INCIDÊNCIA DE INSETOS-PRAGA EM UM SISTEMA AGROFLORESTAL MULTI- ESTRATA NO MUNICÍPIO DE SÃO JOÃO DO TRIUNFO - PR Thiare Aparecida do Valle Coelho (PET Engenharias Ambiental/Florestal - UNICENTRO), Daniele Ukan (Orientadora), e-mail: daniukan@yahoo.com.br Universidade Estadual do Centro-Oeste/Departamento de Engenharia Florestal/Irati, PR. Recursos Florestais e Engenharia Florestal; Proteção Florestal Palavras-chave: insetos-praga, armadilha bandeja amarela, Ilex paraguariensis Resumo: O presente trabalho teve como objetivo avaliar a incidência de insetos-praga em relação ao comportamento inicial de mudas de espécies arbóreas em sistemas agroflorestais multiestrata, no município de São João do Triunfo PR. Os sistemas agroflorestais foram compostos em ninhos, utilizando seis espécies arbóreas: Aroeira-pimenteira (Schinus terebinthifolius Raddi.), Erva-mate (Ilex paraguariensis A. St.-Hil), Araçá (Psidium cattleyanum Sabine), Pitanga (Eugenia uniflora L.), Guabiroba (Campomanesia xanthocarpa (Mart.)O.Berg.) e Cerejeira (Eugenia involucrata DC.). Foi utilizado o delineamento inteiramente casualizado, com quatro tratamentos e oito repetições. Foi realizada a instalação da armadilha bandeja amarela, que foi utilizada durante quatro semanas para a coleta de insetos, para posterior identificação e consulta à literatura para verificar se os mesmos eram considerados pragas ou possuíam o potencial para tornar-se praga. Introdução A região Centro-Sul do estado do Paraná teve seu desenvolvimento vinculado a atividades econômicas tradicionais, estando associadas à exploração de recursos da natureza, os quais ocorreram de forma predatória e rudimentar, como a exploração da erva-mate e madeira. Seu território está em grande parte na região denominada Paraná Tradicional, que teve seu desenvolvimento econômico baseado em grandes propriedades rurais, que praticavam agricultura de subsistência com a utilização de mão-de-obra escrava e trabalho familiar. Assim nota-se, pelo seu histórico, que é uma região extremamente agrícola. Desta forma, devido aos grandes latifúndios, os pequenos agricultores tiveram sua produção limitada e com isso precisaram utilizar diferentes técnicas para seu sustento. Estando inseridos na região de Floresta Ombrófila Mista, muitos não haviam notado os diferentes usos que a floresta lhes proporcionava, muitas vezes explorando-a de forma irregular. Desta forma, é necessário buscar alternativas para recuperação, enriquecimento e manejo sustentável destas áreas, inserindo nas mesmas produtos madeireiros e não madeireiros. Uma das maneiras de se obter este enriquecimento para os pequenos produtores é através de Sistemas Agroflorestais (SAFs), onde são consorciadas espécies florestais (madeireira, não-madeireira, frutífera) com espécies agrícolas e até mesmo
com animais. Neste meio, visando à recuperação de áreas degradadas e manejo da reserva legal, os SAFs são uma excelente alternativa, pois ao mesmo tempo em que se conserva ou se recupera as áreas, o produtor se beneficia produzindo alimentos. Nesses sistemas a vegetação não é toda retirada para a plantação de uma única cultura em larga extensão. Para o bom funcionamento dos sistemas, buscamos entender o funcionamento da natureza e imitá-la, utilizando as relações entre os seres vivos, conhecendo as características de cada espécie e sua relação com as demais, onde é possível um controle natural das pragas através de restabelecimento do equilíbrio ecológico. A diversificação da vegetação na área cultivada pode diminuir a herbivoria por diversificar recursos, dificultando a localização e colonização das plantas hospedeiras pelos herbívoros ou por favorecer os inimigos naturais, devido à disponibilidade e à abundância de alimentos alternativos, como néctar, pólen e honeydew, ao fornecimento de áreas de refúgio e de microclima, e à disponibilidade de presas alternativas. Deve-se enfatizar que nos SAFs é necessária a diversificação estratégica da vegetação, com plantas que tenham características capazes de atrair e manter os inimigos naturais de interesse (REZENDE et al., 2011). Materiais e Métodos Implantação dos SAFs O experimento foi realizado em uma propriedade rural localizada na comunidade de Rio dos Patos, município de São João do Triunfo PR. O município de São João do Triunfo integra a região Centro-Sul do Paraná, fazendo parte do bioma Mata Atlântica. Os SAFs foram compostos em ninhos (Figura 1), sendo que cada ninho possuía em sua composição uma espécie de rápido crescimento (Aroeira-pimenteira Schinus terebinthifolius Raddi); uma espécie que cresce em densos agrupamentos e que da qual se podem utilizar as folhas através da extração de forma manejada (Erva-mate Ilex paraguariensis A. St.-Hil); e uma frutífera. Foram utilizadas quatro espécies de frutíferas diferentes, sendo elas: Araçá - Psidium cattleyanum Sabine; Pitanga Eugenia uniflora L.; Guabiroba Campomanesia xanthocarpa (Mart.) O.Berg; e Cerejeira Eugenia involucrata DC. Nos ninhos as mudas estavam distantes 0,40m umas das outras, com espaçamento de 3m x 2m entre ninhos. As mudas das frutíferas e da Aroeirapimenteira foram obtidas no Viveiro do IAP, do município de Fernandes Pinheiro PR, as mudas de Erva-mate foram obtidas com um produtor da localidade de Guaiaca, município de São João do Triunfo PR. 0,40m Figura 1 Representação do ninho. Fonte: Autora (2014) Armadilhas Bandeja Amarela No dia do plantio, foram instaladas as armadilhas bandeja amarela, que consiste em utilizar um pote de coloração amarela, com água com detergente em seu interior.
