ATENÇÃO A SAÚDE DA CRIANÇA: UMA ANÁLISE DE SUA IMPLEMENTAÇÃO NO MUNÍCIPIO DE SANTA MARIA 1



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Transcrição:

ATENÇÃO A SAÚDE DA CRIANÇA: UMA ANÁLISE DE SUA IMPLEMENTAÇÃO NO MUNÍCIPIO DE SANTA MARIA 1 Cerezer, J. 2, Pozzobon, L. 2, Oliveira, N. 2, Vedoin, P. 2, Colomé, J. 3. 1 Trabalho desenvolvido na Disciplina de Políticas Públicas de Saúde do Curso de Enfermagem do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil 2 Acadêmicas do Curso de Enfermagem do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil 3 Docente do Curso de Enfermagem do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil E-mail: josy_cerezer@hotmail.com;leisepozzobon@hotmail.com; nathy-de-oliveira@hotmail.com; prycv@yahoo.com.br; julianacolome@yahoo.com.br. RESUMO Este estudo tem como objetivo avaliar a implantação da política de atenção à saúde da criança na rede básica do município de Santa Maria. Trata-se de uma revisão bibliográfica no qual foram obtidos dados por meio de uma entrevista. A política de atenção integral à saúde da criança se apresenta em forma de linhas de cuidado, que devem ser priorizadas nas ações de saúde dirigidas à atenção a criança. Tendo como objetivos principais as seguintes ações: promoção do nascimento saudável, acompanhamento do recém-nascido de risco; acompanhamento do crescimento, desenvolvimento e imunização; promoção do aleitamento materno e alimentação saudável: atenção aos distúrbios nutricionais, anemias carenciais e a abordagem das doenças respiratórias e infecciosas. Conclui-se que, muito ainda tem a se fazer em relação a esta política, pois as verbas são insuficientes e mal distribuídas, além da necessidade de um maior comprometimento de todos os envolvidos na implementação desta política pública de saúde. Palavras-chave: Criança. Políticas Públicas. Atenção Básica. 1. INTRODUÇÃO A política de atenção à saúde da criança representa um campo prioritário dentro dos cuidados à saúde das populações. As ações de promoção à saúde, prevenção de agravos e de assistência à criança pressupõem o compromisso de prover qualidade de vida para que a criança possa crescer e desenvolver todo o seu potencial (BRASIL, 2009). Para que essa se desenvolva de forma mais efetiva e eficiente, além do conhecimento sobre as características relacionadas a morbi-mortalidade, tais como aspectos biológicos, demográficos e socioeconômicos, é importante salientar o papel que desempenham os serviços e o sistema de saúde. Alguns problemas no cumprimento de normas técnicas por parte dos profissionais, não realização de trabalhos educativos, falta de equipamentos dentre outros, deficiências na notificação de dados e dificuldades no processo de trabalho dos profissionais são pontos que persistem e que são, de forma evidente, impeditivos para uma adequada atenção à saúde. Nesse contexto, os cuidados primários em saúde apresentam grande relevância como uma possibilidade para o enfrentamento dos problemas. Para que se possa compreender de que forma e em que medida as ações, programas e políticas são implantadas e conhecer os efeitos dessas intervenções, há que se desenvolver processos avaliativos pertinentes e oportunos. A avaliação deve, portanto, ser compreendida como uma ferramenta relacionada à tomada de decisão. Segundo Bodstein (2002) a importância dos processos avaliativos, em especial no âmbito local, em face da política de descentralização do Sistema Único de Saúde. Diante de contextos diversos, reforça a utilidade de análises qualitativas, comparativas e de estudos de caso para o planejamento e a gestão, considerando o fortalecimento das ações básicas e o desenvolvimento da atenção primária, efetivos de fato para uma melhor oferta de saúde. Neste sentido, investigam-se: quando e como segmentos da sociedade civil e do governo local passam a considerar a saúde da criança como uma forma de garanti-las um crescimento e desenvolvimento adequados? O presente artigo justifica-se, pois de acordo com Brasil (2009), o acompanhamento do crescimento e desenvolvimento da criança é de suma importância e faz parte da avaliação integral à 1

