MEDIDAS DOS MOVIMENTOS MANDIBULARES DE INDIVÍDUOS DO GÊNERO FEMININO E MASCULINO, COM E SEM DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR: ANÁLISE PRELIMINAR*

Documentos relacionados
Valores normais da amplitude do movimento mandibular em crianças

CARLOS MARCELO ARCHANGELO 1 MANOEL MARTIN JÚNIOR 1 ALÍCIO ROSALINO GARCIA 2 PAULO RENATO JUNQUEIRA ZUIM 3

- ADITEME - Atendimento Especial de Pacientes com Disfunção da Articulação Temporomandibular

Análise da Eficiência Mastigatória de Indivíduos com Dentição Natural Completa: Estudo Preliminar

Desordem temporomandibular: prevalência e necessidade de tratamento em pacientes portadores de próteses totais duplas

Milena Cruz Dos Santos 1, Willian Gomes da Silva ², João Esmeraldo F Mendonça². Resumo.

ELANE MARIA RODRIGUES LAENDER ANÁLISE DA RELAÇÃO ENTRE AS DISFUNÇÕES DA ATM E AS DISFUNÇÕES CERVICAIS

TRABALHO DE PESQUISA. PALAVRAS-CHAVE: Articulação temporomandibular; Hábitos; Prevalência.

COMPARAÇÃO DA AMPLITUDE DE MOVIMENTO ARTICULAR E CEFALEIA EM INDIVÍDUOS COM DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR E ASSINTOMÁTICOS

VARIAÇÕES FISIOLÓGICAS DA PRESSÃO DO LÍQUIDO CEFALORRAQUEANO NA CISTERNA MAGNA

Consentimento Informado

ODONTOLOGIA PREVENTIVA. Saúde Bucal. Dores na mandíbula e na face.

DIAGNÓSTICO DA DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR E DOR OROFACIAL

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE ODONTOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA

Disfunções temporomandibulares: prevalência e gravidade em professores

Luísa Damasceno Bastos Fisioterapeuta da Clínica escola do Curso de Fisioterapia das FSJ Especialista em Dor Orofacial e DTM.

Romildo da Silva Amorim 1, Giulliano Gardenghi 2

Departamento de Fisiologia e Farmacologia, Universidade Federal de Lavras (UFLA), Lavras, MG, Brasil 4

Grasielle Vicentini Silva. Tratamento de disfunção temporomandibular em crianças e adolescentes: revisão sistemática

UNIVERSIDADE PAULISTA PROGRAMA DE MESTRADO EM ODONTOLOGIA

The interaction between Temporomandibular disorders

- ADITEME - Atendimento Especial de Pacientes com Disfunção da Articulação Temporomandibular

TRABALHO DE PESQUISA. Sandriane MORENO* Cristina Yang YOUNG** Fernanda YANAZE*** Paulo Afonso CUNALI****

Palavras-chaves: Qualidade de vida; Disfunção temporomandibular; acadêmicos; severa.

ASSOCIAÇÃO ENTRE DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR E ESTRESSE EM ALUNOS SECUNDARISTAS

Seminário Interdisciplinar. Traumas Faciais: Atuação Fonoaudiológica e Odontológica

GABRIEL DA ROSA RÔMULO DE SOUZA SALABERGA AVALIAÇÃO DO PADRÃO OCLUSAL DE PACIENTES COM DISFUNÇÃO CRANIOMANDIBULAR ATENDIDOS NA CLÍNICA DE

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE ODONTOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA MESTRADO EM PRÓTESE DENTÁRIA

DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR COMO QUEIXA PRINCIPAL NO PRONTO SOCORRO ODONTOLÓGICO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA

REVISÃO DE LITERATURA

ESTUDO DE CASO CLÍNICO

ABSTRACT RESUMO UNITERMS

UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA PRÓ-REITORIA DE EXTENSÃO, CULTURA E ASSUNTOS ESTUDANTIS. 1. Modalidade da Ação. 2. Apresentação do Proponente

Inter-relação: Ortodontia, DTM e Oclusão

ORTOPEDIA FUNCIONAL DOS MAXILARES

ANALYSIS OF ACUPUNCTURE IN THE TREATMENT OF OROFACIAL PAIN: A CASE STUDY

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE ODONTOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA DOUTORADO EM PRÓTESE DENTÁRIA

