DEFENDER A CIVILIZAÇÃO E O BEM COMUM



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Transcrição:

DEFENDER A CIVILIZAÇÃO E O BEM COMUM 1 Que políticas para defender a Civilização e o bem comum? Para saber o que fazer, temos de saber o que queremos. Por esta razão, a luta política pela transformação de Portugal, a luta pelo bem comum, tem de começar pelo debate das ideias. A nossa justiça não funciona, arrasta-se anos em recursos sucessivos, favorecendo os poderosos e prejudicando os indefesos. O enredo das leis, encomendadas a interesseiros escritórios de advogados, protege a criminalidade financeira, a corrupção e o tráfico de influências. A nossa educação rebenta pelo amoralismo. No sistema de ensino impera a ignorância, o pedagogismo, a indisciplina e o facilitismo, não interessando o saber mas sim o canudo. A nossa economia afunda-se. Estamos dependentes da ditadura dos mercados financeiros. São estes mercados que nos ditam a política, que nos governam e que nos emprestam dinheiro com usura. Com esta política, Portugal não sairá da crise profunda em que se encontra. Temos sido governados pelos mesmos políticos que, em tempos, por ordem de outros «mercados», nos davam subsídios para extinguirmos a agricultura e as pescas. 1

A mensagem dos partidos está esgotada. Mesmo de todos! O mesmo sucederá com outros que, tentando aproveitar o descontentamento, possam vir a surgir com linguagem demagógica e sem programa concreto. E alguns, apesar do colapso do sistema político mundial associado ao marxismo, persistem em defender princípios contra a natureza humana, e também não são a solução. Pretendemos aqui contribuir para a clarificação de ideias que tragam a esperança de uma nova ordem ao serviço do bem comum e da Civilização. 2 As classes sociais actuais Vivem em Portugal cerca de 10 milhões e meio de portugueses distribuídos por agregados familiares em número próximo dos 4 milhões. São cerca de 5 milhões e meio de portugueses aqueles que correspondem à população activa. Classe baixa. São mais de 2 milhões de portugueses, constituindo mais de 800 mil famílias. Vivem com um rendimento mensal inferior a 500 euros. Classe média. É constituída por 75% da população, formando cerca de 3 milhões de famílias. Os seus rendimentos situam-se entre 500 e 5000 euros mensais. Podemos subdividir a classe média em três grupos: a classe média baixa, englobando cerca de 40% da população e com rendimentos entre 500 e 1100 euros mensais; a classe média intermédia, englobando cerca de 25% da população e com rendimentos entre 1100 e 2250 euros mensais; e a classe média alta, englobando 10% da população e com rendimentos entre 2250 e 5000 euros mensais. Classe alta. É constituída por 5% da população, cerca de 500 mil portugueses, formando aproximadamente de 180 mil famílias. Têm rendimentos superiores a 5 mil euros mensais. Entre eles, encontra-se a reduzida minoria de gestores públicos e similares, auferindo ordenados escandalosos, por vezes atingindo 50 vezes o salário médio dos portugueses. 3 A ameaça de ruptura social Um elevado número de jovens da classe média e com formação superior vive com dificuldades económicas e de emprego e insatisfação relativamente ao sistema político e social vigente, especialmente em relação à classe política. É uma parte destes jovens que promove ou participa nos movimentos de contestação. A actual situação da economia não serve os Portugueses. Portugal é hoje extremamente dependente do exterior. E quanto maior for a dependência, maiores serão os desequilíbrios, maior será a insustentabilidade da economia e maior será o desemprego. Esta 2

economia serve apenas os interesses de uns quantos estrangeiros e seus agentes locais, que só vivem de avenças e de negociatas e lucram com a nossa dependência. Ao longo da História existem vários exemplos de mudança social violenta, tudo sendo posto em causa e nada ficando como dantes. Na situação actual, com as classes média e baixa em crise, existe o risco de ocorrer um grave conflito social e uma ruptura. A classe média tem cultura e saberes próprios que poderá colocar ao serviço desse movimento conducente à ruptura. Mas, não havendo um programa político claro, a situação torna-se favorável a aventureiros e a novos oportunistas, e o futuro será sempre uma incógnita, podendo cair-se na anarquia ou repetir-se o ciclo da corrupção. É essencial um programa realista concretizado por gente séria. Para diminuir a sua dependência com o exterior, Portugal tem de promover a produção nacional: tem de investir nas actividades agrícolas e agro-industriais viáveis, tem de investir nas actividades do mar, pescas, indústria conserveira, indústria naval, etc. Sem promover a produção nacional não há país viável nem independência. Perde-se a dignidade do Estado e, com esta, a do cidadão. A transformação da sociedade só é possível com o apoio da maioria dos Portugueses. Nesta luta pelo bem comum, não devemos temer o difícil. Tudo depende, em primeiro lugar, de nós. E só depois do exterior. Qualquer mudança social num País é devida sobretudo às causas internas, apesar de causas externas influenciarem as internas. O momento que vivemos é decisivo para Portugal, para a Europa e para a Civilização. Os erros acumulados ao longo de decénios conduziram-nos a esta profunda crise moral e económica. Iremos continuar no mesmo caminho e cair no abismo? 4 A Civilização e os seus valores Civilização designa toda a herança cultural de determinado povo, conjunto de povos ou nações, tendo em comum um conjunto de valores religiosos, normas morais e sociais, padrões estéticos e níveis científicos e técnicos. A primeira fonte de referências para a nossa vida é a Civilização em que nascemos e somos educados. A Civilização ocidental, à qual pertencemos, está alicerçada em valores éticos inspirados no cristianismo. Entre os defensores da nossa Civilização e dos seus valores, à parte os valores religiosos, encontram-se tanto pessoas abraçando a fé cristã como aquelas que a não possuem, reconhecendo estas, no entanto, a importância que o cristianismo desempenhou na génese da Civilização e desempenha hoje na educação moral dos povos. 3

