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RONALD DE CARVALHO Um historiador da literatura à margem das histórias da literatura brasileira Cláudia Mentz Martins (FURG) Atualmente, há algumas dificuldades em se encontrar dados relevantes sobre o autor Ronald de Carvalho (1893-1935), seja por meio dos textos localizados na internet, seja em capítulos de livros da história da literatura brasileira. Nos sites da internet 1, as informações são de cunho biobibliográfico em grande parte e destacam, entre outros aspectos, sua participação na Semana de Arte Moderna em São Paulo, em 1922, e na publicação do primeiro número da revista literária Orpheu, em março de 1915, em Lisboa, enquanto editor ao lado de Luis de Montalvor. Em alguns momentos, verifica-se a presença de alguma análise ainda que superficial de sua produção, sendo destacados os livros Epigramas irônicos e sentimentais e Toda a América. Já nos volumes da história da literatura ou livros similares, o conteúdo coletado não é muito diferente do exposto acima. Porém, dependendo do historiador, encontra-se algum aprofundamento na análise seja da obra do poeta ou de alguns poemas. Destaca-se que somente em alguns desses materiais menciona-se o fato de Ronald de Carvalho ser o autor de uma das primeiras histórias da literatura nacional, em 1919. A título de exemplificação, foram selecionados os livros que seguem. Em História concisa da literatura brasileira, de Alfredo Bosi, há 12 menções ao nome de Ronald de Carvalho, que ocorrem em capítulos dedicados ao Arcadismo, Simbolismo, Pré-Modernismo e Modernismo. Ou seja, Bosi inclui, em sua História concisa, dados que Ronald de Carvalho teceu em sua Pequena História da Literatura sobre, por exemplo, Silva Alvarenga, referenciando o poeta modernista entre parênteses e sem maiores detalhes: último dos neoclássicos de relevo, autor de uma Epístola a Basílio da Gama forrada de preceitos horacianos, Silva Alvarenga já foi considerado, no entanto, o elo que prende os árcades e os românticos (Ronald de Carvalho) (BOSI, 1994:79). Bosi enquadra Ronald de Carvalho como um dos poetas intimistas, isto é, pertencente ao Simbolismo que flertou com o Modernismo: Dentre os colaboradores de Fon-Fon! figuram os nossos melhores intimistas [...] como Eduardo Guimaraens, Álvaro 1 Dados obtido em 30 de outubro de 2013, por meio do Google. Os três primeiros registros que surgiram foram Wikipédia, disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/ronald_de_carvalho; Jornal de Poesia, disponível em http://www.jornaldepoesia.jor.br/rc.html; e Algo sobre vestibular, disponível em http://www.algosobre.com.br/biografias/ronald-de-carvalho.html. Salienta-se que, neste trabalho, não se discutirá a veracidade das informações encontradas nesses sites.

Moreyra e Felipe d Oliveira. Avançando nessa linha, encontraríamos poetas que aderiram (ou quase...) ao Modernismo: Rodrigo Otávio Filho, Ribeiro Couto, Olegário Mariano, Guilherme de Almeida, Ronald de Carvalho, Onestaldo de Pennafort... (BOSI, 1994: 287) Além de Ronald de Carvalho aparecer em meio a listagem de nomes de outros poetas e escritores brasileiros, Bosi o indica como integrante do grupo futurista da Orpheu e como autor da Pequena História da Literatura Brasileira ainda presa a critérios acadêmico-nacionalistas. Critérios que a sua notável capacidade de assimilação iria depois adelgaçar para absorver, diplomaticamente, as novidades do Modernismo. (BOSI, 1994: 316). Em História da literatura brasileira de Luciana Stegagno-Picchio, a citação a Ronald de