incentivo para terminar a monografia. Ele me encorajou e me deu forças para enfrentarmos a batalha dela contra o câncer, nunca se deixou abater pelas dores e pelo medo, tanto que só consegui enfrentar esse momento com o apoio dela. Eu acredito que Deus vai te dar a vitória, pois você mais do que ninguém merece viver e ser feliz. Você é meu maior exemplo de garra, força e fé. Aos meus avós paternos, Maria Marialva, Manoel Barbosa (in memorian), pelo exemplo de humildade, trabalho e amor pelos seus netos. Obrigada ao meu avô Manoel Barbosa que foi grande homem, admirado e respeitado por todos, mas os bons morrem cedo e hoje só me resta saudade. Aos meus avós maternos, Francisca Francineida (in memorian) e José Moura, pelo exemplo de humildade, trabalho e perseverança. A vocês, devo agradecer todo o amor e carinho que me proporcionaram, sei que ficarão orgulhosos por essa minha conquista, principalmente a minha avó que deve estar no céu, ao lado do pai, transbordando de alegria por a sua neta estar se formando. Ao meu namorado, Noébio Inácio, que compreendeu a necessidade da minha ausência durante esses quatro anos de faculdade, mas que, mesmo longe, não deixou de ser meu companheiro e amigo. Obrigada por ter aguentado as minhas reclamações, choros e estresses durante esse processo de produção, obrigada pela força, incentivo e carinho. Mesmo com a distância prosseguiu comigo durante essa caminhada, meu amor, você foi essencial na realização deste trabalho.

A todos os meus amigos que torceram por mim e que me ajudaram de alguma forma, que entenderam o meu sumiço, falta de tempo e isolamento que a escrita exige. Vocês são muito especiais. Aos meus amigos, parceiros e companheiros de faculdade que, durante esses anos, estiveram ao meu lado e que com certeza levarei a amizade para além dos muros da faculdade. Em especial, Claudiana Lima, Emily Benevides, Gisele Castro, Jessica Feitosa, Luciane Cosme, Paola Abreu, Rodrigo Alves Ricardo Richers, com vocês essa caminhada se tornou mais leve, foram muitas risadas, angústias, estresses, mas que logo esquecíamos por que temos um carinho imenso uns pelos outros. Foram muitos trabalhos e seminários, mas sempre nos reuníamos e a preocupação com o trabalho bem feito, se tornava alegria e lazer por estarmos juntos. Serão para sempre minha eterna equipe. A todos os professores do curso de Serviço Social da Faculdade Cearense, agradeço a vocês todos os conhecimentos transmitidos, a vocês devo uma grande parte do meu aprendizado. Cada um com sua maneira de ensinar, mas que com certeza foram essenciais para tornar minha formação acadêmica mais ampla e rica. A minha querida orientadora, a Mestra Daniele Ribeiro Alves, que, desde o primeiro dia de contado que tive com ela, demonstrou interesse em me orientar. Agradeço por ter acreditado em mim e ter tido toda paciência do mundo quando não mandava o material no prazo, obrigado por ter partilhado comigo os seus conhecimentos e ter dedicado o seu tempo para realizar as orientações. Expresso aqui minha grande admiração pela profissional que você é e minha gratidão por ter aceitado me orientar. Às minhas supervisoras de estágio, Rosane Castelo, Marta Inácio e Fátima Lustosa, pela paciência, ensinamentos, compreensão e reflexões. Agradeço a todas as profissionais de Serviço Social do Hospital Distrital Gonzaga Mota de Messejana, que me acolheram e contribuíram para minha formação. Obrigada, por tudo!

Às adolescentes e aos seus familiares do distrito de Missi - Irauçuba, que aceitaram participar dessa pesquisa e contribuíram para efetivação deste estudo através de suas histórias e percepções. Saibam que aprendi muito com as falas de cada um de vocês. Agradeço também aos profissionais do Posto de Saúde da Família Antonio Gaudêncio Braga em Missi - Irauçuba que demonstraram interesse em me ajudar e fizeram isso da maneira que puderam. Aos membros da minha banca examinadora, pela disponibilidade em aceitar participar deste momento tão importante na minha trajetória acadêmica e pelas contribuições acerca da monografia, pois foram de extrema importância para a melhoria deste trabalho. Enfim, agradeço a todos que, de maneira direta ou indireta, trouxeram contribuições para concluir essa etapa da minha vida, a todos que torceram para que tudo desse certo. Meus sinceros agradecimentos!

[...] Algo que possa ser pensado como o local de retorno, o destino mais certo. Local para refazer-se das humilhações sofridas no mundo externo, expandir a agressividade reprimida, exercitar o autocontrole, repreender, vencer o outro, enfim, sentir-se parte integrante. (Maria do Socorro Ferreira Osterne)

RESUMO O presente ensaio monográfico refere-se à gravidez na adolescência e a percepção dos familiares sobre este fenômeno. Tem como objetivo geral Investigar o significado da gravidez da adolescente para seus familiares. Para esse objetivo ser alcançado, foram entrevistadas 5 (cinco) famílias que têm, no âmbito doméstico, adolescentes que estavam grávidas, ou que deram à luz recentemente, moradores do distrito de Missi - Irauçuba, usuárias do posto de saúde da família PSF dessa comunidade. Essa pesquisa é classificada como explicativa e quanti-qualitativa, utilizando entrevistas semiestruturadas para coleta de dados. A pesquisa tem como objetivos específicos: perceber quais as mudanças que ocorreram na relação familiar em razão desse fenômeno; identificar como se configuram os grupos familiares pesquisados; analisar as relações de hierarquia entre homens e mulheres no que se refere às questões de gênero no contexto familiar. Buscamos alcançar esses objetivos na pesquisa realizada e, com isso, alcançamos alguns resultados. Então, ao fim desse estudo, constatou-se que ocorreram algumas mudanças no âmbito familiar por conta da gestação, analisamos também que as famílias são configuradas como ampliadas e que ainda são estabelecidas hierarquias entre homens e mulheres no contexto familiar, notamos também que ainda existe um tabu ao se falar em sexualidade, principalmente para as adolescentes grávidas. Palavras-chave: gravidez na adolescência, família, gênero.

