POLIMORFISMO DO CÓDON 72 DO GENE TP53 EM PACIENTES COM LEUCEMIA MIELÓIDE Jeany Camelo Santos 1, Rafael Lucas Leonídeo 2, Flávio Monteiro Ayres 3,4 1 Bolsista PBIC/UEG. 2 Aluno de iniciação científica PVIC. 3 Curso de Ciências Biológicas e Farmácia, UnUCET, UEG. 4 Cursos de Mestrado em Genética e Bacharelado em Ciências Biológicas, BIO, UCG. Correspondência para: F.M. Ayres Unidade Universitária de Ciências Exatas e Tecnológicas Universidade Estadual de Goiás BR 153, Km 98, Jardim Arco Verde Campus Henrique Santillo 75.001-970 Anápolis Goiás Brasil. E-mail: flavio.ayres@ueg.br Resumo Os dois alelos polimórficos para o códon 72 do gene TP53 envolvem um codante para o aminoácido arginina (TP53Arg) e outro para o aminoácido prolina (TP53Pro). Desses alelos, o (TP53Pro) é o menos freqüentemente observado nos indivíduos de diversas populações. Adicionalmente, esses alelos são funcionalmente associados com uma reduzida capacidade de indução a apoptose. No presente estudo, o gene TP53 foi genotipado para dez pacientes com leucemia mielóide aguda (LMA) e 17 com leucemia mielóide crônica (LMC) por PCR. Em ambos os tipos de leucemia, as freqüências do genótipo TP53ProPro foram maiores que TP53ArgArg ou TP53ArgPro. Esse é um resultado relevante, pois esse polimorfismo é um potencial marcador de risco, além de resistência ao medicamento imatinib. Palavras-chaves: polimorfismo, TP53, leucemia mielóide 1
INTRODUÇÃO P53 é uma fosfoproteína nuclear de 53 KDa codificada por um gene localizado no braço curto do cromossomo 17. A proteína tem a função de parar o ciclo celular a fim de permitir a detecção e o reparo de danos ao DNA, além de iniciar o processo de morte celular programada em casos de danos genômicos irreparáveis (Stad et al., 2000). O polimorfismo do gene TP53 inclui duas variantes no códon 72, éxon 4, sendo um codante do aminoácido arginina (TP53Arg) e outro do aminoácido prolina (TP53Pro) (Lo et al., 1992; Oliveira, 2005). Portanto, três possíveis genótipos são possíveis: os homozigotos TP53ArgArg e TP53ProPro e o heterozigoto TP53ArgPro. Acredita-se que o genótipo TP53ArgArg aumente em até sete vezes a suscetibilidade individual para o desenvolvimento de tumores, quando comparado com o genótipo TP53ArgPro (Storey et al., 1998). Por outro lado, o genótipo TP53ProPro é menos freqüentemente observado em populações humanas (Lima et al., 2006), mas esse alelo é está associado com uma significativa redução na capacidade de indução de apoptose (Bergamaschi et al., 2004). A proteína p53 atua como reguladora do ponto de checagem do ciclo celular, promovendo a apoptose e o bloqueio da proliferação celular (Bernat et al., 2002). MATERIAIS E MÉTODOS A fim de investigar as freqüências dos alelos de TP53, amostras de DNA foram isoladas de sangue periférico utilizando o método de extração por fenol e clorofórmio, seguido de precipitação com etanol (Sambrook et al., 1989). As amostras de sangue total foram coletadas de 10 pacientes com LMA e 17 pacientes com LMC atendidos no Hospital das Clínicas (Universidade Federal de Goiás) (Ayres et al., 2004) e Santa Casa de Misericórdia de Goiânia, de acordo com as instruções aprovadas pelo Comitê de Ética e Pesquisa. As amostras de DNA foram amplificadas por PCR utilizando seqüências iniciadoras para TP53Arg (5-3 : TCC CCC TTG CCG TCC CAA e CTG GTG CAG GGG CCA CGC) e para TP53Pro (5-3 : CGT GCA AGT CAC AGA CTT e GCC AGA GGC TGC TCC ). Os produtos amplificados foram visualizados 2