ASPECTOS OCLUSAIS NA ETIOLOGIA DAS DESORDENSTEMPOROMANDIBULARES

Estadiamento clínico da disfunção temporomandibular: estudo de 30 casos Clinical staging of temporomandibular disfunction: study of 30 cases

Relação entre classe socioeconômica e fatores demográficos na ocorrência da disfunção temporomandibular

AVALIAÇÃO FONOAUDIOLÓGICA E CORRELAÇÃO ENTRE ALTERAÇÕES ESTRUTURAIS E FUNCIONAIS DO SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO EM RESPIRADORES ORAIS

ASSITÊNCIA FISIOTERAPÊUTICA À PACIENTES COM DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR (DTM): UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

Os autores analisaram 450 ortopantomografias (radiografias panorâmicas), onde foram observados um total de

Temporomandibular disorder and severity in university professors*

Fatores predisponentes de desordem temporomandibular em crianças com 6 a 11 anos de idade ao início do tratamento ortodôntico

Cirurgiã Dentista, Especialista em Saúde Coletiva, Mestre em Estomatologia. PLANO DE CURSO

ALTERAÇÕES PSICOSSOMÁTICAS E HÁBITOS PARAFUNCIONAIS EM INDIVÍDUOS COM DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR

Alterações biomecânicas em pacientes portadores de Disfunção Temporomandibular antes e após o uso de dispositivos oclusais

VIBRAÇÕES ARTICULARES ANTES E APÓS O TRATAMENTO DAS DESORDENS TEMPOROMANDIBULARES

UNITRI-MG, Brasil.

Palavras-chave: qualidade de vida, saúde bucal, síndrome da disfunção temporomandibular.

Aim: The aim of this study was to evaluate the use of two

RELAÇÃO ENTRE DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR E SINTOMAS AUDITIVOS: REVISÃO DA LITERATURA. Aline Maria Barbosa Viana1, Eustáquio Luiz Paiva de Oliveira2


AVALIAÇAO DA MOBILIDADE ARTROCINEMÁTICA DA COLUNA CERVICAL EM PORTADORES DE DESORDEM TEMPOROMANDIBULAR

PROJETO DE IMPLANTAÇÃO DO ATENDIMENTO DE PACIENTES COM DISFUNÇÕES TEMPOROMANDIBULARES E DORES OROFACIAIS PELA REDE PÚBLICA DE SAÚDE

6º Congresso de Pós-Graduação

Correlação entre a oclusão e a disfunção temporomandibular

Deglutição Atípica e as Desordens Craniomandibulares

O PERFIL DOS ODONTÓLOGOS DA CIDADE DE TUBARÃO-SC, DE PACIENTES COM DISFUNÇÃO NA ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR (ATM) PARA TRATAMENTO FISIOTERAPÊUTICO

Verificação da interferência das disfunções temporomandibulares na articulação da fala: queixas e caracterização dos movimentos mandibulares

17º Congresso de Iniciação Científica EFEITO DA ESTIMULAÇÃO ELÉTRICA DE ALTA VOLTAGEM PÓLO NEGATIVO EM INDIVÍDUOS COM DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR

Confiabilidade de um formulário para diagnóstico da severidade da disfunção temporomandibular

9º Congresso de Pós-Graduação CORRELAÇÃO ENTRE A SEVERIDADE DA DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR E O GRAU DE DISFUNÇÃO CERVICAL EM MULHERES UNIVERSITÁRIAS

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE ODONTOLOGIA ANA BEATRIZ FERNANDES AZEVEDO

Anatomia e dinâmica da Articulação Temporomandibular. Instituto de Ciências Biomédicas da USP Departamento de Anatomia

HÁBITO PARAFUNCIONAL e DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR, UMA

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS

VERIFICAÇÃO DA AMPLITUDE DOS MOVIMENTOS MANDIBULARES EM CRIANÇAS* RANGE OF MOTION ANALISES IN CHILDREN

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Fatores Associados à Ocorrência de Vibrações Articulares Factors Associated to the Occurrence of Joint Sounds

DIMAS RENÓ DE LIMA. Orientador: Prof. Dr. Ruy Fonseca Brw1etti. São José dos Campos 1995

Disfunção temporomandibular em indivíduos atendidos no setor de otorrinolaringologia

