Login: aptrevizan Senha: 123654 AUTOLIGADO: VANTAGENS E DESVANTAGENS - RELATO DE CASO CLÍNICO Ana Paula TREVIZAN 1 Carolina Mattar CRUZ 2 Ana Paula de AGUIAR 3 Ana Paula de SANTANA 4 Carlos Henrique Guimaraes JUNIOR 5 RESUMO Os braquetes autoligados, há tempos estão ao centro dos debates e publicações científicas no meio odontológico o que em muito se deve a introdução de diversos novos sistemas autoligados no mercado. Com isso, se tornam ótimos alvos de estudos, discussões e controvérsias já há um bom tempo, desde que foram adotados como um meio de otimizar o tratamento ortodôntico nos mais variáveis aspectos. A eficácia da terapia ortodôntica se baseia no correto diagnóstico e uma boa resposta biológica do paciente à biomecânica proposta pelo ortodontista, onde a escolha dos materiais tem papel fundamental. Dentre as vantagens destes braquetes incluem a eliminação dos módulos elastoméricos, pois traz pontos favoráveis ao tratamento, como a eliminação da potencial contaminação cruzada, ocasionada pelas ligaduras, a inexistência da degradação das forças elásticas, a diminuição do risco de desmineralização do esmalte pela eliminação dos locais retentivos para acúmulo de placa, a hipotética redução de atrito nas mecânicas de deslizamento e a aplicação de forças mais leves, resultando em menores efeitos colaterais. Mais pesquisas científicas ainda são necessárias em relação ao uso dos braquetes autoligados para comprovar a eficiência e vantagens dos mesmos. Palavras-chave: Autoligado; Braquete; Ortodontia corretiva INTRODUÇÃO Inovações tecnológicas são introduzidas com frequência no mercado ortodôntico, dentre elas podemos destacar os aparelhos autoligados que tem como característica a baixa fricção, que facilita o início do movimento dentário pela diminuição da resistência inicial a movimentação. Essa característica de autoligação comum a todos os braquetes desperta bastante interesse entre os ortodontistas, que 1 Aluna do Curso de Pós-graduação em Ortodontia pela FAIPE-MT, e-mail: ana.paulatrevizan@hotmail.com 2 Mestre em Ortodontia, e-mail: carolina_mattar@hotmail.com 3 Mestre em Ortodontia, e-mail: paulaaguiarodonto@gmail.com.br 4 Doutora pela PUC SP, e-mail: empoema@gmail.com 5 Doutor em Ortodontia, e-mail: ibepo@terra.com.br 36
acreditam tornar se mais fácil e rápido o tratamento. Com a evolução das mecânicas de tratamento e a popularização da técnica do deslizamento, e importante conhecer os fatores que dificultam a movimentação dentaria (ZANELATO, 2013). O atrito durante a movimentação dentária pode ser estático ou dinâmico e está intimamente relacionada com o material do braquete, ao contato do arco com o braquete e principalmente ao sistema de amarração. O atrito, que está definido como a resistência oferecida pelos dentes durante o deslizamento pode ser estático ou dinâmico. O atrito estático e a resistência inicial a movimentação, ou seja, a forca aplicada devera suplantar a inercia (estado de equilíbrio). A musculatura, a intercuspidação, o material do braquete, o contato do fio com o braquete e principalmente o sistema de amarração interferem no início da movimentação. O atrito dinâmico ocorre durante o deslizamento dentário, em que o fio se desloca dentro das canaletas dos braquetes e tubos. As variáveis que interferem neste tipo de atrito estão relacionadas com o material dos braquetes e dos fios ortodônticos e pelo sistema de amarração (FERREIRA, 2010). Como é possível ter controle sobre estas variáveis que influenciam na movimentação ortodôntica, a escolha do sistema de braquetes deverá estar relacionada a má oclusão, ou seja, casos com grandes movimentações por meio do deslizamento, os braquetes autoligados terão melhor desempenho que os convencionais (MALTAGLIATI, 2009). OBJETIVO Os braquetes autoligados, há tempos estão ao centro dos debates e publicações científicas no meio odontológico o que em muito se deve a introdução de diversos novos sistemas autoligados no mercado. A eficácia da terapia ortodôntica se baseia no correto diagnóstico e uma boa resposta biológica do paciente à biomecânica proposta pelo ortodontista, onde a escolha dos materiais tem papel fundamental. O objetivo deste trabalho é apresentar um caso clínico com aparelho autoligado, onde foi comprovado no dia a dia do tratamento algumas considerações que encontramos na literatura, tais como: eliminação dos módulos elastoméricos, pois traz pontos favoráveis ao tratamento, como a eliminação da potencial contaminação cruzada, ocasionada pelas ligaduras, a inexistência da degradação das forças elásticas, a diminuição do risco de desmineralização do esmalte pela eliminação dos locais 37