Carvalho, em um primeiro momento, aparece ao lado de Ribeiro Couto, Manuel Bandeira, Guilherme de Almeida. É dito que eles apresentavam um discurso antienfático, submisso, auto-irônico, pois se tornaram modernistas por maturação e não por fratura. Sua segunda aparição ocorre numa subseção intitulada as outras vozes poéticas do primeiro Modernismo. Nesse espaço, o último parágrafo lhe é dedicado: Do grupo carioca, além da figura de Manuel Bandeira, valerá a pena extrair ainda uma outra: a de Ronald de Carvalho (1893-1935), embaixador cultural durante anos na Europa e na América, bom prosador (foi denominado príncipe dos prosadores brasileiros na cadeira de Coelho Neto), ponte de ligação entre vanguardas portuguesas e brasileiras na revista portuguesa Orpheu (1914), autor de uma afortunada História da literatura, mas, antes de tudo, torrencial, whitmaniano poeta de Toda a América (1926). O poema, declamatório na sua composição do homem europeu ao americano, na descrição enumeratória, por catálogo-inventário, de um Brasil, teve ao seu tempo muita fortuna, até na Europa: na Itália foi apreciado e traduzido por A. G. Bragaglia. (STEGAGNO-PICCHIO, 1997: 499. Grifos da autora.). Rápidas são as menções ao nome de Ronald de Carvalho na Presença da literatura brasileira: modernismo, de Antonio Candido e J. Aderaldo Castello. Elas estão no capítulo Modernismo, na seção características estéticas. É dito que uma das maiores contribuições dos modernistas de 22 é a liberdade de criação, sendo utilizada uma citação do poeta, seguida de seu nome: Cria o teu ritmo livremente, disse Ronald de Carvalho (CANDIDO; CASTELLO, 1994: 9). Logo após, em uma referência à técnica e à atitude de espírito como valorização do prosaico e do bom humor, tem-se: Há no Modernismo uma extraordinária alegria criadora ( O claro riso

dos modernos, escreveu Ronald de Carvalho), que invade todos os gêneros, atinge as alturas picarescas de Macunaíma [...] (CANDIDO; CASTELLO, 1994:11). Na seção Grupos e tendências, existem outras menções ao autor. A primeira consiste em referências a livros escritos no calor da hora do Modernismo: De 1921 são Epigramas Irônicos e Sentimentais (publicados em 1922), com que Ronald de Carvalho, consagrado por dois livros de inspiração parnasiana, buscava uma expressão nova. (CANDIDO; CASTELLO, 1994: 12). E, depois, é retomado seu locus literário, seguido de comentários gerais sobre as influências demonstradas em suas obras até então conhecidas: Eram todos [modernistas] residentes em São Paulo e Rio de Janeiro, alguns já conhecidos por obra anterior, de inspiração pós-parnasiana ou pós-simbolista, como Manuel Bandeira, Guilherme de Almeida, Menotti del Picchia, Ronald de Carvalho, Ribeiro Couto. (CANDIDO; CASTELLO, 1994:12) O nome do poeta também vem à tona quando é realizada uma comparação de como era o Modernismo praticado em São Paulo e no Rio de Janeiro. O Rio de Janeiro, onde se localizava Ronald de Carvalho, por ter uma vida cultural mais diversificada em contraposição a de São Paulo que não tinha um passado vinculado às atividades artísticas e que, por isso, mostrava os elementos mais polêmicos e agressivos do movimento de 22 apresentava um panorama no qual [...] havia uma tradição que pesava e era representada por gente de valor, sendo ainda capaz de inspirar os mais moços. Daí muitos modernistas terem produzido obra esteticamente de compromisso, como Ronald de Carvalho ou Ribeiro Couto [...]