Determinação da amplitude dos movimentos mandibulares em crianças do estado da Bahia

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE

Artigo Original / Original Article

Relação da classe econômica e qualidade do sono na ocorrência da disfunção temporomandibular

Aspectos psicossociais da dor miofacial crônica Psychosocial aspects of chronic myofacial pain

Grau de severidade da disfunção temporomandibular e hábitos parafuncionais em policiais militares

Voz e disfunção temporomandibular em professores

Deficiência mental Síndroma de Down Tipos ou classes de Síndroma de Down Etiologia 9

Association between temporomandibular dysfunction and depression

Prevalência de alterações fonoaudiológicas em crianças de 5 a 9 anos de idade de escolas particulares

USO DE PLACA MIORRELAXANTE COMO CODJUVANTE NO TRATAMENTO DE DTM: RELATO DE CASO CLÍNICO

TÍTULO: ESTUDO RADIOGRÁFICO DA PNEUMATIZAÇÃO DO TUBÉRCULO ARTICULAR E FOSSA DA MANDÍBULA DO OSSO TEMPORAL, POR MEIO DAS ELIPSOPANTOMOGRAFIAS

PREVALENCIA DE DESORDENS TEMPOROMANDIBULARES EM MUSICOS. Barbosa MM, Cunha RSC,Lopes MGO

Fisiologia da Articulação Temporomandibular (ATM) Dra. Glauce Crivelaro Nascimento

TRABALHO DE PESQUISA. Mário Kaissar NASR* César BATAGLION** Luiz de Jesus NUNES*** Solange Aparecida Nogueira BATAGLION**** Alexandra Faria PAIVA*****

Avaliação da presença de disfunção temporomandibular em crianças 1

Dor Orofacial em Pacientes Desdentados Totais Levantamento Epidemiológico Orofacial Pain in Edentulous Patients, an Epidemiologic Survey

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE ODONTOLOGIA MESTRADO EM ODONTOLOGIA E SAÚDE

Clinical Parameters and Electromyographic Activity in Patients with Temporomandibular Disorder

Prevalência de Dor Miofascial em Pacientes com Desordem Temporomandibular. Resumo. 1 Introdução

PALAVRAS-CHAVE: Articulação temporomandibular; côndilo mandibular; doenças da articulação temporomandibular.

Correlação entre severidade da desordem temporomandibular e fatores psicossociais em pacientes com dor crônica

CATEGORIA: EM ANDAMENTO ÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE. SUBÁREA: Odontologia INSTITUIÇÃO(ÕES): UNIVERSIDADE PAULISTA - UNIP

Qualidade de vida em portadores de disfunção temporomandibular um estudo transversal

20º Congresso de Iniciação Científica AVALIAÇÃO DA CO-CONTRAÇÃO DOS MÚSCULOS MASTIGATÓRIOS EM MULHERES COM DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR

Transcrição:

ORIGINAL MEDIDAS DOS MOVIMENTOS MANDIBULARES DE INDIVÍDUOS DO GÊNERO FEMININO E MASCULINO, COM E SEM DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR: ANÁLISE PRELIMINAR* Júlia Gambi Deienno 1 Paula Lima Afonso 2 Takami Hirono Hotta 3 Dulce Helena Pena de Andrade 4 1 Cirurgiã-dentista formada pela Universidade 2 Cirurgiã-dentista formada pela Universidade 3 Professora Doutora da disciplina de oclusão e da disciplina de odontogerontologia e prótese bucomaxilofacial, do curso de odontologia da Universidade 4 Professora Mestre responsável pela disciplina de odontogerontologia e prótese bucomaxilofacial, do curso de odontologia da Universidade MEASUREMENTS OF MANDIBULAR MOVEMENTS OF FEMALE AND MALE SUBJECTS, WITH AND WITHOUT TEMPOROMANDIBULAR DYSFUNCTION: PRELIMINARY ANALYSIS* RESUMO: foram selecionados 50 sujeitos, 25 do gênero feminino e 25 do gênero masculino. O critério de inclusão na pesquisa seria apresentar dentição natural completa, estar na faixa etária entre 18 a 35 anos. O objetivo da pesquisa é avaliar as medidas dos movimentos mandibulares em dois grupos, um feminino e outro masculino e também, a relação com a presença ou não de disfunção. As medidas de abertura bucal, lateralidade direita e esquerda, e de protrusão, foram mensuradas conforme protocolo pré-determinado. Os resultados mostraram-se estatisticamente significantes ao nível de 5% (á = 0,05) para as amostras de abertura e de lateralidade e, não significantes (á > 0,05) para a de protrusão, quando analisadas por gênero. Pela comparação entre os valores numéricos das medidas, entre os grupos com e sem disfunção, verificou-se que a abertura bucal era maior no grupo sem disfunção e as demais medidas, de lateralidade e de protrusão, apesar de diferentes, não eram discrepantes. Portanto, os autores concluíram, nesta pesquisa, que as medidas eram maiores no grupo masculino, porém, sem considerável diferença quando analisadas por grupo com e sem disfunção. Palavras-chave: disfunção temporomandibular; movimentos mandibulares; gênero. ABSTRACT: 50 individuals were selected, composed of 25 female and 25 male in which the inclusion s criterion in the research was to present a complete and natural dentition, and to be in the age group between 18 to 35 years. The main objective of the research was to evaluate the mandibular movements measurement in two groups, the female and the male group and also the relationship with the presence or not of temporomandibular dysfunction. The opening mouth measurement, right and left laterality and, the mandibular protrusion were measured according to a predetermined protocol. The results were significant at the level of 5% (á = 0, 05) for the opening and laterality samples and not significant (á > 0, 05) for the protrusion s one when analyzed by gender. By the comparison among the numeric values of the measurement, between the groups with and without temporomandibular dysfunction, it was verified that the mouth opening was a little larger in the group without dysfunction. Key words: temporomandibular dysfunction; mandibular movements; gender. 7 3

INTRODUÇÃO O sistema mastigatório é uma unidade funcional do corpo, composta por estruturas anatômicas diversas como ossos, músculos, articulações, dentes, lábios, língua, bochechas, glândulas, sistema vascular e sistema nervoso relacionados (NUNES et al., 1997). Suas atividades funcionais são comandadas por controle neurológico (ASH; RAMFJORD, 1995; NUNES et al., 1997), e para que ocorra o adequado funcionamento do sistema é necessária a participação, simultânea e harmônica, dos componentes anatômicos e fisiológicos (OKESON, 2000). A complexidade dos componentes, das funções exercidas e da interdependência dos mesmos favorece a ocorrência de distúrbios no sistema estomatognático. Diante disso, o organismo pode responder de forma adaptativa e continuar funcional, ou evoluir para uma condição patológica. Nesse caso, o indivíduo pode vir a desenvolver problemas como a disfunção temporomandibular (DTM) (HOTTA, 1998). A DTM é caracterizada pela dor e sensibilidade nos músculos mastigatórios/cervicais, ruídos e dores articulares, limitação dos movimentos da mandíbula, dentre outros sinais e sintomas (DAHLSTROM, 1989). A etiologia é multifatorial (WEINBERG, 1975; ZACH; ANDREASEN, 1991) podendo estar relacionada a hiperatividade muscular, estresse emocional (LASKIN, 1969) e fatores oclusais (WEINBERG, 1979). A amplitude dos movimentos mandibulares é um dado clínico importante, sugestivo de saúde ou de problemas na articulação temporomandibular (ATM) e nos músculos da mastigação, sendo o foco de diversos estudos envolvendo DTM (RIEDER, 1978; CLARK; LYNN, 1986; BALTHAZAR et al., 1987; HOTTA, 1998; HOTTA et al., 2000 HOTTA, 2003; HOTTA et al., 2003). Além disso, inúmeros trabalhos científicos analisaram as medidas de abertura bucal, de lateralidade e de protrusão da mandíbula de diferentes grupos amostrais comprovando a importância desse parâmetro na avaliação clínica dos indivíduos (GROSFELD et al., 1985, AGERBERG, 1987; BALTHAZAR et al., 1987; PULLINGER et al., 1987; AGERBERG; BERGENHOLTZ, 1989; AGERBERG; INKAPOOL, 1990; DWORKIN et al., 1990; HUBER; HALL, 1990, WESTLING; HELKIMO, 1992; SZENTPÉTERY, 1993). O objetivo desta pesquisa é de analisar a amplitude dos movimentos mandibulares de um grupo feminino e um masculino, e a relação com a presença ou não de disfunção temporomandibular. MATERIAL E MÉTODOS Foram selecionados 50 alunos da Universidade de Franca, sendo 25 do gênero feminino e 25 do gênero masculino. O critério de inclusão nos grupos foi apresentar dentição natural completa e estar numa faixa etária entre 18 a 35 anos de idade. Todos os sujeitos preencheram um questionário com questões pertinentes aos sinais e sintomas de disfunção temporomandibular para avaliar a presença e o grau de disfunção (FONSECA et al., 1994) e assinaram o termo de consentimento para a realização da pesquisa cujo projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa Humana da Universidade Os movimentos mandibulares de abertura bucal, de lateralidades (direita e esquerda) e de protrusão foram mensurados com régua milimetrada, considerando-se os trespasses horizontal e vertical, assim como a quantidade de desvio da mandíbula quando em oclusão habitual (HOTTA, 1998; HOTTA, 2003). Os dados numéricos passíveis de tratamento estatístico foram analisados, utilizando-se o programa GMC versão 8.1 disponível no site www.forp.usp.br. RESULTADOS A média da abertura bucal do grupo masculino (54,4 mm) mostrou-se maior que a do feminino (48,6 mm) e, submetendo os dados a análise estatística (teste t) verificou-se uma significância ao nível de 5% (Ü = 0,05). Verificou-se o mesmo resultado estatístico para lateralidade direita e para a esquerda do grupo masculino (7,9 mm) e feminino (6,3 mm). Já a amostra de protrusão do grupo masculino (7,8 mm) e feminino (7,3 mm) mostrou-se não significante (Ü > 0,05). 74

