NO MUNDO DA LUA Como ela influencia a nossa vida



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Prova bimestral. história. 4 o Bimestre 3 o ano. 1. Leia o texto e responda.

Transcrição:

Edição #126 Oásis LAGOS ANDINOS Uma nova travessia entre o Chile e a Argentina FUKUOKA O agricultor que deixava a terra em paz AQUECIMENTO GLOBAL Nas cordas de um violoncelo NO MUNDO DA LUA Como ela influencia a nossa vida

por Luis Pellegrini Num mundo pragmático dominado pela ciência cartesiana, existem muitos que são capazes de jurar pelo poder da Lua. Mas pesquisas científicas recentes revelam que nem tudo é ficção no mundo da Lua Editor V ocê acredita que a Lua, nas suas diferentes fases particularmente a Lua Cheia influencia nossa saúde e nosso comportamento? Saiba então que essa crença é tão antiga quanto a própria humanidade. Desde que o ser humano começou a pensar e a refletir sobre o mundo onde vivemos, uma das suas primeiras conclusões foi certamente a de que as fases da Lua influenciam as marés oceânicas. E assim que aprendeu a estabelecer relações de analogia, deve ter percebido que o ciclo menstrual das mulheres fenômeno orgânico diretamente relacionado à concepção e à maternidade coincidia quase exatamente com o ciclo das fases lunares. Daí, estender a crença das influências lunares a muitas outras coisas foi um pulo. Até hoje, são milhões os que acreditam que a Lua influencia no crescimento e na queda dos cabelos, nas oscilações do humor, na sexualidade, na fertilidade, nos impulsos agressivos e na criminalidade, para citar apenas algumas dessas influências. oásis. Editorial 2/35

por Luis Pellegrini Editor A última descoberta, bem recente, não parece ser produto da ficção ou da superstição: as fases lunares realmente influenciam o sono. Nos dias de Lua Cheia, por exemplo, ou na proximidade deles, aumenta consideravelmente a síndrome da insônia. A Lua e as influências que ela exerce são o tema de nossa matéria de capa. Mas, à parte as influências comprovadas e as imaginárias do nosso belo satélite, um capítulo à parte deveria ser escrito sobre a Lua como fonte de inspiração para as artes, a poesia, e para os românticos em geral. Mas este capítulo ficará para a próxima vez... oásis. Editorial 3/35

mistério NO MUNDO DA LUA Como ela influencia a nossa vida oásis. mistério

Por: Luis Pellegrini L A crença de que a Lua, nas suas diferentes fases, influencia nossa saúde e nosso comportamento é tão antiga quanto a humanidade. Até hoje, num mundo pragmático dominado pela ciência cartesiana, existem muitos que são capazes de jurar pelo poder da Lua. Mas pesquisas científicas recentes revelam que nem tudo é ficção no mundo da Lua obisomens, vampiros, boom de nascimentos... não dá para contar os personagens e acontecimentos - falsos e verdadeiros - ligados às fases da Lua, particularmente ao surgir da Lua Cheia. O último fato da lista parece ser a ligação da Lua com a insônia. Pesquisa séria, feita em laboratório, indica que o disco lunar completamente iluminado atrapalha o sono e atrasa o adormecimento: mas a luz lunar que eventualmente passa através das persianas não tem nada a ver com isso. Por qual estrada chegará até nós a influência da Lua? Christian Cajochen, pesquisador da Universidade da Basiléia, Suíça, examinou os padrões do sono humano em relação aos ciclos lunares, retomando uma experiência iniciada há dez anos. O estudo original tinha como objetivo principal explorar as relações entre idade e qualidade do sono. Ele envolvia 33 voluntários de idade entre 20 e 74 anos, cujo sono foi estudado durante 64 noites seguidas. Os voluntários foram estudados em condições de controle muito rígido. Entre outros cuidados, eles foram completamente isolados da luz natural. Cajochen pensou que os mesmos dados poderiam também ser usados para avaliar como as fases lunares influenciam o sono. Assim, o pesquisador dividiu as 64 noites do experimento em três grupos com base na maior ou menor aproximação deles à fase da Lua Cheia. Os voluntários testados nas noites mais próximas à Lua Cheia, ou concomitantes a ela, mostraram, com efeito, um sono mais agitado. Por exemplo, a atividade cerebral relativa ao sono profundo mostrava um decremento de 30% em relação à média. Também os níveis de melatonina, hormônio que regula os ciclos de sono/vigília, revelaram- se bem mais baixos. oásis. mistério 5/35