ABSTRACT This research refers to teenage pregnancy and the perception of family on this phenomenon. Its overall objective to investigate the influence of adolescents' pregnancy to their families. For this goal to be reached, were interviewed six (6) families who have under domestic adolescents who were pregnant or who gave birth recently, residents of the District of Missi - Irauçuba, users of this community health center. This research is classified as an explanatory and quantitative and qualitative, using semi - structured interviews for data collection. The research has the following objectives: to understand what changes have occurred in the family relationship because of this phenomenon; Identify how to set up family groups surveyed; analyze hierarchical relationships between men and women when it comes to gender issues in the family context. We seek to achieve these goals in the survey and thus achieve some results. So, after this study contacted some changes that occurred in the family on account of pregnancy, also analyzed families are configured as expanded and hierarchies between men and women are still set in the family context, we also note that there is still a taboo to talk about sexuality, especially for pregnant teens. Key-words: teenage pregnancy, family, gender.

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ECA Estatuto da Criança e do Adolescente FAC Faculdade Cearense HDGMM Hospital Distrital Gonzaga Mota de Messejana IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística PBF Programa Bolsa Família PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio PSF Posto de Saúde da família SINASC Sistema de informações sobre nascidos vivos SIS Síntese de Indicadores Sociais SUS Sistema Único de Saúde

SUMÁRIO SUMÁRIO... 13 INTRODUÇÃO... 14 1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: COMPREENDENDO GÊNERO, FAMÍLIA E GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA.... 18 1.1 Gênero: Relações de hierarquia entre homens e mulheres no contexto familiar.. 18 1.2 Família: um conceito plural... 24 1.3 Gravidez na adolescência... 29 2. COMPREENDENDO UM POUCO SOBRE A HISTÓRIA DA FAMÍLIA E SUAS MULTICIPLIDADES.... 39 2.1 Família e representações sociais.... 46 2.2 Um breve estudo sobre a família no Nordeste... 50 3. ADENTRANDO AO CAMPO: ENTREVISTANDO ADOLESCENTES GRÁVIDAS E SEUS FAMILIARES.... 53 3.1 Afinal de que família estamos falando?... 58 3.2 Como se expressam as relações de gênero entre os familiares... 62 3.3 E agora grávida? Entrevistando adolescentes grávidas e seus familiares... 67 3.4 Reações familiares ao descobrir a gravidez da adolescente: Foi raiva, que eu tive (...). Depois fiquei alegre.... 73 CONSIDERAÇÕES FINAIS... 78 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 81 APÊNDICES... 86 ANEXOS... 93

14 INTRODUÇÃO Considerando que a gravidez na adolescência é caracterizada como um fenômeno social e não apenas biológico, essa temática vem sendo discutida não apenas por profissionais da saúde, mas também por profissionais e estudantes da área social. A gravidez na adolescência pode acarretar algumas mudanças no âmbito familiar, social e econômico. Dessa forma, considerando que a adolescência é uma fase transitória 1 que apresenta modificações na vida dos sujeitos, discutir esse aspecto de adolescência será importante para compreendermos que existe uma dualidade na transição quando a adolescente engravida, pois ela está saindo da infância, para depois passar para a fase adulta e está se tornando mãe, além de filha. Vejo que ela ainda não tem nada não. Com essas palavras podemos notar que algumas vezes famílias e sociedade não consideram que a adolescente está formando uma família, buscaremos enfatizar esse aspecto nas falas dos sujeitos ao final do trabalho. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE, a gravidez na adolescência ainda é um fenômeno crescente na sociedade brasileira. No ano de 2009 cerca de 6% (seis por cento) da população da faixa etária de 15 a 17 anos tiveram filhos, sendo importante destacarmos que 40% das adolescentes eram do Nordeste 2. Podemos perceber que é relevante o número de adolescentes grávidas que são residentes no Estado que foi realizada esta pesquisa. Com esses dados, podemos dizer que a pesquisa apresentará contribuições sociais e profissionais, pois, como identificamos através dos dados citados a cima, a gravidez na adolescência ainda é um fenômeno frequente e que atinge diretamente a 1 Morin (2003) enfatiza que, na adolescência, o indivíduo está saindo da infância, porém, ainda não é considerado adulto. 2 Síntese de Indicadores Sociais (SIS), 2010. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/ populacao/condicaodevida/indicadoresminimos/sinteseindicsociais2010/sis_2010.pdf>. Acesso em: 05 dez. 2013. (SIS, 2010, p. 156). Informações do censo de 2010.