utilizando gel de agarose 1% corado com brometo de etídeo ou em gel de poliacrilamida 8% corado com nitrato de prata. RESULTADOS E DISCUSSÃO As freqüências genotípicas encontradas para os pacientes com LMA foram 40% (4/10) para TP53ProPro, 20% (2/10) para TP53ArgArg, e 40% (4/10) para TP53ArgPro. Os pacientes com LMC apresentaram freqüências de 41,2% (7/17) para o genótipo TP53ProPro e 58,8% (10/17) para o genótipo TP53ArgPro, conforme descrito na tabela 1. Nossos resultados são similares aos poucos dados descritos na literatura sobre polimorfismo do códon 72 em pacientes com leucemia mielóide, em especial LMC. Bergamaschi e colaboradores (2004) relataram previamente que o alelo TP53Pro é mais freqüente em pacientes com LMC quando confrontado com uma população controle de indivíduos saudáveis. Adicionalmente, o alelo TP53Pro tem sido identificado como um fator de risco de desenvolvimento de LMC e de resistência ao medicamento imatinib. A deficiência da proteína p53 comumente causa alterações no ciclo celular, falhas no reparo de DNA, acúmulo de mutações gênicas e instabilidades cromossômicas (Cavalcanti et al., 2002). As causas dessa deficiência geralmente envolvem mutações gênicas, interação entre a proteína p53 com proteínas virais ou outras proteínas de controle do ciclo celular (Klumb et al., 2002). Não obstante, esses dados contrastam com os relatos de Storey et al. (1998), que apontam um aumento na susceptibilidade de carcinogênese associada ao genótipo homozigoto TP53ArgArg quando comparada como o genótipo heterozigoto. A investigação do perfil alélico populacional é de extrema importância para o presente estudo, pois freqüências de alélos polimórficos são marcantemente dependentes de fatores étnicos (Sjalander et al., 1996). CONCLUSÃO Apesar do restrito grupo amostral, nossos resultados indicam que o alelo TP53Pro é o mais freqüente nos pacientes com leucemias mielóides 3
AGRADECIMENTOS J.C. Santos foi bolsista PBIC/UEG REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Ayres FM et al.. Detection of mutator phenotype in Brazilian patients with acute and chronic myeloid leukemia. Genetics and Molecular Biology,.27, 4, 483-488. 2004. Bergamaschi G et al. TP53 codon 72 polymorphism in patientes with chronic myeloid leukemia. Haematologica, 89:868-9. 2004. Bernat M, Titos E, Clária J. Rapid identification on of single nucleotide polymorphisms by fluorescence-based capillary electrophoresis. Genetics and Molecular Research, v. 31:72-78. 2002. Cavalcanti Jr. GB et al. P53 e as hemopatias malignas. Revista Brasileira de Cancerologia, v. 48(3):419-427. 2002. Klumb CE et al. Avaliação dos métodos de detecção das alterações do gene e proteína p53 nas neoplasias linfóides. Revista Brasileira de Hematologia e hemoterapia, 24(2):111-115. 2002. Lima JM et al. Estudo do polimorfismo genético no gene p53 (códon 72) em câncer colateral. Arq Gastroenterol, 43:8-13. 2006. Lo KW et al. Presence of p53 mutation in human cervical carcinomas associated with HPV-33 infection. Anticancer Res, 12:1989-94. 1992. 4
Oliveira MVP. Implicações do polimorfismo do códon 72 do gene p53 no carcinoma laríngeo. 2005. Dissertação (Mestrado) Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Goiás. Goiânia. Sambrook J, Fritsch EF and Maniatis T Molecular Cloning: A Laboratory Manual. 2nd edition. Cold Spring Harbor Laboratory Press, New York. 1989. p E.3-E.11. Sjalander A et al. p53 polymorphism and haplotypes show distintc differences between major ethnic groups. Human Heredity, 46(1): 41-48. 1996. Stad R, Ramos YFB, Littie N. Hdmx stabilizes Mdm2 and p53. JBC Papers, 36:28039-44. 2000. Storey A et al. Role of a p53 polymorphism in development of human papillomavirus-associated cancer. Nature, v. 393, p. 229-234. 1998. 5
Leucemia LMA LMC Paciente Alelos TP53Pro TP53Arg A05 + - A15 + - A23 + - A40 + - A17 + + A24 + + A25 + + A42 - + A10 - + A22 - + C03 + - C17 + - C18 + - C40 + - C41 + - C46 + - C48 + - C05 + + C13 + + C16 + + C19 + + C20 + + C43 + + C44 + + C45 + + C47 + + Genótipos Freqüências genotípicas TP53ProPro 40% (4/10) TP53ProArg 40% (4/10) TP53ArgArg 20% (2/10) TP53ProPro 41,2% (7/17) TP53ProArg 58,8% (10/17) 6