Além disso, esses pacientes levaram em média 5 minutos a mais para adormecer, e dormiram no total cerca de 20 minutos a menos. A qualidade do sono deles foi considerada inferior de 15% em relação à qualidade do sono do resto do grupo. É tudo culpa da Lua? Claro, os resultados da pesquisa devem ser analisados com cautela, já que a amostragem foi considerada pequena e pelo fato de o objeto da pesquisa ser inicialmente outro, diferente do objeto agora escolhido. No entanto, ressaltam os pesquisadores, os dados obtidos foram atentamente calculados e foram excluídos outros fatores que pudessem perturbar o sono, tais como a influência da luz natural no quarto ou a concomitância, nas mulheres, com o ciclo menstrual. Cada pessoa na Terra possui o seu próprio ritmo circadiano de 24 horas explicou Cajochen. Depois desse experimento podemos lançar a hipótese de que todos nós sofremos os efeitos dos ciclos lunares. Talvez no cérebro exista também um relógio circalunar, mas nós simplesmente ainda não sabemos nada dele, concluiu. A cegonha voa nas noites de Lua Cheia Outra crença muito antiga, ainda viva nos dias de hoje, é a de que os ciclos da Lua podem influir não apenas sobre o temperamento e o humor, sobretudo oásis. mistério 7/35

os das mulheres, mas também sobre a fertilidade feminina e os partos. A responsabilidade dessa crença deve-se a uma curiosa coincidência numérica: o mês lunar dura cerca 29 dias e 12 horas; o ciclo menstrual feminino dura em média entre 28 e 29 dias. Tais hipóteses, no entanto, são fortemente desmentidas pela comunidade científica. Mas é essa mesma ciência a estudar curiosos fenômenos naturais de nascimento e concepção ligados às fases da Lua. Os corais da Grande Barreira Coralina, no norte da Austrália, por exemplo, começam a se reproduzir em massa nas noites de Lua Cheia, e em modo perfeitamente sincronizado. O que lhes dá esse ritmo são fotorreceptores especiais sensíveis aos comprimentos de ondas luminosas emitidos pela Lua. Inúmeros outros animais, sobretudo insetos e batráquios, também preferem as noites de Lua Cheia para seus ritos de sedução e acasalamento. Paladina dos nascimentos, senhora das colheitas e das semeaduras, responsável pela qualidade do vinho, doida e caprichosa, capaz de ativar em cada um de nós os instintos mais estranhos e primitivos, em torno da Lua todas as civilizações teceram as mais bizarras crenças e superstições. Existe quem a considere responsável por terremotos e crises epilépticas. Existe quem controla em que fase a Lua se encontra antes de atirar-se a uma relação sexual. Quem acha ser ela o motor que ativa impulsos criminosos e até mesmo os que levam a assassinatos. Sem contar os que não acreditam de modo algum que o homem já caminhou na superfície lunar, e afirmam que as façanhas dos as oásis. mistério 9/35

tronautas norte-americanos não passam de contos da carochinha. E o lobisomem que ataca nas noites de Lua Cheia? A lenda, que parece ter origem europeia, se espalhou pelos cinco continentes, e até hoje existem aqueles que preferem permanecer trancados em casa nas noites em que a Lua bem redonda brilha inteira no céu. Em 2007, Andy Parr, inspetor de polícia inglês do Sussex, pediu reforços para patrulhar as ruas nas noites de Lua Cheia. Noites nas quais, segundo ele, ocorre um aumento dos crimes e dos comportamentos agressivos. Com base na minha experiência de mais de vinte anos como policial, Parr declarou aos microfones da BBC, a rádio estatal inglesa, posso afirmar que nas noites de Lua Cheia cruzamos nas ruas com pessoas que demonstram atitudes muito estranhas. Pessoas nervosas, encrenqueiras, briguentas. Esse policial não é o primeiro a denunciar uma ligação entre as fases lunares e episódios violentos. Trinta anos antes dele, Arnold Lieber, psicólogo norte- -americano autor de uma importante pesquisa sobre mais de 11 mil agressões registradas na Flórida no arco de cinco anos, tentou provar que essa influência lunar nefasta é verdadeira. Também Lieber afirmou que, pelos resultados da sua pesquisa, a maior parte das agressões ocorre nas noites de Lua Cheia, ou nas horas que a precedem. Os estudos sobre os efeitos bizarros provocados pelo nosso satélite não se limitam ao ser humano. Entre 1997 e 1999, alguns médicos de Bradford, na Ingla oásis. mistério 10/35