5 Aceitar a realidade da natureza humana Mascarar a realidade da natureza humana faz parte das doutrinas igualitaristas e «politicamente correctas» com que os políticos oportunistas embebedam as massas para lhes extorquir o seu voto. Os resultados práticos dessas doutrinas têm sido desastrosos. Porque a realidade é outra. Entre os homens, é normal e natural a desigualdade intelectual e física. Isso é devido, por um lado, às suas características genéticas, diferenças inatas de inteligência, de capacidade e de vontade, etc., e, por outro lado, ao meio social, que também influencia as capacidades individuais e a formação da personalidade. Na sociedade, a hierarquia entre os homens é natural e indispensável à organização social: na política, na economia, na justiça, na defesa, na segurança, na educação, nos desportos em qualquer actividade. O homem defende naturalmente a sua família e seus bens mas a ética aponta o predomínio do bem comum sobre os interesses individuais. A contradição entre os interesses individuais e o bem comum foi e será sempre a grande questão social. Compete às pessoas de bem salvaguardar a supremacia da ética sobre o egoísmo. 6 A família célula fundamental da sociedade A família natural é a célula fundamental da sociedade e só a união entre um homem e uma mulher é que dá continuidade à espécie humana. Só a família natural, nascida da união entre o homem e a mulher, pode e deve em condições normais educar os filhos e criar laços afectivos naturais. Mas a instituição familiar é agressivamente fustigada e confrontada com as chamadas «outras formas de família», contra a ordem natural, e que têm conduzido à desagregação da célula fundamental da sociedade. 7 O povo português e a sua identidade Portugal é uma Nação com 900 anos, com grandezas na sua História que muito nos devem orgulhar. Os portugueses têm de preservar a sua identidade nacional, a sua cultura, os seus costumes, a sua língua. A integração de Portugal na comunidade internacional não pode servir de pretexto para apagar a nossa identidade. A identidade portuguesa é fruto da nossa história. Deve ser reconhecida a importância do cristianismo como matriz da Civi- 4

lização de que Portugal faz parte integrante e espalhou pelo mundo. Deve ainda ser reconhecido o seu papel de sempre na educação do povo, assim como a primazia dos seus valores éticos sobre quaisquer outros, até excluindo os religiosos, aqui não considerados. 8 A ética como base da Civilização e da sociedade A Civilização ocidental assenta na ética cristã. Os seus princípios derivam dos Dez Mandamentos. A ética é um conjunto de valores que guiam e orientam as relações humanas. Os valores fundamentais da ética o respeito, a responsabilidade, a fidelidade, a verdade e a bondade são universais, válidos para todas as pessoas, e perenes. Os valores éticos devem estar presentes na nossa vida. Ética na nossa conduta pessoal e nas relações interpessoais. Ética na defesa da vida desde a sua concepção até à morte natural. Ética na justiça. A justiça tem de ser igual para todos. Não pode ser forte para os fracos e fraca para os fortes. Não podem existir dois pesos e duas medidas. Ética na educação. O ensino deve visar a qualificação técnica, cultural e moral dos jovens, formando as futuras elites e proporcionando a todos os jovens uma ferramenta para a vida. Educar implica autoridade do educador e obediência do educando. A educação tem de ser de qualidade em todos os ramos, a todos os níveis e para todos os jovens, independentemente das capacidades de cada um. No ensino, deve vigorar uma pedagogia natural e realista, tendo em conta as desigualdades da natureza humana. Ética na fiscalidade. Para atender ao bem comum e socorrer os incapazes mas sem ser rapinante. Ética na distribuição da riqueza. Sem cair no igualitarismo, gerador de imobilidade, de preguiça e de improdutividade, nem na injustiça, geradora de miséria e revolta. Ética na política. Para garantir o bem comum com o controlo dos cidadãos sobre a classe política, favorecendo a estabilidade, minorando as possibilidades de ascensão dos demagogos e aventureiros e constituindo um obstáculo eficaz à corrupção. 9 O Estado ao serviço do bem comum e dos valores da Civilização Nos últimos decénios, o Estado português tem frequentemente sido dirigido por políticos corruptos, que o roubaram em grande escala, uns «respeitando a lei», outros não, e nos conduziram à situação que vivemos. Ao invés do que tem acontecido, o Estado português deve ser dirigido por gente séria e assumir-se clara- 5

