GRADUAÇÃO E TRABALHO EM ENFERMAGEM RELACIONADOS AO SOFRIMENTO PSÍQUICO: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Luana Aparecida Alves da Silva 1 Ana Carolina Rossin¹ Thaís Dresch Eberhardt 2 Leonardo Dresch Eberhardt 3 INTRODUÇÃO Este estudo apresenta a relação dos ambientes acadêmico dos estudantes e profissional dos trabalhadores de Enfermagem com sofrimento psíquico. Justificamos a escolha do tema devido à vivência nos espaços de aprendizagem aonde percebemos grande quantidade de acadêmicos e enfermeiros queixando-se do ritmo acelerado exigido pela vida acadêmica e profissional. OBJETIVOS Identificar causas e consequências do sofrimento psíquico em acadêmicos e trabalhadores de Enfermagem, tipo de assistência prestada a eles. MATERIAL E MÉTODOS Este estudo é classificado em exploratório, descritivo, bibliográfico (Gil 2002). Foi realizada busca de artigos científicos em bases de dados on-line e sites de revistas de Enfermagem e psiquiatria. Foram encontrados 15 artigos e lidos seus resumos. Foi feita leitura na íntegra e fichamento de 10 artigos publicados no período de 1995 a 2009, que se enquadraram no tema. Para agrupar os resultados, estes foram divididos em três categorias. Estas são interrelacionadas, uma interfere na evolução das demais, já que não há distinção temporal entre elas. 1 Acadêmicas da 4ª série de Enfermagem da UNIOESTE. 2 Relatora. Acadêmica da 4ª série de Enfermagem da UNIOESTE. Endereço: Rua da Imigração, nº 478, Apto. 04, Bairro Nova Cidade, Cascavel PR. Telefone: (45) 84083931. E-mail: thaiseberhardt@gmail.com. 3 Acadêmico da 1ª série de Enfermagem da UNIOESTE. 1
RESULTADOS Rouquayrol apud Gobbi e Durman (2007), afirmam que sofrimento psíquico caracteriza-se por dificuldade de operar planos e definir sentido à vida, sentimentos de impotência e vazio, o eu experimentado como coisa alheia. Causas de sofrimento psíquico em acadêmicos e trabalhadores de Enfermagem Santos et al. (2003) e Garro, Camillo e Nóbrega (2006) realizaram estudos com acadêmicos de Enfermagem, aplicando o Inventário Beck de Depressão. Apontaram como causas de depressão: - Gerais: baixa renda, condições adversas de convívio, enfrentamento das normas impostas pela instituição hospitalar, adequação da expectativa pessoal aos padrões vigentes, convívio com o sofrimento, supervisão do enfermeiro durante a realização dos procedimentos, constante avaliação; - 1º ano: reação de ajustamento ao curso, medo e insegurança da decisão acadêmica; residir fora de casa; - 2º ano: complexidade do currículo, ocorrência concomitante do ciclo básico e profissionalizante; início do aprendizado prático em estágios, adquirir conhecimentos, habilidades e valores que caracterizam o enfermeiro; contato com a morte; - 3º ano: processo adaptativo à clínica; - No 4º ano: expectativa da formatura e entrada no mercado de trabalho em que passam a ser responsáveis pelos próprios atos, sem retaguarda da universidade; - Acadêmicos que trabalham na área da saúde: ritmo de vida intenso e desgastante; sono e disposição afetados; pouco tempo para estudar; indisponibilidade para convívio familiar, lazer, necessidades pessoais. Nas universidades onde foram realizados os estudos, o curso possui formação de quatro anos. Cerchiari, Caetano e Faccenda (2005), em estudo com acadêmicos, com aplicação de questionários, identificaram como principal causa de transtornos mentais menores (TMM) o processo de aprendizagem estressante. No 4º ano 2