15 vida das adolescentes e dos seus familiares. Esse fenômeno engloba alguns fatores significativos para realização desta pesquisa, esses são as mudanças no contexto familiar, econômico e social, podendo contribuir para o aumento das expressões da questão social, tais como, a pobreza. A pesquisa teve algumas motivações para que fosse desenvolvida, a primeira delas foi a minha 3 experiência de estágio no Hospital Distrital Gonzaga Mota de Messejana HDGMM 4, no setor de Serviço Social. Ao realizar um ano e meio de estágio supervisionado nesta unidade de saúde, pude notar que a demanda por atendimento de adolescentes grávidas ou que já haviam tido filhos, era significativa. Por diversas vezes, essas adolescentes buscavam atendimento no setor de serviço social, ou as assistentes sociais eram solicitadas para acompanhar demandas das adolescentes nas enfermarias. Muitas vezes notei que as adolescentes não tinham muito apoio dos familiares, pois algumas passavam dias acompanhando seus filhos que estavam internados e ficavam sozinhas sem revezar com nenhum outro familiar. A princípio, tive o desejo de realizar a pesquisa de campo na unidade de saúde supracitada, porém, por conta de algumas dificuldades e da burocracia para conseguir fazer pesquisas na área da saúde, esse desejo foi tomando novas direções. Então, surgiu uma nova motivação de ter como campo de pesquisa o município de Irauçuba, do qual sou natural, mais especificamente no distrito de Missi. Como o distrito é pequeno, com cerca de 6.000 habitantes, conforme dados do Censo de 2010, pudemos observar que muitas adolescentes engravidavam e que a maioria continuava morando com a família. É importante destacar também que desde o começo da graduação despertei interesses em realizar minha pesquisa no meu local de residência, mas que por conta do estágio tinha sido modificado. Mas ao conversar com minha orientadora e ao relatar 3 Na introdução utilizarei em alguns momentos o singular, pois relato a minha justificativa pessoal. 4 O HDGMM é localizado na Av. Washington Soares, 7700, no bairro de Messejana, inscrito sob CNPJ 04885197/0003-06 e gerido atualmente pela rede municipal de saúde. Possui a missão de prestar assistência humanizada fundamentada nos princípios do Sistema Único de Saúde SUS, nas áreas da ginecologia, obstetrícia e pediatria.

16 minhas motivações para realizar o estudo sobre essa temática, ela me propôs que realizássemos a pesquisa com os familiares das adolescentes. E isso me despertou muito interesse. A partir desse momento definimos qual o objetivo da pesquisa e o campo em que ela seria realizada. Com isso, ficou definido que o campo de pesquisa seria o Distrito de Missi Irauçuba e que essas não seriam feitas com os seus familiares das adolescentes grávidas ou que haviam dado a luz recentemente, mas também com as próprias adolescentes, pois queríamos entender como todos eles vêm esse momento. Então, busquei uma forma de chegar a essas famílias, o primeiro contato foi através do Posto de Saúde da Família PSF Antônio Gaudêncio Braga, que disponibilizou uma listagem que continha informações sobre as adolescentes que estavam fazendo atendimentos de pré-natal e as que tinham dado à luz recentemente. Então, realizamos visitas nos domicílios dessas famílias e fizemos entrevistas semiestruturadas, após termos realizado as entrevistas fizemos as análises das falas dos sujeitos e, por fim, utilizamos das técnicas de análise de documento e análise de entrevista. O objetivo geral que norteou nossa pesquisa foi investigar o significado da gravidez da adolescente para seus familiares. Foi delineado esse objetivo com o intuito de alcançarmos as percepções dos familiares sobre a gravidez da adolescente, como eles percebem esse momento, se há alterações no contexto familiar, também buscamos compreender as relações de gênero das famílias e como elas se configuram. Diante disso, tivemos alguns questionamentos que nortearam essa pesquisa, os quais foram: que percepção essas famílias têm de gravidez na adolescência? Quais as mudanças foram percebidas após a descoberta da gravidez da adolescente por seus familiares? Como se configuram os grupos familiares pesquisados? Quais as relações de hierarquia e autoridade que se estabelecem entre homens e mulheres no que se refere às questões de gênero no âmbito familiar?

17 Essas perguntas nos nortearam na definição dos objetivos deste estudo, esses são: Investigar o significado da gravidez na adolescência para as adolescentes e seus familiares; Perceber quais as mudanças que ocorreram na relação familiar em razão desse fenômeno; identificar como se configuram os grupos familiares pesquisados; analisar as relações de hierarquia entre homens e mulheres no que se refere às questões de gênero no contexto familiar. No primeiro capítulo, destacamos as perspectivas teóricas com as quais iremos realizar análise sobre teorias de autores que contribuíram para formulação das categorias estudadas. Nesse capítulo, analisaremos as categorias: gravidez na adolescência, gênero e família. No segundo capítulo, procuramos compreender de maneira sucinta a história da família e as multiplicidades que essa categoria assume na atualidade, para isso, buscamos a contribuição de importantes autores. No terceiro capítulo, buscamos traçar o nosso percurso metodológico e analisar as informações coletadas na pesquisa de campo. Nesse capítulo, procuramos traçar uma ligação das falas dos sujeitos com as contribuições bibliográficas, assim, tentamos enaltecer as categorias e os objetivos que foram definidos no início do estudo.