. (CANDIDO; CASTELLO, 1994: 13) Finalizando as menções de Ronald de Carvalho, em Presença, tem-se, no item Poesia, comentários e pequenas análises de alguns dos poetas mais significativos do período. Ele figura ao lado de Oswald e Mario de Andrade, sendo citada a sua obra Epigramas irônicos e sentimentais, de 1922. (CANDIDO; CASTELLO, 1994: 21). Em Literatura Brasileira: origens e unidade, no volume II, de José Aderaldo Castello, encontram-se onze referências a Ronald de Carvalho, sendo que a maior parte delas trata-se apenas do nome do poeta em meio a outros artistas. No capítulo Antecedentes imediatos ao Modernismo 1º. Persistências e renovações literárias, seu nome aparece pela primeira vez e é arrolado ao lado de Machado de Assis, Silvio Romero, José Verissimo e Nestor Vítor (cf. CASTELLO, 1999: 17-18) por ter tido um papel significativo na crítica e na historiografia literária nacionais. Ele também é citado como sendo um dos integrantes da revista Fon-Fon!, e possuidor de traços mais

tradicionais, típicos do final do século XIX, porém já com inclinações para o Modernismo. Sua inclinação moderna se verifica ao ter seu nome listado entre aqueles que participaram da Semana de Arte Moderna de 22, e entre os que conseguiram projeção após esse evento. Segundo Castello (1999), isso é comprovado por ser um dos poetas pelos quais Mario de Andrade demonstra admiração em seus ensaios e escritos sobre as poéticas de vanguarda. Ronald de Carvalho aparece em destaque na obra de Castello (1999), em específico, no capítulo Produção literária do Modernismo a fase heróica: 1º) a poesia. É dito que sua estréia ocorreu com Luz gloriosa, 1913, mas que a influência modernista só se fez presente a partir de Toda América, 1925. É realizada uma breve apreciação de Luz gloriosa, com a intenção de destacar o predomínio do soneto e do verso alexandrino e da sua ligação com a natureza. Sobre Toda América, esclarece a importância da obra: [...] verdadeiro poema de reconhecimento de uma identidade americana heterogênea: bela pela natureza; primitiva pelos aspectos selvagens; rústica como civilização e cultura mestiça assim limitada ao universo rural; progressista e dinâmica, industrial nos centros urbanos. Esse todo heterogêneo abrange as três partes que compõem a América, posta em confronto com a matriz européia, invocada por este objetivo, conforme a composição que abre o poema. (CASTELLO, 1999: 163-164) Outro material indispensável a ser consultado para se obter detalhes sobre o intelectual brasileiro é Literatura no Brasil, sob a direção de Afrânio Coutinho. Composta de 6 volumes, localizam-se várias referências a Ronald de Carvalho, merecendo destaque aquelas que comentam a produção do poeta, pois as outras são apenas menções ao seu nome, muitas vezes em nota de rodapé. Nesta história da literatura é frequente ainda a menção ao Ronald de Carvalho historiador da literatura, isto é, sua (não)apreciação a alguns autores e escolas literárias - exposta na Pequena história da literatura brasileira (1919). Por exemplo, ao ser abordado o Romantismo brasileiro e, em específico, o poema Os timbiras de Gonçalves Dias, é dito que Ronald de Carvalho o considerava possuidor de um lirismo panteísta (COUTINHO, 1986 1 :86. v.3); já sobre Casimiro de Abreu dizse que o considerava um esquisito cantor da saudade (COUTINHO, 1986 1 :86. v.3). A Carvalho, Afrânio Coutinho designa a percepção da importância de Bernardo Guimarães para a literatura nacional quando explana que realmente, ao autor de O seminarista concedeu Ronald de Carvalho o privilégio de ter sido o introdutor do regionalismo em nossa literatura (COUTINHO, 1986 2 : 278. v. 4).