as principais causas são o sentimento de incapacidade de desempenhar satisfatoriamente suas atividades, receio pelo futuro, o fato da universidade e da sociedade fornecerem garantias mínimas de realização profissional e pessoal. Em relação aos trabalhadores, os resultados encontrados apontam que as causas no âmbito clínico/hospitalar são similares aos do ambiente universitário, decorrentes do nível de exigência aplicada. Condições adversas de trabalho são as principais causadoras de sofrimento psíquico identificadas por Gobbi ; Durman (2007). Contudo, como compete ao trabalhador prestar assistência independentemente das condições, cria-se mecanismos de defesa, mesmo inconscientemente. Araújo et al. (2003) apontam como principais causas de TMM: alta demanda psicológica, baixo controle sobre o trabalho, alta exigência e trabalho ativo. Lemos, Cruz e Botomé (2002) indicam fatores inerentes à organização do trabalho (falta de recursos materiais/humanos para prestação de assistência qualificada). Manetti e Marziale (2007), através de revisão da literatura, mostram fatores desencadeantes, associados à depressão, internos ao meio ambiente e processo de trabalho (setores de atuação, turno, relacionamento interpessoal, sobrecarga, serviço, problemas na escala, autonomia na execução de tarefas, desgaste, insegurança, conflito de interesses, estratégias de enfrentamento) e fatores externos ao trabalho (sexo, idade, carga de trabalho doméstico, suporte e renda familiar, estado de saúde do trabalhador). A não definição do papel do enfermeiro contribui para o surgimento de sentimentos de desvalorização e insatisfação com o trabalho, pois percebem que realizam diversas tarefas que não suas atribuições, sobrecarregando-os além de suas atividades pré-determinadas (GOBBI; DURMAN 2007). Consequências do sofrimento psíquico em acadêmicos e profissionais de Enfermagem Nos estudos analisados, não foram encontradas consequências do sofrimento psíquico nos acadêmicos. Contudo, nossa vivência, revela baixo rendimento, evasão, consumo excessivo de álcool, estímulo à automedicação/drogadição, 3
prejuízo do sono/repouso, falta de tempo para lazer e alimentação adequados, precarização das relações sociais. Cria-se ambiente propício à geração de conflitos entre acadêmicos, estes e docentes. Nos trabalhadores Lemos, Cruz e Botomé (2002) identificaram utilização de mecanismos de defesa como negação, sublimação e banalização do sofrimento, da assistência e informações prestadas aos pacientes e familiares. Assistência prestada aos acadêmicos e trabalhadores de Enfermagem em sofrimento psíquico Segundo Jorge e Rodrigues (1995) os responsáveis pelos cursos de Enfermagem não demonstram preocupação com o aluno, considerando-o apenas mais um no seu elenco, a grande maioria pretende atender às necessidades do acadêmico com orientação pedagógico-administrativa de maneira formal, geral e impessoal. Santos et al. (2003) indicam a criação do Núcleo de Apoio Pedagógico da Enfermagem, um instrumento importante para propostas e intervenções terapêuticas aos estudantes e docentes. Referente à assistência prestada aos trabalhadores, Manetti e Marziale (2007) apontam que as estratégias e propostas para a prevenção da depressão enfatizam a melhoria do suporte administrativo e do relacionamento interpessoal entre a equipe e demais profissionais; melhor divisão do trabalho entre número adequado de profissionais apoiados no gerenciamento da depressão e redução do estresse no trabalho; implantação de programas de atenção à saúde do trabalhador. CONCLUSÃO Observa-se que as principais causas das variadas formas de manifestação do sofrimento, nos acadêmicos, estão relacionadas com o processo de ensino aprendizagem dos cursos; nos trabalhadores, condições adversas de trabalho. O sofrimento psíquico não surge a partir de um fator isolado, mas do contexto de trabalho e/ou aprendizagem em interação com corpo e mente. Apesar dos estudos não apontarem consequências do sofrimento nos acadêmicos, vivenciamo-nas em nossa prática. Entretanto, percebemos que as 4