18 1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: COMPREENDENDO GÊNERO, FAMÍLIA E GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA. 1.1 Gênero: Relações de hierarquia entre homens e mulheres no contexto familiar. Para entendermos a concepção da origem da palavra gênero e seus significados na sociedade, devemos recorrer a autores que discutem sobre a temática e a sua importância sócio-histórica. Matos (2008) revela que, em meados dos anos 60, o gênero surgiu como uma categoria analítica e foi nesse mesmo período que apareceram algumas construções teóricas sobre essa categoria. Segundo Alves (2012), esse foi um período de transformações. Tal reformulação ocorreu com o intuito de desconstruir a noção de sexo masculino e sexo feminino ancorada numa abordagem essencialista e biológica. Gênero enfatiza traços de construção histórica, social e, sobretudo, política (MATOS, 2008). Madeira e Costa (2012) afirmam que gênero é uma categoria que não trata apenas da diferença sexual, mas sim, da relação social entre mulheres e homens, entendendo como esses se constroem enquanto sujeitos sociais, como afirmamos acima. Tal categoria não se caracteriza apenas como analítica e descritiva, mas é também caracterizada como histórica. Louro (1997), ao afirmar que o gênero institui a identidade do sujeito (assim como a etnia, a classe, ou a nacionalidade, por exemplo), referiu-se, portanto, a algo que supera o mero desempenho de papéis, a ideia é perceber o gênero como cultural, sua identidade depende de classe, raça-etnia, sexualidade, constituindo o sujeito como brasileiro, negro, homem etc. Para o autor a cima o conceito de gênero passa a ser usado, então, como forte apelo relacional já que é no âmbito das relações sociais que se constroem os gêneros (p. 22).

19 Na medida em que o conceito de gênero vai afirmando o caráter social do feminino e do masculino, esses terão que levar em consideração cada sociedade e cada momento histórico de que está sendo tratado. Assim, precisaremos entender o masculino e o feminino, a partir do conceito de gênero e pensar de maneira plural nas representações entre homens e mulheres, sempre lembrando que elas são diversas (LOURO, 1997). É importante destacarmos a sexualidade, pois essa aparece como um ponto fundamental para conseguirmos compreender as construções de identidades de homens e mulheres, como algo essencial para se construir relações de poder que são estabelecidas por discursos de ordens hierárquicas (LUCENA, 2012). De acordo com Lucena (2012), as conquistas dos estudos e lutas feministas geraram impactos nos discursos e nas relações de poder existentes na sociedade, até mesmo na forma como os sujeitos compreendiam gênero. As estudiosas de gênero também atentaram para o fato de que ser mulher e ser homem é caracterizado como um fenômeno cultural, pois não se nasce homem ou mulher, mas torna-se culturalmente. A autora destaca que é importante levar em consideração o biológico, porém, gênero é uma construção social de relações de poder. Ainda utilizando as contribuições da autora supracitada, podemos dizer que as divisões de papéis sociais se tornam suscetíveis a questionamentos na sociedade contemporânea. Lucena (2012) afirma que essa divisão de papéis sociais foi construída historicamente e reservou à mulher o espaço privado e ao homem o espaço público. Nos dias atuais, essas divisões são mais questionadas por conta das transformações recorrentes na modernidade e também pelas conquistas da revolução sexual que começou a adquirir novos contornos na década de 1950 e se firmou mais fortemente no início dos anos 1960. No Brasil, desde os anos 1980, o conceito de gênero tem sido trabalhado e concebido como um avanço teórico importante em relação aos estudos sobre mulheres

20 e gênero. Esse impulso dos movimentos feministas e de mulheres no Brasil tem uma visibilidade grande na década de 1980, multiplicando os estudos no âmbito universitário sobre o assunto. Ao mesmo tempo em que se torna evidente a crescente preocupação em orientar pesquisas e discussões com aproximações teóricas desenvolvidas a partir do conceito de gênero, esse passa por um processo de desconstrução, na produção de algumas teorias de gênero que chega a questionar sua viabilidade como ferramenta útil para análise (PISCITELLI, 1997). Segundo Osterne (2001), a palavra gênero em si, começou a ser estudada no Brasil nos anos de 1970 e era utilizado para refletir as diferenciações sexuais. Segundo a autora, as feministas americanas foram as primeiras a utilizar esse termo com a intenção de caráter social e das diferenciações feitas baseadas nos sexos. Com isso, podemos dizer que as relações de gênero, não são consequências da existência de dois sexos, macho e fêmea. Os indivíduos transformam-se em homens e mulheres por intermédio das representações sociais e pelas relações de poder criadas culturalmente, por isso, repercutem diretamente nas relações entre homens e mulheres. Para Osterne: O feminismo, em seus desafios e exigência de transgressão dessa ordem de prevalência do masculino, num primeiro momento, bradou pela igualdade entre os sexos e fez eco nos mais diversos recantos do Planeta. De fato, abriram-se às mulheres possibilidades existenciais nunca antes imaginadas. Aprofundaram-se as inquietações sobre a relação entre os sexos. (OSTERNE, 2001, p. 121) Agora adentraremos nas discussões sobre as diferenciações sexuais, segundo Alves (2012), a teoria do patriarcado foca na desigualdade entre homens e mulheres, afirmando que a subordinação do feminino é explicada pelo fato da necessidade do macho dominar o sexo oposto (p. 19). Osterne (2001) faz uma contextualização sobre a dominação patriarcal e nesse contexto explica a origem da autoridade do patriarca. Segundo a autora mencionada, essa é apresentada através de um domínio que ocorre no interior do próprio âmbito doméstico. Nessa autoridade, o que irá garantir e fazer legitimar as ordens do senhor é a submissão realizada frente às normas traçadas por esse.