terra, analisaram mais de 1600 casos de mordidas de animais. Concluíram que as possibilidades de sermos mordidos redobram nos dias próximos à Lua Cheia. Mas, também aqui, tais pesquisas não persuadiram a comunidade científica. Alguns cientistas preferem se debruçar sobre outra possibilidade: Também o nosso corpo se ressente da influência do magnetismo lunar que provoca o fenômeno das marés oceânicas? A pergunta tem razão de ser, já que, sabidamente, o magnetismo lunar influencia os líquidos que existem sobre nosso planeta. Como nosso corpo é constituído principalmente de líquidos... As principais possibilidades estudadas dizem respeito a náuseas, cefaleias, distúrbios cognitivos e de confusão mental. Nada foi provado em definitivo, mas existem pesquisadores dispostos a apostar que nosso satélite possa não apenas mover a água dos oceanos, mas também aquela que existe no interior do corpo humano. A maioria dos médicos, no entanto, sorri diante dessas considerações, considerando que não apenas a força que a Lua exerce sobre nosso corpo é extremamente débil, mas também que os líquidos corporais estão encapsulados nos tecidos e não estão livres para flutuar e correr, como acontece com a água dos oceanos. Assim, diante de tantos prós e contras a respeito da influência da Lua sobre nossas vidas, melhor ficar com uma influência que, esta sim, é absolutamente certa: a força da sugestão. Em estudo publicado na revista Epilepsy & Behaviour, em 2004, os únicos ataques epilépticos que efetivamente aumentam nas noi oásis. mistério 12/35

tes de Lua Cheia são os falsos ataques. Aqueles que não são causados por disfunções elétricas do cérebro, mas sim por distúrbios psicóticos. E os que só cortam os cabelos numa determinada fase da Lua? Eles são muitos, e acreditam existir uma ligação entre as fases da Lua e o crescimento dos cabelos. Trata-se de uma crença muito antiga que tem suas raízes nas tradições populares ligadas às técnicas de magia simpática - um corpo de crenças baseadas no princípio da similitude entre aquilo que deve ser curado e os meios utilizados para chegar-se à cura. Em outras palavras, se a Lua cresce, crescerão também as unhas, os pelos e os cabelos... E quanto à influência astrológica da Lua em nossas vidas... dou a palavra aos astrólogos. oásis. mistério 13/35

viagem LAGOS ANDINOS Uma nova travessia entre o Chile e a Argentina oásis. viagem O Vulcão Villarrica se eleva às margens do lago de Pucón

Grupo de turistas faz a subida à cratera do Vulcão Villarrica

Cruzar a cordilheira dos Andes entre o Chile e a Argentina é o sonho de todo turista que aprecia o sabor da aventura e não limita suas viagens apenas aos grandes hotéis, restaurantes e shoppings das grandes cidades. Para esses, existe hoje uma opção que mistura natureza, paisagens de tirar o fôlego e o plus de visitar dois países numa mesma viagem. Trata-se de ir do Chile para a Argentina ou vice-versa -, por via terrestre, percorrendo o mítico itinerário dos lagos andinos Texto e fotos: Jaime Borquez travessia entre o Chile e a Argentina navegando através dos lagos andinos começa na agitada cidadezinha chilena de Pucón, na orla do lago Villarrica e aos pés do vulcão do mesmo nome. Reserve dois dias e duas noites de estadia. É tempo suficiente para aproveitar as variadas atrações locais. Não deixe de conhecer as Termas Geométricas, projetadas pelo mais ousado e Afamoso arquiteto chileno, German del Sol, responsável pelos famosos hotéis Explora da Patagônia e do Deserto de Atacama. No Chile, Pucón é a capital do turismo outdoor, com destaque para a ascensão do belíssimo Villarica, um vulcão ativo. São cinco horas de caminhada, mas o prêmio vale todo o esforço: é indescritível a sensação de se chegar até a borda da cratera desse vulcão e ver a lava incandescente fervendo e fumegando lá embaixo. Será o caldeirão do diabo? Mas há também atividades mais suaves, como o rafting familiar no Rio Trancura, saltos em parapente duplo, passeios em mountain bike, caiaque, canopy - também chamado de arvorismo -, pesca de truta e muito mais. Pucón tem gastronomia boa e variada gastronomia. Peixes e frutos do mar são o forte do Chile, mas aqui, alem deles, há grande opção de carnes, incluindo as de caça. Há restaurantes muito charmosos, geralmente construídos a partir de enormes troncos de madeira nativa. Pucón é uma sucessão de surpresas encantadoras. A saída para a Argentina se inicia com a travessia da cordilheira andina através do passo Hua-Hum. O caminho margeia os lagos Villarrica, Calafquén, Panguipully e oásis. viagem 17/35