saúde da criança, que propicia o desenvolvimento de ações como: promoção da saúde, hábitos de vida saudáveis, vacinação, prevenção de problemas e agravos à saúde e cuidados em tempo oportuno. Este estudo teve como objetivo, avaliar a implantação da política de atenção à saúde da criança na rede básica de atenção à saúde do município de Santa Maria. 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA A Constituição Federal de 1988 e a Lei n. 8.069 de 13 de julho de 1990, denominada Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), trouxeram inúmeras inovações na área de políticas públicas dirigidas a esse segmento; considerou a infância e a juventude como prioridade absoluta, merecedoras de proteção integral por parte da família, da sociedade e do Estado; consideraram crianças e adolescentes como pessoas em condição peculiar de desenvolvimento e merecedores de proteção especial (OLIVA ; KAUCHAKIE, 2009). Ainda para os autores supracitados, no decorrer da história, crianças e adolescentes vêm sendo vistos e tratados de forma desrespeitosa levando-se em conta os parâmetros atuais que os consideram pessoas em condição peculiar de desenvolvimento, dignos de respeito e reconhecidos em sua plena cidadania. De acordo com os valores e costumes atuais, não mais se admite que crianças e adolescentes sejam vítimas de violência, negligência e opressão, porém, de acordo com o momento histórico observado e a cultura local, esse paradigma pode modificar-se. Essa situação só encontrou grandes modificações no final da década de 1980, com o fim da ditadura militar e um grande movimento envolvendo a sociedade civil organizada na mobilização pelo reconhecimento dos direitos da criança e do adolescente, reflexo de um movimento internacional. Em 1984, foram estabelecidas as diretrizes para elaboração, implantação e implementação do Programa de Assistência Integral à Saúde da Criança em parcerias com os estados e municípios - PAISC. Foi a partir dessas diretrizes que as ações básicas de assistência integral à saúde da criança foram formuladas pelo Ministério da Saúde no contexto da política de expansão e consolidação dos serviços básicos de saúde. Participaram desse processo os ministérios da área social que possuem interface com as atividades de proteção, promoção, recuperação e reabilitação da saúde infantil (BRASIL, 2009). A expansão das atividades relativas à saúde da criança exigiu a construção de parcerias que agregassem recursos financeiros, humanos, administrativos, tecnológicos e, especialmente, permitissem aproximar as ações da população. Contribuíram para os bons resultados obtidos: a expansão dos Programas de Agentes Comunitários de Saúde e de Saúde da Família, a atuação da Pastoral da Criança, Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde, e de organizações nãogovernamentais (BRASIL, 2009). A afirmação dos direitos da criança e do adolescente pela comunidade internacional se consolida com a adoção pela ONU, em Assembléia Geral realizada em 20 de novembro de 1989, da Convenção dos Direitos da Criança, ratificada pelo Brasil e pela quase totalidade dos países hoje existentes no mundo. A partir da Constituição de 1988, ela mesma resultado da luta dos movimentos da sociedade, grupos organizados em torno da questão da criança e do adolescente e de problemas mais gerais, ligados ao direito e à redemocratização do Estado, introduzem outra concepção de proteção social. Concepção que pressupõe o desenvolvimento de políticas universais e integradas, estruturadas sob o princípio de uma gestão pública participativa (OLIVA e KAUCHAKIE, 2009). A infância e a adolescência entendidas como categorias socialmente construídas permitiram a adoção de práticas sociais condutoras do processo de formação da identidade sociocultural infantojuvenil. Essas práticas foram à assistência, saúde e educação que atingiram seu objetivo e se validaram como opções ao enfrentamento da questão social adotaram um caráter universal, obrigatório e de responsabilidade do Estado (MENDONÇA, 2002). Em 1984, o Ministério da Saúde intensificou sua atuação na promoção da saúde de crianças até cinco anos de idade, através da criação do Programa de Assistência Integral à Saúde da Criança (PAISC). Este programa foi um grande marco assistencial, de uma política de universalização da assistência à saúde, objetivando a diminuição das condições que determinam a morbimortalidade infantil no país, nos últimos vinte anos (NOVACZYK, DIAS, GAÍVA, 2008). Para os autores acima, o PAISC é considerado uma política universal, porque visa o beneficio e alcance de toda população infantil brasileira, centra-se no desenvolvimento de cinco 2