21 Gênero como uma construção social entre homens e mulheres, segundo Osterne (2001), é um dos campos onde a hierarquia e os poderes se manifestam e se articulam. Além do mais, mesmo reconhecendo que na maioria das sociedades tenha prevalecido a dominação masculina, ainda que em graus diferenciados, a subalternidade feminina não será compreendida como ausência absoluta de poder, mas como algo que se expressa em um dos polos da relação de dominação, não obstante, em grandezas desiguais. Alves (2012) nos explica essa diferenciação e para isso cita Foucault, a autora ressalta que existem dois polos de poder. Esses perpassam nas relações de poder e podem se formar de maneira desigual na relação entre os sexos. O poder circula entre as relações e funciona como uma rede dispositiva que se exerce através de técnicas e tática. Assim, temos a dominação masculina, essa é tida como algo que se inscreve na ordem das coisas, no mundo social e incorporado no habitus: A dominação pode ressaltar em motivos de submissão, dependo de uma multiplicidade de interesses ou vantagens utilitárias por parte de quem comanda e inconvenientes do lado daqueles que obedecem. Pode ainda decorrente de simples costume, do hábito cego de um comportamento inveterado. Por ultimo, poderá alicerçar-se no mais puro sentimento de afeto ou na simples inclinação pessoal do súdito. Estas seriam, portanto, em forma totalmente pura, as bases legitimada de dominação. (OSTERNE, 2001, p. 134). Osterne (2001) explica os tipos de dominação masculina conforme Weber. Segundo a autora a primeira dominação legal é exercida em função da obediência às regras instituídas pela sociedade. A segunda é a dominação tradicional do modelo do senhor que ordena e tem legitimidade, é a dominação do tipo patriarcal, do pai de família do chefe de parentela ou do soberano; e a terceira, a dominação carismática, se dá por motivos de devoção afetiva, revelação ou heroísmo. Assim, os problemas, como afirma Scavone (2008), relacionados ao trabalho, à saúde, à política, à educação, à família, à religião, às ciências, à cultura, à identidade ao corpo, às tecnologias produtivas e reprodutivas, e à sexualidade passaram a ser

22 tratados com o olhar de gênero e deram visibilidade à relação de poder e de dominação. Osterne (2001) traz um ponto importante na questão da dominação e poder, ela apresenta que, no âmbito familiar, existem manifestações que mostram o poder da dominação. A autora realizou esse estudo no contexto das famílias que vivem nos limites da condição de pobreza, sendo essas manifestações que aparecem nas relações de gênero, as quais, em princípios, estejam ainda em grande parte concentradas na condição masculina. No Brasil, para a construção social da masculinidade, no que se refere à articulação com as questões do poder, é conveniente ter a família patriarcal como ponto de partida, sendo essa família patriarcal notada como um modelo dominante de constituição social e política no período colonial. Nessas famílias, o homem era o dono absoluto da mulher, dos filhos e dos escravos, assim sendo construído que o homem era o dono da mulher, da casa e assumia um papel de fiscal dos filhos, assim, o machismo assumia um papel social. Podemos dizer que, mesmo na atualidade, ainda é naturalizada a submissão feminina, e isso se deve a uma carga de opressão sofrida pela mulher ao longo da história. As mulheres, por longos anos foram multiladas em seus desejos, censuradas e subjugadas. É a cultura machista que envia e mantém a Amélia na cozinha, a bruxa na fogueira, a louca na prisão e a puta no caixão, todas em seus devidos lugares e com as suas pestes (LEAL, 2012). Para Boris et al (2012), hoje, alguns homens já não se reconhecem no modelo patriarcal de macho, porém, ainda não incorporaram novos princípios para que se mantenham confortáveis nesse contexto. O autor completa que é gerado um mal estar nos homens, por conta das transformações que vem passando as relações socioculturais. Na atualidade, podemos perceber como uma crise da masculinidade

23 uma reação de regresso de violência reprimida, sendo realizadas especialmente contra as mulheres e os filhos. Muitas vezes o comportamento machista entre jovens é favorecido não apenas pelo pai e por outros homens mais velhos, mas, também, por seus pares e até mesmo por suas próprias mães, pois elas mantêm em grande parte, o papel sociocultural de primeiras formadoras da subjetividade de futuros machos que elas geraram (BORIS et al, 2012). Sem dúvidas as mulheres tiveram grandes conquistas, como a igualdade de votos, de cargos políticos, de cargos públicos, de empregos formais, porém, não de salários iguais. É notório que, na atualidade, ainda existe uma diferença de salário entre mulher e homem, mesmo com os avanços do sexo considerado frágil na conquista de cargos denominados masculinos. Para Loyola (1998), na sociedade, existe uma dominação dos homens sobre as mulheres em que se exercem formas particulares de violência, como a ideológica, a social e material dos homens sobre as mulheres. Segundo a autora, a dominação masculina é destinada a diminuir a importância social das mulheres. Segundo Scavone: [...] Tornar transparente as implicações sociais e políticas de um progresso que se esconde, em sua promessa de perfeição, uma sociedade sexista (além disso, racista e classista) seria um dos objetivos da sociologia feminista. Essa sociologia estaria contribuindo para a construção de novos conhecimentos científicos para a sociedade abrindo caminhos para a prática de liberdade. (SCAVONE, 2008, p. 183) Poderíamos aqui acrescentar a revolução da pílula anticoncepcional e a inseminação artificial, mas o que queremos relatar é a mudança ocorrida na família em relação à dependência da mulher. Nesse momento, podemos apontar o divórcio e o crescente número de famílias monoparentais, mostrando a independência da mulher e a força que a categoria criou entre si na defesa dos seus direitos.