Centro urbano de Pucón. Ao fundo, o onipresente Vulcão Villarrica

Termas Geométricas, na região de Pucón

a reserva de Huilo Huilo, com sua bela cachoeira. E se chega até Puerto Fuy, onde embarca-se na balsa que navega por hora e meia até chegar a Puerto Pirihueico. Depois dos trâmites de imigração, chega-se à alfândega argentina onde é preciso preencher alguns documentos de entrada no país, e embarca-se na moderna lancha Patagônia 1, com capacidade para 115 passageiros. Pode se viajar na parte coberta da embarcação, ou sair para a parte externa da qual desfruta-se de 365 graus de pura paisagem andina. E tem início a segunda parte do programa Travessia Navegando entre Chile e Argentina, passando pelos lagos Nonthué e Laçar, fazendo uma curta caminhada na ilha Santa Teresita para chegar, duas horas depois, na cidade argentina de San Martin de los Andes. A travessia completa dura perto de dez horas e, quando as condições climáticas se põem mais complicadas, o trajeto se faz tranquilamente pelo passo Mamuil Malal, que não deixa nada a dever quanto a belas paisagens de lagos, rios e as sempre nevadas montanhas andinas. No dia seguinte, pela manhã, há tempo suficiente para se conhecer a charmosa San Martin de los Andes e fazer comprinhas. À tarde tem início a Excursão aos Sete Lagos. Ela percorre desfiladeiros andinos do lado argentino até chegar a Villa La Angostura, uma parada para café e chocolates. Depois, a viagem continua até San Carlos de Bariloche, onde o turista dispõe de dois dias para fazer passeios como o Circuito Chico, Cerro Campanário, Isla Bike em riacho da região Victoria, ou simplesmente sentar num bom restaurante, saborear um bom bife de chorizo acompanhado por um vinho Malbec. Nada pode ser mais argentino do que isso! A Travessia Navegando Chile e Argentina é uma das melhores alternativas para se conhecer e admirar os encantos dos vales da Cordilheira dos Andes. Informações: In Out Patagonia (0056-45) 94-3650 www.inoutpatagonia.cl www.freeway.tur.br oásis. viagem 20/35

Entrada de uma das muitas cavernas vulcânicas da região Vaqueiro da Patagônia prepara churrasco típico no interior de cabana de madeira Dois ângulos de visão do Vulcão Villarrica

Duas lojas de artesanatos em San Martin de Los Andes O rafting é um dos esportes mais praticados nas corredeiras que vão desaguar nos lagos andinos A cratera fumegante do Vulcão Villarrica