Sobre a produção intelectual de Ronald de Carvalho, faz-se uma análise até então inédita de sua Pequena história da literatura brasileira. Sua importância é deferida num processo de comparação com aquela escrita por Silvio Romero, e que, apesar de ter alguns pontos de concepção semelhante a deste, é apontada por vezes como superior: sua Pequena história da literatura brasileira (1919) procurando corrigir alguns dos juízos de Silvio Romero, não foge às suas normas gerais. [...] A diferença está no estilo, que, no último, é de um real artista da palavra, e no ajuizamento sobre autores, agora mais crítico (COUTINHO, 1986 2 : 61. v.4). Coutinho, a exemplo de outros autores, lembra que o poeta vinculava-se no início de sua produção a uma linhagem simbolista e parnasiana já decadentes (COUTINHO, 1986 2 : 337; 345. v.4) e que, ao lado de Luís de Montalvor, foi um dos idealizadores da revista Orpheu, além de ter sido figura atuante da Semana de Arte Moderna (COUTINHO, 1986 3 :.5; 102. v.5). A relevância de Ronald de Carvalho para a literatura brasileira é salientada não apenas com a retomada das informações já tecidas como sendo um dos poetas que se destacou pela composição da poesia moderna caracterizada pelo uso do verso livre (COUTINHO, 1986 2 : 371. v. 4), mas há a preocupação de mostrá-lo como um intelectual que não esteve fixado a uma única escola literária ou experiência estética, conforme fica expresso no seguinte fragmento: Estudo fascinante e objetivo seria o que focalizasse a obra poética de Ronald de Carvalho, numa parábola que tivesse como pontos de partida e de chegada, o livro de poemas Luz gloriosa (1913), Toda América (1926). Obra de cultura e poesia percorre a zona intermediaria através dos Epigramas irônico e sentimentais (1921)para explodir em pleno espírito modernista em Jogos pueris e Toda América, publicados, ambos, em 1926. Múltipla e vária criou raízes no Parnasianismo (Poemas e sonetos, 1919, é dedicado a Alberto de Oliveira) e liga duas escolas a simbolista e a modernista. Em poesia Ronald de Carvalho é eclético, pois adaptou o espírito e a sensibilidade a todos os gêneros literários que sua grande e limitada vida. Ronald figurará em nossas letras como um dos escritores mais cultos da sua geração. Realizou, como historiador literário, ensaísta, crítico e poeta, um conjunto de obras, definitivo. (COUTINHO, 1986 2 : 544. v.4) No texto, são feitas citações e/ou transcrições de alguns (trechos de) poemas exemplares de sua produção como Écogla tropical, Gravado numa estrela, Ode, Interior. Os poemas são entremeados com comentários que destacam a significância do poeta, a poeticidade de seus versos, e suas características marcantes, a exemplo da pequena análise de Toda América: Toda América (1926), com seus ritmos caudalosos, procura definir a terra americana, o seu sentido e o seu destino. A

ressonância whitmaniana das composições vem sendo apontada desde que apareceu o livro e ainda o seu ar declamatório. Na Advertência liminar do volume, Ronald põe em paralelo o europeu e o americano: [...] Segue-se Brasil, cheio de enumerações, poemas sobre vários locais da América Central, do Norte e do Sul, e afinal a síntese Toda América, onde clama por poetas que cantem o Novo Continente. (COUTINHO, 1986 3 : 104-105, v.5) Na parte intitulada Primeiro momento modernista (1922-1928), da História da literatura: Modernismo (1922 atualidade) de Massaud Moises, é concedido espaço a Ronald de Carvalho. Ronald é introduzido por meio da citação de dados biobibliográficos, destacando-se o fato de que após a sua morte, seu nome cai no esquecimento. A exemplaridade de sua produção para a época da escritura é indicada como causa de seu indelével desaparecimento: Ronald de Carvalho é bem o retrato da efemeridade da glória: incensado durante a vida, gozando dum prestígio que as boas amizades testemunham, a sua estrela apagou-se após o falecimento. Talentoso, vocacionado para as Letras como por uma inarredável predestinação, encontrando todas as facilidades para exprimir seus dons, duma ampla cultura, nem por isso resistiu ao desgaste do tempo. A explicação desse fenômeno, para além da volubilidade natural do público e do gosto, talvez resida nesses predicados especiais, que lhe determinaram uma trajetória literária singular, marcada por obras e que o êxito do dia como que prenunciava o esquecimento do amanhã. (MOISES, 2001: 40) Moises tece comentários gerais sobre as obra do poeta, destacando assim como outros historiadores da literatura Toda América, porém salientando que nela o tônus lírico decaí visivelmente: bordejando a prosa, como outros poetas do tempo, substitui a emoção pensada de antes pela ênfase retórica que não esconde o vazio sobre a balança (MOISES, 2001: 41). Ele lembra a sua aproximação com Graça Aranha por demonstrarem um traço de união entre a belle époque e o Modernismo, [...] (MOISES, 2001: 41). Após os comentários a respeito dos materiais localizados em alguns sites e de algumas histórias da literatura, é possível se verificar que se sobressaem os dados biográficos de Ronald de Carvalho e que suas obras são mais citadas do que analisadas. Com relação às histórias da literatura, poucas são as linhas voltadas ao poeta e à análise de sua produção, destacando-se A literatura no Brasil, de Afrânio Coutinho; o que se explica pela própria extensão do título composto de vários volumes, permitindo que as referências a Ronald se dessem sobretudo de duas formas: como historiador da literatura e como poeta.