retentivos para acúmulo de placa, a hipotética redução de atrito nas mecânicas de deslizamento e a aplicação de forças mais leves, resultando em menores efeitos colaterais e um menor tempo clínico. Relato de Caso Paciente M.R.F., 26 anos que compareceu à clínica de Ortodontia da Faipe Cuiabá-MT, apresentando classe I, apresentava diastemas generalizados e apinhamento ântero inferior. O tratamento consistiu em: alinhamento e nivelamento dos dentes superiores e inferiores; fechamento dos espaços superiores. O aparelho utilizado foi o autoligado da marca Morelli, as manutenções foram realizadas mensalmente e a sequência de fios foi: 014 nitinol termoativado, 016 nitinol termoativado, 016x022 nitinol termoativado, 018x025 nitinol termoativado e 019x025 aço. O tratamento da paciente teve uma duração de 14 meses. Figura 1- Fotografias Intra-Orais Iniciais Lado Direito, Frente e Esquerdo. Figura 2 - Fotografias Intra-Orais da fase intermediária do tratamento ortodôntico. Figura 3 Fotografias Intra-Orais da finalização do tratamento ortodôntico. 38
DISCUSSÃO O sistema de aparelhagem autoligado teve como proposta principal permitir uma menor fricção, proporcionar uma força ortodôntica contínua, como esclarecem Read-Ward et al. (1997), além de melhorar o engrenamento entre arco e bráquete, conforme Harradine (2003); diminuir o tempo de cadeira e de tratamento de acordo com Eberting (2001); facilitar o atendimento; permitir maior fricção através da utilização de elástico em "8", caso seja desejado, ainda segundo Harradine (2003); reduzir os efeitos indesejáveis segundo Harradine e Birnie (1996); permitir a utilização de elástico tipo cadeia; proporcionar melhor higiene oral conforme Eberting (2001). No entanto, Harradine e Birnie (1996), relataram em um trabalho sobre o uso clínico do bráquete autoligado algumas desvantagens: custo mais elevado que os bráquetes convencionais; difícil manuseio na colagem; além de, segundo Berger (2000), utilização de elástico em cadeia com mais dificuldade; problema para se colocar o arco no slot e um alto índice de quebra da trava de precisão. A característica mais benéfica do sistema autoligado comparando-os ao sistema convencional é o baixo atrito que gera outras vantagens ao sistema autoligado, especialmente em se tratando de casos clínicos com extrações dentárias em que há necessidade de grandes fechamentos de espaço (HARRADINE; BIRNIE, 1996; CACCIAFESTA, 2003; EBERTING, 2001; PADUANO, 2008; JUNIOR; URSI, 2006; MALTAGLIATI, 2007; FERREIRA, 2010; SATHLER, 2011; CHUGH, 2012; NÓBREGA, 2012; ZANELATO, 2013; MACEDO, 2013). Com o uso do aparelho autoligado os efeitos colaterais da mecânica de deslize são menos sentidos e o deslize será facilitado e não necessitará de aumento excessivo de força, protegendo os dentes de ancoragem (MALTAGLIATI, 2009). Miles et al. (2006), Berger (2000) concordam que os bráquetes autoligados produzem atrito menor quando comparados aos bráquetes convencionais e são semelhantes no início do tratamento, quando há grande desnivelamento e deflexões dos fios, porém, na mecânica de deslize, ao final do nivelamento, os bráquetes passivos têm denotado melhor comportamento. O alinhamento e o nivelamento são mais rápidos segundo Harradine e Birnie (1996) e Garcia e Saavedra (2013). O estudo de Tagawa (2006), comparou o tempo médio de tratamento entre o aparelho autoligado Damon e o convencional, e o 39
resultado foi que o tratamento com Damon foi em média 7,2 meses mais curto, e teve uma média de 14,8 menos visitas que o convencional, sendo que o intervalo entre as visitas com o aparelho Damon foi de 6 a 8 semanas. Maltagliati (2007) afirmou que o tempo reduziria em 4 meses com o sistema autoligado devido à movimentação dentária ser mais rápida pelo baixo atrito. Ferreira (2010) e Chugh (2012) concordam, quando afirmaram agilidade no nivelamento com o aparelho autoligado. O aumento do intervalo entre as consultas é possível devido ao acoplamento do fio dentro da canaleta, juntamente com o uso dos fios de alta tecnologia (HARRADINE; BIRNIE, 1996; SATHLER, 2011; CHUGH, 2012; BICALHO; BICALHO, 2013). O fio dentro da canaleta promove um