mente como protector da Civilização, da Nação e do bem comum. O Estado tem de ser forte. Se não é forte não é Estado. Não pode ser Estado-impotente, incapaz de impor os valores e as políticas. Também não pode ser Estado-permissivo, aquele que proclama valores da Civilização e não os faz respeitar. O Estado tem de garantir a moral pública. O Estado tem de ser o primeiro a dar o exemplo. Não pode exigir que os outros prestem contas se o mesmo não as der. O Estado tem de garantir as liberdades individuais, o que não significa permitir a anarquia. O Estado, como entidade reguladora das actividades privadas, tem de atender ao bem comum, moral e material. Para o exercício desta função, o Estado tem de ser isento e utilizar a pedagogia mas também a sua autoridade sempre que necessário. O Estado tem de proteger a actividade económica e exercer a sua função de regulador económico. Economia livre e próspera não pode significar economia selvagem. O Estado tem de ser poupado. Não pode ser Estado-perdulário, aquele que delapida o dinheiro dos cidadãos em inutilidades ou fantasias faraónicas ou o oferece a interesses particulares. O Estado, para defesa da própria política e satisfazer moralmente os cidadãos, deve criar estruturas jurídicas de controlo sobre a classe política. Em nenhuma democracia civilizada se pode prescindir da criminalização dos políticos por gestão danosa e incompetência grosseira na gestão da coisa pública. 10 As elites, ao serviço do povo, e as falsas elites Não confundamos elites, que servem o povo, com as falsas elites, que o enganam e o exploram. Não confundamos elites, que servem a Nação, com as falsas elites, que a corrompem e a destroem. As falsas elites têm sido, ao longo da nossa história, a desgraça de Portugal e dos Portugueses. Sempre que Portugal teve à sua frente verdadeiras elites, avançou. Com as falsas, é o que vemos. Em todos os momentos de mudança histórica, têm sido as elites o elemento essencial e agregador na concretização dos projectos nacionais. Como também, noutros momentos, têm sido as falsas elites o elemento perturbador e destruidor da Nação, desviando a Nação e o povo para falsas soluções, utopias e armadilhas. Também os movimentos espontâneos não conduzem a qualquer mudança ou mudança positiva. Para conduzir o nosso País à sua reconstrução são necessárias verdadeiras elites, com espírito de missão e sacrifício, organizadas, e também pedagogia, para que o povo compreenda o projecto nacional e do bem comum. O embrião de uma organização capaz de repensar Portugal e reconstruir Portugal só pode nascer no seio das pessoas mais vá- 6

lidas da Nação, não necessariamente catedráticos ou doutores, que também fazem falta, mas aqueles que se destaquem pela sua capacidade e ética no trabalho intelectual, científico, técnico ou em qualquer outra actividade que seja útil à sociedade. 11 Organizar os Portugueses, a Nação, a Civilização É voz corrente dizer-se: «Os políticos são todos iguais. Dizem uma coisa antes, depois quando estão no poleiro fazem outra.» Mas o que está realmente em causa é este sistema político, que consente. É o sistema político que permite aos políticos, quando no poder, todo o tipo de abusos. Existem estruturas que deveriam ser de controlo mas que, afinal, são controladas pelos que deveriam ser controlados. Para evitar tudo isto, o que fazer? Queremos uma profunda reforma do sistema político, que é, como quem diz, um novo sistema político assente numa nova constituição, defendendo a Civilização, a Nação e o bem comum, liberta das fantasias da Constituição da III República, que foi talhada para os oportunistas, em nome da democracia, poderem manobrar livre e impunemente, como hoje está bem claro. Queremos um sistema político fiscalizado. Queremos que se faça o verdadeiro controlo do poder político pelos cidadãos, através de estruturas próprias. Queremos que os dirigentes do Estado sejam os primeiros a dar o exemplo e que sejam devidamente penalizados pelos seus delitos, se for caso disso. Para atingirmos este objectivo, para reconstruir Portugal, nós, defensores da Civilização, da Nação e do bem comum, teremos, antes de tudo, de estar organizados. Teremos, antes de tudo, de erguer uma organização suprapartidária, omnipresente na vida política, social e cultural e abraçando estes valores, uma organização que seja a alma do povo português. Compete a essa organização suprapartidária unir todas as pessoas interessadas em dar a sua contribuição, maior ou menor, para salvar do caos a Civilização e os seus valores, a Nação e a sua História e os Portugueses como povo. José M. Santos (Agosto de 2012) FORAM CONSULTADOS: INSTITUTO DE ESTUDOS DA CIVILIZAÇÃO, Repensar Portugal Reconstruir Portugal. UNIÃO DAS FAMÍLIAS PORTUGUESAS, Manifesto. 7