24 O que fica hoje é a mulher que luta, batalha e que além de tudo, muitas vezes é mãe. Esta mulher está buscando atingir seu objetivo de liberdade, de não sofrer mais opressão e preconceitos machistas. Osterne (2001) afirma que apesar dos avanços conquistados pelas mulheres nos espaços públicos e de uma divisão de papel mais igualitária no espaço doméstico, a mulher ainda é a principal responsável pelos cuidados com a casa, tarefas domésticas e com o cuidado dos filhos. Isso ocorre devido à ideologia patriarcal que continua enraizada nos costumes de muitos, por isso, os homens tem dificuldade de assimilar e realizar funções no âmbito doméstico que são culturalmente denominadas como atividades para mulheres. 1.2 Família: um conceito plural Neste tópico, pretendemos estudar alguns conceitos sobre família na concepção de diferentes teóricos, a fim de compreendermos a pluralidade dessa categoria na perspectiva de diferentes autores nos dias atuais. Sabemos que existe um modelo de família no Brasil, que é pai, mãe e filhos, mas nosso objetivo é desnaturalizar essa concepção. Pretendemos também situar historicamente a família para compreendê-la como uma instituição social que pode se modificar segundo a sociedade em que ela está inserida Casey (1992) traz discussões sobre a história da família e cita a concepção desta como instituição. O autor diz que estudar a família acarreta algumas dificuldades para realização desta interpretação, por isso, a sua análise não seria tão fácil. Então, aponta que: [...] Se não se trata de uma instituição (por exemplo, a família nuclear), os contornos podem ser tão exasperadamente vagos que passam a desafiar qualquer exame (CASEY, 1992, p. 15). Silvia (1982) também apresenta a definição de família como uma instituição na sociedade. Para a autora formular essa definição, ela realizou um estudo inicialmente

25 da categoria instituição, só após essa concepção realizada é que ela faz a ligação entre as duas categorias de estudo, ou seja, a família e a instituição. Segundo Silvia (1982), a instituição é caracterizada por um grupo em particular que compartilhar algumas ações atribuídas historicamente para os indivíduos que a compõem, essa também existirá para impor controle sobre as ações que são desenvolvidas por determinados grupos. Conforme a autora: [...] As instituições se caracterizam por sua natureza superestrutural (...) como se existissem independentemente dos indivíduos que as corporificam em determinado momento. (...) A família, instituição aparentemente natural e defendida como tal (...), é fruto da história humana, sujeita, portanto, às determinações dessa história. (SILVA, 1982, p. 41, 42) Podemos assinalar que a família não existiu sempre, assim, dizemos que ela não foi tida como uma instituição desde sua formação. Entretanto, nas relações entre os indivíduos, ela é percebida como uma instituição formada naturalmente, em outras palavras, as ações realizadas por este grupo se tornam parte do cotidiano. Percebemos através de algumas leituras que esta instituição é construto definido pela história e através de algumas formações sociais. Segundo estes autores, a família age como uma instituição que guiará os atos de seus integrantes e definirá algumas relações familiares, assim, assume um papel na sociedade de reprodução biológica e social dos seus membros. Explica Durham: [...] a família deve ser definida como instituição, no sentido de Malinowski, isto é, em sua referência a um grupo social concreto, que existe como tal na representação de seus membros, o qual é organizado em função da reprodução (biológica e social) pela manipulação, de um lado, dos princípios formais de aliança, da descendência e da consanguinidade e, de outro, das práticas substantivas da divisão sexual do trabalho. (DURHAM, 2004, p. 337, 338) Podem ser atribuídas muitas definições para explicar a família e, entre essas, está o conceito de família enquanto grupo. Seguindo o pensamento de Durham (2004), as famílias podem se adaptar a grupos com estruturas diferenciadas, pois se unem por um tipo de aliança, mas também por uma forma de parentesco. Dessa forma, a

26 autora nos explica o significado de família enquanto grupo: [...] Famílias enquanto grupos são constituídas por pessoas que mantêm entre si relações de aliança, descendência e consanguinidade, mas não são necessariamente unidades básicas de parentesco. (p. 338). Visto que a família é um grupo que pode ser determinado por alguns tipos de relações sejam elas de parentesco, de reprodução biológica, reprodução social e de laços fraternos, não podemos determiná-la apenas como uma mera unidade de parentesco, mas, sim, como um grupo social que pode ser configurado de maneiras diferenciadas. A fim de percebermos estudos sobre a categoria família, recorremos a teorias que podem atribuir significados concedidos por alguns teóricos historiadores. Para Casey (1992), os historiadores se motivaram a estudar a família no âmbito do lar. Segundo o autor, esse estudo tinha por base espaços mais delimitados, pois esses poderiam ser medidos. [...] A história da família se associa à demografia histórica; nos seus melhores momentos [...] (p. 15). Contudo, é importante resaltarmos que este tipo de concepção não será utilizado neste trabalho, já que, segundo outros autores aqui já citados, a família é mais ampla que um espaço demograficamente medido. Por isso, optaremos pela família construída historicamente e que pode ser modificada segundo a sociedade em que ela está inserida. Outra disciplina que estuda os significados atribuídos à família é a Antropologia e seus estudos etnográficos, essa disciplina percebia a família como um grupo que pode ser estabelecido pelo parentesco. Segundo Bruschini (2000), para a antropologia a família assume um papel de divisora social do trabalho e é constituída como um grupo de consumo, por isso, ela não aparece apenas no âmbito familiar, mas se expande na sociedade. Nas palavras da autora, a família é um grupo de procriação e de consumo, lugar privilegiado onde incide a divisão sexual do trabalho (p. 61).