No grupo feminino 68% apresentava-se com DTM e 32% sem DTM, enquanto que no grupo masculino 40% apresentava-se com DTM e 60% não. Além da maioria de o grupo feminino apresentar disfunção, verificou-se que a severidade, ou seja, o grau de disfunção (leve, moderada ou severa) era maior que o do grupo masculino (Figura 1). Figura 1 - Quantidade de indivíduos, por gênero, de acordo com classificação da disfunção (SDTM=sem DTM, DTML=leve, DTMM=moderada, DTMS=severa) As figuras 2 e 3 mostram os valores médios de abertura bucal, os de lateralidade e protrusão, respectivamente, de acordo com o gênero e com a presença ou ausência de DTM. Figura 2 - Valores médios de Abertura bucal, por gênero e por grupo sem DTM e com DTM, em milímetros. Figura 3 - Valores médios de Lateralidade direita, Lateralidade esquerda e Protrusão, do grupo sem DTM e com DTM, em milímetros. DISCUSSÃO E CONCLUSÃO A disfunção temporomandibular pode passar despercebida ou não tratada ao longo dos anos, devido vários fatores, principalmente por seus sinais e sintomas serem comuns a outras patologias, dificultando seu diagnóstico. O uso de questionários direcionados e fáceis de serem aplicados pode auxiliar o profissional, numa consulta inicial, a determinar a presença ou ausência de disfunção. Como para a seleção dos participantes considerou-se a idade, dentição natural completa e quantidade igual de indivíduos dos dois gêneros, tendo sido aleatória em relação à presença ou não de DTM, o resultado obtido do questionário indicou que, nesta pesquisa, as mulheres eram mais propensas a apresentar disfunção, dado compatível com os de alguns estudos (GROSFELD et al., 1985; AGERBERG; INKAPOOL, 1990) e divergentes de outros que não encontraram diferenças entre os gêneros (HUBER; HALL, 1990). Há estudos que indicam que indivíduos em torno da faixa etária selecionada (18 a 35 anos) apresentam maior amplitude de movimentos da mandíbula (AGERBERG; BERGENHOLTZ, 1989; AGERBERG; INKAPOOL, 1990), e maior predisposição para o desenvolvimento de disfunção temporomandibular. Nesta pesquisa, os valores obtidos poderão ser utilizados em pesquisas comparativas, já que a relação com a DTM tem sido assunto de diversas pesquisas científicas (BALTHAZAR et al., 1987; AGERBERG; INKAPOOL, 1990; DWORKIN et al., 1990, HOTTA, 1998; HOTTA, 2003) sendo relevante coletar e analisar os dados obtidos de um grupo amostral brasileiro. Além disso, a utilização de medidas dos movimentos da mandíbula como forma de avaliação do estado funcional do sistema estomatognático, é bastante favorável na prática clínica, isto por ser um método de fácil execução, baixo custo (GROSFELD et al., 1985, AGERBERG, 1987; DWORKIN et al., 1990; HUBER; HALL, 1990) e com resultados confiáveis. O grupo masculino apresentou medidas dos movimentos da mandíbula maiores que as do gru- 7 5