bom controle rotacional (SATHLER, 2011; CHUGH, 2012). Menor assistência no atendimento é uma vantagem valiosa para ortodontistas que trabalham sozinhos (HARRADINE, 2003; PADUANO, 2008; CHUGH, 2012). Existem vantagens biológicas com a utilização do sistema autoligado (JUNIOR; URSI, 2006; MALTAGLIATI, 2007; FERRARI, 2011; ZANELATO, 2013). Segundo Junior e Ursi (2006), trabalhando-se com forças mais baixas, estimula-se a atividade celular, sem obstruir por completo os vasos sanguíneos e o ligamento periodontal, o movimento dental seria mais biológico e compatível, buscando trabalhar em harmonia com a musculatura oro-facial e da língua, para encontrar uma posição dental fisiologicamente balanceada entre esses músculos e os ossos, sugerindo a ideia de que os dentes se moveriam juntamente com o osso e não através do osso como ocorreria na mecânica ortodôntica convencional. Uma desvantagem dos braquetes autoligáveis passivos é que eles podem obstruir o controle do torque na fase de finalização e por isso um amarrilho pode ser necessário para aumentar a fricção entre o braquete e o fio Devido a melhor qualidade do trabalho ortodôntico desenvolvido, relacionado à melhor estética e função obtida usando a técnica com autoligáveis, o tratamento torna-se mais oneroso para o paciente (MALTAGLIATI, 2007). Adicionalmente a escassez de estudos científicos relacionados ao sistema de braquetes autoligáveis deixa uma lacuna a ser comprovada sobre a eficiência e vantagens dos mesmos (CASTRO, 2009). CONCLUSÃO Dentre as principais vantagens demonstradas pelos braquetes autoligados em relação aos braquetes convencionais incluem: diminuição do nível de atrito nas 40
mecânicas de deslize, diminuição da magnitude de força, bom controle dos movimentos dentários, maior intervalo entre as consultas de manutenções, redução do tempo de atendimento na cadeira, simplicidade de ligação e liberação do arco, completa ligação do arco em todos os momentos, diminuição de retenção de placa bacteriana, diminuição de desmineralização do esmalte, maior facilidade de higienização, eliminação de contaminação cruzada ocasionada pelas ligaduras. Entretanto, serão necessárias mais pesquisas para podermos mensurar com exatidão quão grande é o grau do aumento da eficácia dos aparelhos autoligados. REFERÊNCIAS BERGER, J. B. Self-ligation in the year 2000. J. Clin. Orthod., v. 34, n. 2, p. 74-81, 2000. BICALHO, R. F.; BICALHO, J. S. Uso de braquetes autoligados no tratamento de casos limítrofes. Orthod. Sci. Pract,, v. 6,n. 21, p. 72-9.2013. CACCIAFESTA, V. et al. Evaluation of friction of stainless steel and esthetic self-ligating brackets in various bracket-archwire combinations. American Journal of Orthodontics and Dentofacial Orthopedics, v. 124, n. 4, p. 295-402, 2003. CASTRO, R. Braquetes autoligáveis: eficiência x evidência científica. Rev Dent Press Ortod Ortop Facial, v. 14, n. 4, p. 20-4, 2009. CHUGH, V. K. et al. Self-ligating brackets: A Comprehensive Review. Trends Biomater. Artif. Organs, v. 26, n. 3, p. 146-153. 2012. EBERTING, J. J. Treatment time, outcome and patient satisfaction comparisons of Damon and conventional brackets. Clin. Orthod. Res., v. 4, p. 228-34, 2001. EBERTING, J. J.; STRAJA, S. R.; TUNCAY, O. C. Tiempo de tratamento, resultados ysatisfacción del paciente: Estudio comparativo entre los Brackets Damon y los Brackets Convencionales. Clinical Orthodontics and Research, v. 4, n. 4, p. 228-34, 2001. ESTEL, A. I. et al. Autoligado: a eficiência do tratamento ortodôntico. Revista UNINGÀ, v. 5, n. 1, p. 56-8, 2016. FERRARI, K. C. et al. Avaliação in vitro da fricção entre fios ortodônticos retangulares e braquetes autoligáveis. Ortho Science, v. 4, n. 15, 2011. FERREIRA, F. A. C. A influência do atrito na mecânica ortodôntica. Rev. Clin. Ortod. Dental Press, v. 9, n. 2, p. 41-8, abr./maio 2010. FLEMING, P. S.; O BRIEN, K. Self-ligating brackets do not increase treatment efficiency. American Journal of Orthodontics and Dentofacial Orthopedics, v. 143, p. 11-19, Jan. 2013. GARCIA, L. M. P; SAAVEDRA, E. R. Soportes de autoligado em ortodoncia. Gac Méd Espirit., v. 15, n. 1, Ene./Abr. 2013. GEREMIA, J. R.; OLIVEIRA, P. S.; MOTTA, R. H. L. Comparação da força de atrito entre bráquetes autoligados e bráquetes convencionais com diferentes ligaduras. Orthod. Sci. Pract., v. 8, n. 29, p. 30-7, 2015. 41
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