27 Szymanski (2002) apresenta um estudo sobre a família contemporânea em que nos traz o entendimento de família para a psicologia. Segundo ela, a teoria desde os estudos de Freud faz uma concepção de família muito parecida com a família nuclear burguesa. A autora relata que a família: [...] têm aparecido como referencial explicativo para o desenvolvimento emocional posteriormente produtor de pessoas saudáveis, emocionalmente estáveis, felizes e equilibradas, ou como núcleo gerador de inseguranças, desequilíbrios e toda sorte de desvios de comportamento. (SZYMANSKI, 2002, p. 23) A psicologia faz uma análise da família como fundamental para o desenvolvimento das emoções dos indivíduos, sejam elas de alegria ou tristeza, podendo desenvolver através destas emoções um estado de saúde ou de doença fisicamente e psicologicamente. Dessa forma, pode-se perceber algumas mudanças no núcleo dependendo da situação que os membros estão vivenciando. Segundo Bruschini (2000), a família não pode ser apontada como uma instituição natural, por isso, pode assumir formas de grupos sociais heterogêneos. Assim, esses grupos irão desempenhar algumas funções na sociedade, podendo a família ser identificada como um grupo construído culturamente e que assume configurações diversificadas. Para a mesma autora, essa também pode ser vista como unidades, podendo ser percebidas em algumas configurações na sociedade através da formação entre pai, mãe e filhos e que o casamento é uma das maneiras de formação da família. Durham (2004) traz algumas denominações sobre família e, entre elas, o autor diz que família pode ser identificada como uma unidade social concreta, então, ele nos apresenta essa definição: [...] famílias aquelas capazes de articular relações de consanguinidade, afinidade e descendência em núcleos de reprodução social. (p. 338). Relatando sobre o casamento, Casey (1992) fala do casamento arranjado e formador de famílias. Segundo este autor, a igreja impôs o casamento como um evento

28 formador desta unidade. Ele diz que a Igreja Católica criou o casamento para que alguns tipos de relações fossem evitados, por exemplo, o namoro entre parentes. Outra instituição que teve papel fundamental para constituição do casamento foi à medicina. Costa (1989) explica que, no período colonial, os casamentos eram realizados apenas por conta de interesses familiares. Então, o casamento ao longo do tempo também foi constituído como uma instituição higiênica, nessa união, o compromisso do casal era com os filhos. Dessa forma, eram instituídas algumas regras de higiene para serem realizadas pelo casal e pelos filhos. Procuraremos compreender melhor a antropologia dialética que mostra uma visão da família através da teoria crítica e não aponta a família apenas como um grupo socializador dos indivíduos e uma instituição que define ações. Assim, Canevacci (1984), adentra em uma discussão sobre a dialética da família e defende que essa assume um papel de produtora e reprodutora econômica e dos interesses do capital. Conforme o autor: [...] a antropologia dialética deve relacionar a estrutura repressiva e reprodutora do consenso, que é a família atual, verdadeira agência repressiva da naturalidade e da sociedade do homem e da mulher, com a estrutura autoritária do sistema econômico: e antes de mais nada, de modo concreto, com o local de produção. (CANEVACCI, 1984, p. 44). Percebemos que a categoria família apresenta uma diversidade de concepções para teorias diversificadas e que vários modelos foram estabelecidos desde a sua formação social. Szymanski (2002) traz de maneira sucinta alguns tipos de composição a que a família foi adaptada no decorrer de sua formação. Dessa forma, cita algumas composições, se utilizando da produção de Kaslow em seu artigo: 1) família nuclear, incluindo duas gerações, com filhos biológicos; 2) famílias extensas, incluindo três ou quatro gerações; 3) famílias adotivas temporárias (Foster); 4) famílias adotivas, que podem ser bi-raciais ou multiculturais; 5) casais; 6) famílias monoparentais, chefiadas por pai ou mãe; 7) casais homossexuais com ou sem crianças; 8) famílias reconstituídas depois do divorcio; 9) Várias pessoas vivendo juntas, sem laços legais, mas com forte compromisso mútuo. (KASLOW, 2001 apud SZYMANSKI, 2002, p.10).

29 Neste trabalho não temos a ambição de buscar o significado de cada uma dessas concepções de família, até mesmo porque esse não é o principal objetivo deste estudo. Contudo é importante citarmos algumas definições sobre a categoria família para conseguirmos compreender que todas as formas de famílias contribuíram para a realização desta pesquisa, mesmo porque nosso objetivo não é encaixar as famílias em um modelo. Portanto, a família possui multiplicidades de formas que se adaptam à formação histórica e cultural. Assim nos apresenta Szymanski: O mundo familiar mostra-se numa vibrante variedade de formas de organização, com crenças, valores e práticas desenvolvidas na busca de soluções para as vicissitudes que a vida vai trazendo. Desconsiderar isso é ter a vã pretensão de colocar essa multiplicidade de manifestações sob a camisade-força de uma única forma de emocionar, interpretar, comunicar. (SZYMANSKI, 2002, p. 27). Diante desta citação, podemos trazer para este trabalho que a família não pode ser definida apenas como uma maneira de ser e viver, mas sim com vários significados e formas, ou seja, como um conceito plural que deve ser construído diariamente, e que alguns estudos não conseguiram compreender de uma forma plural o sentido de família e suas representações. 1.3 Gravidez na adolescência Neste trabalho buscaremos estudar o significado da gravidez na adolescente para os seus familiares e da adolescente que está grávida. Para isso, precisamos nos aproximar de produções teóricas sobre as categorias gravidez na adolescência, gênero e família, que se entrelaçam e nos proporcionam uma compreensão maior do fenômeno estudado.