po feminino, resultado semelhante ao encontrado por outros pesquisadores (DWORKIN et al., 1990, WESTLING; HELKIMO, 1992; SZENTPÉTERY, 1993), sendo que Agerberg e Bergenholtz (1989) encontraram valores médios de abertura bucal de 51 mm para mulheres e 55 mm para os homens, ou seja, muito semelhantes aos do presente trabalho, porém, ressaltando-se que da mesma maneira, há na literatura outros estudos que não verificaram a influência do gênero na maior amplitude do movimento (PULLINGER et al., 1987). Os dados obtidos clinicamente foram tratados estatisticamente, e o resultado significante (Ü = 0,05) para os valores de abertura bucal masculino e feminino indicou que as amostras eram diferentes entre si, ou seja, o valor médio de abertura bucal masculina era maior que o feminino. Para lateralidade, o resultado foi significante (Ü = 0,05) e também maior para o grupo masculino. Já para protrusão, o resultado foi não significante (Ü 0,05) sendo as amostras iguais entre si, ou seja, o grupo masculino (7,8 mm) e o feminino (7,3 mm) apresentaram valores médios considerados iguais do ponto de vista estatístico. Analisando-se os resultados de acordo com a presença ou não de disfunção, verificou-se que os participantes com DTM tinham abertura bucal média menor, igualmente relatado em outros estudos (CLARK; LYNN, 1986; BALTHAZAR et al., 1987), porém, discordante de Rieder (1978) que não encontrou correlação entre abertura bucal máxima e disfunção. No entanto, as medidas encontradas apesar de numericamente diferentes não o eram do ponto de vista comparativo entre os grupos com DTM e sem DTM. A maior diferença na amplitude da abertura bucal estava entre os grupos feminino e masculino do que nos grupos com DTM e sem DTM. Clark e Lynn (1986) avaliaram indivíduos com e sem disfunção quanto à amplitude dos movimentos mandibulares e verificaram que quanto às medidas horizontais, ou seja, lateralidade e protrusão, não havia diferença estatisticamente significante. No presente trabalho, apesar das medidas dos movimentos de lateralidade para a direita, para a esquerda e protrusão serem numericamente diferentes para os grupos com e sem disfunção, a comparação das medidas entre os grupos também não pareceu ser grande. Diante do exposto, pode-se concluir que o grupo feminino apresentou maior porcentagem de indivíduos com disfunção temporomandibular, maior grau de severidade de disfunção, valor médio de abertura bucal menor, valor médio de lateralidade para a direita e para a esquerda menor e valor médio de protrusão mandibular igual. Considerando a presença de DTM, o grupo com disfunção, apresentou valor médio de abertura bucal numericamente maior; valor médio de lateralidade para a direita, lateralidade para a esquerda e protrusão diferentes numericamente, porém, estatisticamente sem muita diferença. REFERÊNCIAS ASH, M. M.; RAMFJORD, S. Occlusion. 4. ed. Philadelphia: W. B. Saunders, 1995. AGERBERG, G. Longitudinal variations of maximal mandibular mobility: An intraindividual study. J. Prosthet. Dent., v. 58, n. 3, p. 370-373, Sept. 1987. AGERBERG, G.; BERGENHOLTZ, A. Craniomandibular disorders in adult populations of West Bothnia, Sweden. Acta Odontol. Scand., v. 47, p. 129-140, 1989. AGERBERG, G.; INKAPOOL, I. Craniomandibular disorders in an urban Swedish population. J. Craniomandib. Disord., v. 4, p. 157-164, 1990. BALTHAZAR, Y.; ZIEBERT, G.; DONEGAN, S. Limited mandibular mobility and potencial jaw dysfunction. J. Oral Rehabil., v. 14, n. 6, p. 569-574, Nov. 1987. CLARK, G. T.; LYNN, P. Horizontal plane jaw movements in controls and clinic patients with temporomandibular dysfunction. J. Prosthet. Dent., v. 55, n. 6, p. 730-735, Jun, 1986. DAHLSTROM, L. Electromyographic studies of craniomandibular disorders: a review of the literature. J. Oral Rehabil., v. 16, n. 1, p. 1-20, Jan. 1989. 76