Paisagem da margem de um lago andino

oásis. saúde Praia do Lago de Pucón, 9/19 muito frequentada nos meses de verão

A cidadezinha de San Martin de Los Andes, em território argentino

Uma pousada na rota dos lagos andinos

FUKUOKA O agricultor que deixava a terra em paz agricultura oásis. agricultura

Seu nome era Masanobu Fukuoka e seu método de agricultura natural é cada vez mais valorizado ao redor do mundo. Ele criou um sistema de cultivo que reproduz e respeita os processos naturais da terra Por: Equipe Oásis. Quando abordamos a momentosa questão da relação entre o homem e o mundo natural, não fazer nada ou interferir minimamente torna-se uma ideia radical. Especialmente para uma civilização como a nossa, obcecada em saltar de uma complexidade para outra na prática, ao mesmo tempo em que, teoricamente, idealiza a simplicidade. Masanobu Fukuoka (1913 2008) foi um agricultor, biólogo e filósofo japonês, autor das obras A revolução de uma palha e O sendeiro natural do cultivo, nas quais apresenta suas propostas para um método de agricultura que é hoje mundialmente conhecido como agricultura natural ou método Fukuoka. Esse sistema de cultivo, cujos resultados costumam ser surpreendentemente bons, é baseado justamente num ideal de simplicidade. No Japão, Fukuoka criou uma fazenda a partir de seus próprios conhecimentos e descobertas. Essa fazenda ficou célebre em todo o mundo por causa dos seus altos resultados agrícolas tanto em termos de produção e da alta qualidade dos vegetais ali cultivados quanto de preservação da qualidade do solo. Estes são os dois pontos que costumam ser destacados quando se fala da fazenda de Fukuoka: 1. Era mais produtiva por metro quadrado do que todas as plantações agroindustriais do mundo, incluídas as que empregam as mais modernas tecnologias. 2. Não empregava nenhum tipo de maquinário, nem pesticidas, nem adubos químicos. Nessa fazenda também não se arava a terra. Fukuoka conseguiu tudo isso empregando técnicas pioneiras dentro do espírito da permacultura (sistema de design para a criação de ambientes humanos sustentáveis e produtivos em equilíbrio e harmonia com a natureza). A mais célebre das técnicas de Fukuoka é a das nendo dango, bolas de argila com sementes em seu interior. Fukuoka participou de numerosos projetos de permacultura que alcançaram grande oásis. agricultura 28/35

êxito ao redor do mundo. Por causa deles esse sábio japonês conquistou a fama de ser capaz de reverdecer campos áridos e até mesmo zonas desérticas. Ele entendia seu trabalho não apenas como um labor de cura da Terra, mas também de cultivo da alma. Projeto Fukuoka O sistema de cultivo de Fukuoka foi por ele batizado de agricultura natural. Embora muitas das suas práticas sejam específicas para o Japão, a ideia geral que rege o seu método foi aplicada com êxito em muitos lugares ao redor do mundo. Seu sistema se enquadra dentro do âmbito da permacultura, cuja essência é reproduzir as condições naturais tão fielmente quanto possível, de modo que o solo se enriqueça progressivamente e a qualidade dos alimentos cultivados aumente sem o acréscimo de nenhum esforço ulterior. Princípios do método Não arar: deste modo são preservados e mantidos a estrutura e a composição do solo com suas características ótimas de umidade e de micronutrientes. Não usar adubos ou fertilizantes: mediante a interação dos diferentes elementos botânicos, animais e minerais do solo, a fertilidade do terreno de cultivo se regenera como em qualquer sistema não domesticado. Não eliminar ervas daninhas nem usar herbicidas: estes destroem os nutrientes e os microrganismos do solo, e unicamente se justificam em certos casos de monoculturas. Fukuoka propõe uma interação de plantas que enri oásis. agricultura 29/35

oásis. agricultura 30/35

quece e controla a biodiversidade de um solo. Não usar pesticidas: eles também matam a riqueza natural do solo. A presença de insetos pode ser equilibrada numa plantação. Não podar: deixar que as plantas sigam o seu curso natural. Todos estes princípios de trabalho à primeira vista bastante radicais são baseados na antiquíssima filosofia oriental do não fazer (wu-wei, em chinês) ou, mais exatamente, não interferir. Fukuoka alcançou um alto grau de compreensão dos microssistemas do solo, que lhe permitiu idealizar um sistema que libera do trabalho e dos esforços não necessários empregados na agricultura convencional moderna. Seu método se baseia em dar e receber da terra de forma natural, em vez de sugar os seus recursos até o seu total esgotamento. Bolas de argila (nendo dango) Para melhorar a produção com a menor intervenção possível, Fukuoka idealizou entre outras coisas um sistema que permite substituir tanto o arado quanto os espantalhos. Uma criação importante é o das bolinhas de barro: colocar sementes dentro de bolinhas de barro de 2 a 3 centímetros de diâmetro que serão espalhadas na superfície do campo agrícola. No interior das bolinhas, as sementes permanecerão protegidas das intempéries e dos animais. Com as primeiras chuvas intensas, as bolinhas serão des 31/35