Na sua História concisa da literatura brasileira, Alfredo Bosi também procura utilizar o mesmo recurso, porém, por ela ser concisa o faz parcamente, tal como Luciana Stegagno-Picchio. Massaud Moises não foge à regra neste sentido, apesar de dedicar alguns parágrafos a mais em comparação a esses pares. O fato é que sobre Ronald de Carvalho - excetuando-se os dados biográficos que são imutáveis e, portanto, repetitivos - pouca informação existe. Os autores se repetem nas considerações realizadas, sendo inclusive utilizados os mesmos poemas, exemplos e caracterizações para o poeta, numa retomada que acaba se tornando infrutífera, pois não há novas informações ou novos olhares sobre ele. Tem-se a indicação de que ele foi um simbolista decadente e um dos nomes destacados da fase heróica do Modernismo, ou que Toda América é uma obra com aspectos whitmaneanos. Não que se discorde de tais dados, todavia, em vários momentos, não há nenhum exemplo que ilustre o que está sendo explanado. Isto posto, não se pode furtar ao comentário de que, seja pelo gosto do público leitor ou da crítica, a figura de Ronald de Carvalho palatinamente está desaparecendo dos estudos da literatura brasileira. Reflexão esta presente tanto em Afrânio Coutinho quanto em Massaud Moises. A justificativa de que ele é um poeta datado, ou seja, com uma produção fortemente inserida num determinado contexto cultural, não parece pertinente, pois seus pares também o são. Assim, cabe manter-se a observação sobre os sujeitos que estão escrevendo a história da literatura nacional, em especial, sobre os critérios implícitos e explícitos que utilizam para (não) valorizar seus textos. Tem-se a sensação de que, mediante o apresentado, o que há a ser dito sobre o poeta está cristalizado, sem se esquecer de que, não raro, suas características são arroladas em meio a outros nomes que são tão ou mais desconhecidos. Que uma história da literatura pressupõe seleções, inserções e exclusões não se discute, mas causa inquietação as constantes repetições sobre Ronald de Carvalho, pois elas demonstram um desinteresse sobre ele, que foi um dos primeiros intelectuais a pensar historicamente a literatura nacional. REFERÊNCIAS BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 1994. CANDIDO, Antonio; CASTELLO, J. Aderaldo. Presença da literatura brasileira: Modernismo. São Paulo: Difel, 1994.

CASTELLO, Jose Aderaldo. A literatura brasileira: origens e unidade. São Paulo: EDUSP, 1999. v.ii. COUTINHO, Afrânio (Dir.). A literatura no Brasil. Parte II. Estilo de época: era romântica. 3ªed. Rio de Janeiro: José Olympio; Niterói: UFF, 1986 1, v.3. COUTINHO, Afrânio (Dir.). A literatura no Brasil. Parte II. Estilo de época: era realista/era de transição. 3ªed. Rio de Janeiro: José Olympio; Niterói: UFF, 1986 2, v.4. COUTINHO, Afrânio (Dir.). A literatura no Brasil. Parte II. Estilo de época: era modernista. 3ªed. Rio de Janeiro: José Olympio; Niterói: UFF, 1986 3, v.5. MOISES, Massaud. História da literatura: Modernismo (1922- atualidade). Ed.rev.atual. São Paulo: Cultrix, 2001. v.iii. RONALD de Carvalho. In: Wikipédia. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/ronald_de_carvalho>. Acesso em 30 de out. de 2013. RONALD de Carvalho. In: Jornal de Poesia. Disponível em: <http://www.jornaldepoesia.jor.br/rc.html>. Acesso em 30 de out. de 2013. RONALD de Carvalho. In: Algo sobre vestibular. Disponível em: <http://www.algosobre.com.br/biografias/ronald-de-carvalho.html>. Acesso em 30 de out. de 2013. STEGAGNO-PICCHIO. Luciana. História da literatura brasileira. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1997.