DWORKIN, S. F.; HUGGINS, K. H.; LeRESCHE, L.; VON KORFF, M.; HOWARD, J.; TRUELOVE, E. et al. Epidemiology of signs and symptoms in temporomandibular disorders: clinical signs in cases and controls. J. Am. Dent. Assoc., v. 120, p. 273-81, 1990. FONSECA, D. M.; BONFANTE, G.; VALLE, A. L.; FREITAS, S. F. T. Diagnóstico pela anamnese da disfunção craniomandibular. RGO, v. 42, n. 1, p. 23-28, 1994. GROSFELD, O.; JACKOWSKA M.; CZARNECKA, B. Results of epidemiological exminations of the temporomandibular joint in adolescents and young adults. J. Oral Rehabil., v. 12, p. 95-105, 1985. HOTTA, T. H. Avaliações clínicas e radiográficas de pacientes com sinais e sintomas de disfunções temporomandibulares submetidos ao uso de próteses parciais removíveis terapêuticas. 1998, 166 f. Tese (Mestrado em Reabilitação Oral). Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto.. Avaliação clínica, radiográfica e eletromiográfica de pacientes com sinais e sintomas de disfunção temporomandibular, submetidos ao uso de placa oclusal. 2003. 148 f. Tese de Doutorado Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto. HOTTA, T. H.; NUNES, L. J.; QUATRINI, A. H.; BATAGLION, C., NONAKA, T.; BEZZON, O. L. Tooth wear and loss: symptomatological and rehabilitating treatments. Braz. Dent. J., v. 11, n. 2, p. 147-152, 2000. HOTTA, T. H.; VICENTE, M. F.; REIS, A. C., BEZZON, O. L.; BATAGLION, C.; BATAGLION, A. Combination therapies in the treatment of temporomandibular disorders: a clinical report. J. Prosthet. Dent. v. 89, n. 6, p. 536-539, 2003. HUBER, M. A.; HALL, E. H. A comparison of the signs of temporomandibular joint dysfunction and occlusal discrepancies in a symptom-free population of men and women. Oral Surg. Oral Med. Oral Pathol. v. 70, p. 180-183, 1990. LASKIN, D. M. Etiology of the pain-dysfunction syndrome. J. Am. Dent. Assoc., v. 79, p. 147-153, July 1969. NUNES, L. J. et al. Oclusão, enceramento e escultura dental. São Paulo: Pancast, 1997. 217p. OKESON, J. P. Tratamento das disfunções temporomandibulares e oclusão. 4. ed. São Paulo: Artes Médicas, 2000. PULLINGER, A. G., LIU, S. P., LOW, G., TAY, D. Differences between sexes in maximum jaw opening when corrected to body size. J. Oral Rehabil., v. 14, p. 291-299, 1987. RIEDER, C. E. Maximum mandibular opening in patients with and without a history of TMJ dysfunction. J. Prosthet. Dent., v. 39, p. 441-446, 1978. SZENTPÉTERY, A. Clinical utility of mandibular movement ranges. J. Orofac. Pain., v. 7, p. 163-168, 1993. WEINBERG, L. A. Anterior condylar displacement: its diagnoss and treatment. J. Prosthet. Dent., v. 34, n. 2, p. 195-207, Aug. 1975. WEINBERG, L. A. Role of codylar position in TMJ dysfunction-pain. J. Prosthet. Dent., v. 41, n. 6, p. 636-643, Jun. 1979. WESTLING, L.; HELKIMO, E. Maximum jaw opening capacity in adolescents in relation to general joint mobility. J. Oral Rehabil., v. 19, n. 9, p. 485-494, 1992. ZACH, G. A.; ANDREASEN, K. Evaluation of the psychological profiles of patients with signs and symptoms of tempromandibular disorders. J. Prosthet. Dent., v. 66, n. 6, p. 810-812, Dec. 1991. 7 7