feitas e as sementes começarão a brotar. Misturadas às sementes das plantas que se deseja cultivar são incluídas sementes de outras plantas (principalmente do trevo branco). Estas últimas germinarão mais rapidamente e suas plantas criarão uma capa fina que protegerá o solo da luz solar, impedindo a germinação de ervas daninhas, mas não a dos cereais que se deseja cultivar. Em vez de arar ou eliminar as ervas do campo agrícola, o método Fukuoka recomenda que ele seja recoberta com os restos das plantas cultivadas na colheita anterior, de forma que seja criada uma compostagem natural, capaz de conservar a umidade e os nutrientes e de impedir a proliferação de ervas não desejadas. Detalhes interessantes As bolas de argila podem conter uma porção de adubo natural (esterco ou outros). Uma porção de pimenta caiena acrescentada às bolotas de barro ajuda a espantar animais que poderiam comer as sementes. Nessas bolotas podem também ser incluídas várias combinações, segundo seja o cultivo de cereais, hortaliças, frutas, zonas de bosques, etc., de modo que possam ter muito mais usos que o da produção de alimentos agrícolas (reflorestamento, renovação de áreas verdes, regeneração de solos desgastados, etc.) Sistema de trabalho O sistema Fukuoka se baseia em respeitar e inclusive potencializar os ciclos naturais, de maneira que estes assegurem uma melhor qualidade de crescimento das plantas. oásis. agricultura 7/8

Mediante intervenções simples, executadas no momento adequado, é possível obter-se uma considerável redução do tempo de trabalho. Essas intervenções são baseadas na interação da biosfera com o solo. Por exemplo: no outono semeia-se arroz, recoberto com uma espessa camada de palha de arroz. O centeio ou a cevada e o trevo brotam imediatamente, mas as sementes do arroz permanecem latentes até a chegada da primavera. O centeio e a cevada são ceifados em maior e permanecem espalhados sobre o terreno para que sequem durante uma semana a dez dias. Depois disso, são triados e ensacados para armazenamento. Toda a palha é espalhada sem trituração sobre os campos, como para formar um acolchoado. Os campos permanecem inundados durante um curto período de tempo durante as chuvas das monções de junho para debilitar o trevo e as ervas daninhas, e dessa forma proporcionar ao arroz a oportunidade de brotar através da capa vegetal que cobre o solo. A filosofia de vida de Fukuoka Se não tivesse criado para mim uma filosofia de vida, já estaria morto há muitos anos, costumava afirmar Fukuoka. Uma única coisa é absolutamente verdadeira: Tudo é uno. Também descobri que nada existe neste mundo. Tentei penetrar cada vez mais nos detalhes do NADA mais profundo. Assista o vídeo aqui. oásis. astro 33/35

ambiente AQUECIMENTO GLOBAL Nas cordas de um violoncelo oásis. ambiente

Ideia genial: O músico e ambientalista Daniel Crawford transformou 130 anos de história atmosférica terrestre em uma partitura para violoncelo Por: Equipe Oásis. Vídeo: Vimeo O s efeitos do aquecimento global estão em todas as partes, dia após dia. Mas é difícil construir uma ideia precisa desse fenômeno sem ter nas mãos os dados do quanto os termômetros subiram nos últimos cem anos. Uma ideia genial nos ajuda a perceber essa escalada. Ela foi pensada por Daniel Crawford, um estudante de música da Universidade de Minnesota, que transformou 130 anos de história atmosférica terrestre em uma partitura para violoncelo. Escute o lamento sonoro da Terra que está cada vez mais quente: é fácil perceber que de 1960 em diante as notas são cada vez mais agudas, quase estridentes em relação ao início da composição. Isso acontece porque 9 dos 10 anos mais quentes da história dos registros meteorológicos, de 1880 em diante, verificaram-se na última década. Os especialistas sustentam que o planeta ainda se aquecerá 1,8 graus centígrados até o final deste século, disse Crawford ao comentar a sua composição, que batizou de A Song of Our Warming Planet. Segundo o autor, esse ulterior aquecimento criará uma série de notas que irão além do limite perceptivo do ouvido humano. Vídeo: A Song o four Warming Planet, de Daniel Crawford Estudioso de temáticas ambientais, além de músico, Crawford coletou os dados sobre a temperatura da atmosfera vizinha à superfície terrestre publicados pelo Goddard Institute of Space Studies, da NASA, relativos a um período que vai de 1880 a 2012. A cada ano, ele associou uma nota: à medida que a temperatura média do planeta aumenta, aumenta também a altura da nota tocada. oásis. ambiente