ações básicas de saúde integradas, capazes de responder aos problemas comuns da infância. Estas ações preconizadas pelo Ministério da Saúde abrangem: Promoção, Proteção e Apoio ao Aleitamento Materno; Incentivo e Qualificação do Acompanhamento do Crescimento e Desenvolvimento; Prevenção de Violências e Promoção da Cultura e da Paz; Vigilância da Mortalidade Infantil e Fetal e Atenção a Saúde do Recém-Nascido. Os autores relatam também, que, o objetivo do Ministério da Saúde quando apresentou esta proposta, era deslocar o enfoque de uma assistência médicocurativista, centrada na atenção à demanda espontânea às crianças doentes para garantir a integralidade na assistência prestada pelos serviços de saúde. Diante deste contexto e percebendo a necessidade de atividades mais amplas e integradas, três ações/estratégias foram incorporadas na última década à política de saúde do Brasil pelo Ministério da Saúde: o Programa Saúde da Família (PSF), a partir de 1994; a estratégia de Atenção Integrada às Doenças Prevalentes da Infância (AIDPI), em 1996; e a Agenda de Compromissos com a Saúde Integral da Criança e Redução da Mortalidade Infantil, proposta em 2004(2,5-6). Estas ações objetivam um maior acesso aos cuidados básicos de saúde, tornando mais resolutivo o nível de atenção primária (NOVACZYK; DIAS; GAÍVA, 2008). 3. METODOLOGIA O levantamento bibliográfico foi realizado no período de outubro e novembro de 2009, em periódicos e livros da Área da Saúde. Segundo Vieira e Hassne (2001, p. 136), uma revisão bibliográfica mostra a evolução de conhecimentos sobre um tema específico, aponta as falhas e os acertos dos diversos trabalhos na área fazendo críticas e elogios e resume o que é, realmente, importante sobre o tema e assim favorecendo reflexões acerca da experiência profissional das autoras no atendimento da equipe de enfermagem. Também foi realizada a busca de informações no setor responsável pela Política de Atenção Integral à Saúde da Criança do município de Santa Maria. Foi realizada entrevista com o profissional de saúde responsável pela referida política de saúde. Para Gil (2006) entrevista é definida como a técnica em que o investigador se apresenta frente ao investigado e lhe formular perguntas, com o objetivo de obtenção dos dados que interessam à investigação. 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES A política de atenção integral à saúde da criança se apresenta em forma de linhas de cuidado, que devem ser priorizadas nas ações de saúde dirigidas á atenção á criança. Tendo como objetivos principais as seguintes ações: a promoção do nascimento saudável, o acompanhamento do recém-nascido de risco; o acompanhamento do crescimento e desenvolvimento e imunização; a promoção do aleitamento materno e alimentação saudável: atenção aos distúrbios nutricionais e anemias carenciais e a abordagem das doenças respiratórias e infecciosas. Veremos a seguir cada uma dessas ações de forma detalhada. 1) Promoção do nascimento saudável O profissional enfermeiro deve dar atenção á mulher que deseja engravidar através de orientações sobre alimentação adequada; avaliação de anemia e tratamento; uso de medicamentos; administração preventiva de ácido fólico durante 60 a 90 dias antes da concepção; investigação para rubéola e hepatite b com imunização prévia à gestação; aconselhar a realização do teste anti-hiv, nos casos positivos, esclarecer sobre os riscos de transmissão; no cuidado pré-natal avaliar a necessidade de realização do papanicolau, orientar a gestante a realizar no mínimo seis consultas conforme protocolo do Ministério da Saúde; diagnosticar e tratar a infertilidade e doenças crônicas; garantir acolhimento imediato da gestante na maternidade; realizar humanização da assistência. Um exemplo de promoção de nascimento saudável está na criação do Programa Primeira Infância Melhor (PIM), o qual é uma política pública pioneira no estado do Rio Grande do Sul que foi implantada em 07 de abril de 2003 e tornou-se lei estadual nº 12.544 em 03 de julho de 2006. Tem como objetivo orientar as famílias, a partir de suas culturas e experiências, para que promovam o desenvolvimento integral de suas crianças desde a gestação até os seis anos de idade. 2) Acompanhamento ao RN de risco 3

O atendimento aos RNs de risco devem ser priorizadas para o desenvolvimento das ações de vigilância à saúde, ou seja: captação precoce e busca ativa para manutenção do calendário de atenção à saúde da criança, seguindo proposta de acompanhamento e desenvolvimento da criança menor de 5 anos e segundo protocolos específicos. Realizar identificação da criança de risco ao nascer; avaliação da saúde da puérpera; avaliação geral da criança e verificação do cartão da criança e condições de alta da maternidade/unidade de assistência ao RN. Além disso, toda mãe de RN de risco deve preencher a uma ficha de acompanhamento do RN. Todo e qualquer RN de risco deve receber acompanhamento mensal pela equipe de saúde da família, controle de peso, altura, avaliação clínica, grupos, busca ativa e orientação nutricional. 3) Acompanhamento do crescimento e desenvolvimento A equipe de atenção básica deverá conhecer a população infantil de abrangência da unidade de saúde para programar e avaliar as ações de saúde, garantir a execução do calendário de acompanhamento do crescimento e desenvolvimento par toda criança da área de responsabilidade da unidade, com enfoque prioritário para acriança de alto risco, executar as ações de vigilância à saúde da criança, com busca ativa da criança faltosa, avaliar sinais de risco á saúde da criança, avaliar o cartão da criança em todas as oportunidades, avaliar integralmente a criança, avaliar e observar a mamada quando da presença da criança na unidade e manter funcionamento contínuo das imunizações. 