Foram instaladas quatro armadilhas na área experimental, onde em cada bandeja havia água com detergente para quebrar a tensão superficial da água. As armadilhas bandeja amarela foram coletadas semanalmente, durante o primeiro mês do plantio, totalizando quatro coletas. Após cada coleta, o conteúdo das armadilhas era acondicionado em recipientes devidamente tampados, e identificados. Foi realizada a troca da água com detergente das armadilhas a cada coleta. Identificação dos Insetos Os insetos coletados através da armadilha bandeja amarela foram identificados ao nível de família, com auxílio de chave dicotômica proposta por Fujihara et al.(2011). Os mesmos foram quantificados através de contagem dos exemplares, e avaliados quanto ao seu potencial como inseto-praga, com auxílio de levantamento da literatura onde se obtiveram informações sobre as pragas de cada cultura. Resultados e Discussão Durante o período de coleta da armadilha bandeja amarela, foram capturados 169 indivíduos, pertencentes às seguintes ordens: Coleoptera, Diptera, Hymenoptera, Lepidoptera, Thysanura. Houve ainda insetos que não foi possível realizar a identificação da ordem devido às más condições que os mesmos se encontravam. Dentro destas ordens foram identificadas 6 famílias (Tabela 1). TABELA 1 INSETOS COLETADOS ATRAVÉS DE ARMADILHA BANDEJA AMARELA EM SISTEMA AGROFLORESTAL MULTIESTRATA EM SÃO JOÃO DO TRIUNFO PR Ordem Família Exemplares Coleoptera Carabidae 2 Meloidae 8 Diptera Culicidae 108 Hymenoptera Scoliidae 19 Formicidae 1 Lepidoptera Hesperiidae 2 Thysanura NI 1 NI 28 Σ 169
Para todo manejo de pragas é essencial seu monitoramento, o qual pode ser realizado por leitura direta (avaliação das plantas) ou com o uso de armadilhas. Segundo, Melo et al. (2001), o uso de armadilhas é a maneira mais fácil para o monitoramento e levantamento das pragas. Pois além da identificação das pragas de certas plantas, é possível ainda identificar/encontrar possíveis inimigos naturais das pragas, bem como insetos polinizadores das espécies presentes nos agroecossistemas. Ainda segundo os mesmos autores, são poucas as alternativas existentes para que ocorra esse monitoramento. Porém, vemos na armadilha bandeja amarela um possível uso para este monitoramento, pois é um método de fácil instalação a campo e fácil obtenção dos dados. Após a identificação dos insetos, não foi possível avaliar se houve ou não a ocorrência de dano econômico, pois é necessário um tempo maior de avaliação para que esta análise possa ser realizada. Dentre os insetos encontrados, apenas a formiga cortadeira (Acromyrmex) e o é considerada inseto-praga, porém deve-se realizar o monitoramento e a avaliação dos danos a longo prazo para verificar se este, e os demais insetos, podem causar dano econômico ao plantio. Conclusões Houve incidência de insetos em todas as espécies testadas nos ninhos, indicando que deve ser realizado o monitoramento destes insetos e, quando necessário, o controle dos mesmos, sendo a armadilha bandeja amarela uma alternativa para este monitoramento. Porém, os resultados indicam que os insetos encontrados na área experimental não causaram danos às mudas, sendo estas espécies indicadas para a utilização em ninhos nos sistemas agroflorestais. Agradecimentos Ao CNPq e Fundação Araucária pela oportunidade da realização da pesquisa, e ao MEC pela bolsa do programa PET concedida durante esse período. Referências COELHO, G.C. Sistemas Agroflorestais. 1ª Ed. São Carlos: RiMa, 2012. 184p. FUJIHARA. R.T., et al.. Insetos de Importância Econômica: guia ilustrado para identificação de famílias. 21ª ed. Botucatu: FEPAF, 2011. 391p. IPARDES. Diagnóstico Socioeconômico do Território Paraná Centro Estado do Paraná. Curitiba, 2007. 138p. MELO, L.A.S., et al. Armadilha para Monitoramento de Insetos. Comunicado Técnico da Embrapa Meio Ambiente, no 7, julho de 2001, versão eletrônica. ISSN 1516-8638. Disponível em: http://www.cnpma.embrapa.br/download/armadilha_insetos.pdf. Acesso em 29 jul 2014.
REZENDE, M.Q., et al. 11781 Uso do ingá (Inga subnuda) em cafeeiros sob sistemas agroflorestais pode diminuir os danos causados pelas pincipais pragas do café?. In: Resumos do VII Congresso Brasieliro de Agroecologia Fortaleza/CE. Cadernos de Agroecologia, Vol 6 n o 2, dezembro 2011, versão eletrônica. ISSN 2236-7934. Disponivel em: <http://www.abaagroecologia.org.br/ojs2/index.php/cad/article/view/11781/8119>. Acesso em 30 jul 2013