30 Diante disso, é primordial discutirmos sobre o que é definido como adolescência. No Brasil, com os adventos do Estatuto da Criança e do Adolescente ECA (2006) 5, é exposto uma definição para esta fase do indivíduo. Segundo o ECA, o adolescente é caracterizado a partir dos doze anos e vai até os dezoito anos incompletos. Nesta pesquisa, veremos algumas descrições apresentadas para essa idade, mas é necessário destacarmos que utilizamos a idade estabelecida por este Estatuto para definirmos o período caracterizado como adolescência. Podemos apresentar a definição de adolescência através da obra de Àries (1978). Segundo o autor, a adolescência é caracterizada como o período da terceira idade, sendo que o primeiro período é a infância, o segundo a pueritia 6, a adolescência vem logo após a pueritia que perdura até os 14 anos. Segundo esse autor, a adolescência pode ocorrer até os 35 anos, é importante destacarmos que essa definição foi apresentada no período da idade média. Para Áries, a fase é chamada de adolescência, pois o indivíduo já possui a capacidade de procriação e não é mais caracterizado como criança (ÁRIES, 1978). Acerca do assunto, Peres e Rosemburg (1998) apresentam uma visão diferenciada, afirmam que essa é uma fase do desenvolvimento e que todos os indivíduos passam. É a mudança entre a infância e a idade adulta. Para os autores, esta fase é vivenciada entre os dez e vinte anos, logo, significa que essa poderá ser uma transição que levará a maturidade. Outra forma de relatar a adolescência é discutindo sua concepção na visão sócio-histórica. Para Kahhale (2003), a adolescência foi construída historicamente, dessa forma, essa fase não pode ser tida apenas como uma transição natural do desenvolvimento humano, pois é também construída culturalmente. Portanto, deverá ter suas características de acordo com o momento histórico da sua constituição. Algumas marcas que a sociedade destacou para definir este momento foram às mudanças no 5 BRASIL. Estatuto da criança e do adolescente. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 1996. 6 Segundo o dicionário dict.cc pueritia significa: infância. Disponível em: <http://browse.dict.cc/latinenglish/pueritia.html>. Acesso 07 jan. 2013.

31 corpo e no desenvolvimento cognitivo desses indivíduos. Esta autora salienta que as características fisiológicas não são tomadas como tal, porém, são caracterizadas de acordo com a cultura de um determinado grupo social. Para Morin (2003), a adolescência é uma fase em que o indivíduo sai da infância, porém, ainda não pode ser visto como adulto, podendo passar por períodos confusos, pois existem algumas indeterminações para suas atividades. Assim, o adolescente pode se sentir inseguro ao realizar atividades, pois não deve agir como criança, ter atitudes de crianças, mas também não é adulto para realizar as atividades que os adultos realizam. Por isso, nesse período da vida do ser humano, o adolescente passa por alguns conflitos de identidade, pois o indivíduo não é mais cuidado como criança, mas também não pode ter a autonomia de um adulto. Nas palavras do autor: [...] só pode haver adolescência onde o mecanismo de iniciação, transformando a criança em adulto, se deslocou ou decompôs-se, e onde se desenvolveu uma zona de cultura e de vida que não está engajada, integrada na ordem social adulta. (MORIN, 2003, p. 137). Calligaris (2000) relata que esses passam pela fase da moratória, em que o adolescente vive um período de, mais ou menos, 12 anos aprendendo com os adultos sobre a cultura e também referente ao que devem ou não fazer. Para o autor citado acima, os adolescentes começam a apreender que devem seguir dois campos: o do reconhecimento e o da felicidade. O primeiro campo está ligado principalmente ao reconhecimento por outros indivíduos. Dessa forma, os adolescentes assimilam que devem alcançar o poder seja no campo amoroso, sexual, produtivo, financeiro e social. No segundo campo, o da felicidade, é transferido para os jovens que eles devem se mostrar felizes em todos os quesitos, apresentados anteriormente, para que possam também ser reconhecidos. É necessário ser desejável e invejável (p. 15).

32 Levando as considerações para o sexo feminino, podemos dizer que a adolescente, quando engravida nessa fase, pode estar buscando um reconhecimento como adulta, pois, para ela a sociedade poderá notá-la como uma pessoa que deixou de ser criança e que deverá ter responsabilidades, assim, perceber-se como uma adulta, ou seja, ela terá uma identidade. Outro fator que pode levar a esse fenômeno é a questão da sexualidade. Segundo Calligares (2000), o corpo do adolescente se torna mais desejável, mas também começa a desejar outros corpos. Esses adolescentes podem se permitir fazer coisas diferentes tais como [...] amar, copular e gozar (p. 15). Sendo destacados esses aspectos, podemos adentrar nas discussões sobre a gravidez na adolescência. Segundo Bocardi (2003), ser gestante na adolescência é diferente da vivência desse momento em uma idade mais madura, pois a adolescente ainda está em um momento transitório da sua formação, como já foi destacado neste texto. Por isso, é importante percebermos esta etapa para além do referencial da anatomia e fisiologia. Nas palavras de Bocardi (2003): É preciso entre outras referências, considerar que a discussão envolve aspectos socioculturais que influenciam o seu encaminhamento. (p.11) Com a contribuição de Bocardi (2003), notamos que a gravidez na adolescência não envolve apenas aspectos biológicos, mas também culturais e sociais. Na atualidade, percebemos algumas mudanças na independência feminina em várias áreas, econômica, social, cultural etc. Conforme Conger (1979), as adolescentes atualmente tem maior liberdade no que tange às relações sexuais, ao uso das pílulas anticoncepcionais e ao acesso a outros meios de contracepção. Dessa forma, podendo evitar a gravidez, buscando primeiro seus objetivos culturais, sociais e econômicos. Maldonado (2000) traz uma explicação sobre a gravidez através de aspectos psicológicos. Esta autora apresenta três períodos de transição biológicas da mulher, segundo ela, esses períodos são relevantes para o desenvolvimento das fases que