4) Promoção do aleitamento materno A amamentação fornece muitas vantagens para o bebê. O colostro é considerado o melhor alimento, pois fornece água o suficiente. O leite materno protege o bebê contra vírus, bactérias e alergias; melhora o desenvolvimento psicomotor, mental, social e emocional e também causa menos doenças na infância. O programa crescer quem ama amamenta foi desenvolvido com o objetivo de orientar as mães quanto à importância do aleitamento materno e suas vantagens para o bebê e para a mãe. As principais vantagens do aleitamento materno para a mãe são: reduz o risco de câncer de mama e ovário, ajuda o útero a voltar ao normal e diminui o risco de sangramento pós-parto, ajuda a mãe a voltar mais rápido ao peso que tinha antes da gravidez, além de oferecer à mãe a oportunidade de demonstrar seu amor. 5) Abordagem das doenças respiratórias e infecciosas A Secretaria da Saúde do RS atualizou em 2007, do Programa Viva Criança, a Norma Técnica e Operacional para Infecções Respiratórias Agudas (IRA). Segundo este manual as infecções respiratórias agudas são responsáveis por 4 das 13 milhões de mortes anuais de crianças menores de 5 anos que ocorrem no mundo. No Rio Grande do Sul, o exame das causas que contribuem para mortalidade na infância mostra que estão principalmente associadas a afecções originárias no período perinatal, anomalias congênitas, causas externas e IRA. Estudos comprovam que as IRAS (Infecções Respiratórias Agudas) correspondem ao maior percentual de consultas ambulatoriais e de internações pediátricas nas unidades sanitárias e nos hospitais, configurando, desse modo, um nítido problema de saúde pública. O objetivo geral do Programa Viva Criança é reduzir a mortalidade por IRA e reduzir a internação hospitalar por Infecções Respiratórias Agudas. Enquanto os objetivos específicos visam diagnosticar e tratar precocemente os casos de IRA na demanda das Unidades de Saúde do Estado, prevenir casos de IRA através de medidas educativas, imunizações, aleitamento materno, controle do tabagismo e reduzir o uso inadequado de antibióticos e outros medicamentos em casos de IRA. A população alvo deste programa é de crianças de cinco anos de idade. As Infecções Respiratórias Agudas podem ser prevenidas através de imunizações, incentivo ao aleitamento materno, abandono do tabagismo, desnutrição e prevenção da febre reumática e da hipoacusia. Estes são os principais programas destinados a dar uma atenção integral a saúde da criança a fim de buscar ações específicas que possam contribuir para um melhor crescimento e desenvolvimento da criança. 5. CONCLUSÃO Ao nos depararmos com a realidade atual, percebemos deficiências nas políticas públicas de promoção a saúde, especificamente na política voltada à saúde da criança, sendo assim, acreditamos 4

que se faz necessário uma melhor cobertura na rede pública de saúde. Acredita-se que este estudo possibilitou-nos conhecer mais de perto o funcionamento das ações relacionadas à Política da Criança no município de Santa Maria, e ainda chegar a um consenso do quanto é complexo e exigente a correta gesticulação da mesma, indo de encontro a nossa percepção anterior a visita. Conclui-se que, muito ainda tem a se fazer em relação a esta política, pois as verbas são insuficientes e mal distribuídas, além da necessidade de um maior comprometimento de todos os envolvidos na implementação desta política pública de saúde. REFERÊNCIAS BODSTEIN, R.C.A. Atenção básica na agenda da saúde. Ciênc. da Saúde Coletiva, Biblioteca de Saúde Pública, 2002; BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Área de Saúde da Criança: Crescimento e Desenvolvimento. Brasília, 2009. GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Editora Atlas, 2006. MENDONÇA, M. H. M. O desafio da política de atendimento à infância e à adolescência na construção de políticas públicas eqüitativas. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 18(Suplemento): 113-120, 2002. NOVACZYK, AB. DIAS, NS. GAÍVA, MAM. Atenção à saúde da criança na rede básica: análise de dissertações e teses de enfermagem. Rev. Eletr. Enf. 2008. OLIVA, JCGA. KAUCHAKIE, S. As políticas sócias públicas e os novos sujeitos de direitos: crianças e adolescentes. Rev. Katál Florianópolis v. 12 n.1 p.22-31 jan./jun. 2009. VIEIRA, S.; HASSNE, W. S. Metodologia cientifica para área de saúde. 7ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2001. 5