consequências aos trabalhadores podem trazer prejuízos à qualidade da assistência ao usuário. Apesar de alguns autores indicarem a necessidade de assistência psicológica aos portadores de sofrimento psíquico, esta indicação foi, na maioria parte, inespecífica, não implicando em melhoria da qualidade de vida do acadêmico/ trabalhador. Percebemos que existem poucos estudos sobre o tema, apesar da importância. Isto faz com que questionemos se o sofrimento psíquico ainda é revestido de preconceitos pela sociedade ou se sua importância é sublimada. Demonstra, também, a necessidade de novas pesquisas. Sugerimos que as escolas de Enfermagem e os locais de trabalho dos enfermeiros pensem em propostas para melhoria da qualidade de vida dos membros e redução dos danos causados pelo sofrimento psíquico. AGRADECIMENTO À Professora Doutora Neide Tiemi Murofuse pela colaboração. REFERÊNCIAS ARAÚJO, T. M. et al. Aspectos psicossociais do trabalho e distúrbios psíquicos entre trabalhadoras de Enfermagem. Rev. Saúde Pública, São Paulo. v. 37, n. 4, p. 424-33, ago. 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rsp/v37n4/16776.pdf>. Acesso em 24 out. 2009. CERCHIARI, E. A. N.; CAETANO, D; FACCENDA, O. Prevalência de transtornos mentais menores em estudantes universitários. Estudos de psicologia, Natal RN. v. 10, n. 3, p. 413-20, set./dez. 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/epsic/v10n3/a10v10n3.pdf>. Acesso em 24 out. de 2009. CRIVELATTI, M. M. B. Sofrimento psíquico na adolescência. Monografia (Graduação em Enfermagem). Universidade Estadual do Oeste do Paraná - Cascavel, 2004. GARRO, I. M. B.; CAMILLO, S. de O.; NÓBREGA, M. do P. S. de S. Depressão em graduandos de Enfermagem. Acta Paul. Enferm., São Paulo. v. 19, n. 2, p. 162-7, abr/jun 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ape/v19n2/a07v19n2.pdf>. Acesso em 24 out. 2009. GOBBI, C.; DURMAN, S. Sofrimento psíquico no trabalho: percepções do enfermeiro no HUOP. Anais do I Congresso Paranaense de Pesquisa em Saúde, Cascavel, nov. 2007. GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002. 5
JORGE, M. S. B.; RODRIGUES, A. R. F. Serviços de apoio ao estudante oferecidos pelas escolas de Enfermagem no Brasil. Rev. Latino-am. Enfermagem, Ribeirão Preto. v. 3, n. 2, p. 59-68, jul. 1995. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rlae/v3n2/v3n2a05.pdf>. Acesso em 15 out. 2009. LEMOS, J. C.; CRUZ, R. M.; BOTOMÉ, S. P. Sofrimento psíquico e trabalho de profissionais de Enfermagem. Estudos de Psicologia, Natal RN. v. 7, n. 2, p. 407-409, jul/dez 2002. Disponível em: <http://redalyc.uaemex.mx/redalyc/pdf/261/26170222.pdf>. Acesso em 18 out. 2009. MANETTI, M.L.; MARZIALE, M.H. Fatores associados à depressão relacionado ao trabalho de Enfermagem. Estudos de Psicologia, Natal RN. v. 12, n.1, p. 79-85, 2007. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/epsic/v12n1/a10v12n1.pdf>. Acesso em 28 out. 2009. SANTOS, T. M. dos et al. Aplicação de um instrumento de avaliação do grau de depressão em universitários do interior paulista durante a graduação em Enfermagem. Acta Scientiarium Health Sciences, Maringá PR. v. 25, n. 2, p. 171-6, 2003. Disponível em: <http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/actascihealthsci/article/viewpdfi nterstitial/2228/1456 >. Acesso em 24 out. 2009. 6